domingo, 11 de abril de 2010

QUAND ON N'A QUE L'AMOUR


Já aqui referi que nas suas primeiras canções Brel aspira a um ideal. Ele canta com fervor a humildade, a lealdade, a ternura, o belo, o bem e a alegria de viver.
Há nesta primeira fase da sua carreira uma vontade de transformar as coisas e o mundo através da força dos sentimentos. E a força de amar explode nesta canção, Quand on n'a que l’amour. Esta canção pertence ao seu 2º LP e foi certamente a canção que lançou Jacques Brel na cena internacional. Diz-se que ele a escreveu em honra da sublevação húngara contra a invasão soviética no ano de 1956.
Estão registadas até hoje mais de 270 versões de “Quand on n’a que l’amour” em idiomas como por exemplo o japonês, o sueco, o filipino, o holandês , o catalão, o russo, o italiano, o polaco e até o hebraico.

QUANDO SÓ TEMOS O AMOR (1956)
Quando só temos o amor a partilhar no dia da grande viagem que é o nosso grande amor...
Quando só temos o amor, meu amor, tu e eu, para resplandecer de alegria cada hora de cada dia...
Quando só temos o amor para viver as nossas promessas, e sem outra riqueza que não seja acreditar sempre nelas...
Quando só temos o amor para rechear de maravilhas e cobrir de sol a miséria dos subúrbios...
Quando só temos o amor por única razão, por única canção e único socorro...
Quando só temos o amor para vestir pela manhã pobres e vagabundos com mantos de veludos...
Quando só temos o amor para oferecer em oração pelos males da Terra, como um simples trovador...
Quando só temos o amor para oferecer àqueles cujo único combate é procurar o dia...
Quando só temos o amor para traçar um caminho e forçar o destino em cada encruzilhada...
Quando só temos o amor para falar aos canhões e nada mais que uma canção para convencer um tambor...
Então, sem ter nada mais que a força do amor, nós teremos nas nossas mãos, amigos, o mundo inteiro!

2 comentários:

  1. e um poema de daniel filipe para celebrar o Amor:

    "Em todas as esquinas da cidade
    nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas


    janelas dos autocarros


    mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-


    relhos de rádio e detergentes


    na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém


    no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da


    nossa esperança de fuga


    um cartaz denuncia o nosso amor




    Em letras enormes do tamanho


    do medo da solidão da angústia


    um cartaz denuncia que um homem e uma mulher


    se encontraram num bar de hotel


    numa tarde de chuva


    entre zunidos de conversa


    e inventaram o amor com carácter de urgência


    deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia


    quotidiana




    Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e


    fome de ternura


    e souberam entender-se sem palavras inúteis


    Apenas o silêncio A descoberta A estranheza


    de um sorriso natural e inesperado




    Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna


    Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente


    embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta


    de um amor subitamente imperativo




    Um homem uma mulher um cartaz de denúncia


    colado em todas as esquinas da cidade


    A rádio já falou A TV anuncia


    iminente a captura A polícia de costumes avisada


    procura os dois amantes nos becos e avenidas


    Onde houver uma flor rubra e essencial


    é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta


    fechada para o mundo


    É preciso encontrá-los antes que seja tarde


    Antes que o exemplo frutifique Antes


    que a invenção do amor se processe em cadeia



    Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos

    (...)"

    daniel filipe, "a invenção do amor"

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  2. Escrito há tantos anos por DF mas tão actual:

    "Pátria terra, lugar,
    cemitério adiado
    com vista para o mar
    e um tempo equivocado."

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