segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

IL NOUS FAUT REGARDER



Mais uma canção da juventude de Jacques Brel, provavelmente feita no seu gabinete da fábrica de cartonagem do pai. Na solidão das quatro paredes, oito horas por dia, ele, de certeza, muitas vezes punha a escrita em dia. A escrita poética, claro. A outra escrita, a dos “deves e haveres” ia-se fazendo para garantir uns trocos ao fim do mês.

TEMOS QUE OLHAR (1953)

Para lá da imundície espalhada à nossa frente, para lá dos olhos franzidos e dos rostos débeis…
Para lá dessas mãos abertas ou fechadas, que se estendem em vão, ou que são punhos erguidos...
Para lá das fronteiras de arame farpado... Para lá da miséria... Temos que olhar …
Temos que olhar para o que há de belo… O céu cinzento ou azulado, as raparigas à beira de água, o amigo que nos é fiel, o sol de amanhã, o voo de uma andorinha, o barco que regressa...

Para lá do concerto dos soluços, dos prantos e dos gritos de cólera dos homens que têm medo…
Para lá do tumulto das ruas e das praças, das sirenes de alarme, das grosserias dos carroceiros mais fortes que as crianças que contam as guerras e para lá dos adultos que nos obrigaram a fazê-las...

Temos que escutar o pássaro lá no meio do bosque, o murmúrio do Verão, o sangue que circula em nós, as cantigas de embalar das mães, as orações das crianças, e o ruído da terra que adormece docemente...



Esta canção foi também cantada pela sua grande amiga BARBARA.

Sem comentários:

Enviar um comentário