quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

L'AIR DE LA BÊTISE

Jacques Brel grava o seu terceiro disco em 1957. É um disco ainda influenciado por temas muito líricos, de matriz moralista. Há, porém, neste trabalho uma canção que deixa antever um Brel NOVO. Um Brel que pretende dizer coisas diferentes. Nesta canção, L’air de la Bêtise, o cantor deixa-se de lirismos e revela-se duro, ríspido, crítico. A agressividade e a provocação manifestam-se...

A ÁRIA DA ESTUPIDEZ (1957)

Mãe das pessoas sem preocupações. Mãe dos que se dizem poderosos... Mãe dos brandos costumes e princesa das gentes sem remorsos... Nós te saudamos, Dona Estupidez, tu que tens um reino desconhecido... Nós te saudamos, Dona Estupidez,...
Mas, diz-me lá, qual é o teu segredo para teres tantos amantes e tantos namorados, tantos representantes e tantos prisioneiros... Para urdires tantos malentendidos, e fazer crer aos cretinos que afinal nós somos persuadidos a vencer na vida à custa de falsos respeitos... De invejas mesquinhas... De nobres intolerâncias...

Mãe das mulheres fatais e dos casamentos por dinheiro... Mãe de todas as meretrizes... Princesa pálida do Vison, nós te saudamos, Dona Estupidez... tu que tens um reino desconhecido... Nós te saudamos, Dona Estupidez...
Mas, diz-me lá, qual é o teu segredo para que a gente não veja o sorriso cúmplice que fará de nós todos, cornudos muito nobres... Para nos fazer esquecer que as verdadeiras putas são aquelas que se fazem pagar, não antes, mas depois... Para que seja possível, certas noites, eu cruzar-me com o teu olhar familiar no fundo do meu espelho...


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