sexta-feira, 30 de abril de 2010

LUIS EDUARDO AUTE

De um breliano brasileiro de Minas Gerais , Rafael Moreira , recebi a informação que LUIS EDUARDO AUTE canta uma canção dedicada a Jacques Brel, intitulada precisamente JACQUES.
Deixo aqui o texto de Luis Eduardo Aute e um vídeo que se encontra no youtube com a versão original da canção.
Os meus agradecimentos a RAFAEL MOREIRA, por esta informação... e por seguir atentamente o CANTO DO BREL.

LUIS EDUARDO AUTE

JACQUES

Jacques,
permíteme el atrevimiento de llamarte así
al escribir esta balada urgente para ti,
para ti
Jacques,
querrás saber por qué se me ha ocurrido,
al cabo de los años transcurridos,
recordar a aquel quijote belga
que escapó a Tahití
Jacques,
podría responderte simplemente porque sí
o que en la radio acabo de escuchar "Le Plat Pays"
Jacques, lo que sucede es que me han desgarrado el corazón
y necesito hablarte como "Jef" necesitó
Tu canción...

Ella ya no está...
pero eso qué más da,
pero eso qué más da
lo malo es esta noche
de eterna soledad
Jacques, ne me quitte pas.

Jacques,
ya ves que no se trata de escribirle al Sr. Juez,
y que mi drama es para que respondas: "qué idiotez,
qué idiotez"
Jacques,
si acudo a ti es porque busco a un amigo
para unas copas y un "estoy contigo
y a esa falsa rubia consentida,
que la folle un pez!..."
Jacques,
vayamos con Jaurés, Zangra y Fernand a la kermes
y luego al "Amsterdam" a que nos hagan un francés
Jacques,
pero han huido de este octubre frío de París...
tal vez estén volando entre las nubes junto a ti
aux marquises


quinta-feira, 29 de abril de 2010

LE BLOG DE RÉMY

O CANTO DO BREL foi citado em França, Vierzon, por LE BLOG DE RÉMY.
Este BLOG criado em Janeiro de 2008 destina-se a prestar homenagem a Jacques Brel , trinta anos depois do seu desaparecimento e quarenta anos depois da composição de VESOUL.
Dos Açores, Portugal, saudações brelianas para o Blog de Rémy.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

ZAZA FOURNIER


O Jornal de Brasília TRIBUNA DO BRASIL de ontem, 27, traz uma notícia assinada por Emanuelle Coelho, relacionada com Brel e da qual transcrevo alguns excertos:
ZAZA FOURNIER
Um dos maiores nomes da nova música francesa se apresentará nesta quinta-feira (29), na Capital Federal
Em sua primeira turnê pela América do Sul, a cantora e instrumentista Zaza Fournier se apresenta nesta quinta-feira (29), em Brasília. O show será realizado às 21h, no Teatro Sesc Presidente Dutra.
A vinda da cantora, instrumentista e compositora a Brasília é uma iniciativa da parceria Aliança Francesa e Sesc-DF. Na apresentação, Zaza fará shows pela Argentina (18 e 19/04) e Paraguai (22/04), além das cidades brasileiras Campinas (02/05), João Pessoa (06/05), Porto Alegre (08/05) e São Paulo (15/05). Descoberta pela Warner quando tocava acordeão pelos bares e ruas de Paris, a francesa, ainda pouco conhecida no Brasil, inspira-se no trabalho da cantora Edith Piaf, Elvis Presley, Tom Waits, Brigitte Fontaine e Jacques Brel – autor do clássico Ne me quitte pas.
Nascida em 1985, em Paris, filha de um professor de linguística e de uma grafista, a artista já recebeu críticas positivas das famosas revistas francesas Le Figaro, France Soir e L´Express. “Vê-la no palco, com sua franja, com sua presença de artista de cabaré, de estrela do Rock dos anos cinquenta… Zaza Fournier é uma mistura de estilos que faz girar pescoços e balançar pernas”, destaca a agência France Info. O primeiro álbum da cantora, chamado de Zaza Fournier e lançado pela Warner França, no final de 2008, trouxe os primeiros hits Mademoiselle e La Vie à Deux.


terça-feira, 27 de abril de 2010

VESOUL

O Acordeão é usado por Brel quando quer sugerir o divertimento e o convívio festivo. Pode ser o baile, a quermesse ou o banquete. Brel gosta do som deste instrumento e serve-se dele com inteligência. Na canção que publico hoje, Vesoul, o acordeão é magnificamente tocado por Marcel Azzola. E para contrariar o refrão, onde o cantor afirma que tem horror ao acordeão, durante a interpretação ele incita o acordeonista a tocar mais depressa, dizendo "Chauffe, Marcel, chauffe!!!".
O tema da canção é uma vez mais a guerra dos sexos.

Vesoul (1968)

Tu quiseste ver Vierzon, e fomos ver Vierzon... Tu quiseste ver Vesoul e fomos ver Vesoul... Tu quiseste ver Honfleur e fomos ver Honfleur...Tu quiseste ver Hamburgo e fomos ver Hamburgo... Eu quis ver Anvers e voltámos a ver Hamburgo, eu quis ver a tua irmã e fomos ver a tua mãe... Como sempre!

Deixaste de gostar de Vierzon e deixámos Vierzon... Deixaste de gostar de Vesoul e deixámos Vesoul... Deixaste de gostar de Honfleur e deixámos Honfleur... Deixaste de gostar de Hamburgo e deixámos Hamburgo... Quiseste ver Anvers e não vimos mais que os arredores... Deixaste de gostar da tua mãe e deixámos a tua irmã... Como sempre!

Mas digo-te já, não vou mais longe...E previno-te que não vou a Paris, aliás, tenho horror ao SOL e DÓ da valsa pirosa e do acordeão...

Tu quiseste ver Paris e fomos ver Paris...Tu quiseste ver o Dutronc e fomos ver o Dutronc... Eu quis ver a tua irmã e vi o Monte Valérien... Tu quiseste ver a Hortense, ela estava em Cantal... Eu queria ver Byzance e fomos ver Pigalle na Gare Saint-Lazare, e vi as flores do mal... Por acaso!

Deixaste de gostar de Paris, e deixámos Paris... Deixaste de gostar de Dutronc, e deixámos Dutronc... Agora confundo a tua irmã com o Monte Valérien... E daquilo que sei de Hortense não irei mais a Cantal, e tanto pior para Byzance porque já vi Pigalle e a Gare Saint-Lazare... É caro e faz mal... Por acaso!

Mas, volto dizer-te, não vou mais longe…E previno-te que a viagem acabou, aliás, tenho horror ao SOL e DÓ da valsa pirosa e do acordeão...



Este video foi feito no estúdo durante a gravação de VESOUL. Há outro video disponível AQUI onde Jacques Brel começa por brincar com a canção, seguindo-se depois um excerto de uma entrevista.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

OS PADRES

E volto à notícia que AQUIdivulguei no passado dia 9 deste mês.
Três padres resolveram gravar um disco onde incluíram a canção de Brel QUAND ON N’A QUE L’AMOUR.
Não resisto a transcrever uma pequena crítica saída ontem, 25 de Abril, no Jornal TRIBUNE DE GENÉVE sobre este assunto.


O MASSACRE INESPERADO
Eles esperaram muito tempo. 32 anos. Durante esse tempo eles não se manifestaram. Discretos. Nada transpareceu. A escolha foi longa para chegar a esta manta de retalhos aleatória.
Mas finalmente foram lançados com o poder da publicidade. TF1 incluída. Vimos os anúncios que, provavelmente, custaram um balúrdio. Pompas e cisrcunstância para estas vedetas incógnitas. O mundo a seus pés… deveria talvez dizer a seus joelhos. E pronto, o massacre foi formalmente executado.
Primeiro, são as vozes, essas vozes que nós percebemos porque é que fazem fugir os fiéis das igrejas à força de não expressar nada, excepto o xarope. Vozes doces e insípidas. É compreensível que os gurus evangélicos, os líderes político-religiosos muçulmanos e outros pescadores de almas conturbadas, com vozes fortes recuperem os decepcionados com aquelas vozinhas de falsete.
Em seguida, são os arranjos musicais, tipo cantilenas revisitadas para adulto retardado. E depois a presença visual - talvez devesse dizer a ausência visual?
No entanto, eles cantam. E é dramático.
Eles precisaram de 32 anos para a vingança. Jacques Brel morreu 9 de outubro de 1978, há 32 anos. Jacques Brel o devorador de curas. Eles tiveram 32 anos para se vingar dele. E lá está ela, eles fizeram-na.
Quem? OS TRÊS PADRES, três curas que recentemente gravaram um disco e que parece estar a fazer um enorme sucesso.
E quem massacram? Porque é realmente de um massacre que se trata. Eles vingam-se da morte do devorador de padres que há 32 anos atrás tanto os criticou.
Que massacre? Eles fizeram uma versão da canção “Quand on n’a que l’amour”. Terem ousado fazer isso e cantá-la como cantam, tão mal, massacrando-a, só tem uma explicação. É a vingança 32 anos depois de tudo o que Brel disse sobre eles. É a única justificação.
Ou então o produtor está a gozar com todo o mundo, ou mais ninguém tem o mínimo gosto musical. Dito isto, os gostos e cores, não há nada de menos universal. Se há quem goste, pela minha parte, nada mais tenho a dizer acerca disto.




Pai, perdoai-lhes porque eles sabem o que estão a fazer...

domingo, 25 de abril de 2010

JAURÉS



Jean Jaurés é o nome de um socialista francês assassinado em 1914. Ficou célebre por ser durante muitos anos director do jornal comunista Humanité. No seu último disco de 1977, Brel dedica uma canção a Jaurés.
Acerca da política, Jacques Brel, diz numa entrevista em 1972 que no fundo a política também era um acto de amor. Um homem de esquerda é um homem que tem amor pelos outros. Um homem de direita é um homem que tem amor por si próprio.

Jaurés (1977)

Eles estavam gastos aos quinze anos. Retiravam-se, mal começavam... Os doze meses chamavam-se Dezembro... Que vida tiveram os nossos avós!!! Entre o absinto e as missas cantadas eles já eram velhos antes de o ser... Quinze horas por dia com o corpo numa trela deixa no rosto uma cor pardacenta...
Sim, meu senhor, sim, meu mestre... Porque é que mataram Jaurés? Porque é que mataram Jaurés?

Não se pode dizer que eles foram escravos, mas daí a dizer que eles tenham vivido quando à partida já estavam vencidos, é muito difícil sair do buraco. E, portanto, a esperança florescia nos sonhos que afloravam aos olhos daqueles que recusavam rastejar até à velhice... Sim, meu senhor, sim, meu mestre... Porque é que mataram Jaurés? Porque é que mataram Jaurés?

Se por desgraça eles sobreviviam, era para irem para a guerra. Era para se acabarem na guerra, às ordens dum qualquer tarimbeiro, que exigia com desdém que eles desabrochassem, no campo do horror, os seus vinte anos nunca vividos... E eles morriam aterrorizados, miseráveis, sim, meu bom mestre, cobertos de padres, sim, meu senhor...

Exijam vocês, bela juventude, o tempo da sombra de uma memória, o tempo do sopro de um suspiro...
Porque é que mataram Jaurés? Porque é que mataram Jaurés

sexta-feira, 23 de abril de 2010

VESOUL, VIERZON, HONFLEUR



Sábado 3 de Abril, uma delegação de Vesoul e uma delegação de Vierzon, juntamente com seis tractores, fizeram a viagem até Honfleur, para ligar as três cidades mencionadas na canção
VESOUL, de Jacques Brel ... Eles foram recebidos por Françoise David, vereadora para a cultura e para o turismo.
" É uma história engraçada. Um dia destes recebi um telefonema de um Sr. Daniel Donon de Rosière, diz Françoise David, que perguntou se ele poderia vir a Honfleur com uma delegação de Vierzon e uma delegação de Vesoul… em tractores... Ao princípio pensei que era uma piada! Mas apercebi-me que não, porque até havia uma associação denominada "Vi-Ve-Brel”.
Na verdade, em Vierzon e em Vesoul os entusiastas de Jacques Brel fundaram a Associação "Vi-Ve Brel" (Vierzon-Vesoul Brel). A associação tem como objectivo promover a canção de Jacques Brel "Vesoul", uma canção onde consta também o nome de Honfleur.
Esta associação surgiu de uma constatação: Se Vesoul é tão famosa por causa da conhecida canção de Jacques Brel, Vierzon pode beneficiar da mesma fama. Esta cidade de Vierzon já foi famosa por outra razão: Os tractores Vierzon SFV (Sociedade Francesa de Vierzon) foram lá fabricados, entre 1930 e 1960. Vierzon precisa agora da canção de Brel.
A associação "Vi-Ve Brel" começou sua peregrinação pelas cidades da canção, no último ano: Partindo de Vierzon, juntaram-se em Vesoul. Este ano, os membros da associação, acompanhados por representantes de ambos os municípios optaram por ir a Honfleur.
No próximo ano, eles esperam que o representante de Honfleur se junte a eles para ir a Paris: Pigalle e Gare Saint-Lazare.
Françoise David, que vai começar a programar a viagem, acrescenta: "Se for possível: sim! Eu estou disponível ... É verdade que em Honfleur, o turismo não vive da canção de Brel. Em Vesoul, sim: a cidade criou inclusivamente um festival Brel! Vierzon era conhecido pelos seus tractores… Não um tractor qualquer: O Rolls dos Tractores! "
Este assunto já foi AQUI tratado neste blog.


Chegada do Askoy a Rupelmonde
Uma reportagem consagrada à chegada do Askoy a Rupelmonde será transmitida este Sábado, 24 de Abril, no programa Transversales, entre as 12 e as 13 Horas em LA PREMIÉRE , FM 92,5 ou 96,1.
Depois , durante a tarde a emissão pode ser ouvida a partir deste
SITE.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

BREL NOS AÇORES

A passagem de Jacques Brel pelos Açores em 1974 é o tema do espectáculo que o Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, estreia a 19 de Junho.
O mesmo espectáculo será apresentado cinco dias depois em Lisboa (Teatro S. Luiz) prevendo-se depois a sua apresentação na Horta, Faial, em Julho.
Esta produção própria do Teatro Micaelense, intitulada "Brel nos Açores", que tem por base uma narrativa escrita por NUNO COSTA SANTOS e tem o actor Dinarte Branco como única figura em palco, integra componentes sonoras e de imagem, pretendendo "recuperar a personagem do artista belga e os Açores" de 1974, altura em que Brel (1929-1978) escalou a ilha do Faial a bordo do seu iate Askoy.
A promoção do espectáculo, que resultou de uma parceria com a Câmara da Horta, surge integrada na programação do "Açores Região Europeia 2010".
A equipa de produção esteva na Horta nos passados dias 19,20 e 21 para recolher imagens, sons, depoimentos e cumplicidades...

Equipa de Produção de BREL NOS AÇORES (da esquerda para a direita)
Paulo Abreu– “Nessa altura não vou ter tempo, estou a fazer uma curta.”
Sérgio Gregório – “Isto vai ser à GRANDALHÃO.”
Nuno Costa Santos – “Vou me recolher...”
Dinarte Branco – “Calma, eu não sou o Brel!”
Inês Eva - “Isto nunca me aconteceu! Opá, não se riam.”

domingo, 18 de abril de 2010

L'OSTENDAISE



Um dia perguntaram a Jacques Brel se preferia ser músico ou poeta. Ele respondeu que gostaria de ter escrito quartetos de cordas, mas, por outro lado, também gostaria de ter escrito poesia ou romances. Assim, ficou-se pelo meio-termo e pôs-se a escrever canções o que lhe permitiu não ficar zangado nem com a música nem com a escrita. “Não fiquei a lamentar-me o resto da vida por ter falhado. Por não ter escrito um quarteto de cordas ou por não ter escrito um grande romance”.
Ostendaise é uma mulher de Ostende, porto belga no Mar do Norte.

A Ostendesa (1968)

Uma Ostendesa chora na sua cadeira; o gato sopesa o peso do seu amor... Em silêncio a sua tristeza dança, e os velhos pensam, cada um à sua maneira... Na cozinha, algumas vizinhas falam da China e de um regresso... Em Singapura, uma javanesa tornou-se cunhada da Ostendesa...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

A nossa Ostendesa, que nada sossega, de cadeira em cadeira, leva a sua ofensa... Algumas comadres, alguns compadres, batem o ferro da sua ruptura... O seu capitão, com a pança cheia de cerveja, toca tambor... Homem de velas, homem de estrelas, faz escala para um desvio...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

A nossa Ostendesa, no tempo dos morangos, faz-se amante de um farmacêutico... O seu capitão, morto debaixo da pança, diverte-se com as baleias e com os submarinos. Porque, minha querida, eu, o falso marujo que o tempo obriga a escrever-te de longe, amo-te mesmo. E amo-te tanto que tenho medo , minha rainha, dum farmacêutico...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

sábado, 17 de abril de 2010

LE DERNIER REPAS



Profissionalismo. Sinceridade. Ausência de tempos mortos durante o espectáculo. Ausência de truques visuais parar distrair o público. Ausência de cenários ou jogos de luzes. Brel está no palco como um boxeur que quer ganhar o combate. Brel canta com o corpo e com o coração. Canta com os gestos e com os olhares. Com Brel pode-se dizer que a canção palpita e transpira no palco. Ele é o marinheiro de Amesterdão, o recruta em campanha ou o homem que espera a sua morte. Caso da canção Le dernier repas...

A última refeição (1964)

Na minha última refeição quero ver os meus irmãos e os meus cães e os meus gatos e a beira-mar...
Na minha última refeição quero ver os meus vizinhos, e até alguns chineses à laia de primos...
E quero que se beba, além do vinho da missa, daquele vinho tão bom que bebemos em Arbois...
E quero que se coma, depois dos padrecos, um faisão vindo de Périgord...
Depois quero que me levem ao alto da minha colina para ver as árvores dormir enquanto fecham os braços, e depois, quero ainda lançar pedras ao céu, gritando DEUS ESTÁ MORTO uma última vez.

Na minha última refeição quero ver o meu jerico, as minhas galinhas e os meus gansos, as minhas vacas e as minhas mulheres...
Na minha última refeição quero ver essas galdérias de quem eu já fui mestre e rei, ou que foram minhas amantes quando eu tinha na barriga o que dava para afogar a terra...
Partirei o meu copo para que se faça silêncio, e cantarei bem alto à morte que avança as cantilenas ordinárias que amedrontam as noviças...
Depois quero que me levem ao alto da minha colina para ver a tarde que caminha lentamente pela planície, e lá, de pé, ainda insultarei os burgueses, sem receios nem remorsos uma vez mais.

Depois da minha última refeição quero que se retirem, que acabem a pândega debaixo do meu tecto...
Depois da minha última refeição quero que me instalem, sentado, só, como um rei recebendo as suas Vestais... No meu cachimbo queimarei as minhas recordações de infância, os meus sonhos inacabados e os meus restos de esperança...
E apenas guardarei, para vestir a minha alma, nada mais que uma ideia de roseira e um nome de mulher... Depois, contemplarei do alto da minha colina que dança se adivinha e acaba por soçobrar...
E no odor das flores que em breve se extinguirá, eu sei que terei medo...
Uma última vez...


sexta-feira, 16 de abril de 2010

L'ÂGE IDIOT

Para o jovem Jacques Brel o importante era viver intensamente cada momento que passava. O Amanhã era outro dia... Mas, o tempo da tropa chegou e veio definitivamente destruir esta filosofia de vida. Ele, que tinha passado a adolescência em tempo de guerra, vê no serviço militar uma máquina de fabricar idiotas, que degrada e mutila as personalidades que ela mesma ignora...




A IDADE PARVA (1965)

A idade parva é às vinte Primaveras, quando a barriga arde de fome. Acredita-se que ao lavar as mãos se lavam também os problemas... É quando se tem mais olhos que barriga, é quando se têm os olhos maiores que o coração, é quando se tem o coração ainda demasiado terno... É quando se têm os olhos ainda cheios de flores…E que bem cheiram os campos de luzerna a tambores mal rufados... É quando se reconhecem os clarins desmaiados e os leitos da pequena virtude. E quando se adormece todas as noites nas casernas.

A idade parva é às trinta Primaveras, quando a barriga começa a crescer. Quando o ventre se impõe e desautoriza o coração... Quando os olhos pesam mais, quando os olhos marcam as horas. Eles que sabem que às trinta Primaveras começa a contagem decrescente... E que se abandonam os velhos na sua caverna, e que se põem umas orelhas de burro a Deus... Mas, que à noite, se acendem luzes quando se esfregam dois corações de mulher, e já se sentem algumas saudades do tempo das casernas...

A idade parva é às sessenta Primaveras, quando a barriga se bamboleia, quando a barriga se avoluma até fazer inchar o coração... Quando os olhos não têm mais lágrimas, quando os olhos arrefecem, quando os olhos perdem o feitiço, quando os olhos entregam as armas... Quando se ressentem os amores, mas se sente resignação para com os velhos e a sua decadência, ou para com os demasiado jovens de partida... Quando se acredita estar protegidos pelas casernas...

A idade de ouro é quando se morre, quando se fica de barriga para o ar. Quando se fica escondido debaixo da barriga, com as mãos protegendo o coração... Quando enfim se tem os olhos abertos, mas já não se vê nada, quando se olha a claridade e as suas nuvens penduradas...
A idade de ouro é depois do inferno, é depois da idade de prata, onde se fica de novo menino, dentro do ventre da terra...
A idade de ouro é quando se adormece na última caserna...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

LE CHEVAL



Em 1966 Brel anuncia que vai deixar os palcos. Primeiro, porque se sente cansado das incessantes digressões e não quer envelhecer na ribalta, aos olhos do público. Segundo, porque não quer tornar-se num velho cantor cabotino, numa vedeta a quem o público aplaude por deferência. Acaba todos os contratos em Maio de 1967 e o derradeiro espectáculo é dado em Roubaix no dia 16 de Maio. Cada vez que Brel acaba de interpretar uma canção dirige-se ao seu pianista, Gérard Jouanest, e diz-lhe “nunca mais tocamos esta…”

O CAVALO (1967)

Eu era bem mais feliz, bem mais feliz, antes, quando eu era o cavalo que puxava a tua caleche, Madame, bela Madame, pelas ruas de Bordéus...
Mas, tu quiseste que eu me tornasse teu amante, tu quiseste mesmo que eu deixasse a minha égua...
Eu não era senão um cavalo, sim, sim, mas tu aproveitaste-te, e por amor por ti eu agora estou “deséguado” ... E depois, todas as noites, na tua cama de cetim branco, eu sinto saudades da minha cavalariça, da minha cavalariça e da minha égua...

Eu era bem mais feliz, bem mais feliz, antes, quando eu era cavalo, quando tu levavas, madame, grandes tampas, bela madame, quando pulavas a cerca...
Mas, tu quiseste que eu aprendesse as boas maneiras, quiseste que eu aprendesse a andar sobre as patas traseiras...
Eu não era mais que um cavalo, sim, sim, mas tu mandaste-me castrar, e por amor por ti... eu agora estou “atraseirado”...
E depois, todas as noites, quando dançamos o tango, sinto saudades da minha cavalariça, da minha cavalariça e do meu galope...

Eu era bem mais feliz, bem mais feliz, antes, quando eu era o cavalo que te levava a passear, bela Madame, sobre a minha garupa, na floresta de Fontaibleau.
Mas, tu quiseste que eu fosse o teu banqueiro, tu quiseste mesmo que eu me pusesse a cantar...
Eu não era mais que um cavalo, sim, sim, mas tu abusaste, e por amor por ti… eu agora estou “envedetado”...
E depois, todas as noites, quando eu canto NE ME QUITTE PAS, eu tenho saudades da minha cavalariça e dos meus silêncios de outrora...

E depois, e depois, tu partiste... Radical, com um Zebra, um Zebra mal riscado, no dia em que, Madame, eu recusei que tu aprendesses a montar a cavalo...
Mas, tu já me tinhas tirado a minha égua e o meu silêncio e as minhas ferraduras e a minha cavalariça e o meu galope...
Só me deixaste os dentes. E é por isso que eu corro, eu corro, eu corro pelo mundo relinchando, acontecendo-me agora recusar o amor pelas mulheres e pelas éguas.
Eu era bem mais feliz, bem mais feliz, antes, quando eu era o cavalo que levava a passear a Madame, na sua caleche... Quando eu era cavalo e tu eras uma megera!!!


terça-feira, 13 de abril de 2010

BERNARD GIORDAN

Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre mais um espectáculo de homenagem ao cantor. Na Cidade de Nice, na próxima quinta-feira,15.

domingo, 11 de abril de 2010

QUAND ON N'A QUE L'AMOUR


Já aqui referi que nas suas primeiras canções Brel aspira a um ideal. Ele canta com fervor a humildade, a lealdade, a ternura, o belo, o bem e a alegria de viver.
Há nesta primeira fase da sua carreira uma vontade de transformar as coisas e o mundo através da força dos sentimentos. E a força de amar explode nesta canção, Quand on n'a que l’amour. Esta canção pertence ao seu 2º LP e foi certamente a canção que lançou Jacques Brel na cena internacional. Diz-se que ele a escreveu em honra da sublevação húngara contra a invasão soviética no ano de 1956.
Estão registadas até hoje mais de 270 versões de “Quand on n’a que l’amour” em idiomas como por exemplo o japonês, o sueco, o filipino, o holandês , o catalão, o russo, o italiano, o polaco e até o hebraico.

QUANDO SÓ TEMOS O AMOR (1956)
Quando só temos o amor a partilhar no dia da grande viagem que é o nosso grande amor...
Quando só temos o amor, meu amor, tu e eu, para resplandecer de alegria cada hora de cada dia...
Quando só temos o amor para viver as nossas promessas, e sem outra riqueza que não seja acreditar sempre nelas...
Quando só temos o amor para rechear de maravilhas e cobrir de sol a miséria dos subúrbios...
Quando só temos o amor por única razão, por única canção e único socorro...
Quando só temos o amor para vestir pela manhã pobres e vagabundos com mantos de veludos...
Quando só temos o amor para oferecer em oração pelos males da Terra, como um simples trovador...
Quando só temos o amor para oferecer àqueles cujo único combate é procurar o dia...
Quando só temos o amor para traçar um caminho e forçar o destino em cada encruzilhada...
Quando só temos o amor para falar aos canhões e nada mais que uma canção para convencer um tambor...
Então, sem ter nada mais que a força do amor, nós teremos nas nossas mãos, amigos, o mundo inteiro!

sábado, 10 de abril de 2010

COLONY THEATRE COMPANY


O espectáculo JACQUES BREL IS ALIVE AND WELL AND LIVING IN PARIS vai estar de novo em cena nos EUA.
De 7 de Abril a 9 de Maio vai estar no COLONY THEATRE COMPANY, de Los Angeles, com os actores/cantores Eileen Barnett, Gregory Franklin, Jennifer Shelton e Zachary Ford.

No programa do espectáculo pode ler-se:
“Em 2006, este tesouro esquecido do teatro musical foi redescoberto em Nova York, e agora regressa triunfante para Los Angeles, onde há muitos anos não é visto . A genialidade de Jacques Brel é soberbamente captada nesta brilhante coleção de canções intemporais - canções de desejo apaixonado e de desgosto, de exuberância juvenil e de cansaço do mundo, de alegre esperança e de sonhos esquecidos. Tão ousado como cmovente, como sempre, Jacques Brel reflete o objectivo do que significa estar vivo e onde cada canção é uma história. O espírito de Brel continua vivo neste energético regresso, que rivaliza com a maioria do que se ouve num palco da Broadway."

sexta-feira, 9 de abril de 2010

NOTÍCIAS

Das Edições Jacques Brel continuo a receber a um ritmo quase diário informações sobre acontecimentos, homenagens, espectáculos, citações, reedições de discos, etc, relacionados com o cantor.
32 anos depois do seu desaparecimento físico, Brel continua presente na memória de todos os que o viram ao vivo ou que compraram os seus discos nos anos 60. Mas o que surpreende é que continua a crescer o número de fãs de Brel. E esses fãs nasceram já depois de 1978.
Hoje tenho três notícias relacionadas com o autor de Ne me quitte pas.

O trio de padres LES PRÊTRES gravou um CD – SPIRITUS DEI – onde inclui a canção Quand on n’a que l’amour, de Brel.


Foi editado um livro de fotografia (Éditions de la Martinière) de GABRIELE BOISELLE sobre cavalos à solta, com textos de Jean-Louis Gouraud. Uma das fotos tem um verso da canção Le cheval “J'étais vraiment, j'étais bien plus heureux , bien plus heureux avant quand j'étais cheval”


O cantor Jean Luc Tassel continua com o seu espectáculo “L’homme dans la cité”, piano, solo, voix. Tassel revisita Brel no dia 23 no BABILO.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

8 de ABRIL

Hoje, dia 8 de Abril, se Brel estivesse vivo faria 81 anos.
Mas, vamos imaginar que ele não morreu em 1978 e vive em Hiva Oa, nas ilhas Marquesas.
Está bem, e feliz, apesar de ter problemas de saúde próprios da idade. Já não canta, evidentemente, mas ainda escreve e hoje decidiu refazer uma das suas canções composta em 1967 .
Se hoje Brel estivesse vivo será que escreveria qualquer coisa como isto?

La la la (2010)

Maintenant je suis vieux, je suis insupportable,
Sauf pour ma bite et mon maigre pisser ;
Mon chant est déjà mort, ma veine est périssable,
Mais toutes mes chansons m’ont laissé persister.
J’habite un quelconque pacifique Archipel
Qui m’ignore tout autant que quand j’étais Brel
Même que j’y chante Ne me quitte pas,
Strangers in the night ou Alloha, alloha...

Je suis fui comme un trop vieux chanteur
Par tous les ventres da la societé tahitienne,
Je bois donc seul mes droits d’auteur,
Il faut bien être lorsque l’on n’a pas de la haine...
Je ne suis reçu que par mes voisins d’Atuona
A leur festin pour qu’ils ne soient pas treize,
Et j’y parle sur une simple chaise,
J’y parle aprés un plus vieillard que moi
« Messieurs, ici dans les Marquises, ça va !
C’est moi l’éternel chasseur de tendresse !!! »

Et s’il y arrive un con futile et vain
Ou si un bourgeois imbécile débarque au port,
Je les insulte comme j’insulte un Flamingant
Penchés vers moi comme des larbins de la mort...
Parce que je ne veux pas vivre cerné de rigolos
Qui me disent qu’il était chouette Bécaud,
Et que s’il y en a des qui veulent se dissoudre devant les feux,
Y en a des qui préfèrent résister derrière le rideau ...


Vieux Jacques

Nota:
Quem quiser comparar este texto, que tomei a liberdade de criar, com o original de Brel, pode vê-lo AQUI.



Casa onde nasceu Jacques BREL, Avenue du Diamant, no bairro SCHAERBEEK, em BRUXELAS.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

LES TIMIDES



Não existe gravação em estúdio desta canção. A única gravação disponível é de um espectáculo no Olympia em 1964.
Se Brel não tivesse existido nunca os tímidos teriam tido a sua canção. Uma canção com uma melodia irónica mas ao mesmo tempo terna. Uma canção com um texto sintético e ao mesmo tempo dramático.
Sobre a timidez Jacques Brel dizia: “ Sou bastante tímido, mas isso não tem nada a ver com o facto de cantar para duas mil ou vinte mil pessoas. Todas essas pessoas que me conhecem dos espectáculos e da televisão, vêem-me sempre com um ar grave e então pensam “mas que tipo arrogante, que tipo vaidoso”. Mas se eu fosse o farmacêutico da esquina ninguém se ia importar com isso, ninguém ligava nenhuma…”.
Brel não gostava de ser considerado um bicho raro, metido numa jaula onde as pessoas vinham para o ver, para lhe fazer perguntas sobre isto e aquilo. Ele adorava o confronto. Gostava de estar no jogo em igualdade de circunstâncias com o interlocutor. No palco usava a provocação e a ironia para esconder a timidez.

OS TÍMIDOS

Os tímidos, torcem-se, contorcem-se, saltitam, enroscam-se, enrugam-se, sonham ser coelhos... Pouco importa de onde saem, são folhas mortas levadas pelo vento à frente das nossas portas... Dir-se-ia que transportam uma mala em cada mão...

Os tímidos vão pela sombra, a sombra triste da sua sombra… Só a penumbra sabe dos seus pudores orientais... Eles franzem-se, empalidecem, amarelecem, coram, ruborizam, ficam vermelhos, com uma mala em cada mão...

Mas os tímidos, numa noite de audácia, à frente do espelho, imaginando o espaço, metem o cabedal e...“Afastem-se! Vamos Paris, aguenta-te!!!... E viva a Gare de St Lazare !!!” Mas, perdem-se, assustam-se, fogem e regressam a casa com uma mala em cada mão...
Os tímidos, quando sofrem por causa de uma Elvira, suspiram, desejam coisas que desejam dizer, mas que não ousam de maneira nenhuma... E as suas amantes, mais entendidas em copos que em carinhos, uma noite, deixam-nos de cu para o ar, com um mala em cada mão...

Os tímidos, então, envelhecem, acabam, encolhem. E quando deslizam para os abismos, quero dizer, quando morrem, não se atrevem a dizer nada, a nada maldizer, não ousam estremecer, não ousam sorrir... Somente um suspiro... E morrem com uma mala sobre o coração...

terça-feira, 6 de abril de 2010

GRAND-MÈRE


A canção Grand-mère, de 1965, é mais um retrato em cores vivas e acutilantes muito ao gosto de Jacques Brel. A fase idealista já estava há muito ultrapassada. Agora os “temas fracturantes” eram o prato forte das canções brelianas. A denúncia dos conformismos, a mediocridade, os fanatismos e as hipocrisias como a desta canção…

A AVÓ

É preciso ver a avó, a avó e a sua peitaça... A avó e as suas fábricas, e os seus vinte secretários...
É preciso ver a avó dirigir os seus negócios. Ela vende correntes de ar disfarçadas de ventanias...
É preciso ver a avó, quando ela conta o seu pé-de-meia.
São montes de zeros, redondinhos como o seu traseiro.
Mas, enquanto isso, o avô corre atrás da criada, dizendo-lhe que o dinheiro não dá felicidade...
Como querem vocês, gente boa, que as nossas boas criadas e os nossos forretas tenham a noção dos valores?...

É preciso ver a avó, uma transmontana que fuma Havanos e que faz tremer a Terra...
É preciso ver a avó, cercada de generais... Em calções de couro, ela ganha as suas guerrazinhas...
É preciso ver a avó em sentido de chapéu... É Waterloo onde não estará Blucher...*
Mas, enquanto isso, o avô corre atrás da criada, dizendo-lhe que o exército só faz cera...
Como querem vocês, gente boa, que as nossas boas criadas e os nossos magalas tenham a noção dos valores?...

É preciso ver a avó a convencer-se sobre a morte... Um pedacinho de sacristia, um pedacinho de remorso...
É preciso ver a avó e a sua Liga das Virtudes, os seus velhos combatentes, os seus velhos combatidos...
É preciso ver a avó, quando ela se acha pecadora... Um grande copo de vinho da missa e um dedo de convento...
Mas, enquanto isso, o avô corre atrás da criada, dizendo-lhe que os padres são uns farsantes...
Como querem vocês, gente boa, que as nossas boas criadas e os nossos ateusinhos tenham a noção dos valores...

Mas... É preciso ver o avô, nas tascas à cunha, onde se joga bilhar e se emborcam copos de cerveja...
É preciso ver o avô, a acariciar os juncos, a desfolhar as lagoas, chorando o Rimbaud...
É preciso ver o avô, ao Domingo à noite, envergonhado e lamentando ter enganado a avó...
Mas, enquanto isso, a avó come a criada, dizendo-lhe que os homens são uns mentirosos...
Como querem vocês, gente boa, que as nossas boas criadas e a nossa bela juventude tenha a noção dos valores...

* Napoleão I foi vencido por Blucher em 1815 na localidade belga Waterloo.

sábado, 3 de abril de 2010

LA CATHÉDRALE



As Edições Jacques Brel informam-nos que finalmente o ASKOY II, o veleiro de Jacques Brel, que acabou os seus dias naufragado numa ilha da Nova Zelândia, vai ser finalmente recuperado.
Este barco construído por HUGO van KUIK nos anos 70 está neste momento no porto belga de Ostende e no próximo dia 8 vai ser transportado para Rupelmonde onde se iniciarão de imediato as obras de restauro. Dia 8 de Abril porque é a data do nascimento de JAQUES BREL, e o autor do restauro,Pieter Wittevrongel , escolheu esta data para que ela seja a do renascimento do ASKOY II.
No último disco de Jacques Brel está esta canção -A Catedral - que é sem dúvida dedicada ao seu barco.

A CATEDRAL

Peguem numa catedral e ponham-lhe alguns mastros, um gurupés, uns amplos porões, cabos, tirantes. Peguem numa catedral esguia e alta e de bojo largo, uma catedral a erigir com estais e velas mestras. Uma catedral de Picardia ou da Flandres, uma catedral à venda por padres sem estrela. Essa catedral de pedra, que será “desnossosenhorizada”, arrastem-na para aqui, onde o mar vem florir. Icem os panos com alegria e zarpem para Inglaterra…
A Inglaterra é bonita de se ver do alto de uma catedral, mesmo que o chá faça chover alguns aborrecimentos sobre as escalas… As Cornualhas estão ali à mão quando elas dão à luz do dia, e nós vogamos entre a ternura e o amor. Peguem numa catedral e ponham-lhe alguns mastros, um gurupés e uns amplos porões, mas não acordem. Desenrolem todos os panos, e “ala bote” marujos.
Cacem os cachalotes que vos guiarão aos Açores, e depois à Madeira com as suas raparigas canarinas e o oceano, que alegre, vos empurrará até às Antilhas… Peguem uma catedral, icem o pavilhão pequeno e façam cantar as velas, mas não acordem…
Porra, as Antilhas são lindas. Elas estalam-te na boca. A gente deitava-se bem sobre elas… Mas vamos para diante porque todos os sinos tocam a rebate… A vossa catedral vai a todo o pano e trespassará o canal do Panamá… Peguem numa catedral de Picardia ou de Artois, partam para ir colher as estrelas, mas não acordem…
E eis o Pacífico. Longas vagas que rolam ao vento e murmuram a sua música até às ilhas mesmo ali à frente, e que vos perdoarão, lá, melhor que noutro sítio qualquer, se vocês quiserem desaparecer entre as flores. Peguem numa catedral, icem o pavilhão pequeno e façam cantar as velas, mas não acordem…Peguem numa catedral de Picardia ou de Artois e partam para ir colher as estrelas, mas não acordem…
Arrastem esta catedral de pedra através da floresta até onde o mar vem florir, mas não acordem… Mas não acordem…


sexta-feira, 2 de abril de 2010

TIAGO BETTENCOURT



No caderno ÍPSILON (PÚBLICO) de hoje, dia 2, é publicada uma longa entrevista com TIAGO BETTENCOURT, ex-Toranja e actual Mantha.
Nesta entrevista Tiago Bettencourt diz a certa altura quando fala da sua melomania:
Jacques Brel, por sua vez, ficou preservado desde a infância. Descobrimo-lo ao passar NE ME QUITTE PAS: "O meu pai é o maior fã que conheço e uma das imagens que guardo de pequeno é Jacques Brel a cantar, empapado em suor. Pegar nas cassetes (vídeo) que o meu pai tinha e vê-lo a cantar aquele francês tão bem dito era das poucas coisas que me faziam sentar na sala". Nos seus afectos musicais, tudo remete para a emoção, para a tal noção de verdade.

Eu que também sou "o maior fã de Brel" só me resta dar os parabéns ao Tiago pelo seu bom gosto musical, que afinal foi herdado de um breliano convicto: O seu pai.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

GABRIEL LEFEBVRE



LES PLUS BELLES CHANSONS DE JACQUES BREL é mais um livro de Banda Desenhada inspirado em canções do Grand Jacques. O seu autor é GABRIEL LEFEBVRE, ilustrador, um verdadeiro mestre da aguarela e da tinta da china.
Este livro é da Editora
La Renaissance du Livre e conta com 58 ilustrações.
É assim que ele recria NE ME QUITTE PAS em aguarela:


Por falar em Ne me quitte pas, Gigliola Cinquetti, a tal que ganhou o Eurofestival em 1964, com a canção Non ho l’età, também cantou este ex-libris de Brel.