terça-feira, 8 de setembro de 2009

JEF

Como numa peça de teatro, cujo cenário realista é uma rua sombria, Brel interpreta a figura de um bêbado que anima, ampara e encoraja, um amigo ainda mais bêbado que ele…É uma canção que só Jacques Brel poderia ter escrito e interpretado. A canção chama-se Jef e é de 1964.

Não, Jef, tu não estás só... Mas pára lá de chorar diante de toda a gente, só porque uma badalhoca, uma galdéria oxigenada, te deixou de rastos. Não, Jef, tu não estás só, mas sabes, tu envergonhas-me aqui, a soluçar dessa maneira, estupidamente, à frente de toda a gente, só porque uma rameira te deu com os pés... Não, Jef, tu não estás só... Isto é uma vergonha... As pessoas já nos estão a gozar... Vamo-nos raspar daqui para fora... Vem Jef... Vem!

Vem... Olha, ainda tenho aqui uns trocos... Vamos bebê-los à tasca da velha Françoise... Vem, tenho aqui uns trocos, e se não chegarem, põe-se na conta... Depois vamos comer uns mexilhões com batatas fritas, umas batatas fritas com mexilhões, tudo regado com vinho de Moselle... E se ainda estiveres triste, vamos ver as gajas a casa da Madame André... Parece que há lá caras novas... E voltaremos a cantar como antes... Voltaremos a ficar na maior. Como naquele tempo em que éramos jovens... Naquele tempo em que eu tinha dinheiro...

Não, Jef, tu não estás só... Pára lá de fazer caretas... Levanta-me esses cem quilos, mexe essa carcaça... Eu sei que andas desgostoso, mas tens que reagir... Não, Jef, tu não estás só... Pára com esses soluços, pára lá de dar nas vistas. Pára com essa treta de te ires deitar ao mar, ou de te quereres enforcar... Não, Jef, tu não estás só... Olha, isto aqui já não é mais uma rua…Já parece mais um cinema onde as pessoas vêm para te ver... Vem, Jef... Vem!

Vem... Olha, ainda tenho aqui a minha viola, vou tocá-la para ti... Vamos fazer de conta que somos espanhóis, como quando éramos garotos. Apesar de eu não gostar muito, até podes imitar um rouxinol... Depois, sentamo-nos por aí num banco, e vamos falar da América, que é para onde a gente vai quando tiver bagalhoça... E se mesmo assim ainda estiveres triste, vou explicar-te como te vais transformar em Rockfeller... Ficaremos na maior, cantaremos como antigamente, quando ainda éramos belos... Como naquele tempo em que ainda não éramos bêbados...
Anda, Jef... anda, vem... Sim, sim, Jef... vem daí...


JEF

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