domingo, 25 de outubro de 2009

MON PÈRE DISAIT

Os espectáculos de Jacques Brel tinham a duração de aproximadamente uma hora. Entre as canções Brel interrompia os aplausos do público para iniciar a canção seguinte. Não havia explicações, conversas, anedotas, comentários para entreter, falsas intimidades com o público – fraquinho tão comum de muitas estrelas da cena internacional. Quando Brel apresentava os músicos, o público já sabia que a próxima canção seria a última canção do espectáculo. Depois, não havia falsas saídas, não havia “encores”… Para justificar esta atitude, Brel dizia “ já alguma vez viram um actor de teatro regressar ao palco para repetir uma cena ou um acto da peça que esteve a representar?”

O MEU PAI DIZIA (1967)

O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz rachar os diques em Scheveningen, em Scheveningen, rapaz... É tão forte que já ninguém sabe quem navega, se o mar do Norte, se os diques... É o vento do Norte que trespassa os olhos dos homens do norte, velhos ou novos, para fazer cantar as catadupas de azul vindas do norte para o fundo dos seus olhos...”

O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz girar a Terra à volta de Bruges, à volta de Bruges, rapaz... É o vento do Norte que tem torneado a Terra em torno das torres de Bruges e que faz com que as nossas raparigas tenham esse olhar tranquilo de velhas cidades... Que faz com que as nossas beldades tenham o cabelo tão frágil como as nossas rendas... Como as nossas rendas”…

O meu dizia “ É o vento do Norte que faz estalar a Terra entre a Bélgica, rapaz, entre a Bélgica e a Inglaterra... E Londres já não é como antes do dilúvio, o lugar de Bruges... Tirando o mar, Londres não é mais que os arredores de Bruges perdidos no mar... Perdidos no mar”…

O meu pai dizia “ É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma e sem raiva... É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma em frente ao mar... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-mar ou de uma baleia... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-lágrimas, para aqueles que eu amo...”


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