O GÁS 1967
Tu moras na rua de La Madone, numa velha casa desengonçada, que se retorce e geme nas tábuas do soalho. Tem uma escada de caracol... A casa não é grande, não, mas tem bastante espaço... !!! Tu moras na rua de La Madone e eu, eu… Eu venho por causa do GÁS!
Tens um toucador cheio de Budas, as velas dançam no castiçal e cheira bem não há dúvida... Os tafetás inundam tudo e por todo o lado há fotografias tuas que dormitam à frente do espelho... Tens um toucador cheio de Budas, e eu, eu... Eu venho por causa do GÁS!
Tu tens um verdadeiro divã de rei, um verdadeiro divã de diva... Tens um vinho do Porto que trazes da Porta dos Lilases... Tens um cão pequenino e um gato muito grande... Tens uma grafonola que toca discos de jazz... Tu tens um verdadeiro divã de rei, e eu... Eu... Eu venho por causa do GÁS!
Tu tens uns seios como dois sóis, como frutos, como altares... Tu tens uns seios como dois espelhos, como frutos, como mel... Se tu os cobres, tudo fica negro. Se tu os descobres eu transformo-me em Pégaso... Tu tens uns seios como... Alamedas, e eu... E eu... Eu... Eu venho por causa do GÁS!
É verdade que em tua casa, está o canalizador, está o sacristão, está o carteiro, está o senhor doutor que faz o café e o notário que serve os licores... Está lá metade de um artilheiro, um poeta de Carpentras, estão lá também alguns chuis e até a mão da minha irmã*... E estão todos por causa do GÁS!!!
Venham todos à Rua de La Madone! A casa não é muito grande, não... Mas, tem bastante espaço... Venham todos à Rua de La Madone!!!
Não se esqueçam de dizer que vêm por causa do GÁS!!!
(*A mão da minha irmã: referência provável a uma canção muito popular do tempo da guerra da Argélia - fim dos anos ’50 - onde se cantava que as raparigas metiam a mão dentro das calças dos soldados Zuavos)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
VOIR UN AMI PLEURER
VER UM AMIGO CHORAR
Esta é mais uma canção do último disco gravado por Jacques Brel em 1977. Brel estava auto-exilado nas Ilhas Marquesas, em pleno Oceano Pacífico. Gravou o disco com um imenso esforço uma vez que o cancro pulmonar não lhe permitia grandes cansaços físicos. Sem nunca perder a boa disposição, Brel chega a fazer graça com a sua própria doença e a certa altura , no meio de uma gravação, pára exausto e pergunta pelo microfone “viram por aí um pulmão?” …
Um ano depois Brel morria em Paris.
Com certeza que há as guerras da Irlanda e os lugarejos sem música...
Com certeza que em tudo isto há falta de afecto…e até, não há mais América...
Com certeza que o dinheiro não tem cheiro, mas nenhum cheiro vos chega ao nariz... Com certeza que caminhamos sobre as flores...
Mas, mas ver um amigo chorar...
Com certeza que temos as nossas derrotas, e depois a morte que aparece lá bem no fim. O corpo inclina já a cabeça, espantado por ainda estar de pé...
Com certeza que há as mulheres infiéis e os pássaros assassinados...
Com certeza que os nossos corações perdem as asas...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que há cidades consumidas por essas crianças de cinquenta anos e a nossa impotência para as ajudar... E os nossos amores que sofrem dos dentes...
É certo que o tempo voa demasiado depressa e esses comboios vão cheios de afogados... E a verdade que nos evita...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que os nossos espelhos são imparciais... Nem a coragem de se ser judeu, nem a elegância de se ser negro... Acreditamos que somos pavio e não passamos de sebo...
E todos esses homens que são nossos irmãos, já não nos deixam surpreendidos se por amor nos dilacerarem...
Mas, mas ver um amigo chorar
EM MEMÓRIA DO MEU AMIGO MANUEL FARIA DE CASTRO
Esta é mais uma canção do último disco gravado por Jacques Brel em 1977. Brel estava auto-exilado nas Ilhas Marquesas, em pleno Oceano Pacífico. Gravou o disco com um imenso esforço uma vez que o cancro pulmonar não lhe permitia grandes cansaços físicos. Sem nunca perder a boa disposição, Brel chega a fazer graça com a sua própria doença e a certa altura , no meio de uma gravação, pára exausto e pergunta pelo microfone “viram por aí um pulmão?” …
Um ano depois Brel morria em Paris.
Com certeza que há as guerras da Irlanda e os lugarejos sem música...
Com certeza que em tudo isto há falta de afecto…e até, não há mais América...
Com certeza que o dinheiro não tem cheiro, mas nenhum cheiro vos chega ao nariz... Com certeza que caminhamos sobre as flores...
Mas, mas ver um amigo chorar...
Com certeza que temos as nossas derrotas, e depois a morte que aparece lá bem no fim. O corpo inclina já a cabeça, espantado por ainda estar de pé...
Com certeza que há as mulheres infiéis e os pássaros assassinados...
Com certeza que os nossos corações perdem as asas...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que há cidades consumidas por essas crianças de cinquenta anos e a nossa impotência para as ajudar... E os nossos amores que sofrem dos dentes...
É certo que o tempo voa demasiado depressa e esses comboios vão cheios de afogados... E a verdade que nos evita...
Mas, mas ver um amigo chorar...
É certo que os nossos espelhos são imparciais... Nem a coragem de se ser judeu, nem a elegância de se ser negro... Acreditamos que somos pavio e não passamos de sebo...
E todos esses homens que são nossos irmãos, já não nos deixam surpreendidos se por amor nos dilacerarem...
Mas, mas ver um amigo chorar
EM MEMÓRIA DO MEU AMIGO MANUEL FARIA DE CASTRO
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quarta-feira, 23 de setembro de 2009
ZANGRA
Zangra (1962)
O texto publicado hoje foi inspirado no romance de Dino Buzzati “Deserto dos Tártaros”, de 1940.
Brel exprime o seu desdém pelo militarismo e pela vida uniformizada, e revela uma certa nostalgia pelo heroísmo. É uma grande canção Breliana porque segue uma estrutura teatral: Cada estrofe é uma cena, ou um acto, da peça chamada “Zangra”.
De cena para cena a vida do herói vai queimando etapas até à morte, isto é, até ao cair do pano.
O meu nome é ZANGRA e sou tenente no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver os rebanhos de raparigas... Mas, elas sonham com o amor e eu sonho com os meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e já sou capitão no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver a jovem Consuelo... Mas, ela fala de amor e eu falo dos meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e agora sou o comandante do Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila e bebo um copo com D. Pedro. Ele bebe aos meus amores e eu bebo aos seus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e sou um velho, velho coronel no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver a viúva de D. Pedro. Finalmente falo de amor, mas... Ela fala dos meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA. Já fui um velho, velho general... Deixei o forte de Belonzio que domina a planície... E agora, o inimigo está lá, e eu jamais serei HERÓI!
Em 1976 VALERIO ZURLINI realizou um filme baseado no livro de Buzzati IL DESERTO DEI TARTARI e tinha nos papeis principais: Vittorio Gassman, Giuliano Gemma, Helmut Griem, Philippe Noiret, Jacques Perrin, Francisco Rabal, Fernando Rey, Laurent Terzieff, Jean-Louis Trintignant, Max von Sydow.
O texto publicado hoje foi inspirado no romance de Dino Buzzati “Deserto dos Tártaros”, de 1940.
Brel exprime o seu desdém pelo militarismo e pela vida uniformizada, e revela uma certa nostalgia pelo heroísmo. É uma grande canção Breliana porque segue uma estrutura teatral: Cada estrofe é uma cena, ou um acto, da peça chamada “Zangra”.
De cena para cena a vida do herói vai queimando etapas até à morte, isto é, até ao cair do pano.
O meu nome é ZANGRA e sou tenente no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver os rebanhos de raparigas... Mas, elas sonham com o amor e eu sonho com os meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e já sou capitão no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver a jovem Consuelo... Mas, ela fala de amor e eu falo dos meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e agora sou o comandante do Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila e bebo um copo com D. Pedro. Ele bebe aos meus amores e eu bebo aos seus cavalos...
O meu nome é ZANGRA e sou um velho, velho coronel no Forte de Belonzio que domina a planície donde virá o inimigo que fará de mim um herói...
Enquanto espero por esse dia, aborreço-me muitas vezes, e então vou até à vila ver a viúva de D. Pedro. Finalmente falo de amor, mas... Ela fala dos meus cavalos...
O meu nome é ZANGRA. Já fui um velho, velho general... Deixei o forte de Belonzio que domina a planície... E agora, o inimigo está lá, e eu jamais serei HERÓI!
Em 1976 VALERIO ZURLINI realizou um filme baseado no livro de Buzzati IL DESERTO DEI TARTARI e tinha nos papeis principais: Vittorio Gassman, Giuliano Gemma, Helmut Griem, Philippe Noiret, Jacques Perrin, Francisco Rabal, Fernando Rey, Laurent Terzieff, Jean-Louis Trintignant, Max von Sydow.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
LE DIABLE (ça va)
A canção que publico hoje é das primeiras que foram escritas e gravadas por Jacques Brel, em 1953. Brel, ainda totalmente desconhecido vê, um ano depois, esta canção num disco da famosíssima Juliette Gréco. Apesar desta canção ter 56 anos repare-se na actualidade das palavras.
O DIABO (a coisa vai)
Prólogo:
Um dia o diabo veio à Terra, veio à Terra para vigiar os seus interesses...
O diabo viu tudo, o diabo ouviu tudo, e depois de tudo ter visto e de tudo ter ouvido, ele voltou para casa, lá em baixo...
E lá em baixo organizou um grande banquete, e no fim do banquete levantou-se e fez este discurso:
A coisa vai... Um pouco por todo o lado há fogos a iluminar a Terra... Os homens divertem-se como loucos nos perigosos jogos de guerra, a coisa vai... Os comboios descarrilam estrondosamente porque uns gajos cheios de ideais metem bombas nos carris, o que faz mortos bem originais, mortos sem confissão, confissões sem remissão, a coisa vai...
Nada se vende, mas tudo se compra. A honra e mesmo a virtude... Os Estados transformam-se, em segredo, em sociedades anónimas, a coisa vai... Os grandes sacam os dólares que vêm das terras do tio Sam e a Europa repõe em cena “O Avaro”, com um cenário de mil e novecentos... Isto faz os mortos da fome, e a fome das nações, a coisa vai...
Os homens já viram tanta coisa que ficaram com os olhos baços... E já nem se canta pelas ruas de Paris, a coisa vai... Chamam loucos aos honrados e palermas aos poetas, e nos jornais de todo o mundo, todos os pulhas têm a sua fotografia... Isto incomoda as pessoas honestas e diverte os desonestos... A coisa vai, a coisa vai....
O DIABO (a coisa vai)
Prólogo:
Um dia o diabo veio à Terra, veio à Terra para vigiar os seus interesses...
O diabo viu tudo, o diabo ouviu tudo, e depois de tudo ter visto e de tudo ter ouvido, ele voltou para casa, lá em baixo...
E lá em baixo organizou um grande banquete, e no fim do banquete levantou-se e fez este discurso:
A coisa vai... Um pouco por todo o lado há fogos a iluminar a Terra... Os homens divertem-se como loucos nos perigosos jogos de guerra, a coisa vai... Os comboios descarrilam estrondosamente porque uns gajos cheios de ideais metem bombas nos carris, o que faz mortos bem originais, mortos sem confissão, confissões sem remissão, a coisa vai...
Nada se vende, mas tudo se compra. A honra e mesmo a virtude... Os Estados transformam-se, em segredo, em sociedades anónimas, a coisa vai... Os grandes sacam os dólares que vêm das terras do tio Sam e a Europa repõe em cena “O Avaro”, com um cenário de mil e novecentos... Isto faz os mortos da fome, e a fome das nações, a coisa vai...
Os homens já viram tanta coisa que ficaram com os olhos baços... E já nem se canta pelas ruas de Paris, a coisa vai... Chamam loucos aos honrados e palermas aos poetas, e nos jornais de todo o mundo, todos os pulhas têm a sua fotografia... Isto incomoda as pessoas honestas e diverte os desonestos... A coisa vai, a coisa vai....
domingo, 20 de setembro de 2009
LA CHANSON DE JACKY
A CANÇÃO DE JACKY
No palco, Brel canta, gesticula, transpira, muda de feição e de postura, conforme os textos vão exigindo… No intervalo das canções vai perto do piano e limpa o suor a um grande lenço. Um médico pesou Jacques Brel durante várias noites seguidas, antes e depois dos espectáculos, e chegou a registar diferenças de 800 gramas. O texto que hoje publico La chanson de Jacky, é um exemplo do que melhor Brel fazia em palco. A entrega total. Ao texto, à canção, ao espectáculo, ao público.
Mesmo que um dia em KNOKKE-LE-ZOUTE, eu me torne, como receio, cantor para mulheres acabadas... Mesmo que lhes cante a ”Canção do Bandido” com a voz bandoneante* de um argentino de Carcassone... Mesmo que me chamem António e me vejam queimar os últimos cartuchos em troca de uns presentinhos... “Minhas senhoras eu faço o que posso”... Mesmo que me empanturre de hidromel, para melhor falar de virilidade àquelas matronas enfeitadas como árvores de Natal... Eu sei que dentro da minha bebedeira com elefantes cor-de-rosa, todas as noites, eu cantarei a minha canção melancólica, aquela dos tempos em que eu me chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo, e imbecil ao mesmo tempo!
Mesmo que um dia em Macau, eu me torne dono de um casino, cercado de mulheres langorosas... Mesmo que deixe de ser cantor, para me tornar “Mestre Cantor”, e que sejam os outros a cantar... Mesmo que me chamem “Le beau Serge”, e que venda barcos de ópio e de whisky de 100 anos, e verdadeiras bichas e falsas virgens... Mesmo que tenha um Banco em cada dedo, e um dedo em cada país e cada país seja meu... Eu sei que mesmo assim, cada noite, sozinho, no fundo da minha sala de fumo, para um público de velhos chineses eu cantarei a minha canção, aquela do tempo em que me chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo, e imbecil ao mesmo tempo!
Mesmo que um dia no paraíso, para minha surpresa, eu me torne cantor para mulheres com asas brancas. Mesmo que eu lhes cante “aleluia”, lamentando o tempo lá em baixo, onde não era Domingo todos os dias... Mesmo que me chamem Deus pai, aquele que está na Lista entre o Deus dará e o Deus te perdoe. Mesmo que deixe crescer a barba e, como o bom rapaz de sempre, rebente o coração e o espírito puro, a querer consolar os homens, sei que mesmo assim, todas as noites ouvirei no meu paraíso, os anjos, os santos e Lucifer a cantarem-me a minha última canção, aquela do tempo em que eu ma chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo e imbecil ao mesmo tempo!
No palco, Brel canta, gesticula, transpira, muda de feição e de postura, conforme os textos vão exigindo… No intervalo das canções vai perto do piano e limpa o suor a um grande lenço. Um médico pesou Jacques Brel durante várias noites seguidas, antes e depois dos espectáculos, e chegou a registar diferenças de 800 gramas. O texto que hoje publico La chanson de Jacky, é um exemplo do que melhor Brel fazia em palco. A entrega total. Ao texto, à canção, ao espectáculo, ao público.
Mesmo que um dia em KNOKKE-LE-ZOUTE, eu me torne, como receio, cantor para mulheres acabadas... Mesmo que lhes cante a ”Canção do Bandido” com a voz bandoneante* de um argentino de Carcassone... Mesmo que me chamem António e me vejam queimar os últimos cartuchos em troca de uns presentinhos... “Minhas senhoras eu faço o que posso”... Mesmo que me empanturre de hidromel, para melhor falar de virilidade àquelas matronas enfeitadas como árvores de Natal... Eu sei que dentro da minha bebedeira com elefantes cor-de-rosa, todas as noites, eu cantarei a minha canção melancólica, aquela dos tempos em que eu me chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo, e imbecil ao mesmo tempo!
Mesmo que um dia em Macau, eu me torne dono de um casino, cercado de mulheres langorosas... Mesmo que deixe de ser cantor, para me tornar “Mestre Cantor”, e que sejam os outros a cantar... Mesmo que me chamem “Le beau Serge”, e que venda barcos de ópio e de whisky de 100 anos, e verdadeiras bichas e falsas virgens... Mesmo que tenha um Banco em cada dedo, e um dedo em cada país e cada país seja meu... Eu sei que mesmo assim, cada noite, sozinho, no fundo da minha sala de fumo, para um público de velhos chineses eu cantarei a minha canção, aquela do tempo em que me chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo, e imbecil ao mesmo tempo!
Mesmo que um dia no paraíso, para minha surpresa, eu me torne cantor para mulheres com asas brancas. Mesmo que eu lhes cante “aleluia”, lamentando o tempo lá em baixo, onde não era Domingo todos os dias... Mesmo que me chamem Deus pai, aquele que está na Lista entre o Deus dará e o Deus te perdoe. Mesmo que deixe crescer a barba e, como o bom rapaz de sempre, rebente o coração e o espírito puro, a querer consolar os homens, sei que mesmo assim, todas as noites ouvirei no meu paraíso, os anjos, os santos e Lucifer a cantarem-me a minha última canção, aquela do tempo em que eu ma chamava Jacky...
Gostava de ser por uma hora, uma hora somente, uma hora de vez em quando, belo, belo e imbecil ao mesmo tempo!
sábado, 19 de setembro de 2009
BREL NA ILHA DO FAIAL - 1974
Fez ontem, dia 18, 35 anos que Brel deixou o porto da Horta com rumo à Madeira. Tinha chegado à ilha do Faial no dia 1 de Setembro a bordo do Askoy, na companhia da filha France e da amiga Maddly.
Dias depois recebeu a notícia da morte do seu amigo Jojo e regressou a Paris de avião, via Ilha Terceira, deixando o barco ao cuidado da filha e da amiga. Regressou ao Faial a bordo de um Jet Lear, propriedade de um milionário suíço que lhe deu boleia para os Açores.
A notícia que se segue vinha publicada no diário local “O Telégrafo”, de 17 de Setembro, e é bastante confusa, dado o pouco conhecimento que se tinha de Jacques Brel por estas paragens.
Dias depois recebeu a notícia da morte do seu amigo Jojo e regressou a Paris de avião, via Ilha Terceira, deixando o barco ao cuidado da filha e da amiga. Regressou ao Faial a bordo de um Jet Lear, propriedade de um milionário suíço que lhe deu boleia para os Açores.
A notícia que se segue vinha publicada no diário local “O Telégrafo”, de 17 de Setembro, e é bastante confusa, dado o pouco conhecimento que se tinha de Jacques Brel por estas paragens.
JACQUES BREL - THE RAGE TO LIVE
Das Edições Jacques Brel recebi esta informação e o cartaz que se segue. Consultando o programa da peça pode ler-se:
JACQUES BREL – A FÚRIA DE VIVER
É uma peça de teatro para um actor e com 15 canções. Tem uma hora e um quarto de duração e o actor em cena conta a história de Brel – os seus primeiros sucessos, a sua breve passagem pelo teatro musical, os seus tempos de actor e realizador de cinema, o seu desejo obsessivo de solidão que conseguia no prazer de voar pilotando o seu avião Jojo ou velejando no Askoy, a sua vida sentimental atribulada, tanto com a família como com outras mulheres, a sua tempestuosa relação com Deus e a sua grande ternura por Hiva Oa, a remota ilha do Pacífico onde eventualmente encontrou a paz.
Ao narrar esta história o actor ANTHONY CABLE e o cantor JACQUES BREL fundem-se imperceptivelmente um no outro.
JACQUES BREL – A FÚRIA DE VIVER
É uma peça de teatro para um actor e com 15 canções. Tem uma hora e um quarto de duração e o actor em cena conta a história de Brel – os seus primeiros sucessos, a sua breve passagem pelo teatro musical, os seus tempos de actor e realizador de cinema, o seu desejo obsessivo de solidão que conseguia no prazer de voar pilotando o seu avião Jojo ou velejando no Askoy, a sua vida sentimental atribulada, tanto com a família como com outras mulheres, a sua tempestuosa relação com Deus e a sua grande ternura por Hiva Oa, a remota ilha do Pacífico onde eventualmente encontrou a paz.
Ao narrar esta história o actor ANTHONY CABLE e o cantor JACQUES BREL fundem-se imperceptivelmente um no outro.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
VIEL CHANTE BREL
Das Edições Jacques Brel recebi a informação e o cartaz do espectáculo VIEL CHANTE BREL criado por LAURENT VIEL e THIERRY GARCIA.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
CES GENS-LÁ
Na canção CES GENS-LÁ tudo é sombrio e frio (até a sopa). Excepto Frida, a rapariga jovem, que é bela como um sol e que ama a vida. Mas toda a família se opõe à intromissão do amor no seu seio… Repare-se na orquestração que acentua a gravidade e a rigidez desta família… e da situação criada por um intruso.
ESSA GENTE
Em primeiro lugar está o mais velho, aquele que parece um melão, que tem um nariz grande, aquele que já nem o seu nome sabe... Ó homem, o que ele bebe… E o que ele bebeu, de tal modo que não faz nada com aqueles dez dedos... Mas ele, que já não pode com ele, que está completamente despachado, e que se toma pelo rei... que todas as noites se encharca em carrascão mas, mas que na manhã seguinte, lá está na igreja adormecida, teso que nem um barrote, branco como um círio de Páscoa. Depois balbucia com um olhar vago...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente não se pensa, meus senhores, não se pensa... Reza-se...
E depois há o outro... Aquele que tem cenouras nos cabelos e que jamais viu um pente... Aquele que é mau como a sarna, mesmo que dê a camisa a um pobre. Aquele que casou com a Denise, uma rapariga da cidade, quer dizer, de uma outra cidade, e que ainda não está xexé... Tem os seus pequenos negócios... Tem um chapelinho, tem um casaquinho, tem o seu carrinho... Gosta muito de dar ares, mas não tem ar de coisa nenhuma... Não se pode brincar aos ricos quando não se tem um tostão na algibeira...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente não se vive, meus senhores, não se vive... Intruja-se...
E depois, há os outros... A mãe que não diz nada, e mesmo que diga não importa... Sempre presente, debaixo da sua cara de apóstolo, fechado na sua moldura de madeira, está o bigode do pai que morreu de uma escorregadela. Agora observa o seu rebanho a empanturrar-se de sopa fria e a fazer grandes chhhhhluuup... a fazer grandes chhhhhhluuuup...
E também está lá aquela muito velhinha, que não pára de estremecer, e todos esperam que rebente visto que é ela que tem uns patacos... Mas ninguém liga nenhuma ao que aquelas pobres mãos contam...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente, não se conversa, meus senhores, não se conversa... Fazem-se contas...
E depois, e depois há a Frida, que é bela como o sol, e que me ama tanto como eu a amo a ela... Dizemos muitas vezes que havemos de ter uma casa com montes de janelas, e quase sem paredes, e que havemos de lá viver... Será tão bom lá viver... Bem, se isto não é certo, pelo menos, é quase certo. Porque os outros não querem, os outros não querem... Os outros dizem que ela é demasiado linda para mim e que eu só sirvo para esfolar gatos... Eu nunca matei gatos, ou então, se foi, foi há muito tempo, ou então já me esqueci, ou eles cheiravam mal... Enfim, eles não querem... Estão contra.
Às vezes, quando nos encontramos, fingindo que é por acaso, com os olhos molhados ela diz que partirá, e que me seguirá... Então, por um instante, por um instante somente, eu acredito nela, meus senhores, por um instante, um instante somente...
Porque de casa desta gente, meus senhores, ninguém sai, ninguém sai...
Mas está a fazer-se tarde, senhores, são horas de eu regressar a minha casa...
ESSA GENTE
Em primeiro lugar está o mais velho, aquele que parece um melão, que tem um nariz grande, aquele que já nem o seu nome sabe... Ó homem, o que ele bebe… E o que ele bebeu, de tal modo que não faz nada com aqueles dez dedos... Mas ele, que já não pode com ele, que está completamente despachado, e que se toma pelo rei... que todas as noites se encharca em carrascão mas, mas que na manhã seguinte, lá está na igreja adormecida, teso que nem um barrote, branco como um círio de Páscoa. Depois balbucia com um olhar vago...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente não se pensa, meus senhores, não se pensa... Reza-se...
E depois há o outro... Aquele que tem cenouras nos cabelos e que jamais viu um pente... Aquele que é mau como a sarna, mesmo que dê a camisa a um pobre. Aquele que casou com a Denise, uma rapariga da cidade, quer dizer, de uma outra cidade, e que ainda não está xexé... Tem os seus pequenos negócios... Tem um chapelinho, tem um casaquinho, tem o seu carrinho... Gosta muito de dar ares, mas não tem ar de coisa nenhuma... Não se pode brincar aos ricos quando não se tem um tostão na algibeira...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente não se vive, meus senhores, não se vive... Intruja-se...
E depois, há os outros... A mãe que não diz nada, e mesmo que diga não importa... Sempre presente, debaixo da sua cara de apóstolo, fechado na sua moldura de madeira, está o bigode do pai que morreu de uma escorregadela. Agora observa o seu rebanho a empanturrar-se de sopa fria e a fazer grandes chhhhhluuup... a fazer grandes chhhhhhluuuup...
E também está lá aquela muito velhinha, que não pára de estremecer, e todos esperam que rebente visto que é ela que tem uns patacos... Mas ninguém liga nenhuma ao que aquelas pobres mãos contam...
É preciso dizer, meus senhores, que em casa desta gente, não se conversa, meus senhores, não se conversa... Fazem-se contas...
E depois, e depois há a Frida, que é bela como o sol, e que me ama tanto como eu a amo a ela... Dizemos muitas vezes que havemos de ter uma casa com montes de janelas, e quase sem paredes, e que havemos de lá viver... Será tão bom lá viver... Bem, se isto não é certo, pelo menos, é quase certo. Porque os outros não querem, os outros não querem... Os outros dizem que ela é demasiado linda para mim e que eu só sirvo para esfolar gatos... Eu nunca matei gatos, ou então, se foi, foi há muito tempo, ou então já me esqueci, ou eles cheiravam mal... Enfim, eles não querem... Estão contra.
Às vezes, quando nos encontramos, fingindo que é por acaso, com os olhos molhados ela diz que partirá, e que me seguirá... Então, por um instante, por um instante somente, eu acredito nela, meus senhores, por um instante, um instante somente...
Porque de casa desta gente, meus senhores, ninguém sai, ninguém sai...
Mas está a fazer-se tarde, senhores, são horas de eu regressar a minha casa...
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
LE GRANDE GALA DES AMIS DE GEORGES
Das Edições Brel recebi hoje a informação e o cartaz da GRANDE GALA DOS AMIGOS DE GEORGES. O espectáculo é na "Grande Comédie de Paris" no próximo dia 19 de Setembro.
Serão cantadas neste espectáculo canções de Georges Brassens e de Jacques Brel.
Serão cantadas neste espectáculo canções de Georges Brassens e de Jacques Brel.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
RENÉ HÉNOUMONT
Das Edições Jacques Brel recebi esta notícia:
O JORNALISTA BELGA RENÉ HÉNOUMONT , AMIGO DE BREL E DE SIMENON, MORRE AOS 87 ANOS.
O jornalista trabalhou para a televisão belga francófona (RTBF) onde realizou duas entrevistas com Jacques Brel nos seus primeiros anos de cantor.
Numa delas questionou Brel porque não gostava das flamengas e na outra ele foi testemunha privilegiada da criação ao vivo da canção “Quand mamam reviendra”.
René Hénoumont , além de jornalista era também romancista e ganhou vários prémios literários. No seu livro “Café Liégeois” (1984) ele consagra três páginas a Jacques Brel. Nelas pode ler-se “Jacques Brel e eu éramos como que amigos de infância. Eu estive com ele nas suas estreias em Bruxelas e em Paris quando a nossa juventude vivia as noites e as palavras até de madrugada”. Ou ainda “Viu-o pela última vez num quiosque da “Gare du Nord” onde o dia pardacento tardava a acordar. Deixei-o ainda antes de acabarmos de beber umas mixórdias parecidas com café. No cinzeiro, o seu maço de cigarros estava amachucado, retorcido, vazio… Deveria ter estado mais tempo com ele. Nunca se sabe quando começa a viagem para o fim da noite”.
Em Outubro de 1988, René participou num debate televisivo, em Bruxelas, sobre o tema “Jacques Brel, escritor falhado?”
O JORNALISTA BELGA RENÉ HÉNOUMONT , AMIGO DE BREL E DE SIMENON, MORRE AOS 87 ANOS.
O jornalista trabalhou para a televisão belga francófona (RTBF) onde realizou duas entrevistas com Jacques Brel nos seus primeiros anos de cantor.
Numa delas questionou Brel porque não gostava das flamengas e na outra ele foi testemunha privilegiada da criação ao vivo da canção “Quand mamam reviendra”.
René Hénoumont , além de jornalista era também romancista e ganhou vários prémios literários. No seu livro “Café Liégeois” (1984) ele consagra três páginas a Jacques Brel. Nelas pode ler-se “Jacques Brel e eu éramos como que amigos de infância. Eu estive com ele nas suas estreias em Bruxelas e em Paris quando a nossa juventude vivia as noites e as palavras até de madrugada”. Ou ainda “Viu-o pela última vez num quiosque da “Gare du Nord” onde o dia pardacento tardava a acordar. Deixei-o ainda antes de acabarmos de beber umas mixórdias parecidas com café. No cinzeiro, o seu maço de cigarros estava amachucado, retorcido, vazio… Deveria ter estado mais tempo com ele. Nunca se sabe quando começa a viagem para o fim da noite”.
Em Outubro de 1988, René participou num debate televisivo, em Bruxelas, sobre o tema “Jacques Brel, escritor falhado?”
domingo, 13 de setembro de 2009
LES VIEUX
Jacques Brel canta os velhos e a velhice com palavras ternas e ao mesmo tempo cruéis. Ternas sem comiseração, cruéis sem raiva. Na canção Les vieux, ele usa um truque literário para transmitir ao ouvinte toda a solidão e lentidão da velhice.
O texto é composto por versos de 18 sílabas. A orquestração acentua esta cadência lenta. A melodia e a entoação da voz completam o quadro da velhice que se arrasta para a morte… A nossa velhice que se arrasta para a morte.
Les vieux é de 1963.
Os velhos já não falam... Quando muito, às vezes, falam com olhares. Mesmo ricos, eles são pobres... Já não têm ilusões e só lhes resta um coração para dois. As suas casas cheiram a tomilho, cheiram a limpeza, cheiram a alfazema e a palavras antigas. Quando se vive muito tempo, viver em Paris, é como viver na província...
Talvez porque tenham rido muito, as suas vozes enrugam-se quando falam do passado... Talvez porque tenham chorado demasiado, as lágrimas se tornam pérolas nas pálpebras... E se tremem mais um pouco, é só porque vêem envelhecer o relógio de parede, que ronrona no salão, e que diz sim, e que diz não, e que diz “Estou à vossa espera”!
Os velhos já não sonham... Os seus livros adormeceram, os pianos estão fechados, o gatinho já morreu, o moscatel do Domingo já não os faz cantar... Os velhos já não se mexem... Os seus gestos têm demasiadas rugas e o seu mundo é muito pequeno, vai do leito à janela, depois do leito ao sofá, e depois do leito ao leito... E se ainda saem à rua, vão muito austeros de braço dado, debaixo do sol, ao enterro de um que era mais velho, ao enterro de uma que era mais decrépita... E enquanto dura um soluço, esquecem por uma hora o relógio de parede que ronrona no salão, e que diz sim, e que diz não, e por eles vai esperando...
Os velhos não morrem... Um dia adormecem e ficam-se a dormir por demasiado tempo... Dão a mão um ao outro porque têm medo de se perder, e portanto, perdem-se. E o outro que resta, para ali fica... Seja o melhor ou o pior, seja o meigo ou o severo, pouco importa, porque encontra-se no inferno... Vamos vê-lo talvez, vamos encontrá-la por vezes, à chuva e ao desgosto, atravessando o presente, e desculpando-se de já não poder estar mais adiante, e fugir à vossa frente, uma última vez do relógio de parede que ronrona no salão, que diz sim, e que diz não, e que lhe diz: “Estou à tua espera”...
O relógio de parede que ronrona no salão e que diz sim… E que diz não... E QUE ESTÁ À NOSSA ESPERA.
O texto é composto por versos de 18 sílabas. A orquestração acentua esta cadência lenta. A melodia e a entoação da voz completam o quadro da velhice que se arrasta para a morte… A nossa velhice que se arrasta para a morte.
Les vieux é de 1963.
Os velhos já não falam... Quando muito, às vezes, falam com olhares. Mesmo ricos, eles são pobres... Já não têm ilusões e só lhes resta um coração para dois. As suas casas cheiram a tomilho, cheiram a limpeza, cheiram a alfazema e a palavras antigas. Quando se vive muito tempo, viver em Paris, é como viver na província...
Talvez porque tenham rido muito, as suas vozes enrugam-se quando falam do passado... Talvez porque tenham chorado demasiado, as lágrimas se tornam pérolas nas pálpebras... E se tremem mais um pouco, é só porque vêem envelhecer o relógio de parede, que ronrona no salão, e que diz sim, e que diz não, e que diz “Estou à vossa espera”!
Os velhos já não sonham... Os seus livros adormeceram, os pianos estão fechados, o gatinho já morreu, o moscatel do Domingo já não os faz cantar... Os velhos já não se mexem... Os seus gestos têm demasiadas rugas e o seu mundo é muito pequeno, vai do leito à janela, depois do leito ao sofá, e depois do leito ao leito... E se ainda saem à rua, vão muito austeros de braço dado, debaixo do sol, ao enterro de um que era mais velho, ao enterro de uma que era mais decrépita... E enquanto dura um soluço, esquecem por uma hora o relógio de parede que ronrona no salão, e que diz sim, e que diz não, e por eles vai esperando...
Os velhos não morrem... Um dia adormecem e ficam-se a dormir por demasiado tempo... Dão a mão um ao outro porque têm medo de se perder, e portanto, perdem-se. E o outro que resta, para ali fica... Seja o melhor ou o pior, seja o meigo ou o severo, pouco importa, porque encontra-se no inferno... Vamos vê-lo talvez, vamos encontrá-la por vezes, à chuva e ao desgosto, atravessando o presente, e desculpando-se de já não poder estar mais adiante, e fugir à vossa frente, uma última vez do relógio de parede que ronrona no salão, que diz sim, e que diz não, e que lhe diz: “Estou à tua espera”...
O relógio de parede que ronrona no salão e que diz sim… E que diz não... E QUE ESTÁ À NOSSA ESPERA.
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sábado, 12 de setembro de 2009
JACQUES BREL NO PETER
No dia 12 de Setembro de 1974 , faz hoje precisamente 35 anos, JACQUES BREL esteve no PETER Café Sport e deixou lá a sua assinatura do Livro de Honra daquele Café. Na imagem abaixo uma fotografia desse autógrafo juntamente com o de France Brel e de Maddly , respectivamente filha e companheira do cantor. Na imagem também está a fotografia do Askoy que Brel deixou colada na mesma página.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
ASKOY NA TELEVISÃO BELGA
Na próxima segunda feira, 14, às 20h40m, na TV1, transmissão da reportagem sobre a recuperação do Askoy na série “Un simple plan”
Pieter Wittevrongel e os seus colaboradores, dois irmãos de Blankengerge, planearam a recuperação do Askoy encalhado nos mares da Nova Zelândia. Trata-se do barco em que Jacques Brel navegou até às ilhas Marquesas em 1974.
Actualmente, o Askoy encontra-se ilegal,”sem papeis”, em Ostende, aguardando um acordo com a Região flamenga para lhe atribuir um lugar a oeste da cidade de Blankenberge, estação balnear da Costa Belga. A ideia é construir um museu consagrado à herança marítima onde estará presente a memória de Jacques Brel.
Para tal é essencial a restauração do Askoy.
Pieter Wittevrongel e os seus colaboradores, dois irmãos de Blankengerge, planearam a recuperação do Askoy encalhado nos mares da Nova Zelândia. Trata-se do barco em que Jacques Brel navegou até às ilhas Marquesas em 1974.
Actualmente, o Askoy encontra-se ilegal,”sem papeis”, em Ostende, aguardando um acordo com a Região flamenga para lhe atribuir um lugar a oeste da cidade de Blankenberge, estação balnear da Costa Belga. A ideia é construir um museu consagrado à herança marítima onde estará presente a memória de Jacques Brel.
Para tal é essencial a restauração do Askoy.
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quinta-feira, 10 de setembro de 2009
LES BONBONS
Mais uma canção de Jacques Brel em que há um diálogo entre um anti-herói de Brel e uma interlocutora e que se reduz a uma voz, isto é, a um monólogo. Nós percebemos que ela está presente. Adivinhamos as suas reacções. Pelas palavras dele, revela-se o silêncio dela, o que dá um ar mais cómico/dramático a toda a encenação. Ao vivo, Brel cantava esta canção Les Bonbons como só ele poderia cantar. Absolutamente irresistível.
Les bonbons é de 1964
Eu trouxe-lhe uns bombons porque as flores são tão perecíveis, quero dizer, os bombons também são bons, mas... As flores têm outra apresentação.
Sobretudo, quando elas estão em botão... Mas, eu trouxe-lhe uns bombons...
Espero que possamos dar um passeio e que a senhora sua mãe não diga nada... Iremos ver passar os comboios e às oito horas estaremos de volta. Mas que belo Domingo para a época... Eu trouxe-lhe uns bombons...
Se você soubesse como eu estou orgulhoso de a ver aqui de braço dado comigo... As pessoas olham de lado e até há quem ria atrás de mim... Este mundo está cheio de descarados... Eu trouxe-lhe uns bombons...
AH, Sim! A Germana é menos bem que você, a Germana é menos bonita... É verdade que a Germana tem o cabelo arruçado e é verdade que a Germana é uma peste. Você tem toda a razão... Eu trouxe-lhe uns bombons...
E cá estamos no parque... No coreto tocam Mozart... Mas, diga-me, por acaso aquele, além, não é o seu amigo Leôncio?... Se você quiser eu dou-lhe o meu lugar... Eu trazia aqui uns bombons...
Ohhh... Bom dia menina Germana...Eu trouxe-lhe uns bombons porque as flores são tão perecíveis, quero dizer, os bombons são também bons, mas as flores têm outra apresentação. Sobretudo quando elas estão em botão... Mas, eu trouxe-lhe uns bombons...
Les bonbons é de 1964
Eu trouxe-lhe uns bombons porque as flores são tão perecíveis, quero dizer, os bombons também são bons, mas... As flores têm outra apresentação.
Sobretudo, quando elas estão em botão... Mas, eu trouxe-lhe uns bombons...
Espero que possamos dar um passeio e que a senhora sua mãe não diga nada... Iremos ver passar os comboios e às oito horas estaremos de volta. Mas que belo Domingo para a época... Eu trouxe-lhe uns bombons...
Se você soubesse como eu estou orgulhoso de a ver aqui de braço dado comigo... As pessoas olham de lado e até há quem ria atrás de mim... Este mundo está cheio de descarados... Eu trouxe-lhe uns bombons...
AH, Sim! A Germana é menos bem que você, a Germana é menos bonita... É verdade que a Germana tem o cabelo arruçado e é verdade que a Germana é uma peste. Você tem toda a razão... Eu trouxe-lhe uns bombons...
E cá estamos no parque... No coreto tocam Mozart... Mas, diga-me, por acaso aquele, além, não é o seu amigo Leôncio?... Se você quiser eu dou-lhe o meu lugar... Eu trazia aqui uns bombons...
Ohhh... Bom dia menina Germana...Eu trouxe-lhe uns bombons porque as flores são tão perecíveis, quero dizer, os bombons são também bons, mas as flores têm outra apresentação. Sobretudo quando elas estão em botão... Mas, eu trouxe-lhe uns bombons...
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009
GENUÍNO MADRUGA EM HIVA OA (2)
Genuíno Madruga
EXCERTO DE UMA NOTÍCIA DO SEMANÁRIO TRIBUNA DAS ILHAS
do dia 02 de Maio de 2008.
Genuíno Madruga chegou finalmente à ilha de Hiva Oa, no arquipélago das Marquesas
Pouco passava das 18 horas (2 horas da manhã nos Açores) do dia 23 de Abril quando Genuíno Madruga aportou nas ilhas Marquesas após 20 dias de navegação solitária. O navegador açoriano teve de manobrar para abrigar o seu veleiro Hemingway no porto de Hiva Oa repleto de outras embarcações de aventureiros que cruzam o oceano Pacífico em busca destas ilhas paradisíacas da Polinésia Francesa.
É a segunda vez que Genuíno Madruga visita Hiva Oa (também aqui passou na sua primeira volta ao mundo em 2002) . Nesta ilha vai visitar a última morada do pintor Paul Gauguin e do cantor Jacques Brel. O velejador portuguêsleva consigo uma placa especialmente gravada para esta ocasião.
EXCERTO DE UMA NOTÍCIA DO SEMANÁRIO TRIBUNA DAS ILHAS
do dia 02 de Maio de 2008.
Genuíno Madruga chegou finalmente à ilha de Hiva Oa, no arquipélago das Marquesas
Pouco passava das 18 horas (2 horas da manhã nos Açores) do dia 23 de Abril quando Genuíno Madruga aportou nas ilhas Marquesas após 20 dias de navegação solitária. O navegador açoriano teve de manobrar para abrigar o seu veleiro Hemingway no porto de Hiva Oa repleto de outras embarcações de aventureiros que cruzam o oceano Pacífico em busca destas ilhas paradisíacas da Polinésia Francesa.
É a segunda vez que Genuíno Madruga visita Hiva Oa (também aqui passou na sua primeira volta ao mundo em 2002) . Nesta ilha vai visitar a última morada do pintor Paul Gauguin e do cantor Jacques Brel. O velejador portuguêsleva consigo uma placa especialmente gravada para esta ocasião.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
JEF
Como numa peça de teatro, cujo cenário realista é uma rua sombria, Brel interpreta a figura de um bêbado que anima, ampara e encoraja, um amigo ainda mais bêbado que ele…É uma canção que só Jacques Brel poderia ter escrito e interpretado. A canção chama-se Jef e é de 1964.
Não, Jef, tu não estás só... Mas pára lá de chorar diante de toda a gente, só porque uma badalhoca, uma galdéria oxigenada, te deixou de rastos. Não, Jef, tu não estás só, mas sabes, tu envergonhas-me aqui, a soluçar dessa maneira, estupidamente, à frente de toda a gente, só porque uma rameira te deu com os pés... Não, Jef, tu não estás só... Isto é uma vergonha... As pessoas já nos estão a gozar... Vamo-nos raspar daqui para fora... Vem Jef... Vem!
Vem... Olha, ainda tenho aqui uns trocos... Vamos bebê-los à tasca da velha Françoise... Vem, tenho aqui uns trocos, e se não chegarem, põe-se na conta... Depois vamos comer uns mexilhões com batatas fritas, umas batatas fritas com mexilhões, tudo regado com vinho de Moselle... E se ainda estiveres triste, vamos ver as gajas a casa da Madame André... Parece que há lá caras novas... E voltaremos a cantar como antes... Voltaremos a ficar na maior. Como naquele tempo em que éramos jovens... Naquele tempo em que eu tinha dinheiro...
Não, Jef, tu não estás só... Pára lá de fazer caretas... Levanta-me esses cem quilos, mexe essa carcaça... Eu sei que andas desgostoso, mas tens que reagir... Não, Jef, tu não estás só... Pára com esses soluços, pára lá de dar nas vistas. Pára com essa treta de te ires deitar ao mar, ou de te quereres enforcar... Não, Jef, tu não estás só... Olha, isto aqui já não é mais uma rua…Já parece mais um cinema onde as pessoas vêm para te ver... Vem, Jef... Vem!
Vem... Olha, ainda tenho aqui a minha viola, vou tocá-la para ti... Vamos fazer de conta que somos espanhóis, como quando éramos garotos. Apesar de eu não gostar muito, até podes imitar um rouxinol... Depois, sentamo-nos por aí num banco, e vamos falar da América, que é para onde a gente vai quando tiver bagalhoça... E se mesmo assim ainda estiveres triste, vou explicar-te como te vais transformar em Rockfeller... Ficaremos na maior, cantaremos como antigamente, quando ainda éramos belos... Como naquele tempo em que ainda não éramos bêbados...
Anda, Jef... anda, vem... Sim, sim, Jef... vem daí...
Não, Jef, tu não estás só... Mas pára lá de chorar diante de toda a gente, só porque uma badalhoca, uma galdéria oxigenada, te deixou de rastos. Não, Jef, tu não estás só, mas sabes, tu envergonhas-me aqui, a soluçar dessa maneira, estupidamente, à frente de toda a gente, só porque uma rameira te deu com os pés... Não, Jef, tu não estás só... Isto é uma vergonha... As pessoas já nos estão a gozar... Vamo-nos raspar daqui para fora... Vem Jef... Vem!
Vem... Olha, ainda tenho aqui uns trocos... Vamos bebê-los à tasca da velha Françoise... Vem, tenho aqui uns trocos, e se não chegarem, põe-se na conta... Depois vamos comer uns mexilhões com batatas fritas, umas batatas fritas com mexilhões, tudo regado com vinho de Moselle... E se ainda estiveres triste, vamos ver as gajas a casa da Madame André... Parece que há lá caras novas... E voltaremos a cantar como antes... Voltaremos a ficar na maior. Como naquele tempo em que éramos jovens... Naquele tempo em que eu tinha dinheiro...
Não, Jef, tu não estás só... Pára lá de fazer caretas... Levanta-me esses cem quilos, mexe essa carcaça... Eu sei que andas desgostoso, mas tens que reagir... Não, Jef, tu não estás só... Pára com esses soluços, pára lá de dar nas vistas. Pára com essa treta de te ires deitar ao mar, ou de te quereres enforcar... Não, Jef, tu não estás só... Olha, isto aqui já não é mais uma rua…Já parece mais um cinema onde as pessoas vêm para te ver... Vem, Jef... Vem!
Vem... Olha, ainda tenho aqui a minha viola, vou tocá-la para ti... Vamos fazer de conta que somos espanhóis, como quando éramos garotos. Apesar de eu não gostar muito, até podes imitar um rouxinol... Depois, sentamo-nos por aí num banco, e vamos falar da América, que é para onde a gente vai quando tiver bagalhoça... E se mesmo assim ainda estiveres triste, vou explicar-te como te vais transformar em Rockfeller... Ficaremos na maior, cantaremos como antigamente, quando ainda éramos belos... Como naquele tempo em que ainda não éramos bêbados...
Anda, Jef... anda, vem... Sim, sim, Jef... vem daí...
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009
GENUÍNO MADRUGA EM HIVA OA
Genuíno Madruga esteve em 2008 nas Ilhas Marquesas e visitou o túmulo de Jacques Brel em Hiva Oa. Foi portador de uma placa concebida pelo PETER Café Sport, da Horta, que desta maneira quis homenagear o cantor 30 anos de pois da sua morte, e 34 anos anos depois de ter sido cliente daquele espaço mítico.
E vou dar-vos a conhecer uma mensagem, acompanhada de fotografia, que recebi do famoso velejador solitário faialense após aquela passagem pela Polinésia.
Caro amigo Sérgio Luís
Acabo de chegar a Huahine, quase ilha encantada de boas gentes, no coração da Polinésia.
A placa em cobre, que coloquei, colada com silicone, na campa do nosso inesquecível Brel, lá estará certamente durante muitos anos salvo se algum pirata por lá aparecer! Todavia em Hiva Oa há um hangar construído propositadamente junto ao Espaço Cultural Paul Gauguin que, para além do JOJO esta devidamente decorado com muita informação acerca da vida e obra de J. Brel, compositor, interprete, actor, marinheiro e homem de nobre coração. Quando lá entrei, foi como se de repente tivesse o tempo recuado ate aos anos 60 quando deliciados escutávamos as canções do grande Brel. Ao olhar ao meu redor, escutando dans le port d’Amesterdam....quase que era capaz de afirmar que J.Brel estava mesmo ali! Fiquei extasiado!!!
Como nota final posso dizer-lhe que os poucos habitantes daquela ilha souberam preservar o legado de Jaques Brel e de Gauguin.
Desde Huahine, com um abraço do amigo
Genuino Madruga
E vou dar-vos a conhecer uma mensagem, acompanhada de fotografia, que recebi do famoso velejador solitário faialense após aquela passagem pela Polinésia.
Caro amigo Sérgio Luís
Acabo de chegar a Huahine, quase ilha encantada de boas gentes, no coração da Polinésia.
A placa em cobre, que coloquei, colada com silicone, na campa do nosso inesquecível Brel, lá estará certamente durante muitos anos salvo se algum pirata por lá aparecer! Todavia em Hiva Oa há um hangar construído propositadamente junto ao Espaço Cultural Paul Gauguin que, para além do JOJO esta devidamente decorado com muita informação acerca da vida e obra de J. Brel, compositor, interprete, actor, marinheiro e homem de nobre coração. Quando lá entrei, foi como se de repente tivesse o tempo recuado ate aos anos 60 quando deliciados escutávamos as canções do grande Brel. Ao olhar ao meu redor, escutando dans le port d’Amesterdam....quase que era capaz de afirmar que J.Brel estava mesmo ali! Fiquei extasiado!!!
Como nota final posso dizer-lhe que os poucos habitantes daquela ilha souberam preservar o legado de Jaques Brel e de Gauguin.
Desde Huahine, com um abraço do amigo
Genuino Madruga
domingo, 6 de setembro de 2009
LES TOROS
Os touros chateiam-se ao Domingo, na arena, quando têm de correr para nós... Um pouco de areia, de sol e de barreiras. Um pouco de sangue para fazer uma poça de lama... É a hora em que os merceeiros passam por Don Juan... É a hora em que as inglesas passam por Montherlant...
Ai... Quem me soubesse dizer o que pensa um touro que rodopia e dança, e de repente descobre que está ali todo nu! Ai... Quem me soubesse dizer com que sonha um touro quando levanta os olhos e descobre os cornos dos cornudos...
Os touros ficam chateados ao Domingo, na arena, quando têm de sofrer para nós... Entram os Picadores e a multidão vinga-se... Entram os Toureiros e a multidão ajoelha-se... É a hora em que os merceeiros se tomam por Garcia Lorcas... É a hora em que as inglesas se tomam por Carmencitas...
Os touros chateiam-se ao Domingo, na arena, quando têm que morrer para nós... A espada vai mergulhar e a multidão debruça-se... A espada já mergulhou e a multidão está de pé... É o momento do triunfo, em que os merceeiros se julgam Imperadores... É o momento do triunfo, em que as inglesas se julgam Wellington...
Ah... Será que ao caírem por terra os touros sonham com um inferno onde vão arder homens e toureiros defuntos... Ou será que na hora da morte eles não nos vão perdoar jamais, pensando em Cartago, Waterloo e Verdun !!!
A canção Les toros é de 1963
Ai... Quem me soubesse dizer o que pensa um touro que rodopia e dança, e de repente descobre que está ali todo nu! Ai... Quem me soubesse dizer com que sonha um touro quando levanta os olhos e descobre os cornos dos cornudos...
Os touros ficam chateados ao Domingo, na arena, quando têm de sofrer para nós... Entram os Picadores e a multidão vinga-se... Entram os Toureiros e a multidão ajoelha-se... É a hora em que os merceeiros se tomam por Garcia Lorcas... É a hora em que as inglesas se tomam por Carmencitas...
Os touros chateiam-se ao Domingo, na arena, quando têm que morrer para nós... A espada vai mergulhar e a multidão debruça-se... A espada já mergulhou e a multidão está de pé... É o momento do triunfo, em que os merceeiros se julgam Imperadores... É o momento do triunfo, em que as inglesas se julgam Wellington...
Ah... Será que ao caírem por terra os touros sonham com um inferno onde vão arder homens e toureiros defuntos... Ou será que na hora da morte eles não nos vão perdoar jamais, pensando em Cartago, Waterloo e Verdun !!!
A canção Les toros é de 1963
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sábado, 5 de setembro de 2009
NOTÍCIA " O TELÉGRAFO" 3 de Setembro de 1974
O ASKOY foi o 134º iate a entrar no Porto da Horta em 1974. O Jornal O Telégrafo mantinha uma agenda diária de entrada de iates, mas nem sempre com dados correctos sobre essas entradas.
Nesta pequena notícia do dia 3 de Setebro de 1974, há vários erros: O Iate não se chama ASHOY, mas ASKOY, tinha 42 Toneladas e não 45, não tinha 5 tripulantes mas 3 (Brel, France e Maddly) e não se destinava à Graciosa, mas sim à Madeira.
O nome completo de Brel era JACQUES ROMAIN GEORGE BREL. Portanto, George Brel foi o nome com que se identificou perante as autoridades marítimas do Porto da Horta.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
LES BOURGEOIS
E começo com a canção Les Bourgeois (1962)
OS BURGUESES
Com o coração bem aconchegado e os olhos postos na cerveja da tasca da Adriana Gorda, eu, o meu amigo Jojo e o meu amigo Pierre, bebíamos os nossos vinte anos...
O Jojo fazia de Voltaire, o Pierre de Casanova, e eu, e eu que era senhor do meu nariz... Eu fazia de mim mesmo!
E à meia-noite quando passavam os Notários que saíam lá do Hotel dos Três Faisões, nós, rapazes com boas maneiras, mostrávamos o cu e cantávamos: “Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos mais cretinos... Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos...”
Com o coração bem aconchegado e os olhos postos na cerveja da tasca da Adriana Gorda, eu, o meu amigo Jojo e o meu amigo Pierre, queimávamos os nossos vinte anos!... O Voltaire dançava como um vigário, o Casanova, nem por isso, e eu, eu que continuava senhor do meu nariz, bebia até tocar com o dedo...
E à meia-noite, quando passavam os Notários que saíam lá do Hotel dos Três Faisões, nós, rapazes com boas maneiras, mostrávamos o cu e cantávamos: “Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos mais cretinos... Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos...”
Com o coração sossegado e o olhar tranquilo, no Bar do Hotel dos Três Faisões, eu, o meu amigo Senhor Jojo, e o meu amigo Senhor Pierre, passamos o tempo entre outros Notários. O Senhor Jojo fala de Voltaire, o Senhor Pierre fala de Casanova, e eu, eu sempre senhor do meu nariz... Eu ainda falo de MIM MESMO!
E sempre que saímos do Hotel dos Três Faisões, perto da meia-noite, senhor Comissário, uns jovens grosseirões lá da tasca da Adriana, mostram-nos o traseiro e cantam em coro...“Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos, mais cretinos”... Isto é o que eles cantam, senhor Comissário...”Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos, mais cretinos...
OS BURGUESES
Com o coração bem aconchegado e os olhos postos na cerveja da tasca da Adriana Gorda, eu, o meu amigo Jojo e o meu amigo Pierre, bebíamos os nossos vinte anos...
O Jojo fazia de Voltaire, o Pierre de Casanova, e eu, e eu que era senhor do meu nariz... Eu fazia de mim mesmo!
E à meia-noite quando passavam os Notários que saíam lá do Hotel dos Três Faisões, nós, rapazes com boas maneiras, mostrávamos o cu e cantávamos: “Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos mais cretinos... Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos...”
Com o coração bem aconchegado e os olhos postos na cerveja da tasca da Adriana Gorda, eu, o meu amigo Jojo e o meu amigo Pierre, queimávamos os nossos vinte anos!... O Voltaire dançava como um vigário, o Casanova, nem por isso, e eu, eu que continuava senhor do meu nariz, bebia até tocar com o dedo...
E à meia-noite, quando passavam os Notários que saíam lá do Hotel dos Três Faisões, nós, rapazes com boas maneiras, mostrávamos o cu e cantávamos: “Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos mais cretinos... Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos...”
Com o coração sossegado e o olhar tranquilo, no Bar do Hotel dos Três Faisões, eu, o meu amigo Senhor Jojo, e o meu amigo Senhor Pierre, passamos o tempo entre outros Notários. O Senhor Jojo fala de Voltaire, o Senhor Pierre fala de Casanova, e eu, eu sempre senhor do meu nariz... Eu ainda falo de MIM MESMO!
E sempre que saímos do Hotel dos Três Faisões, perto da meia-noite, senhor Comissário, uns jovens grosseirões lá da tasca da Adriana, mostram-nos o traseiro e cantam em coro...“Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos, mais cretinos”... Isto é o que eles cantam, senhor Comissário...”Os burgueses são como os suínos, quanto mais velhos, mais cretinos...
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TRADUZIR É TRAIR
Mesmo correndo este risco traduzi para português os textos que JACQUES BREL gravou nos anos 50, 60 e 70.
Traduzir um texto em prosa nem sempre é fácil. Traduzir poesia é um trabalho muito delicado. Traduzir Brel é um desafio fascinante e absorvente.
Esta tarefa de traduzir centena e meia de canções levou-me alguns anos porque não me limitei a traduzir por traduzir. Penetrei nos textos investigando o significado de expressões menos comuns, trocadilhos ou até frases feitas. Procurei nomes de pessoas e locais mencionados. Questionei pessoas de origem francesa e belga, que, como eu, gostam de Brel, sobre factos e acontecimentos referidos nas canções.
Depois deste trabalho feito vou por fim dá-lo a conhecer. Espero que gostem.
Acima de tudo espero não ter traído as palavras de JACQUES BREL.
Sérgio Paixão
Traduzir um texto em prosa nem sempre é fácil. Traduzir poesia é um trabalho muito delicado. Traduzir Brel é um desafio fascinante e absorvente.
Esta tarefa de traduzir centena e meia de canções levou-me alguns anos porque não me limitei a traduzir por traduzir. Penetrei nos textos investigando o significado de expressões menos comuns, trocadilhos ou até frases feitas. Procurei nomes de pessoas e locais mencionados. Questionei pessoas de origem francesa e belga, que, como eu, gostam de Brel, sobre factos e acontecimentos referidos nas canções.
Depois deste trabalho feito vou por fim dá-lo a conhecer. Espero que gostem.
Acima de tudo espero não ter traído as palavras de JACQUES BREL.
Sérgio Paixão
JACQUES BREL NA ILHA DO FAIAL
Jacques Brel , o mais francês dos cantores belgas, ou mais belga dos cantores franceses, passou pela Horta em Setembro de 1974.
É sobre essa curta estada que eu vos vou falar.
Brel Esteve nos Açores, não na qualidade de cantor, mas, na de iatista. Em Fevereiro daquele ano, ele tinha comprado um veleiro com a intenção de dar a volta ao mundo em 3 anos. Em 24 de Julho partiu de Anvers, na Bélgica, escalou as ilhas Scily , no sul da Inglaterra, e no primeiro dia do mês de Setembro ancorou o seu barco, de nome Askoy, na baía da Horta.
Acabado de chegar, recebe de Paris a notícia que o seu grande amigo Jacques Pasquier (Jojo) falecera vítima de cancro. Brel segue de imediato no navio Ponta Delgada para a ilha Terceira, e de lá apanha um avião para Paris, para assistir ao funeral do amigo no dia 3 de Setembro.
Entretanto, na Horta, ficam a filha France Brel e a amiga do cantor, Maddly Bammy, a tomar conta do barco.
Brel regressa dias depois aos Açores, no avião particular de um amigo que lhe deu uma boleia até ao Faial. Mas, regressa adoentado, e consegue que o Doutor Luís Decq Mota, médico de ascendência belga, o vá ver a bordo do Askoy. Trata-se de uma gripe.
Porém, estabelece-se uma amizade entre os dois homens, e Jacques Brel acaba por passear pela ilha do Faial na companhia da família Decq Mota.
Visita a oficina do artesão de scrimshaw Oton da Silveira e frequenta o Café Peter.
Deixa o Porto da Horta a 18 de Setembro, rumo à Madeira, e depois atravessa o Atlântico com destino ao Canal do Panamá.
Entretanto, o que se pensava ser uma gripe, piorou, e obrigou o cantor a regressar à Europa. Em Paris foi-lhe detectado um tumor num pulmão.
Brel já não fez a volta ao mundo. Depois de operado, retomou a viagem marítima e levou o Askoy até às Ilhas Marquesas, em pleno Oceano Pacífico. Lá, viveu mais 4 anos, e acabou por falecer em Outubro de 1978. O seu corpo jaz ao lado do de Gauguin, numa das ilhas daquele arquipélago.
Brel, quando deixou os palcos, com 38 anos de idade e no apogeu da fama, fê-lo porque não queria envelhecer à frente do público e porque não se queria tornar no velho cantor cabotino que é aplaudido por deferência. Quando, com 45 anos de idade, se meteu num barco para dar a volta ao mundo, fê-lo para estar muito longe dos oportunistas, dos falsos amigos e dos jornalistas, que não o deixavam em paz. Depois de uma vida de trabalho intenso e esgotante, Brel só buscava o sossego e o isolamento. Como a doença lhe interrompeu o sonho da circum-navegação, optou por ficar a viver numa distante ilha do Oceano Pacífico, onde ninguém o conhecia.
Jacques Brel só não ficou na Horta porque estava demasiado perto da Europa.
No Faial corria o risco de perder a privacidade que ele procurava desesperadamente.
Nota: Fotografia cedida por Filomeno Bicudo
É sobre essa curta estada que eu vos vou falar.
Brel Esteve nos Açores, não na qualidade de cantor, mas, na de iatista. Em Fevereiro daquele ano, ele tinha comprado um veleiro com a intenção de dar a volta ao mundo em 3 anos. Em 24 de Julho partiu de Anvers, na Bélgica, escalou as ilhas Scily , no sul da Inglaterra, e no primeiro dia do mês de Setembro ancorou o seu barco, de nome Askoy, na baía da Horta.
Acabado de chegar, recebe de Paris a notícia que o seu grande amigo Jacques Pasquier (Jojo) falecera vítima de cancro. Brel segue de imediato no navio Ponta Delgada para a ilha Terceira, e de lá apanha um avião para Paris, para assistir ao funeral do amigo no dia 3 de Setembro.
Entretanto, na Horta, ficam a filha France Brel e a amiga do cantor, Maddly Bammy, a tomar conta do barco.
Brel regressa dias depois aos Açores, no avião particular de um amigo que lhe deu uma boleia até ao Faial. Mas, regressa adoentado, e consegue que o Doutor Luís Decq Mota, médico de ascendência belga, o vá ver a bordo do Askoy. Trata-se de uma gripe.
Porém, estabelece-se uma amizade entre os dois homens, e Jacques Brel acaba por passear pela ilha do Faial na companhia da família Decq Mota.
Visita a oficina do artesão de scrimshaw Oton da Silveira e frequenta o Café Peter.
Deixa o Porto da Horta a 18 de Setembro, rumo à Madeira, e depois atravessa o Atlântico com destino ao Canal do Panamá.
Entretanto, o que se pensava ser uma gripe, piorou, e obrigou o cantor a regressar à Europa. Em Paris foi-lhe detectado um tumor num pulmão.
Brel já não fez a volta ao mundo. Depois de operado, retomou a viagem marítima e levou o Askoy até às Ilhas Marquesas, em pleno Oceano Pacífico. Lá, viveu mais 4 anos, e acabou por falecer em Outubro de 1978. O seu corpo jaz ao lado do de Gauguin, numa das ilhas daquele arquipélago.
Brel, quando deixou os palcos, com 38 anos de idade e no apogeu da fama, fê-lo porque não queria envelhecer à frente do público e porque não se queria tornar no velho cantor cabotino que é aplaudido por deferência. Quando, com 45 anos de idade, se meteu num barco para dar a volta ao mundo, fê-lo para estar muito longe dos oportunistas, dos falsos amigos e dos jornalistas, que não o deixavam em paz. Depois de uma vida de trabalho intenso e esgotante, Brel só buscava o sossego e o isolamento. Como a doença lhe interrompeu o sonho da circum-navegação, optou por ficar a viver numa distante ilha do Oceano Pacífico, onde ninguém o conhecia.
Jacques Brel só não ficou na Horta porque estava demasiado perto da Europa.
No Faial corria o risco de perder a privacidade que ele procurava desesperadamente.
Nota: Fotografia cedida por Filomeno Bicudo
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