terça-feira, 18 de maio de 2010

VIEILLIR



Jacques Brel gravou o seu último disco em 1977. Um ano depois morria com um cancro nos pulmões. Tinha 49 anos de idade. Esta canção, Vieillir, está nesse disco e segundo testemunhos credíveis após a sua gravação no estúdio, alguns dos músicos da orquestra que acompanhava o cantor, em directo, estavam com lágrimas nos olhos quando a canção terminou. Não só pela crueza das palavras que Brel cantava, mas pelo esforço que ele fez para a cantar. Praticamente só tinha um pulmão a funcionar, e mal.
Ele disse um dia que “o que conta numa vida, é a intensidade com que se vive e não a longevidade dessa vida”

Envelhecer (1977)

Morrer envergonhado por essa guerra, feita pelos Alemães por causa dos Ingleses...
Morrer amante imparcial, entre os seios de uma gorda ou contra os ossos de uma magra dentro de uma masmorra miserável...
Morrer arrepiado, morrer a desfazer-se, encarquilhado, morrer dilacerado...
Ou terminar a corrida na noite do seu centenário, ancião trovejante, soerguido por algumas mulheres, crucificado na Ursa Maior, cuspindo o seu último dente e cantando Amsterdam...
Morrer não é nada... Morrer...? Não custa nada... Mas... Envelhecer... Ah, envelhecer...

Morrer, morrer a rir, é capaz de ser verdade, aliás, a prova é que eles não ousam rir demais...
Morrer a fazer palhaçadas, para desenrugar o deserto. Morrer enfrentando o cancro ao apito do árbitro... Morrer debaixo de um manto , tão anónimo, tão incógnito como morre um sinónimo...
Ou terminar a corrida na noite do seu centenário, ancião trovejante, soerguido por algumas mulheres, crucificado na Ursa Maior, cuspindo o seu último dente e cantando Amsterdam...
Morrer não é nada... Morrer...? Não custa nada... Mas...Envelhecer... Ah, envelhecer...

Morrer coberto de honrarias e inundado de dinheiro, asfixiado pelas flores num monumento...
Morrer depois de uma loira, quando já nada acontece, onde o tempo nos ultrapassa, onde a cama se faz campa... Morrer insignificante, depois de uma tisana, entre um medicamento e um fruto que vai murchando...
Ou terminar a corrida na noite dos seus cem anos, ancião trovejante, soerguido por algumas mulheres, crucificado na Ursa Maior, cuspindo o seu último dente e cantando Amsterdam...
Morrer não é nada... Morrer...? Não custa nada... Mas... Envelhecer... Ah... Ah... Envelhecer...


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