Mostrar mensagens com a etiqueta Marc Robine. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Marc Robine. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 10 de maio de 2011

MARC ROBINE




MARC ROBINE, nascido a 14 de Outubro de 1950 em Casablanca, Marrocos, e falecido em 2003, foi cantor, músico, historiador da música francesa (L'Anthologie de la chanson française traditionnelle, Il était une fois la chanson française), jornalista, e autor de biografias de cantores, tais como, Georges Brassens, Francis Cabrel, Julien Clerc e Jacques Brel...

Sobre Brel ele escreveu o livro LE ROMAN DE JACQUES BREL.



Palavras do editor na apresentação do livro.

"Grand Jacques" é o nome que ele deu a si mesmo numa das suas primeiras canções em 1953. Outros, ironicamente chamava¬m-lhe "abade Brel". Nos últimos anos, o Grand Jacques faria uma carreira meteórica, revolucionando a canção francesa, com textos corrosivos, irónicos ou patéticos - Les Flamandes, Amsterdam, Vesoul, Les Bonbons... - servidos por uma força interpretativa extraordinária. Ao lado desse Brel, mais conhecido, Marc Robine encontrou todos os outros: a criança sonhadora que se revolta no seio da pequena burguesia flamenga; o homem dos amores fulgurantes mas muitas vezes dolorosos; o nómado eterno, finalmente capaz de colocar um fim abrupto à sua carreira como cantor e actor para ir procurar uma nova vida ao sabor da brisa das ilhas Marquesas. Durante dez anos o autor reuniu documentos e depoimentos, para transformar numa verdade complexa, um itinerário e uma personalidade fora do comum."


Aqui MARC ROBINE canta Le Déserteur, a famosa canção de BORIS VIAN...

sábado, 28 de agosto de 2010

L'AVENTURE



Jacques Brel fazia mais de 300 espectáculos por ano. Em todos eles se dava ao público da mesma maneira. Sem mentiras, sem artifícios, sem vedetismos.
Brel tinha esta opinião curiosa sobre as salas de espectáculo. Quanto mais confortável fosse a sala, com boas cadeiras, pior o espectáculo corria, porque, segundo ele, cada espectador ficava mais individualista e a comunicação tornava-se então mais difícil. O desconforto de uma sala cheia gerava um público em massa, muito mais comunicativo.
Tal como a canção de ontem, VOIR, também a de hoje é de 1958. Chama-se L’Aventure. É uma canção heróica com corais e sons de bigorna a bater o compasso. Ao contrário de Brassens, cujo estilo estava definido desde po primeiro disco, “ Brel levará mais de 5 anos a amadurecer, diz Marc Robine diz no seu livro GRAND JACQUES, (biografia de Brel, publicado em 1998), acumulando os fracassos, as canções medíocres, as imagens grandiloquentes e as lenga-lengas palavrosas, tudo entrecortado, cá e lá, por rasgos fulgurantes e preciosos”

A AVENTURA (1958)

A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...
A aventura começa na alvorada, a alvorada que nos mostra o caminho...
A aventura é o tesouro que se descobre em cada manhã...
Para o Martin é o ferro na bigorna; para o César é o vinho que cantará;
para o Yvon é o mar que ele governa, é o dia que se ilumina, é o trigo que se malha...
A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...

Tudo aquilo que procuramos descobrir, floresce cada dia, a um canto das nossas vidas.
A grande aventura é saber colhê-la entre a nossa igreja e o nosso município,
Entre a cancela do avô Machin e o bosque formoso do senhor barão,
E entre a vinha do nosso vizinho e o doce sorriso da Madelon...

Todos aqueles que procuram o amor estão perto de nós, a cada instante...
Nos ermos das ruas, na sombra dos prados, no fim do caminho, no meio dos campos,
Erguidos ao vento e semeando o trigo, curvados no solo saudando a terra,
Sentados ao lado dos velhos que entrançam os vimes, deitados ao sol bebendo a luz, dentro da luz...

A aventura começa na alvorada, na alvorada de cada manhã .
A aventura começa logo que a claridade nos vem lavar as mãos...
A aventura começa na alvorada, a alvorada que nos mostra o caminho...
A aventura é o tesouro que se descobre em cada manhã...


N.T.: La Madelon é o nome de uma canção feita no princípio da Primeira Guerra Mundial -1914/1918 - que ficou famosa por levantar o moral das tropas francesas. A letra de La Madelon, em francês e em inglês está AQUI.
A única versão de L’Aventure que encontrei na net é esta, cantada por um grupo coral numa igreja... Bem a propósito!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MON ENFANCE




As dez canções do 11º álbum de Jacques Brel ("Brel 67"), gravadas em quatro sessões, entre 30 de dezembro de 1966 e 18 de janeiro de 1967, incluem esta pérola da canção francesa – MON ENFANCE.
Poucos meses antes de escrever "A Minha infância", Brel confidenciou ao microfone de uma rádio belga: "Não me arrependo nada do meu tempo de infância porque eu acho que é uma coisa que só se suporta uma vez. E eu acho que ela foi muito longa. E às vezes se falo nisso, por exemplo numa canção, não é com pesar ... ".
Marc Robine é definitivo: "É uma das canções essenciais do Grand Jacques. Uma das mais autobiográficas, uma das mais belas, mais fortes, mais sensíveis, mais conseguidas e, provavelmente, uma das maiores canções francesas que se fizeram”.

A MINHA INFÂNCIA (1967)

A minha infância passou-se entre cinzentos e silêncios, entre falsas mesuras e falta de querelas...
No inverno ficava no ventre daquela grande casa que tinha lançado âncora a Norte, por entre os juncos...
De verão, em tronco nu, mas sempre recatado, brincava aos índios, mas com a certeza que os meus tios abastados me tinham roubado o Far West...

A minha infância passou... As mulheres na cozinha - onde eu sonhava com a China - envelheciam nos cozinhados... Os homens, à volta do queijo, envolviam-se de tabaco. Flamengos, soturnos e prudentes, e que não me conheciam. Eu, que todas as noites, ajoelhado para nada, harpejava a minha tristeza aos pés da grande cama... Queria apanhar um comboio que nunca cheguei a apanhar..

A minha infância passou-se de criada em criada... Já me surpreendia que elas não fossem plantas. Surpreendiam-me ainda todas aquelas rodas de família...Todos vestidos de luto, divagando de morto em morto... Espantava-me sobretudo de pertencer a esse rebanho que me ensinou a chorar e que eu conhecia bem demais... Eu que tinha o olho do pastor, mas o coração do cordeiro...

A minha infância explodiu !!! Chegou a adolescência e o muro do silêncio uma manhã ruiu... Foi a primeira flor e a primeira rapariga, a primeira ternura e o primeiro medo... Eu voei, eu juro que voei... O meu coração abriu os braços e eu já não era labrego...
Depois, a guerra chegou...
E aqui estamos hoje...