segunda-feira, 1 de março de 2010

LES F...

Há pelo menos três Bélgicas dentro da Bélgica: Bruxelas, Flandres e Valónia. Brel, provocador, insiste em chamar “flamenguentos” aos habitantes da Flandres, que autoritariamente pretendem que todo o país fale flamengo, à semelhança da Holanda. Foram raras as canções que Brel gravou nas versões flamenga e francesa, tal era o repúdio que ela tinha pela língua flamenga. Esta canção, Les F, (F de flamenguento) está no seu último disco. Fica assim como que o último libelo do autor aos seus compatriotas autoritários do norte.
E tal como os lisboetas contam anedotas de alentejanos os belgas de Bruxelas contam anedotas dos belgas flamengos. No livro L’homme et la mer, de Prisca Parrish, Brel conta esta anedota. “Sabem porque é que os flamengos têm a testa toda picada à segunda-feira de manhã? Porque aos domingos eles comem com o garfo…”

Os F... (1977)

Os Flamenguentos... Canção cómica...
Senhores Flamenguentos, tenho aqui uma piada para vocês rirem... “Já há muito tempo que me andam a obrigar a soprar-vos no cu para se tornarem autocarros... “ Mas, vocês são equilibristas e nada mais que isso... São Nazis durante as guerras e católicos entre elas, vocês oscilam sempre entre o fuzil e o missal... Os vossos olhares são longínquos e o vosso humor está exangue, apesar de que há ruas em Gand que mijam nas duas línguas. Estão a ver, eu gosto de pensar em vocês, porque nada se perde... Senhores Flamenguentos, estou aqui para vos provocar...
Vocês conspurcaram a Flandres, mas a Flandres vais julgar-vos. Vejam o Mar do Norte que fugiu de Bruges. Parem de me encher o saco com a vossa arte flamenga-italo-espanhola... Vocês são tão, tão grosseiros, que quando, nas noites de tempestade, os chineses cultos me perguntam de onde eu sou, eu respondo enfastiado e com lágrimas nos dentes “Eu sou do Luxemburgo”. E se às miúdas ousamos cantar em flamengo, elas desvanecem-se sonhando com pássaros cor-de-rosa e brancos...
E proíbo-vos de esperar, que alguma vez em Londres, debaixo de chuva, eu os possa confundir com ingleses... E proíbo-vos, em Nova Iorque ou em Milão, de arrotar senão em flamengo, meus senhores! Vocês não terão um ar de parvos, verdadeiramente parvos, mas eu recuso-me a dizer que me estou nas tintas para isso... E eu proíbo-vos de obrigar as nossas crianças, que não vos fizeram nada, a ladrar em flamengo... E se os meus irmãos se calam, tanto pior para a Flandres.
Eu canto, insisto e assino... O meu nome é Jacques Brel...


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