quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

GRAND JACQUES (C'EST TROP FACILE)

Jacques Brel tinha como objectivo, em cada actuação que fazia, dar-se ao público, em corpo inteiro e com toda a sinceridade. Segundo dizia ele, a “sinceridade não é uma qualidade. Não se chama sincero a alguém só porque o parece. É como dizer de um tipo perfeitamente idiota, que é idiota mas tem bom coração…” Portanto, esta sinceridade, esta verdade, tanto na vida privada como na pública, foi sempre a sua grande imagem de marca. Na canção Grand Jacques, o cantor fala consigo próprio e questiona-se sobre os seus valores e ideais. Esta canção foi gravada em 1953.

Grand Jacques (c'est trop facile)

É muito fácil entrar nas igrejas e despejar cá para fora toda a porcaria perante um padre, que na penumbra, fecha os olhos para melhor nos perdoar...
Portanto, cala-te Grand Jacques, que sabes tu do Bom Deus?... Um cântico, uma imagem. Tu não conheces nada de melhor...
É muito fácil quando as guerras acabam a gente pôr-se a gritar que esta foi a última. Amigo burguês fazes-me inveja...Tu não olhas para os teus cemitérios?
Portanto, cala-te Grand Jacques, deixa-os lá gritar, deixa-os chorar de alegria… Tu, tu que nem sequer foste soldado...
É muito fácil quando um amor morre, partido em dois, por ter sido demasiado vergado, e depois ir chorar como os homens choram, como se o amor durasse uma eternidade...
Portanto, cala-te Grand Jacques, que conheces tu do amor? Uns olhos azuis, uns cabelos ao vento, tu não conheces nada disto...
Portanto, diz Grand Jacques, diz muitas vezes que é muito fácil, muito fácil fazer de conta.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

JOSÉ CORREA


Em Outubro de 2009 foi editado um belo livro de Banda Desenhada dedicado a JACQUES BREL.
O seu autor é JOSÉ CORREA, nascido em 1950, em Marrocos, de pais portugueses.
É um apaixonado pela literatura e pela música e tem na sua vasta obra livros dedicados a Marilyn Monroe, Léo Ferré, George Brassens, Eric Satie, Céline, etc,etc. Além de livros tem numerosas exposições no seu currículo. Ele tem exposto as suas aguarelas e ilustrações por toda a França, e também em São Francisco, Osaka, Londres, Berlim...
O livro, das ÉDITIONS BD MUSIC, além das ilustrações sobre a obra de Brel, tem uma biografia do cantor e traz dois CDs com as primeiras gravações feitas entre 1953 e 1958. Cada CD tem 19 canções.

E porque tenho falado aqui de Brel e o Cinema (BREL Actor) mostro um pequeno excerto do livro de José Correa, precisamente sobre o mesmo tema.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

LES COEURS TENDRES

Brel após deixar a vida dos palcos, continuou a gravar discos em estúdio e dedicou-se ao cinema. Participou em diversos filmes de 1967 a 1973. Realizou dois. Le Far west e Franz. Franz teve um óptimo acolhimento do público e da crítica. Porém, sempre insatisfeito consigo próprio, sempre à procura da perfeição, declarou que “gosto de fazer filmes mas dou-me a mim mesmo dez anos para me tornar um realizador aceitável. Mas, se um dia eu descobrir qual o segredo para fazer um filme de sucesso, paro de realizar filmes.”


Os corações sensíveis

Há quem tenha o coração tão grande que se pode lá entrar sem bater... Há quem tenha o coração tão grande que só se vê a metade... Outros têm o coração tão frágil que se pode partir com um dedo. Alguns têm o coração demasiado frágil para viver, como tu e eu, com os olhos cheios de flores, os olhos à flor do medo, o medo de perder a hora que nos leva a Paris...

Há quem tenha o coração tão sensível que lá repousam as aves... Há quem tenha o coração demasiado sensível, metade homem, metade anjo... Outros têm o coração tão vasto que andam sempre em viagem... Outros têm o coração demasiado vasto para se privarem de miragens... Têm os olhos cheios de flores, os olhos à flor do medo, o medo de perder a hora que os leva a Paris...

Há quem tenha o coração cá fora, e não pode senão oferecê-lo. Um coração de tal modo cá fora, que todos se servem dele... Aquele ali, tem o coração de fora, tão frágil, tão sensível, que malditas sejam as árvores mortas que não poderão de modo nenhum entendê-lo, cheio de flores nos olhos, os olhos à flor do medo, o medo de perder a hora que o leva a Paris...


A canção Les coeurs tendres, foi encomendada a Jacques Brel para o filme Um idiota em Paris, em 1967.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

BREL actor (8)


LE BAR DE LA FOURCHE
Realização: Alain Levent
Argumento: Alain Levent, François Boyer, P.Dumarcay
Imagem: Alain Levent
Música: Jacques Brel
Montagm: Eric Pluet
Produção: SNC Production Dela
Duração: 85 min.
Estreia: 23/08/1972
Com Jacques Brel, Rosy Varte, Isabelle Huppert, Pierre-François Pistorio.

ARGUMENTO :
Vincent Van Horst é um verdadeiro estroina, um amante da liberdade, bebedor e mulherengo impenitente. Deixando uma Europa devastada pela guerra, no ano 1916, ele decidiu estabelecer-se no Canadá. Aí conta encontrar Maria, a única mulher que foi o seu verdadeiro amor. No caminho, ele faz amizade com Oliver, um tipo novo que só sonha com uma coisa: tomar parte na guerra na Europa. Chegado ao « Bar de la Fourche », dirigido por Maria, Vicent constata que ela envelheceu muito . Ele vinga-se do seu desapontamento nos braços da irreverente Annie, que é uma provocadora e que abertamente zomba dele. Ela chega a conseguir que Vincent e Olivier se batam num duelo por ela.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

À JEUN

Brel é o actor das suas canções. No palco ele faz viver os personagens dos seus textos. Os heróis e anti-heróis que ele inventa. Nesta canção À jeun, o personagem em cena é um viúvo que está a chegar a casa, bêbado, vindo do funeral da sua própria mulher. Ele cambaleia, soluça, e fala com a cama, e de tudo isto nos apercebemos escutando a voz do cantor. Somente escutando a sua voz.
Quem viu Jacques Brel ao vivo, no palco, jamais esqueceu as suas interpretações… Esta canção é de 1967.



EM JEJUM

Completamente em jejum, vocês dão comigo atrapalhado por não encontrar a minha cama... Vejo-a a recuar… Vejo-a a balançar… Piu piu piu piu, vem cá caminha... Se não vens ter comigo, olha que eu não vou ter contigo... Mas, ouve… “Quem não avança, recua”, diz o senhor Dupneu, um tipo entendido e que é chefe do contencioso...

Completamente em jejum, estou a chegar de uma bela festa... Esta manhã enterrei a minha Huguette... Fingi que chorei só para não estragar a festa. Estavam todos de negro, os vizinhos e os amigos... Naquela feira só eu é que estava com um grão na asa... Estavam lá a minha sogra e o meu sogro... Alguém viu a Mirza? Ah, e estava também o senhor Dupneu, que é chefe do contencioso...

Completamente em jejum, ao enterrar a minha mulher, enterrei, sobretudo, a amante do André... Eu não sabia disto até esta manhã... E soube-o por um amigo do peito, que me contou que a sua irmã, enfim... Restam-me duas soluções... Ou esmurrar o André, ou arrastar a asa à mulher do André... Bom, mas o melhor ainda é ficar em casa e fazer o papel do feliz corno manso.... É isto que me aconselha o André... O André... André Dupneu que é o meu chefe de contencioso...


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

TU LEUR DIRAS...



Jacques Brel conheceu MADDLY BAMY na rodagem do filme L’Aventure c’est l’aventure, em 1971. Em 1974 Maddly abandona a sua carreira de actriz e bailarina e acompanha Brel na sua viagem marítima a bordo do Askoy. Devido à sua doença o cantor decide interromper a volta ao mundo e vai para Hiva Oa, ilha do arquipélago das Marquesas, em pleno Oceano Pacífico, onde viverá os seus últimos 4 anos de vida.
Em 1999 Maddly publicou um livro de memórias intitulado TU LEUR DIRAS, edições Fixot. Neste livro, na página 77, Brel fala assim da sua passagem pela Horta, em Setembo de 1974:

“... Se eu estou aqui (Ilhas Marquesas) é para ter paz. Aqui eu tenho paz. Sou feliz. Se não pudesse viver aqui gostaria de viver nos Açores...”
“... os Açores são portugueses, as ilhas formam um arquipélago em pleno Atlântico. Nós estivemos na Horta, capital da ilha do Faial. São ilhas vulcânicas, a vida é rude, difícil, mas as pessoas são gentis. Infelizmente falam português e eu só gosto do francês. Mas são ilhas de uma grande beleza. Pode-se viver as quatro estações do ano num só dia. De manhã é o orvalho da Primavera, temos vontade de passear pela frescura do tempo. Ao meio-dia é pleno Verão e come-se nos terraços. Chega o Outono com o meio da tarde, as mulheres põem os seus xailes. E a noite é o Inverno debaixo de dois cobertores. Não se admirem de ver neve cair sobre o vulcão.
Mas os Açores estão demasiado perto da França...”

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

L'HOMME ET LA MER (3)



E transcrevo mais uma passagem do livro de Prisca Parrish “JACQUES BREL L’HOMME ET LA MER”. Depois de sairem do Faial, os dois barcos, Askoy e Kalais, rumaram à Madeira.
Entretanto, Brel não melhora da gripe e a sua saúde vai continuar a degradar-se sendo mesmo hospitalizado de urgência em Tenerife.

“... Depois de uma curta travessia e de um tempo soberbo efectuámos uma escala divertida no Funchal, capital da Madeira.
O mais espantoso, mesmo para Jacques , que ainda não saía muito, foi ver os carros de cesto. Estes carros são conduzidos à mão ou puxados por um boi. Do alto da colina, por uma rua estreita pavimentada com seixos, eles deslizam a uma velocidade vertiginosa até ao centro da cidade. É preciso ter o coração bem preso ao peito, sobretudo quando chove, porque a água torna ainda mais escorregadia esta calçada antiga.
A cidade, apesar de demasiado turística, é atraente. O primeiro verdadeiro sol. Ainda não são os Trópicos mas há flores por todo o lado, vinhas aconchegadas a suaves colinas, talvez demasiado arranjadas para mim, dão a este conjunto um aspecto afável e garrido. Depois da rude paisagem dos Açores, temos de repente vontade de sorrir. Madeira sem os turistas... Que sonho!
De seguida tomámos o rumo de Tenerife, nas ilhas Canárias...”

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

L'HOMME ET LA MER (2)

Dr.Decq Mota

Transcrevo hoje mais uma passagem do livro JACQUES BREL L’HOMME ET LA MER onde Prisca Parrish fala dos dias em que Jacques adoeceu e foi visto a bordo do Askoy por um médico local.
O médico local era o Dr.DECQ MOTA e deste encontro falei aqui neste blog no dia 6 de Novembro de 2009.
As “lembranças tristes” referidas no primeiro parágrafo deste pequeno relato têm a ver com a morte de Jojo. Brel tinha acabado de regressar à Horta após ter assistido ao funeral do amigo, em Paris.

“... Os dias esgotavam-se na alegria, na qual se misturavam por vezes as lembranças tristes que Jacques se esforçava por esquecer. A vida é bela, o mundo pertence aos vivos e nós partiremos para dar a volta ao mundo.
Uma manhã, Maddly diz-nos que Jacques não se sente bem. Que é que se passa ? pergunta Vic. Ele apanhou frio e está cheio de febre, está a tiritar e não se quer levantar, responde Maddly. Vic vai ver Brel. Efectivamente, ele está mesmo mal.
Vic vai chamar um médico local que chega ao Askoy na parte da tarde. Diagnóstico: Uma gripe muito forte. Passa uma receita de vitaminas e antibióticos e vai-se embora.
Jacques Brel fica deitado durante dois dias tomando escrupulosamente os remédios , sempre resmungando: Que grande porcaria! A gripe muito forte preocupou-nos a todos mas ao terceiro dia Jacques levantou-se. Em roupão de quarto, sobre o convés, brincando, ele gritou: Afinal só me faltava espirrar!”

domingo, 14 de fevereiro de 2010

L'HOMME ET LA MER



Em 1974 quando Jacques Brel esteve na Horta, no seu iate Askoy, conheceu Prisca Parrish, companheira de outro velejador – Vic – que também estava a caminho do Pacífico, no iate Kalais. Tal foi a impressão causada pelo contacto com Brel (o cantor, o velejador, o homem) que Prisca escreveu um livro contando a história desse contacto e dessa viagem marítima. O livro chama-se JACQUES BREL, L’HOMME ET LA MER, e é da editora PLON, Paris.
Consegui adquiri-lo há dias num “e-alfarrabista” e passo a transcrever algumas passagens sobre o Faial e as suas gentes vistas por uma francesa... há 36 anos.

“...e nos dias seguintes demos grandes passeios pela ilha. Um amigo local conduziu-nos em automóvel a um local onde tinha havido uma forte erupção vulcânica. O solo está coberto de cinza negra. Caminhámos sobre esse chão do fim do mundo com a impressão que iria abater a todo o momento debaixo dos nossos pés. Um farol, solitário nestas terras, está meio enterrado como que envergonhado de se encontrar tão degradado. O silêncio é total, angustiante. A algumas centenas de metros da escarpa emerge uma ilha nua, coberta de lava seca. Os pássaros ousaram aproximar-se e espalharam as sementes do velho mundo para lá dispersar a vida.”
“...a ilha é rude, batida pelos ventos. Os terrenos pouco cultivados vêem-se aqui e ali à espera da próxima mudança, da próxima erupção vulcânica, que pode mudar tudo, destruir ou recriar. Os habitantes estão em trânsito depois de milénios nestas ilhas movediças. Eles são rudes mas hospitaleiros, acolhendo os visitantes com curiosidade e calor. Mistura bizarra.”
“... se sim, então os habitantes dos Açores não têm raízes. As suas ilhas são demasiado movediças. Um vulcão está precisamente em frente à Horta, o seu pico está quase sempre coberto por um manto branco. Terra instável feita de tempestades e de anticiclones, os Açores são um mundo à parte, precário e acolhedor.”

sábado, 13 de fevereiro de 2010

AMSTERDAM

AMSTERDAM , talvez a canção mais famosa de Jacques Brel, depois de Ne me quittes pas, foi gravada uma única vez em 1954, numa noite de Outubro. No Olympia de Paris. E porquê? Porque ele não gostava da canção.
Anos mais tarde o seu amigo e orquestrador François Rauber explicou as razões que levavam Brel a não gostar da canção. Especialmente não lhe agradava a tautologia dos primeiros versos da primeira estrofe “Dans le port d’Amsterdam y a des marins qui chantent, les rêves qui les hantent, au large d’Amsterdam” ou então o exagero “et ils pissent comme je pleure, sur les femmes infidèles”. Também a forma da canção, em quatro estrofes sem refrão, que lhe parecia um pouco primária.
Por outro lado, AMSTERDAM estava marcada por uma espécie de pecado original que é ter sido uma canção sem a menor importância. Brel decidiu então que no seu regresso ao Olympia ela seria a canção de abertura do concerto. Quem está dentro deste mundo do espectáculo sabe que a canção de abertura é uma canção sacrificada: O técnico de som aproveita para acertar os volumes, os músicos aproveitam para “se fazer ao instrumento” e sobretudo o público VÊ mais do que OUVE o cantor, na primeira canção. “Desta maneira, vai passar despercebida” terá dito Brel.
Contrariamente aos outros artistas da época, que reservavam as suas novas canções para estrear em Paris, Brel lança as suas não importa onde, não importa quando, desde que estejam prontas. Como dava mais de 200 concertos por ano, com direito apenas a algumas semanas de férias, era em digressãoque ele escrevia, ou no camarim ou no quarto do hotel. Nos ensaios, antes dum especáculo, aproveitava para compor a música. No palco com o seu pianista Gérard Jouannest ou às vezes com o acordeonista Jean Corti , ele dizia “toca-me aí uma marcha... toca-me aí um tango canalha...” e ele cantava o que tinha nuns rascunhos, às vezes apenas umas linhas. Quando saía uma pequena linha melódica dizia “já está, isto está a desabrochar”. Começavam então a trabalhar a canção. No ensaio do espectáculo seguinte recomeçavam. Brel escrevia mais estrofes. Apurava-se a melodia. Reescreviam-se outras estrofes e um dia quando ele achava que estava tudo pronto, dizia “Pessoal, esta já está. Esta noite vamos lançá-la”.
AMSTERDAM foi composta desta maneira e ficou pronta imediatamente antes do espectáculo do Olympia. Nunca foi feita uma gravação em estúdio.
(Adaptação de um texto da autoria de Compagnie Brel Trente ans déjà)

Amesterdão (1964)

No Porto de Amesterdão há marinheiros que cantam os sonhos que os atormentam ao largo de Amesterdão, há marinheiros que dormem como estandartes ao longo de muralhas sombrias. No Porto de Amesterdão há marinheiros que morrem às primeiras luzes do dia, cheios de cerveja e de dramas, e há marinheiros que nascem no calor espesso dos langores do oceano.

No Porto de Amesterdão há marinheiros que comem caldeiradas de peixe, sobre toalhas muito brancas. Exibem dentes prontos a despedaçar fortunas, capazes de abocanhar a lua e estraçalhar enxárcias. E sente-se o cheiro a bacalhau até dentro das batatas fritas que as suas mãos grandes não se cansam de pedir. Depois levantam-se, rindo numa grande algazarra, apertam as braguilhas e saem arrotando...

No Porto de Amesterdão há marinheiros que dançam esfregando a pança na pança das mulheres. E giram, e dançam, como sóis escarrados ao som dilacerado de um acordeão rançoso, e torcem o pescoço para melhor se ouvirem rir, até que de repente o acordeão se cala, e então, com um gesto grave e com um olhar altivo, eles invocam os seus antepassados, já em plena luz do dia...

No Porto de Amesterdão há marinheiros que bebem, e que bebem, e tornam a beber, e que bebem mais uma vez. Bebem à saúde das putas de Amesterdão, de Hamburgo, e doutros portos, por esse mundo... Enfim, bebem à saúde das mulheres que lhes oferecem os seus corpos lindos, que lhes oferecem a sua virtude por uma moeda de ouro. E quando estão bem bebidos, empinam o nariz, assoam-se nas estrelas, e mijam, como eu choro, sobre as mulheres infiéis. No Porto de Amesterdão...


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

MADELEINE



Para Brel o contacto directo em palco, com os seus músicos era imprescidível. Ele lamentava os artistas do play-back dizendo que eles se deixavam vender como os dentífricos. Jacques Brel, no estúdio de gravação, juntamente com a orquestra, fazia duas ou três gravações, não mais. Por fim ia para a cabina de som e com o seu maestro Rauber e com o seu pianista Jouannest escolhiam a melhor gravação.
Jacques Brel foi dos poucos cantores que teve a honra de ser aplaudido pelos músicos da orquestra, durante as gravações. Que se saiba só Sarah Vaughan teve também este privilégio.

MADALENA (1961)
Esta noite espero a Madalena. Trouxe uns lilases, aliás, todas as semanas trago lilases... Ela gosta tanto... Tomaremos o eléctrico trinta e três para ir comer umas batatas fritas ao Eugénio, ela gosta tanto... A Madalena é o meu Natal, a minha América, mesmo que seja boa de demais para mim, como diz o primo Joel... Mas, esta noite, espero a Madalena, iremos ao cinema e direi muitas vezes que a amo… Ela gosta tanto... Ela é tão bonita, ela é... Ela é... Tudo isso... Ela é toda a minha vida, a Madalena, que eu espero...

Esta noite espero a Madalena, mas, já chove sobre os meus lilases... Chove como todas as semanas e a Madalena que não chega! Já é tarde para o eléctrico trinta e três... Já é tarde para as batatas fritas do Eugénio, e a Madalena que não chega... Ela é o meu horizonte, é a minha América, mesmo que seja boa demais para mim, como diz o seu primo Gastão... Mas, esta noite espero a Madalena e só me resta o cinema... Vou dizer-lhe muitas vezes que a amo! Ela gosta tanto... Ela é toda a minha vida, a Madalena, que nunca mais chega...

Esta noite esperava a Madalena, mas já deitei fora os lilases, aliás, deito-os fora todas as semanas... A Madalena não virá... O cinema já se foi e eu fico-me com os meus “amo-te, amo-te”... A Madalena já não virá... Ela é a minha esperança, a minha América, e certamente que ela é boa demais para mim, como diz o seu primo Gaspar... Esta noite esperava a Madalena, e olha, o último eléctrico já partiu e o Eugénio deve estar a fechar... Ela já não vem... A Madalena que nunca mais chega...

Mas, amanhã, amanhã esperarei a Madalena... Trarei os meus lilases. Todas as semanas trago lilases. Ela gosta tanto... Vamos apanhar o eléctrico trinta e três para comer umas batatas fritas no Eugénio... Ela vai gostar tanto... A Madalena é a minha esperança, a minha América. Não me importa que ela seja boa demais para mim, como diz o seu primo Gaspar... Amanhã esperarei a Madalena, iremos ao cinema e eu vou dizer-lhe muitas vezes que a amo... Ela vai gostar tanto...



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CE SOIR, J'ATTENDS...



Na grande Salle Municipale de Mamers, depois de amanhã, 12 de Fevereiro às 20h30, mais um espectáculo com canções de JACQUES BREL. CE SOIR, J'ATTENDS MADELEINE
Interpretado ao vivo por um pianista, JIMMY TILLIER, e uma acordeonista, OPHÉLIE COLLIN, este espectáculo põe em cena as confidências de um homem, na voz de GUILLAUME NOCTURNE, e dos seus males de amor através das canções de Jacques Brel.
A história: “No Café Alcazar, um homem espera a chegada da sua amada cantando pequenos episódios da sua vida… Esta noite espera a Madalena. O público torna-se confidente de um dia entre tantos outros.
Mas a Madalena não chega. Ele revela os seus desejos e as suas desilusões… A Madalena já não virá. E porque será?”

"Não hesite em vir saborear as confidências de um homem apaixonado… e sobretudo redescobrir o reportório de Jacques Brel onde se misturam na perfeição a poesia e o teatro" recomenda o Programa do espectáculo.

Este espectáculo será apresentado no Festival d'Avignon no próximo Verão.





terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A PROPOS DE BREL



HOJE,9 DE FEVEREIRO, EMISSÃO ESPECIAL A PROPÓSITO DE BREL...

É o fim das 44 crónicas “a propósito de Brel”, difundidas todos os dias desde Dezembro último na Thème Radio. No seguimento do sucesso destas crónicas, GUY CAPET, receberá o seu autor e os membros da Compagnie Brel Trente Ans Déjà nesta emissão em directo dos estúdios da Rádio. Nesta ocasião a antena estará aberta: o ouvinte pode telefonar, conversar com os convidados, falar de Brel, pedir uma determinada canção,etc. Os inéditos de Brel serão também ouvidos no programa, bem como algumas surpresas…
Reserve a sua noite !
Telefone: 011 33 3 25 75 30 30
O programa pode ser ouvido em FM 90.3

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

DU RIRE AUX LARMES



Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre mais um espectáculo de homenagem ao Grand Jacques.
BERNARD GIORDAN vai estar no Teatro Francis GAG, Nice, Domingo 14 de Fevereiro, com o espectáculo “Do Riso às Lágrimas”.
O evento pretende angariar fundos para financiar a operação ao coração de um bebé de 14 meses (NALYAN), que sofre de uma cardiopatia congénita.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

BREL Actor (7)

LES ASSASSINS DE L'ORDRE
Realização e Argumento : Marcel Carné
Imagem: Jean Badal
Música: Pierre Henry et Michel Colombier
Montagem: Henri Rust
Produção: Jean Kerchner
Duração: 110 min.
Estreado em 07/05/1971
Com Jacques Brel, Paola Pitagora, Catherine Rouvel, Charles Denner.
Argumento:
Bernard Level, o juiz, numa pequena cidade de província, é encarregado da investigação de um assunto delicado. Um homem suspeito de um pequeno delito morreu na esquadra de polícia após o interrogatório. Cientes da confusão que pode causar este caso, Level acaba por acusar a polícia e desenvolve uma série de investigações muito criteriosas. A partir desse momento ele torna-se o alvo de uma série de pressões.


Les Assassins de l'ordre 3/6
Enviado por edgarette. - Ver mais videos criativos

sábado, 6 de fevereiro de 2010

LA STATUE

Numa estátua pode gravar-se “ele morreu como um herói, morreu com já não se morre mais” ou “ ele viveu toda a sua vida entre a honra e a virtude”. Ora, como se sabe, por detrás destas belas palavras escondem-se realidades medíocres. A Estátua é o símbolo da morte, da frieza, da hipocrisia, uma vez que ela transforma uma realidade versátil e complexa, numa imagem única e edificante. Esta canção La Statue denuncia a inutilidade da moral oficial vigente…

A estátua (1962)
Ah, se eu apanhasse o miúdo da Maria, que foi gravar aqui debaixo da minha estátua “ ele viveu toda a sua vida entre a honra e a virtude”... Eu... Que enganei os meus amigos, de falsa jura em falsa jura, eu que enganei os meus amigos do Primeiro do ano ao Primeiro do ano, eu que enganei as minhas amantes, de sentimento em sentimento, eu que enganei as minhas amantes da Primavera até à Primavera...
AH, esse miúdo da Maria, como eu gostava que ele estivesse aqui... E também gostaria que os miúdos não me imitassem...

AH, se eu apanhasse esse menino da catequese, que foi gravar debaixo da minha estátua “ Os deuses chamam aqueles que amam, e era a ele quem mais amavam”... Eu, que nunca rezei a Deus, a não ser quando tinha dores de dentes... Eu que nunca rezei a Deus a não ser quando tinha medo do diabo... Eu que nunca rezei ao diabo a não ser quando estava apaixonado. Eu que nunca rezei ao diabo a não ser quando tinha medo do bom Deus...
AH, esse menino do catequese... Como eu gostava que ele estivesse aqui... E também gostaria que os miúdos não me imitassem...

AH, se eu apanhasse o malandreco que gravou debaixo da minha estátua “Ele morreu como um herói... Morreu como já não se morre mais”. Eu, que fui para a guerra porque não tinha nada que fazer. Eu que fui para a guerra para ver “se” as mulheres dos alemães.... Eu que morri na guerra “porque” as mulheres dos alemães. Eu que morri na guerra por não ter podido safar-me dela...
Ah, aquele malandreco, como eu gostava que ele estivesse aqui... E também gostaria que os miúdos não me imitassem...


No YOUTUBE está a interpretação desta canção no seguinte link.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

TOBY SPENCE



No Jornal escocês THE LIST vem a seguinte notícia sobre Jacques Brel:

Lá nos anos 60, quando o SCOTTISH ENSEMBLE nasceu, foi baptizado de Scottish Baroque Ensemble. Embora fosse um grupo sempre admirado por ultrapassar os limites, um programa com música do cantor e compositor belga Jacques Brel, 40 anos abaixo da linha de água, dificilmente se poderia prever que fosse um êxito de um grupo centrado na música instrumental do período barroco.
Toby Spence, o tenor favorito do Scottish Ensemble, interpreta as ásperas e torturadas canções de Brel. “A minha admiração por Jacques Brel já é de longa data”, diz ele, ”embora a primeira vez que me deparei com ele foi através da música Voir un ami pleurer (Ver um amigo chorar), que, como se viu, não era a sua melhor canção. É um tipo doentio e insípido de canção”. No entanto, foi o suficiente para levar Spence a investigar este carácter heterodoxo que, muito depois de sua morte, continua a ser o cantor mais popular da língua francesa e ainda vende mais de 200.000 álbuns por ano.
Quando uma noite, no bar, depois da actuação no Wigmore Hall, Spence disse ao director artístico do Ensemble, Jonathan Morton, que estava interessado na música de Brel, Morton aproveitou a oportunidade para incluir a ideia na temporada do 40 º aniversário grupo. Morton cresceu na Bélgica ouvindo Jacques Brel e sentiu que ele também poderia contribuir para um concerto especial de comemoração.
É com a franqueza de Brel que Spence tem mais afinidade. “É a maneira como ele escreve e interpreta e canaliza os seus temas, muitas vezes assuntos tabu, na sua música, que eu admiro. A sua poesia é tão rica, “ diz ele ”que eu tive que adoptar o seu estilo, e consegui-lo ou não, torna-se mais emocionante, mais como um desafio. Eu não acho que o público vai sair decepcionado.”


O espectáculo terá lugar no Queen’s Hall, Edinburgh, Sexta 12 Fevereiro, e The Old Fruitmarket, Glasgow, Sábado 13 Fevereiro.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

THE SHADOW OF BREL



GODFREY JOHNSON interpreta canções de Jacques Brel na Tabula Rasa na Cidade do Cabo, África do Sul, de 4 a 20 de Fevereiro. No Programa do espectáculo pode ler-se o seguinte texto:

Jacques Brel. Nome que não precisa de nenhuma introdução, nenhum discurso elogioso. Porque foi uma lenda, um compositor e cantor de talento e carisma que levou o seu público a um mundo de dor e de alegria. A sua genialidade foi captando a plenitude da vida, ora terna, ora selvagem. Cada músico vive na sombra do seu legado.
THE SHADOW OF BREL é o espectáculo de Godfrey Johnson avidamente aguardado.
Em 2007, Johnson ganhou a Fleur du Cap, prémio para a Melhor Produção em cabaré pelos seus arranjos e acompanhamentos no espectáculo “Kissed by Brel” de Claire Watling.
Em 2009 Godfrey foi nomeado de novo pelo seu desempenho em “Flirting with Coward”, dirigido por Sanjin Muftiæ, que homenageou o espírito e o talento de Noel Coward.
THE SHADOW OF BREL é a quarta colaboração com Muftiæ naquela que tem sido uma frutuosa cumplicidade artística.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

FILIP JORDENS



Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre mais um espectáculo que está em cena na Bélgica para homenagear, e acima de tudo, MANTER VIVOS o nome de Brel e a sua obra.
Trata-se de FILIP JORDENS que interpreta canções do Grand Jacques acompanhado pelos seus "CHOPINS DU P'TIT MATIN" que são Alano Gruarin, Bart Van Caenegem, Hugo Boogaerts, Peter Verhaegen, Stijn Bettens, Wietse Beels e Yves Baibay.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ÍDOLOS

Ontem foi emitida na SIC mais uma eliminatória desse acontecimento nacional que tem por nome ÍDOLOS. Umas raparigas e uns rapazes vão para lá cantar cheios de boa vontade e talento e acabam triturados pela máquina das audiências que fabrica ídolos com pés de barro.
Mas vamos ao que interessa….
Conheço muitas interpretações de “NE ME QUITTE PAS” e nenhuma, mas nenhuma, se aproxima do original. Quem quiser emocionar-se e sentir a canção em toda a sua plenitude (texto, melodia e sobretudo interpretação) tem que ouvir o seu autor: JACQUES BREL.
“NE ME QUITTE PAS” é uma canção desesperada.
Quem “cozinhou” esta mini versão de “NE ME QUITTE PAS” para a Diana cantar, fê-lo levianamente, sem escrúpulos. Fê-lo unicamente com fins comerciais: short and sweet! Senão veja-se. Ela canta a primeira estrofe e o primeiro refrão dentro do mesmo registo de súplica e depois passa logo para a última estrofe da canção no registo mais intenso do desespero.
Ora, Brel utilizava exactamente o refrão para exprimir o desespero (Moi je t'offrirai des perles de pluie…) e depois na última estrofe ele voltava à súplica, já humilhante (Je ne vais plus pleurer / Je ne vais plus parler / Je me cacherai là…). Portanto, trocaram as voltas à Diana e, pior que isso, trocaram as voltas à canção de Jacques Brel.
Mas isto é só pequeno reparo. Isto não tem importância absolutamente nenhuma!!!
Tal como o próprio concurso, aliás.
O ÍDOLOS (como outros programas do género) é fabricado e manipulado para se tornar um acontecimento nacional e com ele desviam-se as atenções do que é essencial. Enquanto o Zé Povinho está a entretido discutir a Diana e o Filipe, e a fazer chamadas telefónicas para o boneco, não pensa na crise, no desemprego, no mísero poder de compra, nos impostos, no défice, no endividamento...
O Zé Povinho vive feliz porque pensa que levou os seus ídolos até à final.
E depois, lá mais para o Verão, vai continuar felicíssimo a pôr bandeiras na janela… E por aí adiante.
O RESTO QUE SE LIXE!