segunda-feira, 27 de setembro de 2010

KNOKKE-LE-ZOUTE TANGO



Este tango foi gravado em 1977 já Brel estava verdadeiramente debilitado por causa do cancro que o afectava há alguns anos. Está, portanto, incluído no último disco LP, conhecido por LES MARQUISES.

Brel cantou muitas vezes neste Casino, em Knokke-le Zoute . Esta localidade é muito famosa na Bélgica por se tratar de uma zona balnear por excelência.

A tradução deste texto não é fácil dado que Brel recorreu a algum calão e a alguns neologismos que perdem a sua originalidade quando traduzidos.

TANGO DE KNOKKE-LE-ZOUTE (1977)

Nas noites em que eu sou argentino ofereço a mim mesmo algumas argentinas,
prontas a colher nas vitrinas dos lindos bairros de Amesterdão.
Garinas que teriam aquele bronzeado de mulheres exportadas das vossas cidades latinas...
Nessas noites, quero-as felinas, com um pouco de brilhantina passada no cabelo do idioma.
Elas seriam frescas como mangas e compensariam os seus defeitos com golpes de peito e de nádegas...
Mas, esta noite não há argentinas, não há esperança, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino...

Nas noites em que sou espanhol, cu pequeno, grande chaço, elas passam todas pela frigideira.
Prontas a perseguir em Hamburgo, as Carmencitas dos subúrbios que nos enchem de sífilis...
Quero-as frescas e alegres, boas trabalhadoras, sem paleios.
Meio andalusas, meio ondulosas, essas fêmeas que se gestapam,
porque ainda não sabem que o Franco está completamente morto...
Mas esta noite não há espanholas, não há frigideira, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino…

Nas noites em que sou Caracas, eu Panameio, eu Partagas…
Eu sou o mais bonito e parto para a caça. Deslizo de palácio em palácio para desalojar a taluda,
que só espera o meu golpe de misericórdia...
Quero-a doida como um travesti, despida de velhas cortinas, mas apesar disso, efémera.
Ela esperar-me-á dias depois, cercada por serpentes e por plantas, entre os livros de Dutourd.
Mas esta noite não há Caracas, não há efemeridade, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino…

Mas amanhã, sim, talvez amanhã serei argentino, sim, vou oferecer a mim mesmo algumas argentinas, prontas a colher nas vitrinas dos belos bairros de Amesterdão...


N.T. : 1) Dutourd era um escritor belga que alardeava publicamente a sua animosidade contra Brel.

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