sexta-feira, 29 de outubro de 2010

LES CROCODILES



No livro LA VALSE À MILLE RÊVES, de Eddy Przybylski, o autor conta que em 27 de Dezembro de 1962 Sacha Distel fez o Olympia e estreou uma canção feita por Jacques Brel.
A canção tinha por título LES CROCODILES e foi encomendada pelo próprio Sacha Distel.
Mais tarde este cantor incluiu a canção no lado B dum disco single.

OS CROCODILOS (1963)

Quando os vemos à segunda-feira não têm tostões
Quando os vemos na terça-feira eles querem tostões
Na quarta-feira e na quinta-feira eles ganham tostões
Quando chega sexta-feira eles têm tostões
Durante todo o dia de sábado eles contam os seus tostões
E domingo até meio-dia, eles sonham com tostões
Mas os quem, mas os quê, mas os como, mas os porquê
Os crocodilos

Tu dizes-lhes que está tudo bem, não é normal
Tu dizes-lhes que está tudo mal, é o geral
Tu falas do geral e é um escândalo
Tu falas de ti, é demasiado banal
Então, tu falas de amor, é imoral
Então tu dizes não importa o quê e é triunfal…
Com os quem, com os quê, com os como, com os porquê
Os crocodilos

De enterro em enterro lá os encontramos
Dignos, dignos, dignos, dong, só se morre uma vez
Eles lá vêm para chorar e chorarão
E depois com a mão sobre o coração eles dirão
O primeiro já partiu, era o melhor
Em seguida, eles saem com a sua esposa, a filha e a irmã
As peles de quem, as peles de quê, as peles de crocodilos…

Em Paris diz-se que eles vivem em Hong Kong
Em Hong Kong diz-se que eles vivem em Paris
Na minha casa diz-se que vivem lá em frente
Lá em frente diz-se que eles vivem um pouco mais longe
Mas eu tenho certeza que eles vivem em casa dos meus vizinhos
E todos os vizinhos têm a certeza que eu sou um deles…
Mas os quem, mas os quê, mas os como, mas os porquê
Os crocodilos.


Não há registo videográfico de LES CROCODILES. Para quem não sabe quem era Sacha Distel aqui fica um vídeo com uma canção bem ao estilo deste cantor.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

L'AMOUR EST MORT

Em L’AMOUR EST MORT Jacques Brel revisita A canção dos velhos amantes. Mas agora com amargura, com ressentimentos. Sem reconciliação possível. Esta canção foi também deixada fora do lote que integrou Les Marquises e só foi revelada ao público em 2003.


O AMOR MORREU (1977)

Eles nada mais têm a se maldizer, eles agridem-se em silêncio. O ódio tornou-se a sua ciência, os gritos tornaram-se as suas gargalhadas. O amor morreu. O amor está vazio e juntou-se às gaivotas. A grande casa está lívida e as portas batem constantemente.

Eles esqueceram-se que há pouco atravessaram Strasbourg, rindo, e pareceu-lhes bem mais pequeno que uma grande praça dos arredores. Eles esqueceram-se dos sorrisos que espalharam à sua volta...Quando eu te falava de apaixonados, era a eles que eu gostava de descrever...

Por volta do meio-dia abrem-se as tardes que rompem os sinos. É sempre o mesmo redil mas as ovelhas estão enfurecidas. Ele sonha com velhas amantes, ela inventa o seu próximo amante. Eles já não vêem nos seus filhos mais do que os defeitos que o outros lhes deixou...

Esquecerem os bons tempos onde a manhã sorria, quando ele lhe recitava Hamlet, nu em pêlo, e em alemão. Esqueceram-se que viveram a dois e queimaram mil vidas. Quando falava de alegria de viver, era deles que falava...

O piano não é mais que um móvel, a cozinha chora algumas sandes. Eles parecem-se com dois derviches que rodopiam na mesma casa. Ela esqueceu-se que cantava e ele esqueceu-se que ela cantava. Eles assassinam as suas noitadas lendo livros fechados...

Eles esqueceram-se que noutros tempos navegaram de festa em festa. Com esforço inventam-se festas que nunca existriram. Eles esqueceram as virtudes da fome e do frio quando dormiam dentro de duas malas...
E, nós, minha querida??? Como vais? Como vais???


Neste vídeo, que ilustra “L’amour est mort”, foram usados excertos do making of de FRANZ, um filme realizado por Brel em 1972 e onde o cantor contracena com Barbara. Já se falou AQUI neste blog deste filme.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ZEBDA



No dia 25 de Abril deste ano publiquei AQUI neste blog o texto da canção JAURÉS.

Hoje volto a Jaurés para apresentar uma boa recriação da canção interpretada pelo grupo francês ZEBDA.
Este grupo, de Toulouse, era conhecido pelo seu activismo político e pelos diversificados estilos musicais que utilizava nas suas actuações.

O ZEBDA, que era formado por 7 músicos de várias nacionalidades, ganhou vários prémios , bem como o reconhecimento internacional, com o seu single “Tomber la chemise” gravado em 1998.
Em 2001 o grupo encabeçou um partido político que ganhou mais de 12% dos votos numa eleição autárquica em Toulouse. O grupo desfez-se em 2003.

domingo, 24 de outubro de 2010

PETR ZUSKA



Em Novembro de 2008, o bailarino e coreógrafo Petr Zuska criou para o National Theatre Prague Ballet um espectáculo intitulado SOLO FOR THREE baseado em canções de Jacques Brel, e nas de Vladimir Vysotsky e Karel Kryl.
Petr Zuska foi galardoado nesse ano com o prémio para a melhor “Coreografia Original” num festival de dança contemporânea realizado no seu país, a República Checa.
Aqui ficam dois vídeos, VESOUL e AMSTERDAM, que, apesar de a imagem não ser muito esmerada, dão uma ideia de como as canções de Brel inspiram ainda hoje jovens criadores que nasceram muito depois de Brel ter morrido.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ARNOLD JOHNSTON



Arnold Johnston é um escocês que se radicou nos Estados Unidos onde exerce a profissão de professor de literatura na Wayne State University.
Uma das suas paixões é JACQUES BREL e além de ter traduzido para inglês algumas das canções do Grand Jacques também as canta. Gravou em 2000 o CD “I’M HERE” com 19 canções. Os textos foram feitos, segundo Arnold Jonhston, traduzindo literalmente as palavras e as ideias de Brel, e estas, depois foram trabalhadas para ter rima e métrica adaptável às melodias.



Trabalho muito diferente daquele feito por Eric Blau e Mort Shuman para o espectáculo “Jacques Brel is alive and well and living in Paris” onde muitos dos textos em inglês não têm nada a ver com o original de Brel desvirtuando assim toda a verdade, todo o sentimento e toda a emoção das suas canções.
Baseado nos textos brelianos de Johnston, foi levada à cena uma peça no Talk Theatre em Chicago e depois em Nova Iorque, em 2009, intitulada "Lonesome Losers of the Night." (Os falhados solitários da noite).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

AVEC ÉLÉGANCE




Mais um dos temas inéditos que só foi editado em disco em 2003. Brel gravou esta canção em 1977 juntamente com as canções do disco LES MARQUISES. Como tinha canções a mais para este LP deixou “na gaveta” 5 canções. Esta canção AVEC ELEGANCE está incluída, portanto, no CD duplo INFINIMENT lançado no mercado em 30 de Setembro de 2003.

COM ELEGÂNCIA (1977)

Mesmo quando eles se sentem romanos, no tempo da decadência,
Eles esgravatam a memória com as duas mãos.
Já não falam mais que o seu silêncio
E não querem fazer-se amar por causa de ninharias…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles sentem a encosta mais escorregadia que no tempo
em que os seus corpos eram esbeltos.
Vêem nos olhos deslumbrantes que cinquenta anos é a província,
E queimam a sua juventude agonizante.
Mas eles fingem que passam um sem o outro…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles saem para frequentar os bares onde eles já são os mais velhos…
Encharcam de gorjetas os barmen silenciosos
E tagarelam banalidades com velhos em potência…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles repetem-se todas a manhãs,
que se um dia todos os cornudos quisessem dar as mãos,
Mais ninguém no mundo de poderia assoar…
E acreditar que se canta isto e resmungar.
Eles tentam acompanhar o ritmo…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles sabem que sempre tiveram medo, eles conhecem o peso da sua cobardia,
Eles podem viver sem felicidade, eles já não se sabem perdoar.
E não têm grande coisa com que sonhar, mas escutam o seu coração que dança…
Eles estão desesperados, mas com esperança…


Neste video Maurice Béjart usou AVEC ÉLÉGANCE para uma das suas coreografias.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CARLOS DO CARMO



CARLOS DO CARMO gravou há 30 anos LA VALSE À MILLE TEMPS e mostrou uma faceta totalmente nova e inesperada no seu estilo de fadista consagrado. Por outro lado, com esta inovação, deu a conhecer a canção de Brel a uma audiência muito mais vasta que o grupo restrito de apreciadores da canção francesa mais virada para Brel, Ferré ou Brassens.
Agora, depois de mais de quarenta anos de fadista, Carlos do Carmo faz mais uma inflexão na sua carreira e vira “crooner”. Irá interpretar Sinatra no próximo dia 10 de Novembro no Pavilhão Atlântico. De uma notícia do DN retirei este excerto sobre o acontecimento:
Apesar de a sua carreira se ter radicado no fado, música a que se entregou "completamente de alma e coração", nunca perdeu de vista a música de Frank Sinatra: "Sempre que tenho momentos de introspecção, há duas pessoas que preciso urgentemente de ouvir: Jacques Brel e Sinatra são fundamentais para mim."

Nota: A imagem é a capa do disco LP gravado ao vivo num espectáculo no Olympia de Paris (1980), onde Carlos do Carmo cantou La valse à mille temps.

sábado, 16 de outubro de 2010

J. C. VAN DAMME



O actor JEAN CLAUDE VAN DAMME, de origem belga – nasceu em Bruxelas em 1960 – mais conhecido por ser um especialista em artes marciais vai participar num programa de televisão no canal belga daRTL-TVI .
A emissão que será transmitida amanhã, dia 17, pelas 20H20M, será uma homenagem ao mundialmente conhecido actor, com reportagens, surpresas, encontros com velhos conhecidos e amigos e uma saudação especial ao seu cantor preferido, Jacques Brel.
Assim, a cantora belga Maurane foi convidada para ir ao programa cantar “Quand on n’a que l’amour”.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

LA BASTILLE



A BASTILHA é também editada em 1955, mas, de certeza, escrita muito antes. Brel, com a sua educação cristã e conservadora, nos seus textos de juventude escrevia coisas como "destruíram a Bastilha e ficou tudo na mesma" ou pior ainda "meu amigo, eu acredito que tudo se pode arranjar, sem medos, mesmo sem insultar os burgueses...".
Claro que rapidamente mudou ideias e poucos anos depois tinha outra opinião muito diferente sobre os burgueses.


A BASTILHA (1955)

Meu amigo que acreditas que tudo deve mudar, achas-te no direito de ir por aí fora matar os burgueses?
Se ainda acreditas que é preciso descer à podridão das ruas para alcançar o poder...
Se ainda acreditas no sonho dessa grande noite onde temos que enforcar os nossos inimigos,
Digo-te que doravante apesar da tua sinceridade nenhum sonho merece uma guerra...
Destruíram a Bastilha e ficou tudo na mesma, destruíram a Bastilha quando o que era preciso era amar...

Meu amigo que acreditas que nada deve mudar, achas-te no direito de viver e de pensar burguesmente?
Se ainda acreditas que é preciso nós defendermos uma felicidade conquistada à custa de outras felicidades... Se ainda acreditas que é por eles terem medo de ti que te saúdam, em vez de te enforquem,
Digo-te que doravante apesar da tua sinceridade, nenhum sonho merece uma guerra...
Destruíram a Bastilha e ficou tudo na mesma, destruíram a Bastilha quando o que era preciso era amar...

Meu amigo, eu acredito que tudo se pode arranjar, sem prantos, sem medos, mesmo sem insultar os burgueses...
O futuro depende dos revolucionários, mas troça dos pequenos revoltados.
O futuro não quer, nem fogo, nem sangue, nem guerra... Portanto, não sejas desses que nos querem dar tudo isso.
Vamos ter esperança, vamos marchar até ao futuro, vamos estender a mão que não esteja fechada!!!
Destruíram a Bastilha e ficou tudo na mesma, destruíram a Bastilha, será que não nos poderemos amar?


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CHRISTIAN ORTUNO




Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre um recital dedicado ao cantor a realizar no dia 16 de Outubro (Sábado) integrado no Festival “GEOR JACQ LÉO”.
O recital será realizado no Espace Jourdin de L’Isle, rue Resistance Vianne (47) França, e terá como intérpretes de 30 canções de Brel, CHRISTIAN ORTUNO e CHRISTIAN GIRARDIN.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

IL PLEUT



Depois de Jacques Brel ter vendido vários milhões de discos em todo o mundo e de ter dados espectáculos nos 5 continentes, um jornalista perguntou-lhe como se sentia por ser um homem rico. Ele respondeu que acima de tudo era preciso amar a sua profissão e não os resultados da mesma. O dinheiro era perigoso para o homem, porque o imobilizava, e um homem fez-se para se mexer. Ele não tinha sido feito para estar parado, e portanto, não ligava nenhuma ao dinheiro.
Brel escreveu a canção IL PLEUT (Les carreaux) em 1955, muito antes de ser famoso e rico. Esta canção foi provavelmente escrita na fábrica de cartão do seu pai, onde o cantor teve o seu primeiro emprego. Lá, para contornar a rotina e matar o tempo, ele escreveu as suas primeiras canções.
Metido num escritório, oito horas por dia, a desperdiçar a sua juventude, ao Brel escriturário só lhe restava imaginar-se a partir as vidraças todas da fábrica.

CHOVE (1955)

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...
Chove e as janelas das fábricas estão quase todas quebradas...

As raparigas que vão dançar não me olham, porque vão dançar com outros que lhes pagam as flores de papel, ou a água perfumada, para se divertirem. As raparigas que vão dançar não me olham, porque vão dançar com esses outros...

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...

Para mim ficam os corredores imundos. E as escadas que subo são sempre minhas, mas depois, quando estou só debaixo das telhas, com o sol e com as nuvens, escuto a rua a chorar e vejo as chaminés da cidade a fumar docemente... No meu céu, a Lua dança para mim esta noite, ela dança, dança, dança e o seu hálito, a sua auréola imensa, acariciam-me...
O céu é meu e eu mergulho na noite, e lá, mergulho a minha mágoa...

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...
Chove... E eu vou quebrar as janelas das fábricas...


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

LES FENÊTRES



Oito anos anos depois de ter escrito uma canção que falava das janelas quebradas das fábricas dos subúrbios Brel volta ao tema das janelas numa canção bem mais consistente e madura. E volta ao tema não propriamente pela janela mas pelas vistas que uma janela pode revelar ou esconder.
De uma janela pode-se controlar o vai e vem dos senhores que frequentam um beco onde mora uma prostituta mas também se pode vigiar os jovens que simplesmente procuram o amor.
No fim, e felizmente, as janelas servem acima de tudo para esconder os amantes que se querem amar.

AS JANELAS(1963)

As janelas espreitam-nos quando o nosso coração pára ao nos cruzamos com a Luisinha, por quem as nossas carnes fervem...
As janelas divertem-se quando vêem uma serigaita a oferecer a sua corola a um escrivão de notário...
As janelas comovem-se quando, na madrugada pálida, um funeral se arrasta até ao velho cemitério...
Mas, as janelas franzem as cornijas de bronze quando os silvados lhe vêm roubar a claridade...

As janelas resmungam quando caem as chuvadas do tempo frio que molham as despedidas...
As janelas cantarolam quando chega o Outono e se levanta o vento que deixa a rua para os apaixonados...
As janelas calam-se quando o Inverno as acalma e uma neve espessa lhes vem fechar os olhos...
Mas, as janelas tagarelam quando passa uma mulher que mora num beco frequentado por cavalheiros...

A janela é um ovo quando é estilo olho-de-boi, e fica, como um viúvo à espera, ao lado de um saguão...
A janela peleja quando é uma gateira por onde um soldado metralha antes de tombar...
As janelas perdem o seu tempo quando são mansardas e abrigam os trapos de um poeta esquecido...
Mas, as janelas delicadas cobrem-se logo de grades se por azar alguém grita “viva a liberdade!”...

As janelas vigiam a criança que se espanta num círculo de velhos ao dar os seus primeiros passos...
As janelas sorriem quando quinze anos muito bonitos e quinze anos muito crescidos se oferecem um primeiro lanche...
As janelas ameaçam, as janelas mostram má cara, quando eu por vezes tenho a audácia de chamar gato a um gato...
Mas, as janelas seguem-me, seguem-me e perseguem-me até ao medo que se segue lá no fundo dos meus lençóis...

As janelas, muitas vezes, impunemente, chamam vadios aos miúdos que apenas procuram um amor...
As janelas, muitas vezes, suspeitam desses labregos que dormem nos bancos e falam estrangeiro...
As janelas, muitas vezes, fecham-se a rir, fecham-se a gritar quando alguém quer cantar...
Ah, eu nem me atrevo a pensar que elas servem mais para encobrir, do que para deixar entrar a luz do Verão... Não, eu prefiro pensar que uma janela fechada, não serve senão para ajudar os amantes a amarem-se...


sábado, 9 de outubro de 2010

9 de OUTUBRO de 1978


Estou agora a chegar ao fim da leitura da melhor biografia de JACQUES BREL que li até hoje. Foi escrita por Eddy Przybylski e é a segunda vez que este autor aborda este assunto: A vida do cantor belga que mais discos vendeu em França.
O livro chama-se LA VALSE À MILLE RÊVES (edições L’Archipel) e tem 765 páginas.

Além de muitos factos já conhecidos, o livro revela-nos muitos outros que têm sido esquecidos, ou melhor dizendo, não relembrados, e outros absolutamente inéditos, tudo fruto de uma investigação exaustiva que Przybylski fez nos últimos anos. Ele contactou as pessoas que estiveram ligadas a Brel, ou por razões afectivas, ou por razões profissionais, ou por vizinhança, ou por laços familiares ou só por mero acaso.
Mas um dos factos relatados no livro e que vem a propósito publicar hoje, dia 9 de Outubro, dia em que Brel morreu há 32 anos é que...
JACQUES BREL FOI VÍTIMA DOS PAPARAZZI.
Segundo o professor Israel, médico que estava a seguir os tratamentos de Brel em Paris, o cantor morreu de uma embolia pulmonar. Brel desesperado pela constante intromissão dos paparazzi na sua vida - especialmente naquela situação em que estava altamente debilitado - arrancou as intravenosas, fugiu do hospital e interrompeu o tratamento.
A embolia pulmonar ocorrida a seguir foi fatal.
O doutor Israel garantiu a Eddy Przybylski que os paparazzi chegaram a entrar no hospital com batas brancas e câmaras escondidas. Jacques Brel foi acossado pelo fotógrafos até ao fim da sua vida.

Neste dia 9 de Outubro de 1978, JOHN LENNON vivia em Nova Iorque e estava a comemorar o seu 38º aniversário. Hoje faria 70 anos. Parabéns John!
Olha, se vires o Jacques dá-lhe um abraço e bebam um copo… à nossa!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

QUAND MAMAN REVIENDRA

Quand Maman Reviendra fala-nos de um rapaz de vinte anos que tem o sonho caricatural da união da sua família que a mãe desmembrou. Não importa aqui a ironia do retrato. Brel faz sempre sátira das realidades que defende. Jacques Brel nunca gostou muito desta melodia unicamente por questões de perfeccionismo. Ele só achava que a canção estava completa quando a música e a letra se interligassem. Isto é, a música tinha que acompanhar o espírito e a emoção do texto cantado. Portanto, na opinião do autor esta é a canção menos conseguida. No vídeo aqui mostrado Brel é entrevistado por René Hénoumont, já AQUI falado neste blog, e faz uma abordagem muito despretensiosa de como compunha uma canção e dá como exemplo esta mesmo, QUANDO A MAMÃ VOLTAR.

QUANDO A MAMÃ VOLTAR (1963)

Quando a minha mãe voltar será o meu pai que ficará contente…
Quando ela voltar, a mãe, quem vai ficar contente sou eu...
Ela voltará, como sempre, a cavalo de um desgosto de amor
e para melhor festejar o seu regresso toda a santa família estará lá...
E ela voltará a cantar-me as canções que eu gostava tanto...
Precisamos tanto de canções quando temos vinte anos...

Quando o meu irmão voltar, será o meu pai que ficará contente…
Quando ele voltar, o Fernando, quem vai ficar contente sou eu...
Ele vai regressar da sua prisão, sempre a cavalo dos seus princípios...
Ele vai regressar e toda a equipa o vai acolher no patamar...
Ele vai contar-me as histórias que eu gostava tanto…
Precisamos tanto de histórias quando temos vinte anos...

Quando a minha irmã voltar, será o meu pai que ficará contente…
Quando ela voltar, a menina da sua mamã, quem vai ficar contente sou eu...
Ela vai regressar de Paris, montada no cavalo de um príncipe encantado...
Ela vai voltar e toda a família a vai acolher chorando,
e ela dar-me-á de novo o seu sorriso, esse sorriso que eu gostava tanto...
Precisamos tanto de sorrisos quando temos vinte anos...

Quando o meu pai voltar, é o meu pai que ficará contente...
Quando ele voltar aos berros, quem vai ficar contente sou eu...
Ele vai regressar da tasca da esquina, a cavalo de uma ideia negra...
Ele vai regressar só quando estiver bêbado. Só quando lhe apetecer…
E vai voltar a dar-me inquietações, inquietações que eu não gosto mesmo nada...
Mas, parece que é preciso inquietações, quando temos vinte anos...

Se a minha mãe voltasse, quem iria ficar contente, pai?
Se a minha mãe voltasse, quem iria ficar contente era eu...


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

MOURON e PESSIS





Um no Théatre des Variétés, em Montmartre, e outro no Théatre Pierre et Jacques Prévert.
O primeiro – DE BRUXELLES AUX MARQUISES – com Nathalie Lhermitte, Jacques Pessis e Aurélien Noel, teve a sua estreia a 6 de Outubro, e o segundo – Mouron chante Brel, Quinze années d’amour – será estreado a 9 de Outubro.
Neste vídeo MOURON (Kiki) canta a bela canção de Brel “VOIR UN AMI PLEURER”.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

LA TENDRESSE




Jacques Brel nunca se assumiu como poeta. Ele sempre disse que era apenas um cantor de variedades. Quanto muito seria um carteiro que levava mensagens às pessoas. E a sua mensagem é ingénua. Ele canta os pobres, os desesperados, os tímidos, os frustrados, os vencidos, os bêbados, os moribundos, dizendo que toda a gente necessita de Ternura. Isto é mais um grito que uma mensagem. Numa entrevista, em 1964, ele afirma “Tenho a impressão de que nasci terno. Creio que aquilo a que chamo amor nas minhas canções é na realidade a ternura”.
Na canção La tendresse, Brel reclama para si mesmo um pouco de ternura.


A TERNURA
(1959)

Por um pouco de ternura, eu daria os diamantes que o diabo acaricia nos meus cofres de dinheiro...
Porque achas tu, minha querida, que os marinheiros, nos portos, esvaziam as suas bolsas para oferecer tesouros a falsas princesas?...
Por um pouco de ternura...

Por um pouco de ternura, eu mudarei de feição, eu trocarei de bebedeira, eu usarei outra linguagem...
Porque achas tu, minha querida, que no auge dos seus cânticos, imperadores e menestréis abandonam poderes e riquezas?...
Por um pouco de ternura...

Por um pouco de ternura, eu até te dava o pouco tempo que me resta de juventude neste Verão que termina... Porque achas tu, minha querida, que eu leve a minha canção até ao véu claro que dança sobre a tua face inclinada sobre a minha angústia?...
Por um pouco de ternura...


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

MECHTHILD OP GEN OORTH



Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre uma exposição intitulada “LE GRAND JACQUES”.
Trata-se de uma exposição de fotografia em homenagem ao cantor na galeria APROPOS, de Colónia, e estará aberta ao público entre o próximo dia 7 de Outubro e 10 de Janeiro de 2011. A autora dos trabalhos é a fotógrafa berlinense MECHTHILD OP GEN OORTH.

sábado, 2 de outubro de 2010

GRAND PRIX DU DISQUE



Os primeiros anos de Jacques Brel como cantor foram muito difíceis. Desde terem-no classificado como “ridículo” num concurso de canções na Bélgica, em 1953, a terem-no aconselhado, já em Paris, a “apanhar o último comboio para Bruxelas que estava quase a partir ”, Brel sofreu as agruras e as desilusões de quem quer vencer e convencer num meio hostil.

Mas eis que em 1956 grava a canção QUAND ON N’A QUE L’AMOUR e o êxito da sua carreira finalmente dispara e Brel torna-se rapidamente um dos melhores cantores e autores de língua francesa.

No ano seguinte, devido ao tremendo sucesso de Quand on n‘a que l’amour, é-lhe atribuído o prestigiado GRANDE PRÉMIO DO DISCO. Brel vai ao programa de televisão para receber o prémio, mas não pode esquecer as humilhações por que passou até chegar ali, e não vai de muito boa cara. A apresentadora do programa tenta animá-lo e pede-lhe para ele dizer qualquer sobre Paris. Brel, sem sorrir, diz-lhe “Eu acho que nenhuma cidade pode ser bela para aqueles a quem ela só causa problemas”.

A apresentadora volta à carga “Você é mais um homem do campo?” e Brel não desarma “pode chamar-me o Camponês Cantor, se quiser!”.

A apresentadora muito simpática voltou-se para a audiência: “Sendo assim anuncio que o Camponês Cantor ganhou o Grande Prémio do Disco! BRAVO!!!“ ao que Brel respondeu secamente “ Obrigado”.

A senhora, sempre simpática, caiu na asneira de dizer “ Um pouco mais de entusiasmo não lhe ficava mal”, ao que Brel sempre seco disse “Não acredito nesta treta dos prémios. Que eu saiba nenhum bancário bom profissional ganhou o Grande Prémio dos Bancários. Para mim isto é patético… esta merda desta coroa de louros!”.

A apresentadora engoliu em seco, engasgou-se e ouviu de novo Brel dizer mais este desabafo "Idiotas! Esta raça multiplica-se mais depressa que os coelhos. Você vai compreender um dia destes que a estupidez precisa de uma abordagem severa, por isso acho que devemos chatear os idiotas sempre que houver oportunidade!”

Nota: Os meus agradecimentos a RENÉ SEGHERS (agora na lista dos Brelianos deste blog) pela cedência da foto e pelo texto que consta do seu livro sobre Brel "Jacques Brel a vida e o amor" a publicar brevemente em francês. Neste momento está à venda a edição em holandês.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

LES ADIEUX




Quando Brel anunciou que ia deixar os palcos, apenas 15 anos depois de ter começado a sua carreira profissional, cada espectáculo que dava esgotava semanas antes da data anunciada. Eram êxitos atrás de êxitos.

Por exemplo, no último espectáculo do Olympia, em Outubro de 1966, depois da última canção o pano fechou e Brel teve que regressar ao palco várias vezes agradecer, não tendo feito, no entanto, nenhum “encore” como era seu costume. Depois retirou-se para o seu camarim mas o público não arredou pé da sala sempre aplaudindo e gritando “JACQUES BREL”. Isto durou 21 minutos. Brel teve que voltar ao palco, já em roupão, e agradeceu ao público dizendo “Isto justifica 15 anos de amor”.
Quando lhe deram a gravação do espectáculo, com os 21 minutos de aplausos, Brel comentou “para mim isto é mais valioso que uma medalha de ouro nas olimpíadas”.

Outro episódio relacionado com os últimos espectáculos passou-se na Bélgica. No Palácio das Belas Artes, a 15 de Novembro. A organização, para satisfazer o excesso de procura de bilhetes para o espectáculo, encheu o enorme palco de cadeiras formando um U à volta do cantor e dos seus músicos. No fim do espectáculo, com o público em delírio, Brel foi ao microfone e apresentou os seus músicos. Depois apontou para os espectadores do palco e disse “O grupo coral de Sainte Gudule!!!”
(Sainte Gudule é o nome da Catedral de Bruxelas)

Este não é o grupo coral de Sainte Gudule...