domingo, 20 de dezembro de 2009

LE PLAT PAYS

Le plat pays, foi escrito no ano de 1961. Brel tinha comprado uma casa em Roquebrune, à beira mar, e lá, em dez dias, escreveu um dos seus mais belos textos. No entanto, a canção teve uma má recepção por parte da Philips, empresa discográfica do cantor, e foi incluída num disco apenas para tapar um buraco. Só que, inesperadamente Le plat pays tornou-se num sucesso estrondoso! Jacques Brel não se considerava poeta, mas autor de canções. No entanto, admitia que este texto era uma excepção e seria um texto poético.
Nesta ilustração do álbum ASTERIX ENTRE OS BELGAS (Dargaud Editeur) Gosciny faz uma referência a Brel e à canção Le plat pays. Oppidum é uma fortaleza em latim.



O PAÍS PLANO - 1962
Com o Mar do Norte como último terreno baldio, e com as vagas de dunas para conter as vagas, e os vagos rochedos que as marés galgam e que têm para sempre o coração na maré baixa... Com um nunca acabar de brumas a chegar, trazidas pelo de vento de Leste, escutem-no a resistir, este país plano que é o meu...

Com catedrais, como únicas montanhas, e negros campanários, como mastros de cocanha, onde diabos em pedra esgaçam as nuvens... Com o correr dos dias como única viagem, e caminhos de chuva como única despedida... Com o vento de Oeste, escutem-no a implorar, este país plano que é o meu...

Com um céu tão baixo que um canal se afundou. Com um céu tão baixo que cria a humildade. Com um céu tão cinzento que um canal se enforcou... Com um céu tão cinzento que é preciso perdoar-lhe. Com o vento do norte que vem dilacerar-se... Com o vento do Norte, escutem-no estalar, este país plano que é o meu...

Com a Itália a descer o rio Escault, com a loira Frida a tornar-se Margot. Quando os filhos de Novembro regressam em Maio, quando a planície fumega e estremece em Julho. Quando o vento está alegre e corre pelo trigo, quando o vento está de Sul, escutem-no a cantar, este país plano que é o meu...


2 comentários:

  1. É brilhante este poema, fantástico de todas as maneiras possíveis. Bordeja a perfeição.

    É isto que deviam ensinar às crianças na escola como exemplo de boa poesia!

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  2. Porque eu sou obsessivo-compulsivo e porque sou ainda mais radical na abordagem do traduzir-é-trair, porque não:

    Com brumas a vir infinitamente,
    Com o vento de este, ouçam-no agarrar
    O país plano, que é o meu.

    E caminhos de chuvas como único "boa-tarde"
    Com o vento de oeste, ouçam-no querer
    O país plano que é o meu.

    Com um céu tão baixo que um canal perdeu-se
    Com um céu tão baixo que cria humildade
    Com um céu tão cinzento que um canal se enforcou,
    Com um céu tão cinzento que só podemos perdoar-lhe
    Com o vento de norte que vem esquartejar-se
    Com o vento de norte, ouçam-no quebrar
    O país plano, que é o meu

    Com a Itália, que desceria o Escault
    Com a Frida a loura, quando se transforma em Margot
    Com os filhos de novembro que nos retornam em maio
    Quando a planície está fumegante e treme sob julho
    Quando o vento está no riso, quando o vento está no trigo,
    Quando o vento está no sul, ouçam-no cantar,
    O país plano, que é o meu.

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