Esta canção – FERNAND – é o exemplo típico da canção breliana. A encenação está completa porque todos os elementos se conjugam na perfeição para construir uma peça de teatro de 5 minutos. O texto dramático é um “requiem” que o poeta fez para um amigo imaginário. A interpretação é feita apenas por um actor sozinho em palco, com o seu corpo, os seus gestos, os esgares faciais, os olhares. E depois a música… E a orquestração. O ritmo pungente e o toque-toque que se ouve durante a canção, traduzem imagem de um funeral solitário que atravessa Paris na manhã cinzenta. Uma carruagem puxada por um cavalo. Um amigo que morreu…
Fernando (1965)
Dizer que o Fernando está morto, dizer que morreu o Fernando. Dizer que eu estou só, aqui atrás, dizer que ele vai só, à minha frente... Ele na sua última cerveja, eu na minha ressaca, ele no seu caixão, eu no meu deserto. À frente, apenas um cavalo branco. Atrás, só eu, que choro... Dizer que nem sequer há vento para agitar as minhas flores... Eu, se fosse o bom Deus, creio que teria remorsos...
Dizer que agora chove, dizer que o Fernando está morto.
Dizer que atravessamos Paris pela manhãzinha... Mesmo que fosse Berlim, tu, tu não sabias, tu estás a dormir... Mas é triste morrer, ser obrigado a partir quando Paris ainda dorme. Eu rebento de vontade de acordar as pessoas... Vou inventar-te uma família somente para o teu funeral. E depois, se eu fosse o bom Deus, creio que não seria arrogante...
Sei que cada um faz o que pode, mas há sempre uma maneira...
Tu sabes que eu voltarei, voltarei aqui muitas vezes a este lugar da porra, onde tu vais repousar... No Verão far-te-ei sombra e beberemos o silêncio à saúde da Constança que gozou bem com a tua sombra... E depois as pessoas são tão cretinas que nos vão fazer uma guerra... Portanto eu virei por bem dormir aqui no teu cemitério.
E agora bom Deus vai-te rindo... E agora bom Deus, agora eu vou chorar...
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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