terça-feira, 5 de outubro de 2010

LA TENDRESSE




Jacques Brel nunca se assumiu como poeta. Ele sempre disse que era apenas um cantor de variedades. Quanto muito seria um carteiro que levava mensagens às pessoas. E a sua mensagem é ingénua. Ele canta os pobres, os desesperados, os tímidos, os frustrados, os vencidos, os bêbados, os moribundos, dizendo que toda a gente necessita de Ternura. Isto é mais um grito que uma mensagem. Numa entrevista, em 1964, ele afirma “Tenho a impressão de que nasci terno. Creio que aquilo a que chamo amor nas minhas canções é na realidade a ternura”.
Na canção La tendresse, Brel reclama para si mesmo um pouco de ternura.


A TERNURA
(1959)

Por um pouco de ternura, eu daria os diamantes que o diabo acaricia nos meus cofres de dinheiro...
Porque achas tu, minha querida, que os marinheiros, nos portos, esvaziam as suas bolsas para oferecer tesouros a falsas princesas?...
Por um pouco de ternura...

Por um pouco de ternura, eu mudarei de feição, eu trocarei de bebedeira, eu usarei outra linguagem...
Porque achas tu, minha querida, que no auge dos seus cânticos, imperadores e menestréis abandonam poderes e riquezas?...
Por um pouco de ternura...

Por um pouco de ternura, eu até te dava o pouco tempo que me resta de juventude neste Verão que termina... Porque achas tu, minha querida, que eu leve a minha canção até ao véu claro que dança sobre a tua face inclinada sobre a minha angústia?...
Por um pouco de ternura...


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