sábado, 31 de outubro de 2009
LEILÃO NA SOTHEBY'S (2008)
LEILÃO NA SOTHEBY'S
Faz agora um ano que, em Paris, a famosa Empresa londrina Sotheby's pôs a leilão uma colecção de 95 artigos pessoais de Jacques Brel que renderam um total de 1 026 989 euros, mais do dobro do estimado. A maior parte das licitações foram telefónicas.
Em leilão estavam guitarras, discos, filmes, posters, cartazes, cadernos manuscritos e documentos relacionados com o hobby da aviação: Licenças de voo, brevets e mapas aéreos.
Um dos itens mais esperados era um pequeno bloco com a primeira versão de Amsterdam, escrita com uma BIC, e que foi vendido por 108 750 euros.
Segundo a Sotheby's este foi o maior leilão de sempre que aquela casa fez de um artista francófono só comparável ao leilão de artigos dos Beatles em Londres.
Antes do leilão os objectos a vender estiveram expostos na Bélgica e na Holanda.
Todos estes artigos perteciam a uma das namoradas do cantor e que a Sotheby's não quis identificar.
A família do cantor, que possui os direitos sobre o trabalho do artista, tentou no passado comprar todo o arquivo mas sem resultado. Em 2003 conseguiu mesmo adiar um primeiro leilão, através de uma providência cautelar, mas a família da antiga namorada, que entretanto já morreu, voltou à carga. A viúva de Jacques Brel classificou este leilão de “vergonhoso” por entender que todos aqueles artigos eram património familiar.
O leilão de Sotheby's foi feito exactamente no 30º aniversário da morte do autor de Ne me quitte pas: 9 de Outubro de 2008.
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sexta-feira, 30 de outubro de 2009
JACQUES BREL IS ALIVE AND WELL AND LIVING IN PARIS
JACQUES BREL ESTÁ VIVO E BEM DE SAÚDE E VIVE EM PARIS
Este é o título de um espectáculo musical produzido por ERIC BLAU, estreado a 22 de Janeiro de 1968 no THE VILLAGE GATE THEATER (New York) onde esteve mais de 4 anos em cena. Nele participavam apenas 4 cantores: Shawn Elliot, Alice Whitefield, Elly Stone (mulher do produtor) e um cantor e compositor americano que ficou célebre nos anos 60 por ter composto diversos êxitos para a música pop, e de onde se destaca o famoso LE LAC MAJEUR, interpretado por si mesmo: MORT SHUMAN.
O espectáculo consistia na dramatização de 25 canções de Brel traduzidas para inglês por Blau e Shuman e houve muito americano que pensou tratar-se de um produto cem por cento americano e que Jacques Brel era uma personagem imaginária…
Este Musical dedicado a Brel celebrou o seu 5º aniversário no Carnegie Hall com um espectáculo, agora intitulado “Homenagem a BREL” e onde participavam 22 artistas.
Jacques Brel esteve presente nesta homenagem.
Em 1974 o espectáculo original foi reposto no Astor Place Theater.
Em 1988 voltou à cena para celebrar o 20ºaniversário no Town Hall em Manhattan e no Kennedy Center , Washington, DC, e em 1995 foi feita outra reposição em Londres.
Em 2006 “JACQUES BREL ESTÁ VIVO E BEM DE SAÚDE E VIVE EM PARIS” volta a Nova Iorque onde foi reposto em cena no Zipper Theater .
Fora dos Estados Unidos este musical foi apresentado no Canadá (1968), África do Sul (1970), e posteriormente em Sidney, Paris, Dublin, Amesterdão e Copenhaga.
Entretanto, vários discos e vídeos já foram feitos destas versões do musical.
Let's look at the trailer...
Este é o título de um espectáculo musical produzido por ERIC BLAU, estreado a 22 de Janeiro de 1968 no THE VILLAGE GATE THEATER (New York) onde esteve mais de 4 anos em cena. Nele participavam apenas 4 cantores: Shawn Elliot, Alice Whitefield, Elly Stone (mulher do produtor) e um cantor e compositor americano que ficou célebre nos anos 60 por ter composto diversos êxitos para a música pop, e de onde se destaca o famoso LE LAC MAJEUR, interpretado por si mesmo: MORT SHUMAN.
O espectáculo consistia na dramatização de 25 canções de Brel traduzidas para inglês por Blau e Shuman e houve muito americano que pensou tratar-se de um produto cem por cento americano e que Jacques Brel era uma personagem imaginária…
Este Musical dedicado a Brel celebrou o seu 5º aniversário no Carnegie Hall com um espectáculo, agora intitulado “Homenagem a BREL” e onde participavam 22 artistas.
Jacques Brel esteve presente nesta homenagem.
Em 1974 o espectáculo original foi reposto no Astor Place Theater.
Em 1988 voltou à cena para celebrar o 20ºaniversário no Town Hall em Manhattan e no Kennedy Center , Washington, DC, e em 1995 foi feita outra reposição em Londres.
Em 2006 “JACQUES BREL ESTÁ VIVO E BEM DE SAÚDE E VIVE EM PARIS” volta a Nova Iorque onde foi reposto em cena no Zipper Theater .
Fora dos Estados Unidos este musical foi apresentado no Canadá (1968), África do Sul (1970), e posteriormente em Sidney, Paris, Dublin, Amesterdão e Copenhaga.
Entretanto, vários discos e vídeos já foram feitos destas versões do musical.
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quarta-feira, 28 de outubro de 2009
AMANDA McBROOM
Do meu amigo EDUARDO CARQUEIJEIRO recebi esta informação sobre Brel que passo a publicar.
A cantora AMANDA McBROOM gravou um disco só com canções de Jacques Brel intitulado CHANSON.
Uma notícia sobre este disco e sobre a cantora foi publicada ontem no NEW YORK TIMES sob o título "Canções cuja letra são uma questão de vida ou de morte".
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terça-feira, 27 de outubro de 2009
LE TANGO FUNÈBRE
Além de François Rauber, Jacques Brel teve outro colaborador fundamental para a sua carreira. Foi o pianista Gérard Jouannest. Com Brel compôs umas quarenta canções. Jouannest soube sempre agarrar o texto que Brel escrevia e dar-lhe a melodia certa. O texto publicado hoje, Le tango Funèbre, tem música de Gérard Jouannest, um pianista de formação clássica, que abandonou os concertos onde tocava Beethoven, Liszt e Ravel, para se dedicar inteiramente à canção ligeira de um só cantor: Jacques Brel.
O TANGO FÚNEBRE (1964)
Ahh... Já estou a vê-los a cobrirem-me de beijos e a disputarem as minhas mãos, e a perguntarem muito baixinho “Será que já morreu?”...”Será que já não morre?... “Será que ainda está quente? “... “Será que já está frio ?”. E depois abrem-me os armários e acariciam as faianças. Revistam as gavetas, e ávidos, procuram as minhas cartas de amor, atadinhas aos pares, que irão depois ler à lareira, rindo às gargalhadas...
Ahh... Já estou a vê-los, formais e friorentos, armados em artistas seguindo o meu sobretudo de madeira... Eles espevitam o coração para serem os mais tristes... Eles espetam os cotovelos para serem os primeiros... Trouxeram umas velhotas que não me conheciam, trouxeram uns garotos que nunca me conheceram... Eles pensam no preço das flores e acham indecente não se morrer só na Primavera, quando toda a gente gosta de lilases*...
Ahh... Já estou a vê-los, os meus queridos falsos amigos, sorridentes sob o peso do dever cumprido... Ah, já estou a ver-te, tão triste e tão aliviada, escondendo debaixo dum véu essas lágrimas de crocodilo... Tu nem sequer percebeste que ao sair do meu cemitério, vais entrar no teu inferno, quando já levas pelo braço, o braço do teu novo amparo, do teu novo aconchego, que te fará chorar muito mais do que eu...
Ahh... Já me estou ver, arrumado para sempre, muito triste, muito frio, no meu jardim das tabuletas... Ah, já me estou a ver a chegar ao fim da tal viagem que não tem regresso... Estou a ver tudo isto, e ainda há quem tenha a lata de me mandar beber só água, de não me atirar às raparigas, de fazer o meu pé-de-meia, de comer só filetes de cavala e de gritar viva o rei !!!**
(*Na Primavera os lilases são mais baratos; **A Bélgica é uma monarquia)
O TANGO FÚNEBRE (1964)
Ahh... Já estou a vê-los a cobrirem-me de beijos e a disputarem as minhas mãos, e a perguntarem muito baixinho “Será que já morreu?”...”Será que já não morre?... “Será que ainda está quente? “... “Será que já está frio ?”. E depois abrem-me os armários e acariciam as faianças. Revistam as gavetas, e ávidos, procuram as minhas cartas de amor, atadinhas aos pares, que irão depois ler à lareira, rindo às gargalhadas...
Ahh... Já estou a vê-los, formais e friorentos, armados em artistas seguindo o meu sobretudo de madeira... Eles espevitam o coração para serem os mais tristes... Eles espetam os cotovelos para serem os primeiros... Trouxeram umas velhotas que não me conheciam, trouxeram uns garotos que nunca me conheceram... Eles pensam no preço das flores e acham indecente não se morrer só na Primavera, quando toda a gente gosta de lilases*...
Ahh... Já estou a vê-los, os meus queridos falsos amigos, sorridentes sob o peso do dever cumprido... Ah, já estou a ver-te, tão triste e tão aliviada, escondendo debaixo dum véu essas lágrimas de crocodilo... Tu nem sequer percebeste que ao sair do meu cemitério, vais entrar no teu inferno, quando já levas pelo braço, o braço do teu novo amparo, do teu novo aconchego, que te fará chorar muito mais do que eu...
Ahh... Já me estou ver, arrumado para sempre, muito triste, muito frio, no meu jardim das tabuletas... Ah, já me estou a ver a chegar ao fim da tal viagem que não tem regresso... Estou a ver tudo isto, e ainda há quem tenha a lata de me mandar beber só água, de não me atirar às raparigas, de fazer o meu pé-de-meia, de comer só filetes de cavala e de gritar viva o rei !!!**
(*Na Primavera os lilases são mais baratos; **A Bélgica é uma monarquia)
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009
L'ÉCLUSIER
O tédio, o aborrecimento, o fastio, são temas de algumas canções brelianas. O suicídio aparece então como o remédio possível para o tédio, já que à volta nada muda. A rotina não traz surpresas, não espanta. O hábito não faz esquecer a miséria dos dias sempre iguais. Nesta canção, L’éclusier, Brel retrata a vida do guarda da comporta que vê passar todos os dias, ao longo do ano, os mesmos barqueiros nos mesmos barcos, com as mesmas piadas, com os mesmos gestos…
O GUARDA DA COMPORTA (1968)
Os barqueiros vêem-me envelhecer e eu vejo envelhecer os barqueiros. Brincamos ao jogo dos tolos, onde o mais parado é o mais velho... Na minha profissão, mesmo no Verão, só de olhos fechados podemos viajar... Não custa nada ser guarda de comporta...
Os barqueiros conhecem bem a minha carantonha... Eles gozam-me mas sem razão. Meio bruxo, meio bêbado, lanço uma praga a todos os que cantam... Na minha profissão é no Outono que se colhem as maçãs e os afogados. Não custa nada ser guarda de comporta...
Com o seu cabaz, chega um miúdo vesgo por olhar para a mosca que tem poisada no nariz... A mãe ronrona, o tempo suspira, a couve transpira e o fogo crepita... Na minha profissão é no Inverno que se pensa no pai que morreu afogado... Não custa nada ser guarda de comporta...
E na Primavera os barqueiros fazem-me macaquices das suas lanchas... Talvez entrasse nestas brincadeiras, mas, sem as ofensas que me deixam desgostoso... Na minha profissão é na Primavera que a gente tem tempo para se afogar...
Neste vídeo Jacques Brel canta em casa de um amigo, o pintor Paul George Klein, acompanhado unicamente por um acordeão.
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O GUARDA DA COMPORTA (1968)
Os barqueiros vêem-me envelhecer e eu vejo envelhecer os barqueiros. Brincamos ao jogo dos tolos, onde o mais parado é o mais velho... Na minha profissão, mesmo no Verão, só de olhos fechados podemos viajar... Não custa nada ser guarda de comporta...
Os barqueiros conhecem bem a minha carantonha... Eles gozam-me mas sem razão. Meio bruxo, meio bêbado, lanço uma praga a todos os que cantam... Na minha profissão é no Outono que se colhem as maçãs e os afogados. Não custa nada ser guarda de comporta...
Com o seu cabaz, chega um miúdo vesgo por olhar para a mosca que tem poisada no nariz... A mãe ronrona, o tempo suspira, a couve transpira e o fogo crepita... Na minha profissão é no Inverno que se pensa no pai que morreu afogado... Não custa nada ser guarda de comporta...
E na Primavera os barqueiros fazem-me macaquices das suas lanchas... Talvez entrasse nestas brincadeiras, mas, sem as ofensas que me deixam desgostoso... Na minha profissão é na Primavera que a gente tem tempo para se afogar...
Neste vídeo Jacques Brel canta em casa de um amigo, o pintor Paul George Klein, acompanhado unicamente por um acordeão.
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domingo, 25 de outubro de 2009
MON PÈRE DISAIT
Os espectáculos de Jacques Brel tinham a duração de aproximadamente uma hora. Entre as canções Brel interrompia os aplausos do público para iniciar a canção seguinte. Não havia explicações, conversas, anedotas, comentários para entreter, falsas intimidades com o público – fraquinho tão comum de muitas estrelas da cena internacional. Quando Brel apresentava os músicos, o público já sabia que a próxima canção seria a última canção do espectáculo. Depois, não havia falsas saídas, não havia “encores”… Para justificar esta atitude, Brel dizia “ já alguma vez viram um actor de teatro regressar ao palco para repetir uma cena ou um acto da peça que esteve a representar?”
O MEU PAI DIZIA (1967)
O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz rachar os diques em Scheveningen, em Scheveningen, rapaz... É tão forte que já ninguém sabe quem navega, se o mar do Norte, se os diques... É o vento do Norte que trespassa os olhos dos homens do norte, velhos ou novos, para fazer cantar as catadupas de azul vindas do norte para o fundo dos seus olhos...”
O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz girar a Terra à volta de Bruges, à volta de Bruges, rapaz... É o vento do Norte que tem torneado a Terra em torno das torres de Bruges e que faz com que as nossas raparigas tenham esse olhar tranquilo de velhas cidades... Que faz com que as nossas beldades tenham o cabelo tão frágil como as nossas rendas... Como as nossas rendas”…
O meu dizia “ É o vento do Norte que faz estalar a Terra entre a Bélgica, rapaz, entre a Bélgica e a Inglaterra... E Londres já não é como antes do dilúvio, o lugar de Bruges... Tirando o mar, Londres não é mais que os arredores de Bruges perdidos no mar... Perdidos no mar”…
O meu pai dizia “ É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma e sem raiva... É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma em frente ao mar... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-mar ou de uma baleia... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-lágrimas, para aqueles que eu amo...”
O MEU PAI DIZIA (1967)
O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz rachar os diques em Scheveningen, em Scheveningen, rapaz... É tão forte que já ninguém sabe quem navega, se o mar do Norte, se os diques... É o vento do Norte que trespassa os olhos dos homens do norte, velhos ou novos, para fazer cantar as catadupas de azul vindas do norte para o fundo dos seus olhos...”
O meu pai dizia “É o vento do Norte que faz girar a Terra à volta de Bruges, à volta de Bruges, rapaz... É o vento do Norte que tem torneado a Terra em torno das torres de Bruges e que faz com que as nossas raparigas tenham esse olhar tranquilo de velhas cidades... Que faz com que as nossas beldades tenham o cabelo tão frágil como as nossas rendas... Como as nossas rendas”…
O meu dizia “ É o vento do Norte que faz estalar a Terra entre a Bélgica, rapaz, entre a Bélgica e a Inglaterra... E Londres já não é como antes do dilúvio, o lugar de Bruges... Tirando o mar, Londres não é mais que os arredores de Bruges perdidos no mar... Perdidos no mar”…
O meu pai dizia “ É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma e sem raiva... É o vento do Norte que levará para a terra o meu corpo sem alma em frente ao mar... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-mar ou de uma baleia... É o vento do Norte que me fará Capitão de um quebra-lágrimas, para aqueles que eu amo...”
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sábado, 24 de outubro de 2009
BARBICAN FILM
Das Edições Jacques Brel recebi a informação que consta no cartaz em baixo.
Trata-se de um espectáculo a exibir no WILTON'S Music Hall, Londres, no dia 29 de Outubro pelas 19H30. Do espectáculo, que é baseado na obra de Brel e dedicado ao cantor, consta cabaret, música e cinema. A organização pertence ao BARBICAN FILM.
Trata-se de um espectáculo a exibir no WILTON'S Music Hall, Londres, no dia 29 de Outubro pelas 19H30. Do espectáculo, que é baseado na obra de Brel e dedicado ao cantor, consta cabaret, música e cinema. A organização pertence ao BARBICAN FILM.
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
CARTA A JACQUES BREL (4)
Carta a Jacques Brel (conclusão)
Aqui a cidade da Horta também já não é o que era. Três décadas depois, temos mais automóveis e menos gente. Mais funcionários públicos e menos povo. Mais bancos e menos casas de espectáculo. Mais crédito e menos dinheiro... Só o Pico à nossa frente é que continua a ser infinitamente belo!
E temos agora uma Marina onde cabem todos os iates do mundo. O nosso porto continua abrigado e nós continuamos a ser hospitaleiros e cosmopolitas. Só que, “hélas”, a nossa hospitalidadezinha é uma forma de escondermos o nosso provincianismo paroquial... E o nosso cosmopolitismo rima com o nosso ruralismo pequeno-burguês. À bon entendeur...
E no entanto, existimos e resistimos nestas ilhas que te encantaram. Dos amigos que por cá fizeste, só o Othon Silveira e o José Azevedo (o “Peter”) é que infelizmente já não pertencem ao mundo dos vivos. Os restantes estão bem, na graça do “Bon Dieu”. O dr. Decq Mota, se bem que recolhido, é o mesmo “gentil homme” que tão bem conheceste. O filho do “Peter” (que era um fedelho quando cá estiveste) é hoje um homem de barba rija e está a imprimir uma nova dinâmica empresarial ao bom nome deste Café. O João Carlos Fraga continua a ser aquela paz de alma que conhece todos os barcos e todos os portos do mundo.
Tenho tido boas notícias da tua filha France, que, há 35 anos impressionou de tal forma o nosso amigo Jorge Dinis, que ele ainda hoje se lembra de como ela andava vestida, imagina... Nós, ilhéus, somos assim. O que de bom vem de fora não nos escapa.
Para sempre guardarei o teu retrato no fundo do meu espelho.
Adeus, meu doce, meu terno, meu maravilhoso amigo!
Toma juízo, não fumes tanto e volta depressa! Um grande abraço de mar!
Victor Rui Dores
Horta (anos 60)
Aqui a cidade da Horta também já não é o que era. Três décadas depois, temos mais automóveis e menos gente. Mais funcionários públicos e menos povo. Mais bancos e menos casas de espectáculo. Mais crédito e menos dinheiro... Só o Pico à nossa frente é que continua a ser infinitamente belo!
E temos agora uma Marina onde cabem todos os iates do mundo. O nosso porto continua abrigado e nós continuamos a ser hospitaleiros e cosmopolitas. Só que, “hélas”, a nossa hospitalidadezinha é uma forma de escondermos o nosso provincianismo paroquial... E o nosso cosmopolitismo rima com o nosso ruralismo pequeno-burguês. À bon entendeur...
E no entanto, existimos e resistimos nestas ilhas que te encantaram. Dos amigos que por cá fizeste, só o Othon Silveira e o José Azevedo (o “Peter”) é que infelizmente já não pertencem ao mundo dos vivos. Os restantes estão bem, na graça do “Bon Dieu”. O dr. Decq Mota, se bem que recolhido, é o mesmo “gentil homme” que tão bem conheceste. O filho do “Peter” (que era um fedelho quando cá estiveste) é hoje um homem de barba rija e está a imprimir uma nova dinâmica empresarial ao bom nome deste Café. O João Carlos Fraga continua a ser aquela paz de alma que conhece todos os barcos e todos os portos do mundo.
Tenho tido boas notícias da tua filha France, que, há 35 anos impressionou de tal forma o nosso amigo Jorge Dinis, que ele ainda hoje se lembra de como ela andava vestida, imagina... Nós, ilhéus, somos assim. O que de bom vem de fora não nos escapa.
Para sempre guardarei o teu retrato no fundo do meu espelho.
Adeus, meu doce, meu terno, meu maravilhoso amigo!
Toma juízo, não fumes tanto e volta depressa! Um grande abraço de mar!
Victor Rui Dores
Horta (anos 60)
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
CARTA A JACQUES BREL (3)
Carta a Jacques Brel (continuação)
Fazes-nos falta, Jacques Brel. Por isso queremos manter-te vivo a cantar as tuas canções. Tu próprio o disseste: “A canção é um acto de amor, um acto de ternura”.
Fazes-nos falta, porque andamos carenciados de sonho, de amor e de ternura.
Em vez disso, andamos para aqui, em banho-maria, a viver a vida pardacenta, entre o silêncio e a solidão. À espera de alguma coisa que nunca acontece. À espera de um aumento de ordenado e à espera de D. Sebastião no dorso de uma baleia. À espera de ver Deus na televisão e à espera das bem-aventuranças da União Europeia... Ou “aguardando um raiozinho de socialismo”, como escreveu, aqui há uns anos, o poeta Marcolino Candeias.
Ah, e se tu soubesses o que, musicalmente, por cá se passa... Se eu te falasse no “marketing” discográfico, no individualismo desenfreado, na ganância do lucro, tu não acreditarias. Se eu te dissesse que a música agora também serve para encher chouriços, ou que a qualidade deixou de interessar, ou que a maior parte dos cantores de hoje canta fora de tom, tu certamente mandavas-me passear. Se eu te referisse que a cultura deixou de ser um acto de espírito e de imaginação humana. Se eu te falasse da música “light” que por aí anda à solta... Ah, como ficarias desgostoso se soubesses que hoje, a nível planetário, andamos culturalmente colonizados pelos americanos e por outros imbecis contentinhos...
Quando cá estiveste, há 35 anos, a revolução de Abril ainda estava na rua. Chegámos a acreditar em manhãs radiosas, porque “foi bonita a festa, pá”, como cantou, do outro lado do mar, o nosso amigo Chico. Mas hoje, meu caro, vivemos de resignações televisivas e de outros futebóis e só queremos que “não nos falte o dinheiro para o bife”... (Lembras-te do Zeca Afonso?).
“Em Portugal o mal é ancestral”, escreveu um poeta português que muito te admirou e até copiou alguns dos teus versos: José Carlos Ary dos Santos. E houve até um cantor que, durante algum tempo, pretendeu ser o Brel português: Fernando Tordo… Mas a tua voz sempre foi única, exclusiva, inimitável. (continua)
Horta (anos 60)
Fazes-nos falta, Jacques Brel. Por isso queremos manter-te vivo a cantar as tuas canções. Tu próprio o disseste: “A canção é um acto de amor, um acto de ternura”.
Fazes-nos falta, porque andamos carenciados de sonho, de amor e de ternura.
Em vez disso, andamos para aqui, em banho-maria, a viver a vida pardacenta, entre o silêncio e a solidão. À espera de alguma coisa que nunca acontece. À espera de um aumento de ordenado e à espera de D. Sebastião no dorso de uma baleia. À espera de ver Deus na televisão e à espera das bem-aventuranças da União Europeia... Ou “aguardando um raiozinho de socialismo”, como escreveu, aqui há uns anos, o poeta Marcolino Candeias.
Ah, e se tu soubesses o que, musicalmente, por cá se passa... Se eu te falasse no “marketing” discográfico, no individualismo desenfreado, na ganância do lucro, tu não acreditarias. Se eu te dissesse que a música agora também serve para encher chouriços, ou que a qualidade deixou de interessar, ou que a maior parte dos cantores de hoje canta fora de tom, tu certamente mandavas-me passear. Se eu te referisse que a cultura deixou de ser um acto de espírito e de imaginação humana. Se eu te falasse da música “light” que por aí anda à solta... Ah, como ficarias desgostoso se soubesses que hoje, a nível planetário, andamos culturalmente colonizados pelos americanos e por outros imbecis contentinhos...
Quando cá estiveste, há 35 anos, a revolução de Abril ainda estava na rua. Chegámos a acreditar em manhãs radiosas, porque “foi bonita a festa, pá”, como cantou, do outro lado do mar, o nosso amigo Chico. Mas hoje, meu caro, vivemos de resignações televisivas e de outros futebóis e só queremos que “não nos falte o dinheiro para o bife”... (Lembras-te do Zeca Afonso?).
“Em Portugal o mal é ancestral”, escreveu um poeta português que muito te admirou e até copiou alguns dos teus versos: José Carlos Ary dos Santos. E houve até um cantor que, durante algum tempo, pretendeu ser o Brel português: Fernando Tordo… Mas a tua voz sempre foi única, exclusiva, inimitável. (continua)
Horta (anos 60)
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009
CARTA A JACQUES BREL (2)
Carta a Jacques Brel (continuação)
A verdade é que sempre te admirei e não tenho problema nenhum em te considerar um génio! Porque foste um criador, não um imitador; um poeta, não um versejador. Fizeste da palavra uma arma de arremesso e da música um hino ao amor. Não cedeste, nem te vergaste a coisa nenhuma. Não transigiste com o que era fácil. Desafiaste os poderes. Minaste os políticos. Derrubaste muros de silêncio. Andaste, meu sacana, a brincar com a tropa e com a Igreja e com outras coisas sérias... Zombaste dos burgueses, irritaste os conservadores, gozaste “les flamandes”, inquietaste as senhoras de bem e deste porrada nos cretinos, nos imbecis e nos idiotas... E denunciaste a guerra, a intolerância e a hipocrisia dos homens. E lutaste sempre pela paz, pela liberdade e pela justiça.
Agora sei que o teu coração sangrou pelos infortúnios do mundo. Tu, o controverso, o arrebatado e, por vezes, o violento, fizeste da amizade um padrão de vida. A tua bondade, o teu altruísmo e a tua generosidade não tinham tamanho. Por isso cantaste a dor e a mágoa de todos nós. Cantaste o teu triste e pluvioso Pays bas, revisitaste a tua infância, rasgaste o peito com o Ne me quitte pas, dançaste o Tango fúnebre da tua morte anunciada e a Valse à mille temps da tua bulimia de viver.
Cá por mim não me importava nada de ter sido teu amigo. Para contigo acender cigarros na noite e ser, como tu, um “voyageur perdu”. Sim, daria tudo para viajar contigo para os portos de Amsterdam e do mundo inteiro. Festejar a vida e o amor! Conhecer uma ou outra mulher “belle et cruelle”. Ter-te a meu lado a beber quantidades industriais de cerveja e dedilhar na tua guitarra canções dos nossos 20 anos... Aprender contigo a rimar “tendresse” com “tristesse”, “putain” com “chagrin”, “nuage” com “voyage”, “frontiére” com “misére”...
Acima de tudo, gostaria de envelhecer contigo, meu bom Jacques, e, tal como tu, gritar aos quatro ventos: “Quand je serai vieux je serai insuportable”...
Ainda hoje, Brel, sinto uma grande emoção quando oiço a tua voz, tão viva como dantes. Ainda hoje te vejo como um trovador, um Quixote, um sonhador, um poeta! Um poeta com um coração imenso. Um poeta que interpretava a palavra certeira e o silêncio magoado, com gestos cénicos e dançados... E as tuas mãos, Brel, as tuas mãos enormes afagavam os versos e eram a raiva, a ironia, o sarcasmo, a ternura...
(continua)
Horta, Anos 60
A verdade é que sempre te admirei e não tenho problema nenhum em te considerar um génio! Porque foste um criador, não um imitador; um poeta, não um versejador. Fizeste da palavra uma arma de arremesso e da música um hino ao amor. Não cedeste, nem te vergaste a coisa nenhuma. Não transigiste com o que era fácil. Desafiaste os poderes. Minaste os políticos. Derrubaste muros de silêncio. Andaste, meu sacana, a brincar com a tropa e com a Igreja e com outras coisas sérias... Zombaste dos burgueses, irritaste os conservadores, gozaste “les flamandes”, inquietaste as senhoras de bem e deste porrada nos cretinos, nos imbecis e nos idiotas... E denunciaste a guerra, a intolerância e a hipocrisia dos homens. E lutaste sempre pela paz, pela liberdade e pela justiça.
Agora sei que o teu coração sangrou pelos infortúnios do mundo. Tu, o controverso, o arrebatado e, por vezes, o violento, fizeste da amizade um padrão de vida. A tua bondade, o teu altruísmo e a tua generosidade não tinham tamanho. Por isso cantaste a dor e a mágoa de todos nós. Cantaste o teu triste e pluvioso Pays bas, revisitaste a tua infância, rasgaste o peito com o Ne me quitte pas, dançaste o Tango fúnebre da tua morte anunciada e a Valse à mille temps da tua bulimia de viver.
Cá por mim não me importava nada de ter sido teu amigo. Para contigo acender cigarros na noite e ser, como tu, um “voyageur perdu”. Sim, daria tudo para viajar contigo para os portos de Amsterdam e do mundo inteiro. Festejar a vida e o amor! Conhecer uma ou outra mulher “belle et cruelle”. Ter-te a meu lado a beber quantidades industriais de cerveja e dedilhar na tua guitarra canções dos nossos 20 anos... Aprender contigo a rimar “tendresse” com “tristesse”, “putain” com “chagrin”, “nuage” com “voyage”, “frontiére” com “misére”...
Acima de tudo, gostaria de envelhecer contigo, meu bom Jacques, e, tal como tu, gritar aos quatro ventos: “Quand je serai vieux je serai insuportable”...
Ainda hoje, Brel, sinto uma grande emoção quando oiço a tua voz, tão viva como dantes. Ainda hoje te vejo como um trovador, um Quixote, um sonhador, um poeta! Um poeta com um coração imenso. Um poeta que interpretava a palavra certeira e o silêncio magoado, com gestos cénicos e dançados... E as tuas mãos, Brel, as tuas mãos enormes afagavam os versos e eram a raiva, a ironia, o sarcasmo, a ternura...
(continua)
Horta, Anos 60
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terça-feira, 20 de outubro de 2009
CARTA A JACQUES BREL (1)
Do meu amigo Victor Rui Dores vou publicar uma carta, endereçada a Brel, nos 35 anos da passagem do cantor pela Horta. Dada a extensão da mesma vou reparti-la por 4 publicações.
Peter Café Sport, 5 de Outubro de 2009
Meu caro Jacques Brel
Neste espaço de todos os reencontros, sentado à mesa onde tu um dia cantaste, escrevo-te esta carta, com os olhos postos no “gin”, a sede na cerveja e a memória em ti. E isto porque fez este ano 35 anos que, a bordo do teu “Askoy”, aportaste à Horta acompanhado da tua filha France e da tua companheira Maddly.
Nessa altura, eu ainda não tinha fixado residência nesta cidade, senão, garanto-te, ter-te-ia aberto a porta da minha casa e o meu melhor whisky.
Acontece que tenho um amigo chamado Sérgio Luís, engenheiro, artista e teu admirador profundo, que de há muito buscava um pretexto para te homenagear. Que é como quem diz: reunir os amigos, beber uns copos e falarmos de ti, da tua vida, da coragem dos teus versos e da força da tua música.
A ideia concretizou-se. Após contactos estabelecidos com aqueles que, por estas paragens, te viram e te conheceram, indagámos lembranças, memórias e arquivos, reconstituímos os teus passos por esta ilha e, numa realização da RTP/AÇORES, levámos a cabo um trabalho intitulado Brel no porto da Horta.
Deixa-me que te diga que foi a partir dos versos das tuas canções que me iniciei na aprendizagem da língua francesa
Sabes, às vezes, tenho saudades tuas – eu que nunca te conheci. Mas porque tenho todos os teus discos, e porque vi todos os teus filmes, e porque colecciono todas as tuas fotos, e porque li todas as tuas entrevistas, tenho a impressão, meu caro Brel, que somos velhos amigos, se não mesmo “compagnons de route”...
(Continua)
Horta, anos 60
Peter Café Sport, 5 de Outubro de 2009
Meu caro Jacques Brel
Neste espaço de todos os reencontros, sentado à mesa onde tu um dia cantaste, escrevo-te esta carta, com os olhos postos no “gin”, a sede na cerveja e a memória em ti. E isto porque fez este ano 35 anos que, a bordo do teu “Askoy”, aportaste à Horta acompanhado da tua filha France e da tua companheira Maddly.
Nessa altura, eu ainda não tinha fixado residência nesta cidade, senão, garanto-te, ter-te-ia aberto a porta da minha casa e o meu melhor whisky.
Acontece que tenho um amigo chamado Sérgio Luís, engenheiro, artista e teu admirador profundo, que de há muito buscava um pretexto para te homenagear. Que é como quem diz: reunir os amigos, beber uns copos e falarmos de ti, da tua vida, da coragem dos teus versos e da força da tua música.
A ideia concretizou-se. Após contactos estabelecidos com aqueles que, por estas paragens, te viram e te conheceram, indagámos lembranças, memórias e arquivos, reconstituímos os teus passos por esta ilha e, numa realização da RTP/AÇORES, levámos a cabo um trabalho intitulado Brel no porto da Horta.
Deixa-me que te diga que foi a partir dos versos das tuas canções que me iniciei na aprendizagem da língua francesa
Sabes, às vezes, tenho saudades tuas – eu que nunca te conheci. Mas porque tenho todos os teus discos, e porque vi todos os teus filmes, e porque colecciono todas as tuas fotos, e porque li todas as tuas entrevistas, tenho a impressão, meu caro Brel, que somos velhos amigos, se não mesmo “compagnons de route”...
(Continua)
Horta, anos 60
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domingo, 18 de outubro de 2009
LE CAPORAL CASSE-POMPON
Brel viveu as consequências da segunda guerra mundial. Tinha ele 11 anos quando a Alemanha invadiu a Bélgica, em 10 de Maio de 1940. Até aos 16 anos conheceu a tragédia da ocupação. Nesta canção - Caporal casse-pompon - Brel faz a caricatura do velho militarão nazi reformado, que sonha regressar a Paris, não para chorar ou lamentar os tempos da ocupação, mas para voltar a desfilar à frente do seu pelotão. Brel, não suportava os alemães, para ele, os invasores bárbaros…
N. T.: A piada do segundo verso tem a ver com a invasão-relâmpago inventada pelos franceses mas usada pelos alemães para invadirem a França (a famosa blitzkrieg).
O CABO CACETEIRO(1962)
O meu amigo é um tipo enorme... Ama o trompete e o clarim, preferindo, ainda assim, o clarim, que afinal é um trompete fardado... O meu amigo é uma autoridade, e diz muitas vezes sem vaidade, que “é na espessura das cascas de batata que se vê a grandeza de uma nação...”
Portanto... Portanto, eu não percebo porque é que os seus camaradas lhe chamam o Cabo Caceteiro.
O meu amigo é um doce poeta. No seu jardim, quando chega o Verão, vemo-lo plantar metralhadorazinhas, ou cavar pequenas trincheiras... O meu amigo é um homem bem-humorado... Foi ele que encontrou esta piada que eu vos vou contar agora: “Dormimos na vossa casa, e apanhámo-vos bem!“
Portanto... Portanto, eu não percebo porque é que os seus camaradas lhe chamam o Cabo Caceteiro.
O meu amigo é um doce sonhador... Para ele, Paris é uma caserna, e Berlim um pequeno campo florido que vai de Moscovo à Província de Auvergne... O seu sonho é voltar a Paris na Primavera... Voltar a desfilar à frente do seu pelotão, cantando: “Baixa a bainha, Guidinha, senão beijo-te a bundinha!!! Ein !!! Zwei !!!”
Portanto... Portanto, nós não compreendemos porque é que os nossos amigos... Os FRRRANSÔZEN... Eles OUSAM... Eles OUSAM chamar-lhe Cabo Caceteiro... EIN!!! ZWEI!!!
N. T.: A piada do segundo verso tem a ver com a invasão-relâmpago inventada pelos franceses mas usada pelos alemães para invadirem a França (a famosa blitzkrieg).
O CABO CACETEIRO(1962)
O meu amigo é um tipo enorme... Ama o trompete e o clarim, preferindo, ainda assim, o clarim, que afinal é um trompete fardado... O meu amigo é uma autoridade, e diz muitas vezes sem vaidade, que “é na espessura das cascas de batata que se vê a grandeza de uma nação...”
Portanto... Portanto, eu não percebo porque é que os seus camaradas lhe chamam o Cabo Caceteiro.
O meu amigo é um doce poeta. No seu jardim, quando chega o Verão, vemo-lo plantar metralhadorazinhas, ou cavar pequenas trincheiras... O meu amigo é um homem bem-humorado... Foi ele que encontrou esta piada que eu vos vou contar agora: “Dormimos na vossa casa, e apanhámo-vos bem!“
Portanto... Portanto, eu não percebo porque é que os seus camaradas lhe chamam o Cabo Caceteiro.
O meu amigo é um doce sonhador... Para ele, Paris é uma caserna, e Berlim um pequeno campo florido que vai de Moscovo à Província de Auvergne... O seu sonho é voltar a Paris na Primavera... Voltar a desfilar à frente do seu pelotão, cantando: “Baixa a bainha, Guidinha, senão beijo-te a bundinha!!! Ein !!! Zwei !!!”
Portanto... Portanto, nós não compreendemos porque é que os nossos amigos... Os FRRRANSÔZEN... Eles OUSAM... Eles OUSAM chamar-lhe Cabo Caceteiro... EIN!!! ZWEI!!!
sábado, 17 de outubro de 2009
JEAN-LUC TASSEL
Das Edições Jacques Brel recebi uma informação sobre mais um espectáculo dedicado a Brel. É impressionante como 30 anos após a sua morte os espectáculos e outros eventos de homenagem ao cantor se sucedam quase diariamente. Só prova que Brel continua vivo e a sua música continua actual.
Assim, em Outubro e Novembro, Jean-Luc Tassel apresentará o espectáculo "L'homme dans la cité" no Teatro Darius MILHAUD.
Assim, em Outubro e Novembro, Jean-Luc Tassel apresentará o espectáculo "L'homme dans la cité" no Teatro Darius MILHAUD.
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009
La...La...La
“A morte é a justiça, a verdadeira justiça. Se a uso nas minhas canções é exactamente por que sendo a ideia mais absurda que conheço é a mais acessível a toda a gente…” disse Brel, um dia.
Brel, nos seus textos, recorre muitas vezes a trocadilhos e neologismos. No texto que publico hoje Brel inventa a palavra MORRIREI para dizer que irá morrer a rir...
La,la,la (1967)
Quando eu for velho serei insuportável. Excepto para a minha cama e para o meu pobre passado...
O meu cão estará morto e a minha barba será uma lástima... Todas as minhas galdérias me terão deixado e habitarei numa qualquer Bélgica que me vai insultar tanto, ou mais que agora, quando eu lhe cantar “Viva a república! Vivam os belgas... Merda para os flamenguentos...la... la...la...”
Serei abandonado, como um velho hospital, por todos os barrigudos da alta sociedade, e portanto, beberei sozinho, a minha pensão de cigarra... É preciso estar-se bem, logo que haja Verão. Apenas serei recebido pelos gatos do meu bairro, para o seu festim, para que não estejam treze à mesa... E aí, depois de um rato morto, subirei a uma cadeira para cantar “meus senhores no leito da marquesa eu é que era os oitenta caçadores...la...la...la...”
E quando chegar a hora, imbecil e fatal, onde parece que alguém nos vem chamar, insultarei o bófia clerical, inclinado sobre o meu corpo, como um lacaio do céu... E morrirei cercado de pândegos, dizendo-me que o Voltaire era giro, e que se há tipos que têm uma pena no chapéu há outros que usam a pena no traseiro... la...la...la...
(Os oitenta caçadores mencionados no texto referem-se a uma canção tradicional francesa que contava a história de uma marquesa que convidou oitenta caçadores para uma caçada, e no fim do dia foi para a cama com todos eles. Ao cabo de nove meses ela teve um filho que ela dizia ser filho de 80 caçadores).
Brel, nos seus textos, recorre muitas vezes a trocadilhos e neologismos. No texto que publico hoje Brel inventa a palavra MORRIREI para dizer que irá morrer a rir...
La,la,la (1967)
Quando eu for velho serei insuportável. Excepto para a minha cama e para o meu pobre passado...
O meu cão estará morto e a minha barba será uma lástima... Todas as minhas galdérias me terão deixado e habitarei numa qualquer Bélgica que me vai insultar tanto, ou mais que agora, quando eu lhe cantar “Viva a república! Vivam os belgas... Merda para os flamenguentos...la... la...la...”
Serei abandonado, como um velho hospital, por todos os barrigudos da alta sociedade, e portanto, beberei sozinho, a minha pensão de cigarra... É preciso estar-se bem, logo que haja Verão. Apenas serei recebido pelos gatos do meu bairro, para o seu festim, para que não estejam treze à mesa... E aí, depois de um rato morto, subirei a uma cadeira para cantar “meus senhores no leito da marquesa eu é que era os oitenta caçadores...la...la...la...”
E quando chegar a hora, imbecil e fatal, onde parece que alguém nos vem chamar, insultarei o bófia clerical, inclinado sobre o meu corpo, como um lacaio do céu... E morrirei cercado de pândegos, dizendo-me que o Voltaire era giro, e que se há tipos que têm uma pena no chapéu há outros que usam a pena no traseiro... la...la...la...
(Os oitenta caçadores mencionados no texto referem-se a uma canção tradicional francesa que contava a história de uma marquesa que convidou oitenta caçadores para uma caçada, e no fim do dia foi para a cama com todos eles. Ao cabo de nove meses ela teve um filho que ela dizia ser filho de 80 caçadores).
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009
IRENE VANDENEMEELE e JEANINE GODIN
Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre uma exposição de desenho a carvão e aguarelas de Irène Vandenemeele e Jeanine Godin em Mons, Bélgica.
A exposição está aberta ao público até 7 de Novembro.
A exposição está aberta ao público até 7 de Novembro.
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terça-feira, 13 de outubro de 2009
FRANCIS SELECK
Está a decorrer no Palácio Foz, cidade do Porto, a Semana Belga em Portugal. Amanhã, quarta-feira, haverá um espectáculo na Casas da Música, pelas 21H30, onde FRANCIS SELECK interpretará canções de Jacques Brel acompanhado pelo pianista Paul Timmermans.
Do programa constam ainda exibições de filmes, espectáculos de dança, workshops, concertos e eventos gastronómicos.
Francis Seleck
Do programa constam ainda exibições de filmes, espectáculos de dança, workshops, concertos e eventos gastronómicos.
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segunda-feira, 12 de outubro de 2009
BARBRA STREISAND
No dia 9 de Outubro a propósito da canção LE MORIBOND falei de versões das canções de Brel interpretadas por artistas de renome internacional.
Nesse mesmo dia recebi das Edições Jacques Brel a informação que
BARBRA STREISAND lançou o seu 23º disco e que inclui IF YOU GO AWAY, a versão inglesa de Ne me quitte pas.
Nesse mesmo dia recebi das Edições Jacques Brel a informação que
BARBRA STREISAND lançou o seu 23º disco e que inclui IF YOU GO AWAY, a versão inglesa de Ne me quitte pas.
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009
LE MORIBOND
De Janeiro a Junho de 1978, Brel está em Atuona, Ilhas Marquesas. A sua saúde piora. Em Julho, Brel regressa a Paris para se submeter a novo tratamento.
Em 7 de Outubro ele está muito doente e é internado no Hospital Franco-Musulman em Bobigny nos arredores de Paris. Sofre uma embolia pulmonar.
Em 9 de Outubro morre às 4 horas e 10 minutos da manhã.
É enterrado na Ilha Hiva Oa a alguns metros do pintor Gauguin.
O MORIBUNDO
Le moribond é um óptimo exemplo da composição breliana. A estrutura dos versos repete-se, delimitando o campo semântico. É como ter um molde onde se vão introduzindo pequenas variações.
Esta canção de 1961 teve uma versão em inglês intitulada “Seasons in the sun” e foi cantada por um cantor pop da altura chamado Terry Jacks. A canção correu mundo e esteve em primeiro lugar nos tops de vários países. Outras canções de Brel tiveram sucesso idêntico nas suas versões inglesas. Por exemplo Au suivant cantada pelo Scott Walker, dos Walker Brothers, e Ne me quitte pas, cantada por Nina Simone, Frank Sinatra, R.Charles, D.Bowie, Sting, etc. Nenhuma das versões, porém, atingiu o nível do original.
Adeus Emílio, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Cantámos os mesmos vinhos, cantámos as mesmas raparigas, cantámos os mesmos desgostos... Adeus Emílio, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque sei que és bom como o pão branco e tomarás conta da minha mulher...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus Padre, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Não estávamos no mesmo bordo, não seguíamos a mesma rota, mas procurávamos o mesmo porto.... Adeus Padre, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque sei que tu eras confessor da minha mulher e, portanto, vais tratar bem dela…
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus António, nunca gostei muito de ti... Tu sabes que nunca gostei muito de ti... Fico danado porque vou morrer hoje, ao passo que tu ficas aí vivinho, e mais rijo que o fastio... Adeus António, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque, visto que eras o amante dela, sei que cuidarás bem da minha mulher...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus minha mulher, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Mas, vou tomar este comboio com destino ao Bom Deus... Este comboio é antes do teu, mas, cada um toma o comboio que pode. Adeus minha mulher, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com os olhos fechados, mulher, porque por ti, tive-os fechados muitas vezes, e eu sei que tu vais cuidar da minha alma...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, e quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Em 7 de Outubro ele está muito doente e é internado no Hospital Franco-Musulman em Bobigny nos arredores de Paris. Sofre uma embolia pulmonar.
Em 9 de Outubro morre às 4 horas e 10 minutos da manhã.
É enterrado na Ilha Hiva Oa a alguns metros do pintor Gauguin.
O MORIBUNDO
Le moribond é um óptimo exemplo da composição breliana. A estrutura dos versos repete-se, delimitando o campo semântico. É como ter um molde onde se vão introduzindo pequenas variações.
Esta canção de 1961 teve uma versão em inglês intitulada “Seasons in the sun” e foi cantada por um cantor pop da altura chamado Terry Jacks. A canção correu mundo e esteve em primeiro lugar nos tops de vários países. Outras canções de Brel tiveram sucesso idêntico nas suas versões inglesas. Por exemplo Au suivant cantada pelo Scott Walker, dos Walker Brothers, e Ne me quitte pas, cantada por Nina Simone, Frank Sinatra, R.Charles, D.Bowie, Sting, etc. Nenhuma das versões, porém, atingiu o nível do original.
Adeus Emílio, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Cantámos os mesmos vinhos, cantámos as mesmas raparigas, cantámos os mesmos desgostos... Adeus Emílio, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque sei que és bom como o pão branco e tomarás conta da minha mulher...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus Padre, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Não estávamos no mesmo bordo, não seguíamos a mesma rota, mas procurávamos o mesmo porto.... Adeus Padre, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque sei que tu eras confessor da minha mulher e, portanto, vais tratar bem dela…
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus António, nunca gostei muito de ti... Tu sabes que nunca gostei muito de ti... Fico danado porque vou morrer hoje, ao passo que tu ficas aí vivinho, e mais rijo que o fastio... Adeus António, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com a paz na alma, porque, visto que eras o amante dela, sei que cuidarás bem da minha mulher...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, quero que dancem quando me meterem lá na cova...
Adeus minha mulher, sempre te quis bem... Tu sabes que sempre te quis bem... Mas, vou tomar este comboio com destino ao Bom Deus... Este comboio é antes do teu, mas, cada um toma o comboio que pode. Adeus minha mulher, vou morrer... Sabes que é difícil morrer na Primavera... Mas, lá vou eu para o meu canteiro de flores, com os olhos fechados, mulher, porque por ti, tive-os fechados muitas vezes, e eu sei que tu vais cuidar da minha alma...
E quero que se riam, e quero que dancem, que se divirtam como tolos... Quero que se riam, e quero que dancem quando me meterem lá na cova...
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
VESOUL - FESTIVAL JACQUES BREL
Recebi das Edições Jacques Brel a informação sobre a nona edição do FESTIVAL JACQUES BREL que se realiza na cidade de Vesoul.
O nome Vesoul ficou famoso depois de Brel ter feito uma canção precisamente com este título. O Festival realiza-se de 11 a 17 de Outubro e conta com nomes importantes da actual canção francesa.
O nome Vesoul ficou famoso depois de Brel ter feito uma canção precisamente com este título. O Festival realiza-se de 11 a 17 de Outubro e conta com nomes importantes da actual canção francesa.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
AU SUIVANT
O SEGUINTE (1964)
Na canção que publico hoje, Au suivant, Brel monta uma cena conhecida por quem já foi à tropa. O dia da inspecção. Uma fila de homens nus aguarda a sua vez para receber o visto de entrada no exército. Para Jacques Brel o exército mata o gosto de viver e de amar. Fabrica, com os seus mitos de virilidade, os batalhões de impotentes. O comandante deste exército é representado por um “sargento com mau hálito”, tacanho e grosseiro, que gostaria de transformar o mundo numa enorme caserna, e que, enquanto espera por esse dia, ensina os jovens a “serem homens”.
O seguinte, o seguinte... Todo nu, enrolado numa toalha a fingir de tanga, eu tinha o rubor nas faces e o sabão na mão... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e éramos cento e vinte a ser o seguinte daquele que seguíamos... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e estava-me ali a desemburrar no bordel ambulante de um exército em campanha.
E eu que só queria um pouco mais de ternura, ou talvez um sorriso, ou quem sabe simplesmente ter tempo, mas... O seguinte, o seguinte! Não foi Waterloo, não, não, muito menos Arcole... Foi o ter faltado à escola que nestas alturas a gente se lamenta, o seguinte, o seguinte! Depois de escutar este sargento da trampa, não admira que se façam exércitos de impotentes... O seguinte, o seguinte...
Eu juro sobre a cabeça do meu primeiro esquentamento que esta voz que eu oiço a todo o momento, esta voz que cheira a alho, e a bagaço, é a voz das nações, é a voz do sangue, o seguinte, o seguinte... E agora, cada mulher, na hora de sucumbir entre os meus magríssimos braços parece dizer-me ao ouvido... o seguinte, o seguinte...
“Todos os seguintes do mundo deveriam dar as mãos...” Durante a noite sonho isto nos meus delírios, e quando não deliro chego à conclusão que é mais humilhante ser seguido, que ser o seguinte... Um dia vou fazer de aleijado, de freira ou de pedinte, enfim, uma dessas tretas, e não serei jamais... O seguinte, o seguinte....
Na canção que publico hoje, Au suivant, Brel monta uma cena conhecida por quem já foi à tropa. O dia da inspecção. Uma fila de homens nus aguarda a sua vez para receber o visto de entrada no exército. Para Jacques Brel o exército mata o gosto de viver e de amar. Fabrica, com os seus mitos de virilidade, os batalhões de impotentes. O comandante deste exército é representado por um “sargento com mau hálito”, tacanho e grosseiro, que gostaria de transformar o mundo numa enorme caserna, e que, enquanto espera por esse dia, ensina os jovens a “serem homens”.
O seguinte, o seguinte... Todo nu, enrolado numa toalha a fingir de tanga, eu tinha o rubor nas faces e o sabão na mão... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e éramos cento e vinte a ser o seguinte daquele que seguíamos... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e estava-me ali a desemburrar no bordel ambulante de um exército em campanha.
E eu que só queria um pouco mais de ternura, ou talvez um sorriso, ou quem sabe simplesmente ter tempo, mas... O seguinte, o seguinte! Não foi Waterloo, não, não, muito menos Arcole... Foi o ter faltado à escola que nestas alturas a gente se lamenta, o seguinte, o seguinte! Depois de escutar este sargento da trampa, não admira que se façam exércitos de impotentes... O seguinte, o seguinte...
Eu juro sobre a cabeça do meu primeiro esquentamento que esta voz que eu oiço a todo o momento, esta voz que cheira a alho, e a bagaço, é a voz das nações, é a voz do sangue, o seguinte, o seguinte... E agora, cada mulher, na hora de sucumbir entre os meus magríssimos braços parece dizer-me ao ouvido... o seguinte, o seguinte...
“Todos os seguintes do mundo deveriam dar as mãos...” Durante a noite sonho isto nos meus delírios, e quando não deliro chego à conclusão que é mais humilhante ser seguido, que ser o seguinte... Um dia vou fazer de aleijado, de freira ou de pedinte, enfim, uma dessas tretas, e não serei jamais... O seguinte, o seguinte....
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
25 ANOS DEPOIS...
Em 1999, 25 anos depois da passagem de Jacques Brel pela ilha do Faial, apresentei à RTP Açores um projecto para um programa de televisão sobre aquele acontecimento. Pedi a colaboração do meu amigo Victor Rui Dores para escrever um texto e depois, sobre este texto, idealizámos e realizámos o programa.
Fizemos uma ante-estreia a 6 de Setembro, no Café Peter, para amigos, colaboradores e fãs de Brel e 4 dias depois a RTP/A transmitiu o programa. Tinha a duração de 25 minutos e chamava-se "BREL NO PORTO DA HORTA".
Sobre o programa "BREL NO PORTO DA HORTA" voltarei a publicar nos próximos dias mais factos.
Fizemos uma ante-estreia a 6 de Setembro, no Café Peter, para amigos, colaboradores e fãs de Brel e 4 dias depois a RTP/A transmitiu o programa. Tinha a duração de 25 minutos e chamava-se "BREL NO PORTO DA HORTA".
Sobre o programa "BREL NO PORTO DA HORTA" voltarei a publicar nos próximos dias mais factos.
domingo, 4 de outubro de 2009
LA QUÊTE - L'HOMME DE LA MANCHA
Jacques Brel fez em 1968 a adaptação para francês de "O homem da Mancha", espectáculo de Dale Wasserman baseado em "D.Quixote", de Cervantes, que esteve vários anos em cena na Broadway. Brel é o próprio D.Quixote de la Mancha. A estreia é a 4 de Outubro de 1968 (faz hoje, portanto, 41 anos), em Bruxelas, mas Dário Moreno, o cantor francês que faz de Sancho Pança, morre a 30 de Novembro. É substituído por outro cantor, mas Brel fica destroçado. No entanto, o espectáculo volta a estrear em Paris a 11 de Dezembro, no teatro dos Campos Elísios. A canção "La quête" é deste espectáculo. Apenas o texto é de Brel. A música é de Mitch Leigh. Em inglês esta canção chama-se "The impossible dream" e é interpretada por inúmeros cantores em todo o mundo.
A DEMANDA
Sonhar um sonho impossível, carregar a tristeza das partidas, arder numa qualquer febre, partir para onde ninguém parte…
Amar até à ruptura. Amar, mesmo demais, mesmo mal... Tentar, sem força e sem armadura, alcançar a estrela inacessível... Esta é a minha demanda. Seguir a estrela!
Pouco me importa a minha sorte, pouco me importa o tempo ou o desespero... Há que lutar sempre, sem perguntas nem descanso… Que se lixe o ouro que há numa palavra de amor... Não sei se serei esse herói, mas o meu coração ficará tranquilo…
E as cidades ficarão estupefactas, porque um infeliz arde ainda, depois de já ter ardido, arde ainda, mesmo demasiado, mesmo mal, para alcançar, destroçado, a estrela inacessível...
A DEMANDA
Sonhar um sonho impossível, carregar a tristeza das partidas, arder numa qualquer febre, partir para onde ninguém parte…
Amar até à ruptura. Amar, mesmo demais, mesmo mal... Tentar, sem força e sem armadura, alcançar a estrela inacessível... Esta é a minha demanda. Seguir a estrela!
Pouco me importa a minha sorte, pouco me importa o tempo ou o desespero... Há que lutar sempre, sem perguntas nem descanso… Que se lixe o ouro que há numa palavra de amor... Não sei se serei esse herói, mas o meu coração ficará tranquilo…
E as cidades ficarão estupefactas, porque um infeliz arde ainda, depois de já ter ardido, arde ainda, mesmo demasiado, mesmo mal, para alcançar, destroçado, a estrela inacessível...
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sábado, 3 de outubro de 2009
JEAN CORTI
Outro grande colaborador de Jacques Brel foi JEAN CORTI. Um acordeonista que colaborou activamente com o cantor, não só como acompanhante mas também como compositor.
Recebi das Edições Jacques Brel o anúncio de mais um disco deste acordeonista onde são interpretadas algumas canções do cantor belga.
Corti, neste video, toca um excerto Madeleine.
Recebi das Edições Jacques Brel o anúncio de mais um disco deste acordeonista onde são interpretadas algumas canções do cantor belga.
Corti, neste video, toca um excerto Madeleine.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
LES BIGOTES
AS BEATAS (1962)
Elas envelhecem num passinho miudinho, de cãezinhos em gatinhos... As beatas!
Elas envelhecem tanto mais depressa como confundem o amor com água benta... Como todas as beatas!
Se eu fosse o diabo, ao vê-las passar, acho que me faria castrar... Se eu fosse Deus, ao vê-las rezar, acho que ia perder toda a minha fé, graças às beatas...
Elas vão na procissão num passinho miudinho, de água benta em água benta... As beatas...
E tagarelam, patati, patata... E as minhas orelhas começam a assobiar... As beatas.
Vestidas de negro, como o senhor padre, que é muito bom para todas as criaturas, elas embeatam-se pondo os olhos no chão como se Deus dormisse sob os seus sapatos de beata...
No Sábado à noite, depois do trabalho, encontra-se o operário parisiense... Mas, beatas NÃO!
Porque é fechadas em casa que elas se protegem daquela rapaziada... As beatas,
que preferem encarquilhar-se de novena em novena e de rosário em rosário e orgulharem-se de terem podido conservar aquele diamante que lhes dorme entre as n...(adegas) de beata...
Depois, elas morrem num passinho miúdo, como uma chamazinha, aos montinhos, as beatas, que cemiteriam num passinho miúdo, de manhãzinha, com friozinho, as beatas.
E lá no céu que não existe, os anjos fazem à pressa um paraíso só para elas. Fazem-lhes uma auréola e duas asas, e elas levantam voo no seu passinho miudinho de beata...
Elas envelhecem num passinho miudinho, de cãezinhos em gatinhos... As beatas!
Elas envelhecem tanto mais depressa como confundem o amor com água benta... Como todas as beatas!
Se eu fosse o diabo, ao vê-las passar, acho que me faria castrar... Se eu fosse Deus, ao vê-las rezar, acho que ia perder toda a minha fé, graças às beatas...
Elas vão na procissão num passinho miudinho, de água benta em água benta... As beatas...
E tagarelam, patati, patata... E as minhas orelhas começam a assobiar... As beatas.
Vestidas de negro, como o senhor padre, que é muito bom para todas as criaturas, elas embeatam-se pondo os olhos no chão como se Deus dormisse sob os seus sapatos de beata...
No Sábado à noite, depois do trabalho, encontra-se o operário parisiense... Mas, beatas NÃO!
Porque é fechadas em casa que elas se protegem daquela rapaziada... As beatas,
que preferem encarquilhar-se de novena em novena e de rosário em rosário e orgulharem-se de terem podido conservar aquele diamante que lhes dorme entre as n...(adegas) de beata...
Depois, elas morrem num passinho miúdo, como uma chamazinha, aos montinhos, as beatas, que cemiteriam num passinho miúdo, de manhãzinha, com friozinho, as beatas.
E lá no céu que não existe, os anjos fazem à pressa um paraíso só para elas. Fazem-lhes uma auréola e duas asas, e elas levantam voo no seu passinho miudinho de beata...
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VISITA DE ESTUDO
Por curiosidade publico uma informação das Edições Jacques Brel sobre uma visita de estudo que uma turma do Liceu Marie Curie de Estrasburgo fez à exposição "J'AIME LES BELGES" em exibição naquela instituição. Na fotografia, além dos alunos e professores, está toda a equipa das Edições Jacques Brel incluindo France Brel.
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
EXPOSIÇÃO
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