terça-feira, 2 de novembro de 2010

LES AMANTS DE COEUR



Esta canção, Les amants de coeur, é assinada por Brel e por Rod McKuen.
Este senhor McKuen é o autor da famigerada versão inglesa de LE MORIBOND e que dá pelo nome de Seasons in the Sun. O tal êxito dos anos 60 que correu mundo na voz do canadiano Terry Jacks, e depois por muitos outros cantores nos mais variados idiomas, estilos e interpretações. Com tal sucesso da canção o senhor McKuen deve ter ficado rico com os direitos de autor da letra inglesa, apesar de ter prestado um mau serviço a Brel. Com a versão inglesa McKuen deturpou todo o conteúdo do texto breliano e com isso deu a conhecer aos anglo saxões uma imagem de um Brel muito vulgar, para não dizer piroso, tal a baixa qualidade da tradução.
No entanto, Brel quis conhecer o autor de Seasons in the Sun e veio a saber que ele era também um cantautor. E pediu-lhe uma canção sua para traduzir para francês e incluir no seu reportório. McKuen cedeu-lhe a canção The lovers que Jacques Brel Traduziu para Les amants de coeur.


OS AMANTES DO CORAÇÃO (1964)

Eles amam-se, amam-se, rindo. Eles amam-se, amam-se para sempre. Eles amam-se ao longo do dia, eles amam-se tanto, tanto, que parecem anjos do amor, anjos doidos protegendo-se quando se encontram de fugida. Os amantes do coração...

Eles amam-se, amam-se loucamente, desfolhando-se longe das luzes… E desvendam-se como dois frutos, descobrindo que já não são dois… E abandonam-se suavemente. Reencontram-se no novo dia e adormecem mais felizes, os amantes do coração...

Eles amam-se, amam-se assustados, o coração molhado, latejante. Cada segundo é um medo que devora o coração à dentada... Eles sabem demasiado de encontros onde se fingem de caçadores, para não terem medo do lobo, os amantes do coração...

Eles amam-se, amam-se chorando. Cada dia um pouco menos amantes, depois de terem bebido todo o seu mistério... Tornam-se irmão e irmã, queimam as asas de inquietação. Transformam-se em dois hábitos, e então, trocam de companheiro, os amantes do coração...

Que se amem, que se amem rindo…Que se amem, para sempre… Que se amem ao longo do dia… Que se amem tanto, tanto, que pareçam anjos do amor, anjos doidos protegendo-se quando se encontram de fugida… Que se amem, os amantes do coração !!!


Esta é a versão original de Rod McKuen... THE LOVERS

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

LES CROCODILES



No livro LA VALSE À MILLE RÊVES, de Eddy Przybylski, o autor conta que em 27 de Dezembro de 1962 Sacha Distel fez o Olympia e estreou uma canção feita por Jacques Brel.
A canção tinha por título LES CROCODILES e foi encomendada pelo próprio Sacha Distel.
Mais tarde este cantor incluiu a canção no lado B dum disco single.

OS CROCODILOS (1963)

Quando os vemos à segunda-feira não têm tostões
Quando os vemos na terça-feira eles querem tostões
Na quarta-feira e na quinta-feira eles ganham tostões
Quando chega sexta-feira eles têm tostões
Durante todo o dia de sábado eles contam os seus tostões
E domingo até meio-dia, eles sonham com tostões
Mas os quem, mas os quê, mas os como, mas os porquê
Os crocodilos

Tu dizes-lhes que está tudo bem, não é normal
Tu dizes-lhes que está tudo mal, é o geral
Tu falas do geral e é um escândalo
Tu falas de ti, é demasiado banal
Então, tu falas de amor, é imoral
Então tu dizes não importa o quê e é triunfal…
Com os quem, com os quê, com os como, com os porquê
Os crocodilos

De enterro em enterro lá os encontramos
Dignos, dignos, dignos, dong, só se morre uma vez
Eles lá vêm para chorar e chorarão
E depois com a mão sobre o coração eles dirão
O primeiro já partiu, era o melhor
Em seguida, eles saem com a sua esposa, a filha e a irmã
As peles de quem, as peles de quê, as peles de crocodilos…

Em Paris diz-se que eles vivem em Hong Kong
Em Hong Kong diz-se que eles vivem em Paris
Na minha casa diz-se que vivem lá em frente
Lá em frente diz-se que eles vivem um pouco mais longe
Mas eu tenho certeza que eles vivem em casa dos meus vizinhos
E todos os vizinhos têm a certeza que eu sou um deles…
Mas os quem, mas os quê, mas os como, mas os porquê
Os crocodilos.


Não há registo videográfico de LES CROCODILES. Para quem não sabe quem era Sacha Distel aqui fica um vídeo com uma canção bem ao estilo deste cantor.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

L'AMOUR EST MORT

Em L’AMOUR EST MORT Jacques Brel revisita A canção dos velhos amantes. Mas agora com amargura, com ressentimentos. Sem reconciliação possível. Esta canção foi também deixada fora do lote que integrou Les Marquises e só foi revelada ao público em 2003.


O AMOR MORREU (1977)

Eles nada mais têm a se maldizer, eles agridem-se em silêncio. O ódio tornou-se a sua ciência, os gritos tornaram-se as suas gargalhadas. O amor morreu. O amor está vazio e juntou-se às gaivotas. A grande casa está lívida e as portas batem constantemente.

Eles esqueceram-se que há pouco atravessaram Strasbourg, rindo, e pareceu-lhes bem mais pequeno que uma grande praça dos arredores. Eles esqueceram-se dos sorrisos que espalharam à sua volta...Quando eu te falava de apaixonados, era a eles que eu gostava de descrever...

Por volta do meio-dia abrem-se as tardes que rompem os sinos. É sempre o mesmo redil mas as ovelhas estão enfurecidas. Ele sonha com velhas amantes, ela inventa o seu próximo amante. Eles já não vêem nos seus filhos mais do que os defeitos que o outros lhes deixou...

Esquecerem os bons tempos onde a manhã sorria, quando ele lhe recitava Hamlet, nu em pêlo, e em alemão. Esqueceram-se que viveram a dois e queimaram mil vidas. Quando falava de alegria de viver, era deles que falava...

O piano não é mais que um móvel, a cozinha chora algumas sandes. Eles parecem-se com dois derviches que rodopiam na mesma casa. Ela esqueceu-se que cantava e ele esqueceu-se que ela cantava. Eles assassinam as suas noitadas lendo livros fechados...

Eles esqueceram-se que noutros tempos navegaram de festa em festa. Com esforço inventam-se festas que nunca existriram. Eles esqueceram as virtudes da fome e do frio quando dormiam dentro de duas malas...
E, nós, minha querida??? Como vais? Como vais???


Neste vídeo, que ilustra “L’amour est mort”, foram usados excertos do making of de FRANZ, um filme realizado por Brel em 1972 e onde o cantor contracena com Barbara. Já se falou AQUI neste blog deste filme.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ZEBDA



No dia 25 de Abril deste ano publiquei AQUI neste blog o texto da canção JAURÉS.

Hoje volto a Jaurés para apresentar uma boa recriação da canção interpretada pelo grupo francês ZEBDA.
Este grupo, de Toulouse, era conhecido pelo seu activismo político e pelos diversificados estilos musicais que utilizava nas suas actuações.

O ZEBDA, que era formado por 7 músicos de várias nacionalidades, ganhou vários prémios , bem como o reconhecimento internacional, com o seu single “Tomber la chemise” gravado em 1998.
Em 2001 o grupo encabeçou um partido político que ganhou mais de 12% dos votos numa eleição autárquica em Toulouse. O grupo desfez-se em 2003.

domingo, 24 de outubro de 2010

PETR ZUSKA



Em Novembro de 2008, o bailarino e coreógrafo Petr Zuska criou para o National Theatre Prague Ballet um espectáculo intitulado SOLO FOR THREE baseado em canções de Jacques Brel, e nas de Vladimir Vysotsky e Karel Kryl.
Petr Zuska foi galardoado nesse ano com o prémio para a melhor “Coreografia Original” num festival de dança contemporânea realizado no seu país, a República Checa.
Aqui ficam dois vídeos, VESOUL e AMSTERDAM, que, apesar de a imagem não ser muito esmerada, dão uma ideia de como as canções de Brel inspiram ainda hoje jovens criadores que nasceram muito depois de Brel ter morrido.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ARNOLD JOHNSTON



Arnold Johnston é um escocês que se radicou nos Estados Unidos onde exerce a profissão de professor de literatura na Wayne State University.
Uma das suas paixões é JACQUES BREL e além de ter traduzido para inglês algumas das canções do Grand Jacques também as canta. Gravou em 2000 o CD “I’M HERE” com 19 canções. Os textos foram feitos, segundo Arnold Jonhston, traduzindo literalmente as palavras e as ideias de Brel, e estas, depois foram trabalhadas para ter rima e métrica adaptável às melodias.



Trabalho muito diferente daquele feito por Eric Blau e Mort Shuman para o espectáculo “Jacques Brel is alive and well and living in Paris” onde muitos dos textos em inglês não têm nada a ver com o original de Brel desvirtuando assim toda a verdade, todo o sentimento e toda a emoção das suas canções.
Baseado nos textos brelianos de Johnston, foi levada à cena uma peça no Talk Theatre em Chicago e depois em Nova Iorque, em 2009, intitulada "Lonesome Losers of the Night." (Os falhados solitários da noite).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

AVEC ÉLÉGANCE




Mais um dos temas inéditos que só foi editado em disco em 2003. Brel gravou esta canção em 1977 juntamente com as canções do disco LES MARQUISES. Como tinha canções a mais para este LP deixou “na gaveta” 5 canções. Esta canção AVEC ELEGANCE está incluída, portanto, no CD duplo INFINIMENT lançado no mercado em 30 de Setembro de 2003.

COM ELEGÂNCIA (1977)

Mesmo quando eles se sentem romanos, no tempo da decadência,
Eles esgravatam a memória com as duas mãos.
Já não falam mais que o seu silêncio
E não querem fazer-se amar por causa de ninharias…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles sentem a encosta mais escorregadia que no tempo
em que os seus corpos eram esbeltos.
Vêem nos olhos deslumbrantes que cinquenta anos é a província,
E queimam a sua juventude agonizante.
Mas eles fingem que passam um sem o outro…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles saem para frequentar os bares onde eles já são os mais velhos…
Encharcam de gorjetas os barmen silenciosos
E tagarelam banalidades com velhos em potência…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles repetem-se todas a manhãs,
que se um dia todos os cornudos quisessem dar as mãos,
Mais ninguém no mundo de poderia assoar…
E acreditar que se canta isto e resmungar.
Eles tentam acompanhar o ritmo…
Eles estão desesperados, mas com elegância…

Eles sabem que sempre tiveram medo, eles conhecem o peso da sua cobardia,
Eles podem viver sem felicidade, eles já não se sabem perdoar.
E não têm grande coisa com que sonhar, mas escutam o seu coração que dança…
Eles estão desesperados, mas com esperança…


Neste video Maurice Béjart usou AVEC ÉLÉGANCE para uma das suas coreografias.