Carta a Jacques Brel (conclusão)
Aqui a cidade da Horta também já não é o que era. Três décadas depois, temos mais automóveis e menos gente. Mais funcionários públicos e menos povo. Mais bancos e menos casas de espectáculo. Mais crédito e menos dinheiro... Só o Pico à nossa frente é que continua a ser infinitamente belo!
E temos agora uma Marina onde cabem todos os iates do mundo. O nosso porto continua abrigado e nós continuamos a ser hospitaleiros e cosmopolitas. Só que, “hélas”, a nossa hospitalidadezinha é uma forma de escondermos o nosso provincianismo paroquial... E o nosso cosmopolitismo rima com o nosso ruralismo pequeno-burguês. À bon entendeur...
E no entanto, existimos e resistimos nestas ilhas que te encantaram. Dos amigos que por cá fizeste, só o Othon Silveira e o José Azevedo (o “Peter”) é que infelizmente já não pertencem ao mundo dos vivos. Os restantes estão bem, na graça do “Bon Dieu”. O dr. Decq Mota, se bem que recolhido, é o mesmo “gentil homme” que tão bem conheceste. O filho do “Peter” (que era um fedelho quando cá estiveste) é hoje um homem de barba rija e está a imprimir uma nova dinâmica empresarial ao bom nome deste Café. O João Carlos Fraga continua a ser aquela paz de alma que conhece todos os barcos e todos os portos do mundo.
Tenho tido boas notícias da tua filha France, que, há 35 anos impressionou de tal forma o nosso amigo Jorge Dinis, que ele ainda hoje se lembra de como ela andava vestida, imagina... Nós, ilhéus, somos assim. O que de bom vem de fora não nos escapa.
Para sempre guardarei o teu retrato no fundo do meu espelho.
Adeus, meu doce, meu terno, meu maravilhoso amigo!
Toma juízo, não fumes tanto e volta depressa! Um grande abraço de mar!
Victor Rui Dores
Horta (anos 60)
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