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sexta-feira, 16 de abril de 2010

L'ÂGE IDIOT

Para o jovem Jacques Brel o importante era viver intensamente cada momento que passava. O Amanhã era outro dia... Mas, o tempo da tropa chegou e veio definitivamente destruir esta filosofia de vida. Ele, que tinha passado a adolescência em tempo de guerra, vê no serviço militar uma máquina de fabricar idiotas, que degrada e mutila as personalidades que ela mesma ignora...




A IDADE PARVA (1965)

A idade parva é às vinte Primaveras, quando a barriga arde de fome. Acredita-se que ao lavar as mãos se lavam também os problemas... É quando se tem mais olhos que barriga, é quando se têm os olhos maiores que o coração, é quando se tem o coração ainda demasiado terno... É quando se têm os olhos ainda cheios de flores…E que bem cheiram os campos de luzerna a tambores mal rufados... É quando se reconhecem os clarins desmaiados e os leitos da pequena virtude. E quando se adormece todas as noites nas casernas.

A idade parva é às trinta Primaveras, quando a barriga começa a crescer. Quando o ventre se impõe e desautoriza o coração... Quando os olhos pesam mais, quando os olhos marcam as horas. Eles que sabem que às trinta Primaveras começa a contagem decrescente... E que se abandonam os velhos na sua caverna, e que se põem umas orelhas de burro a Deus... Mas, que à noite, se acendem luzes quando se esfregam dois corações de mulher, e já se sentem algumas saudades do tempo das casernas...

A idade parva é às sessenta Primaveras, quando a barriga se bamboleia, quando a barriga se avoluma até fazer inchar o coração... Quando os olhos não têm mais lágrimas, quando os olhos arrefecem, quando os olhos perdem o feitiço, quando os olhos entregam as armas... Quando se ressentem os amores, mas se sente resignação para com os velhos e a sua decadência, ou para com os demasiado jovens de partida... Quando se acredita estar protegidos pelas casernas...

A idade de ouro é quando se morre, quando se fica de barriga para o ar. Quando se fica escondido debaixo da barriga, com as mãos protegendo o coração... Quando enfim se tem os olhos abertos, mas já não se vê nada, quando se olha a claridade e as suas nuvens penduradas...
A idade de ouro é depois do inferno, é depois da idade de prata, onde se fica de novo menino, dentro do ventre da terra...
A idade de ouro é quando se adormece na última caserna...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AU SUIVANT

O SEGUINTE (1964)
Na canção que publico hoje, Au suivant, Brel monta uma cena conhecida por quem já foi à tropa. O dia da inspecção. Uma fila de homens nus aguarda a sua vez para receber o visto de entrada no exército. Para Jacques Brel o exército mata o gosto de viver e de amar. Fabrica, com os seus mitos de virilidade, os batalhões de impotentes. O comandante deste exército é representado por um “sargento com mau hálito”, tacanho e grosseiro, que gostaria de transformar o mundo numa enorme caserna, e que, enquanto espera por esse dia, ensina os jovens a “serem homens”.

O seguinte, o seguinte... Todo nu, enrolado numa toalha a fingir de tanga, eu tinha o rubor nas faces e o sabão na mão... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e éramos cento e vinte a ser o seguinte daquele que seguíamos... O seguinte, o seguinte... Tinha precisamente vinte anos e estava-me ali a desemburrar no bordel ambulante de um exército em campanha.

E eu que só queria um pouco mais de ternura, ou talvez um sorriso, ou quem sabe simplesmente ter tempo, mas... O seguinte, o seguinte! Não foi Waterloo, não, não, muito menos Arcole... Foi o ter faltado à escola que nestas alturas a gente se lamenta, o seguinte, o seguinte! Depois de escutar este sargento da trampa, não admira que se façam exércitos de impotentes... O seguinte, o seguinte...

Eu juro sobre a cabeça do meu primeiro esquentamento que esta voz que eu oiço a todo o momento, esta voz que cheira a alho, e a bagaço, é a voz das nações, é a voz do sangue, o seguinte, o seguinte... E agora, cada mulher, na hora de sucumbir entre os meus magríssimos braços parece dizer-me ao ouvido... o seguinte, o seguinte...

“Todos os seguintes do mundo deveriam dar as mãos...” Durante a noite sonho isto nos meus delírios, e quando não deliro chego à conclusão que é mais humilhante ser seguido, que ser o seguinte... Um dia vou fazer de aleijado, de freira ou de pedinte, enfim, uma dessas tretas, e não serei jamais... O seguinte, o seguinte....