“A morte é a justiça, a verdadeira justiça. Se a uso nas minhas canções é exactamente por que sendo a ideia mais absurda que conheço é a mais acessível a toda a gente…” disse Brel, um dia.
Brel, nos seus textos, recorre muitas vezes a trocadilhos e neologismos. No texto que publico hoje Brel inventa a palavra MORRIREI para dizer que irá morrer a rir...
La,la,la (1967)
Quando eu for velho serei insuportável. Excepto para a minha cama e para o meu pobre passado...
O meu cão estará morto e a minha barba será uma lástima... Todas as minhas galdérias me terão deixado e habitarei numa qualquer Bélgica que me vai insultar tanto, ou mais que agora, quando eu lhe cantar “Viva a república! Vivam os belgas... Merda para os flamenguentos...la... la...la...”
Serei abandonado, como um velho hospital, por todos os barrigudos da alta sociedade, e portanto, beberei sozinho, a minha pensão de cigarra... É preciso estar-se bem, logo que haja Verão. Apenas serei recebido pelos gatos do meu bairro, para o seu festim, para que não estejam treze à mesa... E aí, depois de um rato morto, subirei a uma cadeira para cantar “meus senhores no leito da marquesa eu é que era os oitenta caçadores...la...la...la...”
E quando chegar a hora, imbecil e fatal, onde parece que alguém nos vem chamar, insultarei o bófia clerical, inclinado sobre o meu corpo, como um lacaio do céu... E morrirei cercado de pândegos, dizendo-me que o Voltaire era giro, e que se há tipos que têm uma pena no chapéu há outros que usam a pena no traseiro... la...la...la...
(Os oitenta caçadores mencionados no texto referem-se a uma canção tradicional francesa que contava a história de uma marquesa que convidou oitenta caçadores para uma caçada, e no fim do dia foi para a cama com todos eles. Ao cabo de nove meses ela teve um filho que ela dizia ser filho de 80 caçadores).
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