quarta-feira, 13 de outubro de 2010

IL PLEUT



Depois de Jacques Brel ter vendido vários milhões de discos em todo o mundo e de ter dados espectáculos nos 5 continentes, um jornalista perguntou-lhe como se sentia por ser um homem rico. Ele respondeu que acima de tudo era preciso amar a sua profissão e não os resultados da mesma. O dinheiro era perigoso para o homem, porque o imobilizava, e um homem fez-se para se mexer. Ele não tinha sido feito para estar parado, e portanto, não ligava nenhuma ao dinheiro.
Brel escreveu a canção IL PLEUT (Les carreaux) em 1955, muito antes de ser famoso e rico. Esta canção foi provavelmente escrita na fábrica de cartão do seu pai, onde o cantor teve o seu primeiro emprego. Lá, para contornar a rotina e matar o tempo, ele escreveu as suas primeiras canções.
Metido num escritório, oito horas por dia, a desperdiçar a sua juventude, ao Brel escriturário só lhe restava imaginar-se a partir as vidraças todas da fábrica.

CHOVE (1955)

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...
Chove e as janelas das fábricas estão quase todas quebradas...

As raparigas que vão dançar não me olham, porque vão dançar com outros que lhes pagam as flores de papel, ou a água perfumada, para se divertirem. As raparigas que vão dançar não me olham, porque vão dançar com esses outros...

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...

Para mim ficam os corredores imundos. E as escadas que subo são sempre minhas, mas depois, quando estou só debaixo das telhas, com o sol e com as nuvens, escuto a rua a chorar e vejo as chaminés da cidade a fumar docemente... No meu céu, a Lua dança para mim esta noite, ela dança, dança, dança e o seu hálito, a sua auréola imensa, acariciam-me...
O céu é meu e eu mergulho na noite, e lá, mergulho a minha mágoa...

Chove... A culpa não é minha, as janelas da fábrica estão sempre mal lavadas...
Chove... E eu vou quebrar as janelas das fábricas...


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