O SEGUINTE (1964)
Na canção que publico hoje, Au suivant, Brel monta uma cena conhecida por quem já foi à tropa. O dia da inspecção. Uma fila de homens nus aguarda a sua vez para receber o visto de entrada no exército. Para Jacques Brel o exército mata o gosto de viver e de amar. Fabrica, com os seus mitos de virilidade, os batalhões de impotentes. O comandante deste exército é representado por um “sargento com mau hálito”, tacanho e grosseiro, que gostaria de transformar o mundo numa enorme caserna, e que, enquanto espera por esse dia, ensina os jovens a “serem homens”.
O seguinte, o seguinte... Todo nu, enrolado numa toalha a fingir de tanga, eu tinha o rubor nas faces e o sabão na mão... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e éramos cento e vinte a ser o seguinte daquele que seguíamos... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e estava-me ali a desemburrar no bordel ambulante de um exército em campanha.
E eu que só queria um pouco mais de ternura, ou talvez um sorriso, ou quem sabe simplesmente ter tempo, mas... O seguinte, o seguinte! Não foi Waterloo, não, não, muito menos Arcole... Foi o ter faltado à escola que nestas alturas a gente se lamenta, o seguinte, o seguinte! Depois de escutar este sargento da trampa, não admira que se façam exércitos de impotentes... O seguinte, o seguinte...
Eu juro sobre a cabeça do meu primeiro esquentamento que esta voz que eu oiço a todo o momento, esta voz que cheira a alho, e a bagaço, é a voz das nações, é a voz do sangue, o seguinte, o seguinte... E agora, cada mulher, na hora de sucumbir entre os meus magríssimos braços parece dizer-me ao ouvido... o seguinte, o seguinte...
“Todos os seguintes do mundo deveriam dar as mãos...” Durante a noite sonho isto nos meus delírios, e quando não deliro chego à conclusão que é mais humilhante ser seguido, que ser o seguinte... Um dia vou fazer de aleijado, de freira ou de pedinte, enfim, uma dessas tretas, e não serei jamais... O seguinte, o seguinte....
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Esse blog é uma obra de arte, ainda que não por si só. Brel vive, na própria voz.
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