sábado, 16 de abril de 2011

LES PAVÉS



O Brel tímido dos primeiros anos canta as pedrinhas da sua rua e do que por lá passa. As raparigas que ele namorisca que estendem a roupa na varanda, as freiras da escola que ele tinha frequentado e pela primeira vez fala da sua morte. Muito vagamente, claro. Não como mais tarde fará em La mort, em Le Moribond ou Le Tango Funébre.

A CALÇADA (1953)

Gosto da calçada da minha rua
Ruazinha simpática
Onde vemos as raparigas
Pendurando a roupa branquinha
Nas varandas dos pátios, rindo
Para os rapazes que lhes falam de amor

Gosto da calçada da minha rua
Os meus passinhos de murganho
Levaram-me sorrateiramente
Ao orfanato do Sagrado Coração
Ah, lembro-me da escola
E as irmãs
Toucas em auréola.

E mais tarde, quando íamos dançar
Nos bares do bairro
As calçadas
Com as faces molhadas de orvalho
Sentiam os nossos passos vacilantes
Cantando
As canções que vão montadas
Nos dorsos dos cavalos

Gosto da calçada da minha rua
Ela conheceu a minha amada
A bela Lucie
No dia em que ficámos noivos
Havia apenas sol bastante
Para amar
Que os outros dias sejam semelhantes

Gosto da calçada da minha rua
O seu ventre sujo guardou
As folhas mortas de verão
As minhas belas cartas de amor
Para lá deitadas ao vento
Comoventes
Memórias de uma vida

Gosto da calçada da minha rua
Costumo pedir-lhe muitas vezes
Como uma criança pequena
Par não gritar muito alto
Sob a carroça que levará
O meu corpo
Na sua caixa de madeira

Para não perturbar a minha rua
Ruazinha simpática
Onde vemos as raparigas...



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