O GÁS 1967
Tu moras na rua de La Madone, numa velha casa desengonçada, que se retorce e geme nas tábuas do soalho. Tem uma escada de caracol... A casa não é grande, não, mas tem bastante espaço... !!! Tu moras na rua de La Madone e eu, eu… Eu venho por causa do GÁS!
Tens um toucador cheio de Budas, as velas dançam no castiçal e cheira bem não há dúvida... Os tafetás inundam tudo e por todo o lado há fotografias tuas que dormitam à frente do espelho... Tens um toucador cheio de Budas, e eu, eu... Eu venho por causa do GÁS!
Tu tens um verdadeiro divã de rei, um verdadeiro divã de diva... Tens um vinho do Porto que trazes da Porta dos Lilases... Tens um cão pequenino e um gato muito grande... Tens uma grafonola que toca discos de jazz... Tu tens um verdadeiro divã de rei, e eu... Eu... Eu venho por causa do GÁS!
Tu tens uns seios como dois sóis, como frutos, como altares... Tu tens uns seios como dois espelhos, como frutos, como mel... Se tu os cobres, tudo fica negro. Se tu os descobres eu transformo-me em Pégaso... Tu tens uns seios como... Alamedas, e eu... E eu... Eu... Eu venho por causa do GÁS!
É verdade que em tua casa, está o canalizador, está o sacristão, está o carteiro, está o senhor doutor que faz o café e o notário que serve os licores... Está lá metade de um artilheiro, um poeta de Carpentras, estão lá também alguns chuis e até a mão da minha irmã*... E estão todos por causa do GÁS!!!
Venham todos à Rua de La Madone! A casa não é muito grande, não... Mas, tem bastante espaço... Venham todos à Rua de La Madone!!!
Não se esqueçam de dizer que vêm por causa do GÁS!!!
(*A mão da minha irmã: referência provável a uma canção muito popular do tempo da guerra da Argélia - fim dos anos ’50 - onde se cantava que as raparigas metiam a mão dentro das calças dos soldados Zuavos)
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