sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

À JEUN

Brel é o actor das suas canções. No palco ele faz viver os personagens dos seus textos. Os heróis e anti-heróis que ele inventa. Nesta canção À jeun, o personagem em cena é um viúvo que está a chegar a casa, bêbado, vindo do funeral da sua própria mulher. Ele cambaleia, soluça, e fala com a cama, e de tudo isto nos apercebemos escutando a voz do cantor. Somente escutando a sua voz.
Quem viu Jacques Brel ao vivo, no palco, jamais esqueceu as suas interpretações… Esta canção é de 1967.



EM JEJUM

Completamente em jejum, vocês dão comigo atrapalhado por não encontrar a minha cama... Vejo-a a recuar… Vejo-a a balançar… Piu piu piu piu, vem cá caminha... Se não vens ter comigo, olha que eu não vou ter contigo... Mas, ouve… “Quem não avança, recua”, diz o senhor Dupneu, um tipo entendido e que é chefe do contencioso...

Completamente em jejum, estou a chegar de uma bela festa... Esta manhã enterrei a minha Huguette... Fingi que chorei só para não estragar a festa. Estavam todos de negro, os vizinhos e os amigos... Naquela feira só eu é que estava com um grão na asa... Estavam lá a minha sogra e o meu sogro... Alguém viu a Mirza? Ah, e estava também o senhor Dupneu, que é chefe do contencioso...

Completamente em jejum, ao enterrar a minha mulher, enterrei, sobretudo, a amante do André... Eu não sabia disto até esta manhã... E soube-o por um amigo do peito, que me contou que a sua irmã, enfim... Restam-me duas soluções... Ou esmurrar o André, ou arrastar a asa à mulher do André... Bom, mas o melhor ainda é ficar em casa e fazer o papel do feliz corno manso.... É isto que me aconselha o André... O André... André Dupneu que é o meu chefe de contencioso...


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