Em 1969, um fadista da nossa praça, chamado CARLOS BASTOS, lembrou-se de transformar a canção HEY JUDE, dos Beatles, num fado castiço. Manteve o texto em inglês e, com um arranjo de António Chainho, conseguiu algum sucesso na rádio e nas casas de fado alfacinhas. Gravou mesmo um disco com outros sucessos anglo-americanos recriados no mais puro estilo fadista rufião. Não é difícil fazer esta “habilidade” . Eu próprio cheguei a “cantar” o famoso THOSE WERE THE DAYS (Mary Hopkins) à laia de fado, e era um sucesso... nas festas de amigos, claro!
Tudo isto vem a propósito para falar do texto que vou publicar hoje.
A poetisa ROSA LOBATO FARIA traduziu para português a canção de Jacques Brel,
LA CHANSON DES VIEUX AMANTS, e a fadista MISIA transformou a canção num... FADO! Tudo isto existe. Tudo isto é triste. Tudo isto é... falso!
OS VELHOS AMANTES
Amor que grita, amor que cala, amor que ri, amor que chora
Mil vezes eu peguei na mala, mil vezes tu te foste embora
E tanto barco a ir ao fundo tornava o mar da nossa casa
Em oceano de loucura, quando oscilava o nosso mundo
Eu perdia o golpe de asa e tu o gosto da aventura…
Ai meu amor, meu doce e terno e deslumbrante amor
Amor à chuva, amor em sol maior, amor demais, amor eterno.
Conheço bem os teus desejos e tu as minhas fantasias
Morreste em mim todos os beijos, nasci em ti todos os dias
Se muita vez fomos traição e muita vez mudou o vento
E muito gesto foi insulto, em tanta dor de mão em mão
Não aprendemos o talento, de envelhecer sem ser adultos…
Ai meu amor, meu doce e terno e deslumbrante amor
Amor à chuva, amor em sol maior, amor demais, amor eterno.
E quanto mais o tempo passa e quanto mais a vida flui
e quanto mais se perde a graça do que tu foste e da que eu fui
Mais a ternura nos aperta, mais a palavra fica certa
Mais o amor toma lugar, envelhecemos mais depressa
mas nos teus olhos a promessa vai-se cumprindo devagar…
Ai meu amor, meu doce e terno e deslumbrante amor
Amor à chuva, amor em sol maior, amor demais, amor eterno.
(trad. Rosa Lobato Faria)
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