VER UM AMIGO CHORAR
Esta é mais uma canção do último disco gravado por Jacques Brel em 1977. Brel estava auto-exilado nas Ilhas Marquesas, em pleno Oceano Pacífico. Gravou o disco com um imenso esforço uma vez que o cancro pulmonar não lhe permitia grandes cansaços físicos. Sem nunca perder a boa disposição, Brel chega a fazer graça com a sua própria doença e a certa altura , no meio de uma gravação, pára exausto e pergunta pelo microfone “viram por aí um pulmão?” …
Um ano depois Brel morria em Paris.
Com certeza que há as guerras da Irlanda e os lugarejos sem música...
Com certeza que em tudo isto há falta de afecto…e até, não há mais América...
Com certeza que o dinheiro não tem cheiro, mas nenhum cheiro vos chega ao nariz... Com certeza que caminhamos sobre as flores...
Mas, mas ver um amigo chorar...
Com certeza que temos as nossas derrotas, e depois a morte que aparece lá bem no fim. O corpo inclina já a cabeça, espantado por ainda estar de pé...
Com certeza que há as mulheres infiéis e os pássaros assassinados...
Com certeza que os nossos corações perdem as asas...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que há cidades consumidas por essas crianças de cinquenta anos e a nossa impotência para as ajudar... E os nossos amores que sofrem dos dentes...
É certo que o tempo voa demasiado depressa e esses comboios vão cheios de afogados... E a verdade que nos evita...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que os nossos espelhos são imparciais... Nem a coragem de se ser judeu, nem a elegância de se ser negro... Acreditamos que somos pavio e não passamos de sebo...
E todos esses homens que são nossos irmãos, já não nos deixam surpreendidos se por amor nos dilacerarem...
Mas, mas ver um amigo chorar
EM MEMÓRIA DO MEU AMIGO MANUEL FARIA DE CASTRO
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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