sexta-feira, 18 de junho de 2010
J'ARRIVE
JOSÉ SARAMAGO um dia, numa ENTREVISTA, quando lhe perguntaram qual era a sua ligação com a música, respondeu isto:
“Gosto de música, ouço-a continuamente. Os clássicos, claro, mas também cantores como Jacques Brel… ouça-se «Les Vieux» ou «J'Arrive»… "
Aqui está “J’arrive”.
Estou a chegar (1968)
De crisântemos em crisântemos as nossas amizades estão de partida. De crisântemos em crisântemos a morte enforca as nossas dulcineias. De crisântemos em crisântemos as outras flores fazem o que podem. De crisântemos em crisântemos os homens choram, as mulheres chovem...
Estou a chegar, estou a chegar... Mas, o que é que eu teria preferido? Uma vez mais arrastar os meus ossos até ao sol, até ao Verão, até à Primavera, até amanhã...?
Estou a chegar, estou a chegar... Mas, o que é que eu teria preferido? Uma vez mais ver se o rio é ainda rio, ver se o porto ainda é porto, e ver-me lá, ainda...
Estou a chegar... Estou a chegar, mas porquê eu, porquê agora, porquê já, e ir, aonde?...
Estou chegar, com certeza, estou a chegar, mas terei eu feito alguma coisa que não fosse “estar a chegar”?
De crisântemos em crisântemos, cada vez mais sozinho. De crisântemos em crisântemos, cada vez mais supranumerário...
Estou a chegar, estou a chegar, mas, o que é que eu teria preferido?... Uma vez mais apanhar um amor, como quem apanha um comboio, para não mais estar só, para estar bem, algures...
Estou a chegar, estou a chegar, mas, o que é que eu teria preferido? Uma vez mais encher de estrelas um corpo que treme e cai morto, queimado pelo amor, o coração em cinzas...
Estou a chegar, estou a chegar... Não és tu que te estás a adiantar, sou eu que me estou a atrasar...
Estou a chegar, estou a chegar, mas terei eu feito alguma coisa que não fosse “estar a chegar”?
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