O tédio, o aborrecimento, o fastio, são temas de algumas canções brelianas. O suicídio aparece então como o remédio possível para o tédio, já que à volta nada muda. A rotina não traz surpresas, não espanta. O hábito não faz esquecer a miséria dos dias sempre iguais. Nesta canção, L’éclusier, Brel retrata a vida do guarda da comporta que vê passar todos os dias, ao longo do ano, os mesmos barqueiros nos mesmos barcos, com as mesmas piadas, com os mesmos gestos…
O GUARDA DA COMPORTA (1968)
Os barqueiros vêem-me envelhecer e eu vejo envelhecer os barqueiros. Brincamos ao jogo dos tolos, onde o mais parado é o mais velho... Na minha profissão, mesmo no Verão, só de olhos fechados podemos viajar... Não custa nada ser guarda de comporta...
Os barqueiros conhecem bem a minha carantonha... Eles gozam-me mas sem razão. Meio bruxo, meio bêbado, lanço uma praga a todos os que cantam... Na minha profissão é no Outono que se colhem as maçãs e os afogados. Não custa nada ser guarda de comporta...
Com o seu cabaz, chega um miúdo vesgo por olhar para a mosca que tem poisada no nariz... A mãe ronrona, o tempo suspira, a couve transpira e o fogo crepita... Na minha profissão é no Inverno que se pensa no pai que morreu afogado... Não custa nada ser guarda de comporta...
E na Primavera os barqueiros fazem-me macaquices das suas lanchas... Talvez entrasse nestas brincadeiras, mas, sem as ofensas que me deixam desgostoso... Na minha profissão é na Primavera que a gente tem tempo para se afogar...
Neste vídeo Jacques Brel canta em casa de um amigo, o pintor Paul George Klein, acompanhado unicamente por um acordeão.
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