segunda-feira, 12 de julho de 2010

JOJO



Já aqui se referiu neste blog que em Setembro de 1974 quando JACQUES BREL chegou à Horta, no seu iate, recebeu um telegrama comunicando a morte do seu grande amigo Georges Pasquier. Jojo para os amigos. Brel partiu para França de avião, via Terceira, e foi ao enterro de Jojo.
A canção JOJO, dedicada ao amigo morto, é uma das únicas de Brel que tem um perfil realmente autobiográfico. Aqui não há herói ou personagem breliano. É o próprio autor que chora a morte do amigo e que, ao mesmo tempo, sabe que também a sua vida está por pouco. Jacques Brel morreu 4 anos depois da morte de Jojo, e quando escreveu esta canção, e quando a gravou em disco, já sabia que tinha um cancro pulmonar.
Nesta canção de desespero e profunda amizade (amor?), Brel inventa a expressão « tu frères encore » para falar da ligação fraterna que tinha com Jojo - ele faz um verbo do substantivo irmão e, portanto, intraduzível. Utilizei o verbo “confraternizar” para dar um sentido aproximado do original, e por isso aqui fica a devida e necessária explicação. No entanto, a amizade que ligava estes dois homens situava-se para lá das palavras…

Jojo (1977)

Jojo, eis aqui então algumas gargalhadas, alguns vinhos, algumas louras... Apraz-me dizer-te que a noite será longa até tornar-se amanhã. Jojo, oiço-te rugir algumas canções marinheiras onde os bretões descobrem que o Saint Cast deve dormir mergulhado no nevoeiro...
Seis pés debaixo da terra, Jojo, e tu ainda cantas...
Seis pés debaixo da terra, tu não estás morto...

Jojo, esta noite, como as outras noites, repetiremos as nossas guerras... Tu voltarás a Saint Nazaire e eu farei outra vez o Olympia, aqui no fundo do cemitério. Jojo, falemos em silêncio de uma juventude velha... Nós os dois sabemos que o mundo está adormecido por falta de imprudência...
Seis pés debaixo da terra, Jojo, e tu ainda esperas...
Seis pés debaixo da terra, tu não estás morto...

Jojo, a rir, tu dás-me as novidades aí de baixo. Eu digo-te” morte aos imbecis”, bem mais imbecis que tu, mas que estão de saúde... Jojo, tu sabes os nomes das flores, tu vês que as minhas mãos tremem e sei que estás a chorar para afogares a vergonha dos meus pobres lugares comuns...
Seis pés debaixo da terra, Jojo, e tu ainda confraternizas...
Seis pés debaixo da terra, tu não estás morto...

Jojo, vou-me embora pela manhã, por causa de uns vagos compromissos com uns bêbados de coração destroçado, e que sempre abriram demasiado as mãos... Jojo, já não saio para lado nenhum, visto-me com os nossos sonhos. Estou órfão até aos lábios mas feliz por saber que cá estarei em breve.
Seis pés debaixo da terra, Jojo, tu não estás morto...
Seis pés debaixo da terra, Jojo ainda te amo...

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