domingo, 18 de abril de 2010

L'OSTENDAISE



Um dia perguntaram a Jacques Brel se preferia ser músico ou poeta. Ele respondeu que gostaria de ter escrito quartetos de cordas, mas, por outro lado, também gostaria de ter escrito poesia ou romances. Assim, ficou-se pelo meio-termo e pôs-se a escrever canções o que lhe permitiu não ficar zangado nem com a música nem com a escrita. “Não fiquei a lamentar-me o resto da vida por ter falhado. Por não ter escrito um quarteto de cordas ou por não ter escrito um grande romance”.
Ostendaise é uma mulher de Ostende, porto belga no Mar do Norte.

A Ostendesa (1968)

Uma Ostendesa chora na sua cadeira; o gato sopesa o peso do seu amor... Em silêncio a sua tristeza dança, e os velhos pensam, cada um à sua maneira... Na cozinha, algumas vizinhas falam da China e de um regresso... Em Singapura, uma javanesa tornou-se cunhada da Ostendesa...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

A nossa Ostendesa, que nada sossega, de cadeira em cadeira, leva a sua ofensa... Algumas comadres, alguns compadres, batem o ferro da sua ruptura... O seu capitão, com a pança cheia de cerveja, toca tambor... Homem de velas, homem de estrelas, faz escala para um desvio...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

A nossa Ostendesa, no tempo dos morangos, faz-se amante de um farmacêutico... O seu capitão, morto debaixo da pança, diverte-se com as baleias e com os submarinos. Porque, minha querida, eu, o falso marujo que o tempo obriga a escrever-te de longe, amo-te mesmo. E amo-te tanto que tenho medo , minha rainha, dum farmacêutico...

Há duas espécies de tempo... Há o tempo em que se espera e o tempo em que se tem esperança... Há duas espécies de gente, há os vivos e aqueles que andam lá no mar...

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