sábado, 3 de abril de 2010
LA CATHÉDRALE
As Edições Jacques Brel informam-nos que finalmente o ASKOY II, o veleiro de Jacques Brel, que acabou os seus dias naufragado numa ilha da Nova Zelândia, vai ser finalmente recuperado.
Este barco construído por HUGO van KUIK nos anos 70 está neste momento no porto belga de Ostende e no próximo dia 8 vai ser transportado para Rupelmonde onde se iniciarão de imediato as obras de restauro. Dia 8 de Abril porque é a data do nascimento de JAQUES BREL, e o autor do restauro,Pieter Wittevrongel , escolheu esta data para que ela seja a do renascimento do ASKOY II.
No último disco de Jacques Brel está esta canção -A Catedral - que é sem dúvida dedicada ao seu barco.
A CATEDRAL
Peguem numa catedral e ponham-lhe alguns mastros, um gurupés, uns amplos porões, cabos, tirantes. Peguem numa catedral esguia e alta e de bojo largo, uma catedral a erigir com estais e velas mestras. Uma catedral de Picardia ou da Flandres, uma catedral à venda por padres sem estrela. Essa catedral de pedra, que será “desnossosenhorizada”, arrastem-na para aqui, onde o mar vem florir. Icem os panos com alegria e zarpem para Inglaterra…
A Inglaterra é bonita de se ver do alto de uma catedral, mesmo que o chá faça chover alguns aborrecimentos sobre as escalas… As Cornualhas estão ali à mão quando elas dão à luz do dia, e nós vogamos entre a ternura e o amor. Peguem numa catedral e ponham-lhe alguns mastros, um gurupés e uns amplos porões, mas não acordem. Desenrolem todos os panos, e “ala bote” marujos.
Cacem os cachalotes que vos guiarão aos Açores, e depois à Madeira com as suas raparigas canarinas e o oceano, que alegre, vos empurrará até às Antilhas… Peguem uma catedral, icem o pavilhão pequeno e façam cantar as velas, mas não acordem…
Porra, as Antilhas são lindas. Elas estalam-te na boca. A gente deitava-se bem sobre elas… Mas vamos para diante porque todos os sinos tocam a rebate… A vossa catedral vai a todo o pano e trespassará o canal do Panamá… Peguem numa catedral de Picardia ou de Artois, partam para ir colher as estrelas, mas não acordem…
E eis o Pacífico. Longas vagas que rolam ao vento e murmuram a sua música até às ilhas mesmo ali à frente, e que vos perdoarão, lá, melhor que noutro sítio qualquer, se vocês quiserem desaparecer entre as flores. Peguem numa catedral, icem o pavilhão pequeno e façam cantar as velas, mas não acordem…Peguem numa catedral de Picardia ou de Artois e partam para ir colher as estrelas, mas não acordem…
Arrastem esta catedral de pedra através da floresta até onde o mar vem florir, mas não acordem… Mas não acordem…
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Isto não é uma letra, mas antes um verdadeiro POEMA, no sentido originário do termo! O assombro das palavras e da forma como ele as diz!...
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