terça-feira, 15 de junho de 2010

CHICO BUARQUE




É publicada em Paris e Bruxelas, já há 11 anos, uma revista bilingue - BRAZUCA - que é voltada para os franceses e os belgas que se interessam pelo Brasil. O último número de Março/Abril é uma edição especial dedicada a CHICO BUARQUE.
Daniel Cariello e Thiago Araújo fizeram uma longa entrevista ao cantor que a certa altura fala de Jacques Brel:

A música francesa te influenciou de alguma maneira?
Eu ouvi muito. Nos anos 50, quando comecei a ouvir muita música, as rádios tocavam de tudo. Muita música brasileira, americana, francesa, italiana, boleros latino americanos. Minha mãe tinha loucura por Edith Piaf e não sei dizer se Piaf me influenciou. Mas ouvi muito, como ouvi Aznavour.
O que me tocou muito foi Jacques Brel. Eu tinha uma tia que morou a vida inteira em Paris. Ela me mandou um disquinho azul, um compacto duplo com Ne me quitte pas, La valse à mille temps, quatro canções. E eu ouvia aquilo adoidado. Foi pouco antes da bossa nova, que me conquistou para a música e me fez tocar violão. As letras dele ficaram marcadas para mim.
Eu encontrei o Jacques Brel depois no Brasil. Estava gravando Carolina e ele apareceu no estúdio, junto com meu editor. Eu fiquei meio besta, não acreditei que era ele. Aí eu fui falar pra ele essa história, que eu o conhecia desde aquele disco. Ele disse “é, faz muito tempo”. Isso deve ter sido 55 ou 56, esse disquinho dele. Eu o encontrei em 67. Depois muito mais tarde eu assisti a L’homme de la mancha, e um dia ele estava no café em frente ao teatro. Eu o vi sentado, olhei pra ele, ele olhou pra mim, mas fiquei sem saber se ele tinha olhado estranhamente ou se me reconheceu. Fiquei sem graça, pois não o queria chatear. Ele estava ali sozinho, não queria aborrecer. Mas ele foi uma figuraça. Eu gostava muito das canções dele. Conhecia todas.

Jacques Brel compôs uma das melhores descrições de sofrimento por amor, em “Ne me quitte pas”: “deixe-me ser a sombra da sua sombra, a sombra da sua mão, a sombra do seu cão”, mas acho que ninguém nunca retratou dor de amor como você fez em “Pedaço de mim”. De onde você tirou isso?
Era uma coisa muito violenta. Tem partes dessa música que eu não sei porque eu escrevi. Era o tempo de barra pesada, tempo de ditadura. É uma canção de amor, mas é uma canção de dor quase física, né? É letra de ditadura.

1 comentário:

  1. Esta é uma belíssima reportagem do grande cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, falando sobre a sua admiração por outro grande titã da música, chamado Jacques Brel. Não devemos nos esquecer que Chico Buarque fez a versão em português, de "La Quête", versão essa chamada "Sonho Impossível", cantada de forma magistral pela grande Maria Bethânia, que por vez é uma versão em português da famosa "The Impossible Dream", do espetáculo "L'Homme de La Mancha". Para quem quiser conferir a versão de Bethânia, segue abaixo um link de um vídeo no Youtube...

    http://www.youtube.com/watch?v=RtqD6E4lju4

    ResponderEliminar