quarta-feira, 8 de setembro de 2010

LA COLOMBE



Estamos em plena Guerra da Argélia (1954/1962). Brel, como belga que é, não está envolvido na política francesa, afirma Pierre Mendès France, um homem íntegro e honesto, que teve a coragem de pôr fim à guerra na Indochina e que se demitiu por causa do conflito da Argélia, porque desaprovava a política do governo onde era ministro de Estado.
No entanto, Brel faz perguntas certas, ele sofre, ele sabe que a guerra nunca será a solução. A guerra apodreceu a sua infância, como poderia ele reagir de outra forma?
"La Colombe”, foi traduzida e cantada por folksingers americanos, conforme relatado por Marc Robine, e tornou-se, pela voz de Judy Collins e Joan Baez, um hino às manifestações de massa contra a guerra no Vietnam.

A POMBA (1959)

Porquê esta fanfarra, quando os soldados perfilados, em formatura sobre uma gare, esperam pelos massacres... Porquê este comboio barrigudo que resfolga e suspira antes de nos conduzir até um mal entendido... Porquê os cantos e os gritos destas gentes acabadas de chegar. Eles é que deviam partir em nome da sua estupidez...
Nós não iremos mais à floresta, a pomba está ferida…
Nós não vamos à floresta, nós vamos matá-la...
Porquê essa hora onde termina a nossa infância, onde acaba a nossa oportunidade, onde o nosso comboio parte... Porquê esse pesado comboio cheio de homens vestidos de cinzento, equipados numa noite, para partirem agora como soldados... Porquê este comboio de chuva, porquê este comboio de guerra, porquê este cemitério marchando noite dentro...
Porquê os monumentos que as derrotas vão oferecer, e as frases já feitas, que se seguem ao enterro... Porquê o menino nado morto que será a vitória. Porquê os dias de glória que outros já pagaram... Porquê esses pedaços de terra que se vão pintar de luto uma vez que é a tiro que se apaga a luz...
Porquê o teu querido rosto desfigurado pelas lágrimas me fez render as armas no princípio da viagem... Porquê o teu corpo que se perde, o teu corpo que desaparece, e que sobre o cais não é mais do que uma flor sobre uma campa... Porquê esses dias seguintes onde eu vou ter que pensar que apenas usarei metade do amor...

Nós não iremos mais à floresta, a pomba está ferida… Nós não vamos à floresta, nós vamos matá-la...



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