segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

LES MOUTONS

Quando Brel canta o amor não se fica pelos Je t’aime. Quando canta a guerra não se fica pelas palavras de ordem. Quando canta a morte, não se fica pelos prantos e pelas lamentações. Jacques Brel não procura inspiração nos livros, nos filmes ou nas peças de teatro. Os seus heróis e anti-heróis saem da sua própria vida. Nas suas canções, antes de mais, ele utiliza a sua experiência pessoal, projecta os seus sonhos ou reflecte os seus desânimos perante a sociedade. É o caso desta canção.

Les moutons(1967)

Lamento pastora, mas não gosto nada dos carneiros, sejam eles pura lã ou tenham eles chapéu de coco... Pastem eles nas colinas ou pastem no betão, guiados por alguns cães e por alguns cajados. Lamento pastora, mas não gosto nada dos carneiros...
E não gosto nada dos cordeiros que curvam as costas de rebanho em rebanho, de rebanho em estábulo, de estábulo em escritório... Eu gosto mais dos lobos e dos passarões... Lamento pastora, mas não gosto nada dos cordeiros...
E não gosto nada das ovelhas. Andam sempre engelhadas a dizer que sim. Levam carecadas e voltam a dizer que sim... E o balanço final é o talho, e mesmo assim repisam no SIM! Lamento pastora, mas não gosto nada das ovelhas...
E não gosto nada de rebanhos... Não vêem mais longe que a extrema do seu pasto... Avançam recuando e afogam-se dentro de um copo de água benta. E logo que o vento se levanta deixam à mostra o fundo das costas... Lamento pastora, mas não gosto nada de rebanhos...
Lamento pastora, mas não gosto nada de pastores, eles choram, choram, choram, pastora... Toma cuidado e defende-te, pastora... Um dia tu vais balir. Lamento pastora....

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