sábado, 6 de março de 2010

LA BIÈRE



Jacques Brel dizia que se pudesse apenas escreveria canções. Não as cantava. Cantá-las, era como prostituir-se... Ele gostava de escrever, não de cantar. Então porque nunca escreveu romances, contos, novelas...? Unicamente por falta de tempo. Dos 365 dias do ano Jacques Brel trabalhava arduamente mais de 300. Porém, quando abandonou os espectáculos, em 1967, com 38 anos de idade, continuou a gravar discos e dedicou-se ao cinema até 1973. Acabou por morrer em 1978, aos 49 anos, sem nunca ter tido realmente tempo para escrever.


A CERVEJA(1968)

Cheira a cerveja de Londres a Berlim, cheira a cerveja,
meu Deus como se está bem, cheira a cerveja... Dá-me a tua mão!
Transborda de Uylenspiegel e os seus primos, e os primos afastados do Breughel, o Velho...
Transborda de vento do Norte que morde como um cão, o porto que dorme de barriga cheia...
Transborda de copos cheios que vão à quermesse, como as velhas vão de manhã à missa...
Transborda de dias mortos e amores frios. Por cá só temos o Verão que as raparigas trazem no corpo... Transborda de velhadas que cuidam das suas recordações regando com gargalhadas as suas barbas brancas...
Transborda de debutantes que tratam da sífilis saltitando de brinde em brinde...
Transborda de insultos, transborda de Amsterdam, transborda de mãos de macho nas nádegas das mulheres...
Transborda de matronas que têm sempre um seio para a cerveja e um seio para o amor...
Transborda de horizontes que nos fazem perder a cabeça... Mas, o álcool é loiro, e o diabo está connosco, e os povos sem montanhas precisam dos dois... A gente envaidece-se com aquilo que pode...
Cheira a cerveja de Londres a Berlim, cheira a cerveja, meu Deus como se está bem, cheira a cerveja... Dá-me a tua mão!


("Uylenspiegel" : personagem lendária, que vivia nos países baixos; um aventureiro que amava a justiça e a liberdade)


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