segunda-feira, 26 de julho de 2010

CLARA



Um dia perguntaram a Jacques Brel como se sentia ao entrar no palco e ele respondeu: “ Sinto uma grande vontade de vencer os meus medos e as minhas fraquezas… Sinto que tenho que me superar, que tenho que vencer-me a mim próprio. É como se fosse um combate… Um combate contra mim mesmo. Depois, é preciso ser-se sincero e ter alguma coisa que dizer, claro.” Foi sempre assim o carácter de Brel perante o seu público, em palco ou estúdio de gravação.
No entanto, esta canção, Clara, não terá assim tanto para dizer como muitas e muitas a que o Grand Jacques nos habituou.
É presumivelmente um fait-divers na obra de Brel. O texto desesperado não liga bem com o ritmo carnavalesco do Rio que mascara a canção... Uma vez mais a guerra dos sexos à flor da pele.

Clara (1961)

Amei-te tanto Clara, amei-te tanto...
Carnaval no Rio, tu podes dançar sempre! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris já há muito tempo, há muito tempo de tédio, há muito tempo de ti...

Carnaval no Rio... Tu podes cantar sempre! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris,caído no campo do amor, pelo nome duma rapariga que me tinha dito Sempre...

Carnaval no Rio... Tu podes rodopiar sempre! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris por me ter enganado muita vezes, por me ter mortificado muitas vezes, por me ter dado muitas vezes...

Carnaval no Rio... Tu podes sacudir-me! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris, fuzilado por uma flor, preso à barra da cama, com doze gargalhadas no coração...

Carnaval no Rio... Tu podes chorar sempre! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris já há mil tardes, já há mil noites… Já não há esperança...

Carnaval no Rio... Tu podes embebedar-me! Carnaval no Rio... Tu já não podes mudar nada... Eu morri em Paris, em Paris que eu enterro, depois de mil noites, no fundo do meu copo...

Carnaval no Rio, tu podes carnavalar! Carnaval no Rio... Tu já não podes lá mudar nada... Eu morri em Paris... Que a morte me console... A morte anda por aqui, a morte é espanhola...
Amei-te tanto Clara, amei-te tanto...

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