terça-feira, 27 de março de 2012

OS MACACOS


Em 1956 ANTÓNIO GEDEÃO escrevia o seu belo poema “Pedra filosofal” onde explica a evolução da inteligência do homem através do olhar de uma criança. Essa evolução termina com a alunagem, que se deu 13 depois. Para Gedeão era como se o mundo, feliz, próspero e pacífico, pulasse e avançasse como bola colorida entre as mãos da criança.
Em 1961 JACQUES BREL escreve o poema “OS MACACOS”. BREL, mais corrosivo, mais radical e mais cruamente, explica no seu poema  que a evolução da inteligência de “os macacos do seu bairro”  se faz com intolerância, preconceitos, racismo e violência. Para BREL, o homem comum, o macaco do seu bairro, o seu vizinho, portanto, só se tinha civilizado após inventar coisas como a câmara de gás, a cadeira eléctrica, a bomba de napalm, e a bomba atómica...
JACQUES BREL em 1961 retratou mais fielmente o HOMEM que conhecemos hoje em dia…
Para ilustrar este texto, em cima está um desenho de FRED e LILIANE FUNCKEN, casal de autores de BD de origem belga.

OS MACACOS

Antes deles, antes dos cus pelados, a flor, o pássaro e nós, andávamos em liberdade... Mas, eles chegaram e a flor foi para um vaso, e o pássaro para uma gaiola... E nós para um número. Porque eles inventaram as prisões, e os condenados, e os registos criminais, e os buracos na fechadura, e as línguas cortadas das primeiras censuras...
E só então, depois, é que ficaram civilizados, os macacos do meu bairro...

Antes deles, não havia problema quando as bananas amadureciam mesmo pela Quaresma... Mas, eles chegaram a abarrotar de intolerância, e foram caçar, pregando outras intolerâncias. Porque eles inventaram a caça aos albigenses a caça aos infiéis e a caça a outros que tais... A caça aos macacos sensatos que não gostavam de caçar...
E só então, depois, é que ficaram civilizados, os macacos do meu bairro...

Antes deles, o homem era um príncipe, a mulher uma princesa e o amor uma província... Mas, eles chegaram, e o príncipe é um vagabundo, a província definha e a princesa está à venda... Porque eles inventaram que o amor é pecado, o amor é um negócio, uma feira de virgens, o direito ao assédio… Inventaram as patroas de bordel...
E só então, depois, é que ficaram civilizados, os macacos do meu bairro...

Antes deles havia paz sobre a Terra, quando para dez elefantes não havia mais que um militar... Mas, eles chegaram, e foi à bastonada que a razão de Estado caçou a razão... Porque eles inventaram o ferro de empalar, e a câmara de gás, e a cadeira eléctrica, e a bomba de napalm, e a bomba atómica...
E só então, depois, é que ficaram civilizados, os macacos do meu bairro... Os macacos do meu bairro!

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