segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ORLY



Em ORLY Brel cita Gilbert Bécaud “ ...como é triste Orly ao domingo com ou sem Bécaud”. Em 1963 este cantor francês tinha feito um sucesso enorme com uma canção chamada DIMANCHE À ORLY (Domingo em Orly) onde entre muitas futilidades dizia que “ eu vou ao domingo a Orly, no aeroporto vemos os aviões voar para todos os países”.
Brel prefere falar de gente que se ama e que se despede em Orly. O texto de ORLY está no bom estilo descritivo de BREL.
Esta canção está no seu último disco . Este disco foi gravado em segredo. O cantor estava doente e não queria publicidade nenhuma. Depois da gravação feita ele voltou às Ilhas Marquesas. Apesar de tanto secretismo, antes do disco estar impresso e à venda nas lojas, já atingira o impressionante número de 1 milhão de encomendas… Facto absolutamente inédito na indústria discográfica da altura …

Orly (1977)

Serão mais de dois mil, mas eu não vejo mais que eles dois. A chuva uniu-os, parecem-se um com o outro... Serão mais de dois mil, mas eu não vejo mais que eles dois, e eu sei do que eles que falam. Ele deve estar a dizer “amo-te” e ela deve estar a dizer “amo-te”. Acredito que eles não estão a fazer promessas, um ao outro, são demasiado frágeis para serem ingratos...

Serão mais de dois mil, mas eu não vejo mais que eles dois. Subitamente ele chora, chora lágrimas como punhos... Tão enlaçados estão, que transpiram por todos os poros, arfam de esperança e não ligam aos puritanos que os olham de lado… Estes dois escorraçados, soberbos de tristeza, deixam aos cães a proeza de os julgarem...

A vida não dá brindes!... Meu Deus, como é triste Orly ao Domingo, com ou sem Bécaud...

E agora eles choram, choram os dois. Há instantes era ele... Tão abraçados que estão, não escutam mais nada a não ser os soluços um do outro... E depois, depois indefinidamente, como dois corpos que suplicam, indefinidamente, lentamente, estes dois corpos separam-se e separando-se estes dois corpos despedaçam-se, e juro-vos que gritam. E depois voltam a abraçar-se para ser de novo um só... O fogo volta, e despedaçam-se outra vez... Agarram-se pelos olhares e depois recuam como o mar que se afasta... Ele diz adeus, balbucia algumas palavras, agita uma vaga mão, e bruscamente foge. Foge sem se voltar, e desaparece engolido pela escada...

E ela, ela fica. Coração crucificado, boca aberta, sem um grito, sem uma palavra... Ela conhece a sua morte, ela acaba de se cruzar com ela. E ela volta-se, e volta-se de novo... Os seus braços caídos até ao chão. Há muito que ela sabe que é assim. A porta fechou-se, não há luz. Ela rodopia sobre si mesma e já sabe que voltará sempre. Ela perdeu homens, mas ali ela perdeu o amor. O amor disse-lhe “cá estou de novo, inútil...” Ela viverá de projectos que não são senão uma espera.
Ei-la de novo, frágil, antes que esteja à venda...
Eu estou lá, estou a segui-la, e não arrisco nada por ela... A malta vai trincar nela, como na fruta barata...


domingo, 29 de agosto de 2010

LES BLÉS



Os primeiros anos de Jacques Brel em Paris não foram fáceis. Durante muito tempo actuou numa sala parisiense chamada Les Trois Baudets mas o público não se entusiasmava. Brel tinha um contra que o prejudicava imenso: O seu sotaque de Bruxelas e maneira de se vestir davam-lhe um ar de provinciano. Tudo isto servia de motivo para ridicularizar o cantor recém-chegado da Bélgica. No entanto, com uma imensa força de vontade ele ignorou tudo isto e o público acabou por reconhecer o seu valor. A canção LES BLÉS, é de 1956 e identifica-se com o gosto popular da esquerda católica que influenciou BREL até 1958.


AS ESPIGAS (1956)

Dá-me a tua mão, o sol apareceu.
Vamos fazer-nos ao caminho, o tempo das colheitas chegou,
O trigo está à nossa espera há muito tempo e nós esperamos muito pão...
A tua mão sobre o meu braço, cheia de ternura, docemente pedirá para poupar as flores,
E a minha foice vai poupá-las para evitar que tu chores...

As espigas são para a foice, o sol para o horizonte,
Os rapazes são para as moças e as moças para os rapazes...

Dá-me os teus olhos, o sol está quente e no teu olhar brilhante ele fez brotar repuxos de água, que melhor que um gesto, melhor que uma palavra refrescarão o teu amado...
Debruçada sobre a terra, tu enfeixas o trigo. E se, por vezes, a tua saia voa por causa do vento leviano,
Perdoa-me se eu vir os tesouros que se revelam para meu prazer...

As espigas são para a foice, o sol para o horizonte,
Os rapazes são para as moças e as moças para os rapazes...

Dá-me o teu coração, o sol cansado foi para outras paragens cantar a cantiga do trigo ceifado.
Chegado é o tempo de se amar. Precisamos respigar a felicidade,
dominada pelo amor, deslumbrada de alegria...
Saudarei o fim do dia apertando-te contra mim e tu encher-me-ás de emoção quando me disseres para sempre...


sábado, 28 de agosto de 2010

L'AVENTURE



Jacques Brel fazia mais de 300 espectáculos por ano. Em todos eles se dava ao público da mesma maneira. Sem mentiras, sem artifícios, sem vedetismos.
Brel tinha esta opinião curiosa sobre as salas de espectáculo. Quanto mais confortável fosse a sala, com boas cadeiras, pior o espectáculo corria, porque, segundo ele, cada espectador ficava mais individualista e a comunicação tornava-se então mais difícil. O desconforto de uma sala cheia gerava um público em massa, muito mais comunicativo.
Tal como a canção de ontem, VOIR, também a de hoje é de 1958. Chama-se L’Aventure. É uma canção heróica com corais e sons de bigorna a bater o compasso. Ao contrário de Brassens, cujo estilo estava definido desde po primeiro disco, “ Brel levará mais de 5 anos a amadurecer, diz Marc Robine diz no seu livro GRAND JACQUES, (biografia de Brel, publicado em 1998), acumulando os fracassos, as canções medíocres, as imagens grandiloquentes e as lenga-lengas palavrosas, tudo entrecortado, cá e lá, por rasgos fulgurantes e preciosos”

A AVENTURA (1958)

A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...
A aventura começa na alvorada, a alvorada que nos mostra o caminho...
A aventura é o tesouro que se descobre em cada manhã...
Para o Martin é o ferro na bigorna; para o César é o vinho que cantará;
para o Yvon é o mar que ele governa, é o dia que se ilumina, é o trigo que se malha...
A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...

Tudo aquilo que procuramos descobrir, floresce cada dia, a um canto das nossas vidas.
A grande aventura é saber colhê-la entre a nossa igreja e o nosso município,
Entre a cancela do avô Machin e o bosque formoso do senhor barão,
E entre a vinha do nosso vizinho e o doce sorriso da Madelon...

Todos aqueles que procuram o amor estão perto de nós, a cada instante...
Nos ermos das ruas, na sombra dos prados, no fim do caminho, no meio dos campos,
Erguidos ao vento e semeando o trigo, curvados no solo saudando a terra,
Sentados ao lado dos velhos que entrançam os vimes, deitados ao sol bebendo a luz, dentro da luz...

A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...
A aventura começa na alvorada, a alvorada que nos mostra o caminho...
A aventura é o tesouro que se descobre em cada manhã...


N.T.: La Madelon é o nome de uma canção feita no princípio da Primeira Guerra Mundial -1914/1918 - que ficou famosa por levantar o moral das tropas francesas. A letra de La Madelon, em francês e em inglês está AQUI.
A única versão de L’Aventure que encontrei na net é esta, cantada por um grupo coral numa igreja... Bem a propósito!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

VOIR



Jacques Brel estava sempre em movimento. Detestava o imobilismo, a preguiça… Dizia que era preciso ser-se curioso… IR VER! Descobrir coisas. Ter a coragem de dizer “não sei, vou ver…” Brel preferia ir VER. Para explicar melhor este ponto de vista ele dava o exemplo do piloto de avião que tinha que voar com mau tempo. Ele, que também pilotava aviões, dizia: “Se está mau tempo não se levanta voo! É uma atitude certa. Mas, é preciso ir ver. Eu levanto voo e se realmente for impossível operar regresso a terra. Mas, pelo menos posso dizer que fui VER”…

Esta canção – VOIR – foi gravada no ano 1958. O ano charneira para JACQUES BREL. Para trás estão as canções bem comportadas, de um lirismo eufórico próprio de um jovem que foi escuteiro e frequentou movimentos católicos juvenis.
A partir de 58 Brel começa a ganhar o estatuto de grande autor. Os seus discos começam a vender-se pelo mundo inteiro e os espectáculos esgotam sempre a lotação, sejam as salas em França, na Rússia, ou no Canadá.
VOIR foi também cantada e gravada por Yves Montand.

VER (1958)

Ver o rio gelado e querer ser uma primavera…
Ver a terra ressequida e semear cantando…
Ver que se tem vinte anos e querer consumi-los…
Ver passar um zé-ninguém e esforçar-se por gostar dele...

Ver uma barricada e querer defendê-la…
Ver morrer a emboscada e depois não se render…
Ver o cinzento dos subúrbios e querer ser Renoir…
Ver o inimigo de sempre e fazer por esquecê-lo...

Ver que se está a envelhecer e querer recomeçar…
Ver um amor florir e querer arder nele….
Ver o medo inútil e deixá-lo aos sapos…
Ver que se é frágil e cantar de novo...

Eis o que eu vejo, eis o que eu quero,
depois que te vejo, depois que te quero...



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

BAR-SUR-SEINE



De CHRISTIAN PETITrecebi esta informação que passo a divulgar. Trata-se de um espectáculo sobre a vida e a obra de BREL levado à cena pelo próprio CHRISTIAN PETIT e por PHILIPPE CALLENS.

domingo, 22 de agosto de 2010

THE BLACK VEILS


Recentemente surgiu uma versão inglesa toda nova de LE MORIBOND. Não tem nada a ver com Seasons in the sun. Antes pelo contrário. Este texto, que se chama THE DYING MAN, (e que publico hoje) é da autoria do grupo americano THE BLACK VEILS e está no CD TROUBADOURS. Neste CD os Black Veils cantam ainda versões de Jaurés, Mai40, Ne me quitte pas e Il neige sur Liège.
Quanto ao DYING MAN... finalmente estão presentes na canção o Émile, o Antoine o padre e a mulher do moribundo. Finalmente este confessa, para inglês ler, que a mulher sempre o atraiçoou e, ironicamente, pede para que riam, pede para que dancem, quando o meterem lá no buraco para onde ele vai com flores sobre os olhos fechados... já que toda a vida os teve sempre fechados!

Black Veils - The Dying Man (Le Moribond)

Goobye Emile I liked you a lot
Goobye Emile I liked you a lot you know
We sang songs about the same wines
We sang songs about the same girls
We sang songs about the same things

Goobye Emile I’m gonna die
And it’s hard to die in the spring you know
And I’ll go with flowers at peace with life
And since you’re good as wonder bread
I know You’ll take care of my wife…

R:
I want you to laugh, I want you to dance
I want you all to lose control
I want you to laugh, I want you to dance
When they put me in that hole

Goobye Priest I liked you a lot
Goobye Priest I liked you a lot you know
Though we were on the same road
Though we were on the same side
Still we were searching for the same goal

Goobye Priest I’m gonna die
And it’s hard to die in the spring you know
But I’ll go with flowers at peace with life
And since you were her confident
I know You’ll take care of my wife…
R:
Goodbye Antoine I didn’t like you
Goodbye Antoine I didn’t like you, you know
This dying now is killing me
And seeing you so much alive
And even harder than I wnew

Goodbye Antoine I’m gonna die
And it’s hard to die in the spring you know
But I’ll go with flowers at peace with life
And since you were the other man
I know You’ll take care of my wife…
R:
Goodbye my wife I really loved you
Goodbye my wife I really loved you, you know
But I’m taking the train to the big man
I take the train that’s before yours
But we all take the train we can

Goodbye my wife I’m gonna die
And it’s hard to die in the spring you know
But I’ll go with flowers in my eyes closed
And since that’s how they’ve often been
I know you’ll take care of my soul



OBS:
No site LA CHANSON DE JACKY Rodolphe Guillo faz referência a esta canção em 16 de Maio passado.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

SHIRLEY BASSEY

Em maré de versões inglesas das canções de Brel, hoje não resisto a mostrar este vídeo de Shirley Bassey a cantar IF YOU GO AWAY / NE ME QUITTE PAS. Shirley Bassey e a sua voz estridente! Exuberante . A puxar ao elogio fácil de quem gosta de “grandes cantoras/es”. Sempre achei que se a Shirley fosse portuguesa teria enveredado pelo fado de Coimbra.

Esta versão em inglês é também uma versão de Rod Mc Kuen que, uma vez mais, peca pelo facilitismo e banalidade de ideias postas na tradução. De um belo texto cheio de emoção passa-se a um texto desenxabido, mas dentro do bom estilo do “showbiz” americano.

Obs: No princípio do vídeo o senhor McKuen tem a lata de dizer, muito convencido, que “esta famosa canção é minha, porque fui eu que escrevi…”


If You Go Away

If you go away, on this summer day
Then you might as well take the sun away
All the birds that flew in the summer sky
When our love was new and our hearts were high
When the day was young and the night was long
And the moon stood still for the night birds' song
If you go away, if you go away, if you go away
But if you stay, I'll make you a day
Like no day has been or will be again
We'll sail the sun, we'll ride on the rain
We'll talk to the trees and worship the wind
Then if you go, I'll understand
Leave me just enough love to hold in my hand
If you go away, if you go away, if you go away

If you go away, as I know you will
You must tell the world to stop turning
Till You return again, if you ever do
For what good is love without loving you
Can I tell you now as you turn to go
I'll be dying slowly till the next hello
If you go away, if you go away, if you go away

But if you stay I'll make you a night
Like no night has been or will be again
I'll sail on your smile, I'll ride on your touch
I'll talk to your eyes that I love so much
But if you go I won't cry
Though the good is gone from the word goodbye
If you go away, if you go away, if you go away

If you go away as I know you must
There'll be nothing left in the world to trust
Just an empty room full of empty space
Like the empty look I see on your face
I'd have been the shadow of your dog
If I thought it might have kept me by your side
If you go away, if you go away, if you go away

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

UNE ÎLE



Brel lia muito mas sem organização de leituras. Um dos livros que o influenciaram na construção de uma canção foi A ILHA de Robert Merle.
Neste romance o autor evoca a espontaneidade, e a generosidade dos nativos taítianos face à mesquinhez calculista dos brancos ditos civilizados. Brel dá a volta ao texto e faz da ilha o paraíso onde o amor reinará longe dos prepotentes e dos hipócritas deste mundo. Tenham a cor que tiverem.


Uma ilha (1962)

Uma ilha, uma ilha ao largo da esperança, onde os homens não terão medo. Tão suave e calma como o teu espelho. Uma ilha clara como uma manhã de Páscoa oferecendo a languidez oceânica duma sereia em cada onda... Vem, vem meu amor. Lá, não vão estar esses tolos que nos dizem para sermos sensatos, ou que os vinte anos são a idade bonita... Chegou o tempo de viver, chegou o tempo de amar.

Uma ilha, uma ilha ao largo do amor, posta no altar do mar, cetim sobre veludo... Uma ilha, quente como a ternura, sequiosa como o deserto que uma nuvem de chuva acaricia...
Vem, vem meu amor. Lá, não vão estar esses tolos que nos escondem as imensas praias. Vem meu amor, fujamos à tempestade... Chegou o tempo de viver, chegou o tempo de amar.

Uma ilha, que ainda temos que construir, para poder guardar os sonhos que se sonham a dois... Uma ilha, uma ilha que está de partida, e que dormitava nos nossos olhos desde a infância...
Vem, vem meu amor, é lá que tudo começa, eu acredito na última oportunidade, e tu és essa oportunidade que eu quero... Chegou o tempo de viver, chegou o tempo de amar...


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

SEASONS IN THE SUN (2)

Já que mostrei aqui a versão inglesa de Amsterdam da autoria de Mort Shuman, cantada por David Bowie, aproveito para dar a ler a versão de LE MORIBOND, escrita por Rod McKuen, um cantor californiano nascido em 1933. Chama-se a versão “Seasons in the sun” e já AQUI foi comentada em 17 de Novembro do ano passado.
Esta versão inglesa das “Seasons” é pior que a versão de “Amsterdam” dado que McKuen sugere que há alguém que vai morrer e continua a falar de banalidades omitindo o principal: A amante do moribundo vai ficar ao cuidado dos seus amigos... que toda a vida a estimaram.
A canção de Brel está cheia de ambiguidades e sarcasmo e é cantada com ironia na voz. A versão de McKuen é estranha porque fala de alguém que se despede porque vai morrer e canta ao bom estilo melado das baladas dos anos 60.
Este contraste é flagrante nesta versão de boys band.



SEASONS IN THE SUN

Goodbye to you my trusted friend, we've known each other since we're nine or ten,
Together we've climb hills and trees, learned of love and ABC,
Skinned our hearts and skinned our knees.

Goodbye my friend it's hard to die, when all the birds are singing in the sky,
Now the spring is in the air, pretty girls are everywhere,
Think of me and I'll be there.

Chorus:
We had joy we had fun we had seasons in the sun,
But the hills that we climbed were just seasons out of time.

Goodbye papa please pray for me, I was the black sheep of the family,
You tried to teach me right from wrong, too much wine and too much song,
Wonder how I got along.

Goodbye papa is hard to die, when all the birds are singing in the sky,
Now the spring is in the air, little children everywhere,
When you see them I'll be there.

Goodbye Michelle my little one, you gave me love and helped me find the sun,
And every time that I was down, you would always come around,
And get my feet back on the ground.

Goodbye Michelle it's hard to die, when all the birds are singing in the sky,
Now the spring is in the air, with the flowers everywhere,
I wish that we could both be there.

domingo, 15 de agosto de 2010

In The Port of Amsterdam




Esta é uma versão em inglês de AMSTERDAM feita por Mort Shuman que já foi cantada por diversos nomes famosos do mundo das cantigas. Aqui neste video temos a versão do Ziggy Stardust / David Bowie que apesar de bem “esgalhada” não tem a força do ORIGINAL. O texto inglês é uma sombra do texto escrito por Brel. Portanto, com estes versos, que reproduzo abaixo, BOWIE faz o que pode...

In The Port of Amsterdam

In the port of Amsterdam there's a sailor who sings
Of the dreams that he brings from the wide open sea
In the port of Amsterdam there's a sailor who sleeps
While the river bank weeps to the old willow tree

In the port of Amsterdam there's a sailor who dies
Full of beer, full of cries in a drunken town fight
In the port of Amsterdam there's a sailor who's born
On a hot muggy morn by the dawn's early light

In the port of Amsterdam where the sailors all meet
There's a sailor who eats only fish heads and tails
And he'll show you his teeth that have rotted too soon
That can haul up the sails that can swallow the moon

And he yells to the cook with his arms open wide
"Hey, bring me more fish throw it down by my side"
And he wants so to belch but he's too full to try
So he stands up and laughs and he zips up his fly

In the port of Amsterdam you can see sailors dance
Paunches bursting their pants grinding women to porch
They've forgotten the tune that their whiskey voice croaked
Splitting the night with the roar of their jokes
And they turn and they dance and they laugh and they lust
Till the rancid sound of the accordion bursts and then out of the night
With their pride in their pants and the sluts that they tow
Underneath the street lamps

In the port of Amsterdam there's a sailor who drinks
And he drinks and he drinks and he drinks once again
He'll drink to the health of the whores of Amsterdam
Who've given their bodies to a thousand other men
Yeah, they've bargained their virtue their goodness all gone
For a few dirty coins well he just can't go on
Throws his nose to the sky and he aims it up above
And he pisses like I cry on the unfaithful love
In the port of Amsterdam
In the port of Amsterdam

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

LE LION



É sempre difícil descobrir nas canções de Jacques Brel quem está a cantar. O Brel, homem, autor? Ou a personagem que ele criou para essa canção. Nem todas as canções são auto-biográficas...Um dia perguntaram-lhe se isso não o aborrecia, confundirem o autor com o seu herói? Ele disse que estava resignado. Não gostava, mas aceitava. O que é certo é que Brel encarnava tão bem a figura que tinha criado no texto que era difícil o público separar o autor do herói. Por curiosidade diga-se que para fazer o papel de D.Quichote de La Mancha, Jacques Brel deixou-se emagrecer 9 quilos.
Nesta canção - Le lion – escrita para o último álbum, gravado em 1977, mantém-se o sentimento de pânico perante a mulher. O Gaston (Brel?) das suas canções é o tipo que sucumbe ao apelo da “leoa” que insiste em lembrar-lhe que há “suplentes no banco” para o caso de alguma falha.

O leão (1977)

Faz cinco dias, faz cinco noites, que, do outro lado do rio tumultuoso, uma leoa chama, chama...
Faz cinco dias, faz cinco noites, que deste lado do rio tumultuoso, o leão responde à leoa...
Gastão, não vás, mesmo que ela te diga que a sua mãe é simpática...
Gastão, não vás, mesmo que ela ouse dizer-te que te amará sempre...
Não vás Gastão, mesmo que ela te suplique para a levares a passear à cidade.
Ela será a tua Lélé* e tu o seu Totó*, e vocês não passarão de dois imbecis...

Faz dez dias, faz dez noites, que, do outro lado do rio tumultuoso, uma leoa chama, chama...
Faz dez dias, faz dez noites, que deste lado do rio tumultuoso, o leão responde à leoa...
Gastão, não vás, pára de dar ao rabo, deixa-a impacientar-se...
Finge que tens muito tempo, que estás muito atarefado... Mete-a na lista de espera...
Gastão, não vás, um leão deve ser duro. Diz-lhe que estás noutra onda.
Lembra-te do Malhoa que estava sempre a dizer “o que é demais já enjoa”…

Faz vinte dias, faz vinte noites, que do outro lado do rio tumultuoso uma leoa chama, chama...
Faz vinte dias, faz vinte noites, que deste lado do rio tumultuoso, o leão responde à leoa...
Não vás Gastão, mesmo que ela dê a entender que há outro em vista. Outro, que é jovem e é belo, que dança como um deus e que tem muita distinção. E que tem uma juba, que é muito inteligente, e que vai fazer fortuna... E que é generoso, e que lhe vai oferecer a lua quando ela quiser...

Faz uma hora e vinte minutos que, do outro lado do rio tumultuoso, uma leoa chama, chama...
Faz uma hora e vinte minutos que, dentro do rio tumultuoso, um leão está morto por uma leoa...


N.T.: *No original Manon e Des Grieux, personagens populares de um famoso romance de Abbé Prévost.


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

VRT




A cadeia de Televisão belga VRT transmitirá neste próximo Sábado e Domingo uma reportagem realizada na Exposição J'AIME LES BELGES para o programa VLAANDEREN VAKANTIELAND. Mais informações neste SITE.
Esta é uma informação das Edições Jacques Brel.

domingo, 8 de agosto de 2010

I MUVRINI



Do meu amigo João Fraga recebi este vídeo com uma interpretação de Amsterdam por I Muvrini (da Córsega) e Florent Pagny.

Obrigado Fraga. Se encontrares mais avisa!

sábado, 7 de agosto de 2010

BENOIT NORTIER

O jovem acordionista Benoit Nortier representou a França no “Primus Ikaalinen 2009” – Top International Accordion Competition, na Finlândia, prestando uma homenagem a Brel. Na sua exibição tocou Amsterdam, La valse à mille temps e Vesoul.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

LES BONBONS 1967

Em 1967 Jacques Brel pegou na canção Les Bonbons, que tinha feito em 1964, e deu-lhe um novo texto fazendo agora uma caricatura mais mordaz do dono dos bombons. O texto em português dos BOMBONS de 1964 estáAQUI neste blog.
O personagem mudou de estatuto social, tem outras preocupações e até já tem as suas opiniões. Agora tem uma família abastada e mudou de preferências sexuais, uma vez que acaba por ficar muito interessado no irmão da Germana… Portanto, agora vem buscar os bombons que, contrariado, tinha oferecido à Germana e acaba por oferecê-los ao irmão dela. Não resiste, apesar dele ser flamenguento.
OBS: 1967 foi o ano dos hippies, da contestação à guerra do Vietnam, do Sgt Peppers dos Beatles, etc,etc.

OS BOMBONS '67

Eu venho buscar os meus bombons... Veja só, Germana, fiquei de rastos quando você fez aquela reflexão acerca dos meus cabelos compridos... É a ruptura! Estúpida e brutal... Eu venho buscar os meus bombons...
Agora sou um outro rapaz. Habito no Hotel George Vê... Perdi o sotaque de Bruxelas. Além de que ninguém mais tem esse sotaque. Excepto o Brel lá na Televisão... Eu venho buscar os meus bombons...
Quando o papá me irrita eu faço-lhe Toma!... À mamã, eu chamo neuropata...
Há que dizer que o papá é bestialmente porreiro, enquanto que a mamã é um pouco pirosa, mas enfim, tudo isso é... É o conflito de gerações... Eu venho buscar os meus bombons...
E sempre que posso, todos os sábados à noite, Germana, eu oiço crescer os meus cabelos... Eu faço Gluglu... Eu faço miam miam... Eu vou à manif gritar Paz no Vietnam!!! Porque, enfim, enfim, ora bem, eu tenho as minhas opiniões... Eu venho buscar os meus bombons...
OOOOh, mas este jovem é o seu irmão, menina Germana? É ele que é flamenguento? AAAAh, eu trouxe-lhe uns bombons, porque as flores são tão perecíveis, quero dizer, os bombons são também bons, mas as flores têm outra apresentação. Sobretudo quando elas estão em botão... Mas, eu trago-lhe aqui uns bombons...


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

JE NE SAIS PAS



Jacques Brel atravessa os anos 60 já trintão. Já tem uma obra feita e reconhecida mundialmente. Foi por diversas vezes considerado como o melhor intérprete de música ligeira do século XX e a comprová-lo estavam para cima de 20 milhões de discos vendidos em todo o mundo.
Um dia, num programa de rádio, uma jovem ouvinte perguntou-lhe o que pensava da música "ié-ié". Brel, sempre frontal e sincero, foi directo ao assunto e respondeu que os textos cantados eram absolutamente aflitivos e que às vezes só dava vontade de enfiar umas cuecas na cabeça e uma pena no traseiro desses autores e mandá-los bugiar. Era vergonhoso o que eles escreviam…

EU NÃO SEI (1958)

Eu não sei porque é que a chuva deixa lá em cima os seus farrapos, que são as nuvens cinzentas e pesadas, para se vir esconder nos nossos outeiros...
Eu não sei porque é que o vento se diverte nas claras manhãs, espalhando risos de criança e alaridos frágeis de Inverno... Eu não sei nada disto, só sei que ainda te amo...

Eu não sei porque é que esta estrada que me leva para a cidade, tem o cheiro deslavado das derrotas, de álamo em álamo...
Eu não sei porque é que este véu de neblina fria que me persegue me faz pensar nas catedrais onde se reza aos amores mortos... Eu não sei nada disto, só sei que ainda te amo...

Eu não sei porque é que nestas ruas, que se abrem à minha frente, uma a uma, virgens e frias, frias e nuas, apenas os meus passos e não há lua…
Eu não sei porque é que a noite me toca como uma guitarra, e me força a vir aqui, para chorar à frente desta gare... Eu não sei nada disto, só sei que ainda te amo...

Eu não sei a que horas parte esse triste comboio para Amesterdão que um casal deverá tomar esta noite. Um casal onde tu és a mulher...
E não sei para que porto parte de Amesterdão, esse grande navio que esmaga o meu corpo e o meu coração, o nosso amor e o meu futuro... Eu não sei nada disto, só sei que ainda te amo... que ainda te amo...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

ISABELLE



Jacques Brel teve três filhas, Chantal, France e Isabelle. A todas deu alcunhas carinhosas consoante as suas maneiras de ser e os seus temperamentos. Assim Chantal era a Avestruz por ser extrovertida e divertida. France, a Guitarra, pelas suas formas femininas, e Isabelle, a Nuvem, por ter um ar de quem estava permanentemente acima das situações. É exactamente para Isabelle, a Nuvem, que o pai Brel fez em 1959 esta terna canção de embalar. Tinha ela um ano de idade.

Isabelle (1959)

Quando a Isabelle dorme, nada mais se mexe; quando a Isabelle dorme no berço da sua alegria, sabes que a marota rouba os oásis do Sahara, os peixes dourados da China e os jardins de Alhambra?...
Quando a Isabelle dorme, rouba os sonhos e as folias de uma rosa e de um botão-de-ouro, para os poisar sobre os seus olhos, bela Isabelle, quando ela dorme...

Quando a Isabelle ri, nada mais se mexe; quando a Isabelle ri no berço da sua alegria, sabes que a marota rouba o riso das cascatas selvagens que servem de bolsas aos reis que não têm séquito?...
Quando a Isabelle ri, nada mais se mexe , ela rouba as janelas do momento em que se abrem sobre o paraíso, para as poisar sobre o seu coração, bela Isabelle, quando ela ri...

Quando a Isabelle canta, nada mais se mexe; quando a Isabelle canta no berço da sua alegria, sabes que ela rouba a renda bordada em coração de rouxinol e os beijos que as sombrinhas impedem de voar?...
Quando a Isabelle canta, rouba o veludo e a seda que a guitarra dá à Infanta, para os poisar sobre a sua voz, bela Isabelle, quando ela canta...




terça-feira, 3 de agosto de 2010

JOHN WATERS



O cantor/actor JOHN WATERS está a fazer uma digressão pela Austrália com o espectáculo BREL. Um CD com o mesmo nome foi também editado contendo 15 canções do espectáculo.
NESTE SITE podemos ver um excerto de uma entrevista para um programa de rádio seguida da interpretação de Ne me quitte pas. NESTE SITE, dos fãs de Waters, mais informções sobre o cantor.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PEDRO BARROSO



PEDRO BARROSO, o autor de êxitos como MENINA DOS OLHOS D’ÁGUA ou CANTAR BREJEIRO (A perninha da Menina) gravou no seu LP de 1980 - Quem Canta Seus Males Espanta – uma canção homenageando JACQUES BREL.
Contactei o Pedro Barroso, falei-lhe deste blog, e ele teve amabilidade de me enviar o texto da canção feita para Brel e que se intitula LA FOIRE.

La foire

Un peu partout dans le monde entier
j'ai vu des hommes savants mais trompés
j'ai vu des mecs, des tipes qui criaient
de très braves gens qui vivaient et croiaient
à la foire de la vanité des hommes
à la foire où l'on vend des gens
à la foire où la vie devient si chienne
la foire où l'on devient des chiens

j'ai vu des mères sans pain pour leurs gosses
j'ai vu des regimes aux tortures atroces
j'ai vu des hommes qui risquaient leur cou
juste parce qu'ils voulaient vivre debout
à la foire de la vanité des hommes...

j'ai vu des heros qui marchaient à pied
contre des canons, contre des armées
j'ai vu des soldats qui crevaient partout
j'ai vu des enfants au froid les pieds nus
à la foire...etc

mais ettonnez vous car je vois encore
des petites bonnes femmes, des petits bons hommes
qui croient beaucoup, qui croiront toujours
car ils ne voient aucune autre voie que de vivre pour
etternelement pour...
la foire de la vanité des hommes...etc



PEDRO BARROSO é um dos cantautores revelados pelo “Zip-Zip”, programa antológico da RTP, em Dezembro de 1969. Mas, para mais informações sobre o curriculo e a biografia de Pedro Barroso, podem ser consultados, o seu SITE ou a Wikipedia.

domingo, 1 de agosto de 2010

AVEC BREL À BRUXELLES



As Edições Jacques Brel têm, como já foi dito neste blog, dois eventos a decorrer em Bruxelas. A Exposição J’Aime les Belges e o Passeio J’Aime l’accent bruxellois.
Estes dois eventos estão à disposição do público todos os dias da semana neste mês de Agosto. A exposição tem áudio guias em francês, holandês, inglês, alemão e japonês.

Estes são alguns testemunhos que estão no LIVRO DE OURO da exposição.