quarta-feira, 29 de setembro de 2010

LA VILLE S'ENDORMAIT



Esta é mais uma canção do último disco de Brel gravado em 1977.
Já se sabia que, devido ao seu grave estado de saúde, Brel não gravaria mais discos. No entanto, os editores não se coibiram de criar uma capa para o disco onde figurava um céu azul com algumas nuvens brancas.
Seria o “céu” para onde o cantor já se estava a encaminhar?

Em Julho de 1978, a conselho de um médico seu amigo, Brel deixa as Ilhas Marquesas e com muita dificuldade chega a Paris para receber tratamentos. No entanto, já há pouco a fazer. Uma noite fria de Outono, ao fugir dos “papparazzi”, abriga-se numa casa de banho pública durante umas horas e apanha uma broncopneumonia. É internado no hospital de Bobigny, Paris, e acaba por morrer de uma Embolia pulmonar, a 9 de Outubro, à 4 horas e dez minutos da madrugada…
A cidade dormia.

A CIDADE ADORMECIA (1977)

A cidade adormecia e já não me lembro do nome dela. A montante do rio uma nesga de céu ardia...
A cidade adormecia e já não me lembro do nome dela.

E a noite a pouco e pouco, e o tempo parado. E o meu cavalo enlameado e o meu corpo fatigado.
E a noite de azul em azul, e a água de uma fonte. E alguns gritos de raiva, lançados por alguns velhos, sobre outros velhos ainda mais velhos, cujo corpo dormita...

E o meu cavalo que bebe, e eu que o observo. E a minha sede que presta atenção para que não se veja…
E a fonte canta, e o cansaço espeta a sua faca nos meus rins. E eu faço-me passar por aquele que é o seu soberano, esperando-me algures, como se espera um rei.
Mas ninguém está à minha espera, e eu até sei que há quem morra por acaso ao alongar o passo...

É verdade que, às vezes, perto do anoitecer os pássaros se parecem com ondas, e as ondas se parecem com pássaros, e os homens com gargalhadas, e as gargalhadas com soluços...
É verdade que muitas vezes o mar se desencanta... Quero dizer com isto, que ele canta outros cantos, não aqueles que o mar canta nos livros das crianças...
Mas, só as mulheres se parecem com mulheres, e de entre elas, os estupores só se parecem com estupores, e eu não estou seguro, como o outro* que canta, que elas sejam o futuro do homem...

A cidade adormecia e já não me lembro do nome dela. A montante do rio uma nesga de céu ardia...
A cidade adormecia e já não me lembro do nome dela.
E tu passaste, donzela desconhecida, quase nua debaixo do véu que dançava...


N.T.:*O outro que canta é Jean Ferrat e a frase “as mulheres são o futuro do homem” é de Louis Aragon, 1897-1982 , um poeta francês, dadaísta e posteriormente surrealista.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

FLAMME&CO



Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre mais um disco que foi editado com canções de Brel.
Chama-se BREL FLAMME&CO e conta com a participação do guitarrista de flamenco J.M. ZALDIVAR e do cantor JEAN-LUC TARDAT.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

KNOKKE-LE-ZOUTE TANGO



Este tango foi gravado em 1977 já Brel estava verdadeiramente debilitado por causa do cancro que o afectava há alguns anos. Está, portanto, incluído no último disco LP, conhecido por LES MARQUISES.

Brel cantou muitas vezes neste Casino, em Knokke-le Zoute . Esta localidade é muito famosa na Bélgica por se tratar de uma zona balnear por excelência.

A tradução deste texto não é fácil dado que Brel recorreu a algum calão e a alguns neologismos que perdem a sua originalidade quando traduzidos.

TANGO DE KNOKKE-LE-ZOUTE (1977)

Nas noites em que eu sou argentino ofereço a mim mesmo algumas argentinas,
prontas a colher nas vitrinas dos lindos bairros de Amesterdão.
Garinas que teriam aquele bronzeado de mulheres exportadas das vossas cidades latinas...
Nessas noites, quero-as felinas, com um pouco de brilhantina passada no cabelo do idioma.
Elas seriam frescas como mangas e compensariam os seus defeitos com golpes de peito e de nádegas...
Mas, esta noite não há argentinas, não há esperança, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino...

Nas noites em que sou espanhol, cu pequeno, grande chaço, elas passam todas pela frigideira.
Prontas a perseguir em Hamburgo, as Carmencitas dos subúrbios que nos enchem de sífilis...
Quero-as frescas e alegres, boas trabalhadoras, sem paleios.
Meio andalusas, meio ondulosas, essas fêmeas que se gestapam,
porque ainda não sabem que o Franco está completamente morto...
Mas esta noite não há espanholas, não há frigideira, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino…

Nas noites em que sou Caracas, eu Panameio, eu Partagas…
Eu sou o mais bonito e parto para a caça. Deslizo de palácio em palácio para desalojar a taluda,
que só espera o meu golpe de misericórdia...
Quero-a doida como um travesti, despida de velhas cortinas, mas apesar disso, efémera.
Ela esperar-me-á dias depois, cercada por serpentes e por plantas, entre os livros de Dutourd.
Mas esta noite não há Caracas, não há efemeridade, não há dúvida, não...
Esta noite chove sobre Knokke-le-Zoute...
Esta noite, como todas as outras noites,
Entro em minha casa com o coração alvoroçado e num completo desatino…

Mas amanhã, sim, talvez amanhã serei argentino, sim, vou oferecer a mim mesmo algumas argentinas, prontas a colher nas vitrinas dos belos bairros de Amesterdão...


N.T. : 1) Dutourd era um escritor belga que alardeava publicamente a sua animosidade contra Brel.

domingo, 26 de setembro de 2010

ALEX HARVEY BAND



AQUI falei no espectáculo JACQUES BREL IS ALIVE AND WELL AND LIVING IN PARIS que tem por base canções de Jacques Brel traduzidas para inglês, por Mort Shuman e Eric Blau.
Uma dessas canções, AU SUIVANT (NEXT), já teve variadas adaptações, e agora, um destes dias, descobri mais uma no youtube. Um versão por Alex Harvey Band, um grupo inglês que leva muito a sério esta interpretação de AU SUIVANT.

sábado, 25 de setembro de 2010

MUSICA NUDA



E se ontem postei aqui uma versão da canção de Brel “Ces gens-là” cantada pelos Désir Noir, com imagens do filme italiano "Feios, porcos e maus", hoje vou repetir a ideia.

Trata-se do belo tema “La chanson des vieux amants” interpretado por um duo italiano - MUSICA NUDA – que na língua transalpina passa a chamar-se "La canzone dei vecchi amanti".
Os membros do Musica Nuda são Petra Magoni, Ferruccio Spinetti e a canção está incluída no seu último disco Blue Note.

As imagens que ilustram a canção são do filme THE PIANO (1993), de Jane Campion, com Holly Hunter e Harvey Keitel.
Este vídeo também pode ser visto no blog LA CHANSON DE JACKY, de Rodolphe Guillo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ETTORE SCOLA



O grupo francês NOIR DÉSIR fez a sua própria versão da canção de Brel “CES GENS-LÀ” . Uma boa versão que merece ser ouvida com atenção.

No entanto, a interpretação dos NOIR DÉSIR fica grandemente favorecida com uma montagem de imagens do filme “FEIOS, PORCO E MAUS”, de Ettore Scola (1976), com Nino Manfredi no principal papel.
Depois de ver estas imagens fiquei a pensar se Ettore Scola não se teria inspirado em Ces gens-là para fazer o filme...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

BRUNO BREL



Das Edições Jacques Brel recebi esta informação sobre um espectáculo de BRUNO BREL, sobrinho de Jacques.
Será no Institut Saint-Luc, em Mons, no dia 22 de Outubro às 19H30.
Neste vídeo Bruno Brel canta excertos de canções do tio e de canções compostas por si mesmo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LE PROCHAIN AMOUR



Brel atribui às companheiras o germe das suas decepções, e portanto, tenta recomeçar sempre na esperança de encontrar a pérola rara, e ao mesmo tempo, secretamente, prever um novo desaire. E então, vive cada amor sob a forma de breves momentos, que há que consumir, com a alegria de partir para ir repescar a ternura, as esperanças loucas, os prazeres do coração e dos sentidos, o sortilégio da dor, a agitação das rupturas e, por fim, os desânimos. Esta canção é de 1961.

O Próximo amor (1961)

Por mais que se faça e que se diga que um homem prevenido vale por dois, por mais que faça e que se diga... Faz-nos bem estarmos apaixonados...

Portanto, sei que este próximo amor será para mim a próxima derrota...
Conheço já, à entrada da festa, a folha seca que será o amanhecer...
Eu sei, eu sei, mesmo sem saber o teu nome, que serei a tua próxima presa.
Eu já sei que é pelo seu rumorejar que os lagos metem os rios na prisão...

Eu sei, portanto, que este próximo amor não viverá até ao próximo Verão...
Eu já sei que o tempo dos beijos por dois caminhos não dura mais que uma encruzilhada...
Eu já sei que a próxima ventura será para mim a próxima guerra
e já conheço esse ditado terrível que diz que: “Um tem que chorar quando o outro é o vencedor...”

Eu sei, portanto, que este próximo amor, será para nós um novo reinado
do qual acreditaremos ambos levar os laços, do qual acreditaremos que só um de nós levará o benefício...
Eu sei, eu sei, que a minha meiga fraqueza fará de nós navios inimigos,
mas o meu coração conhece navios inimigos que partem juntos para pescar a ternura...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

L'ÂME DES POÈTES

Das Edições Jacques Brel recebi mais estas duas informações:



“L’âme des poètes” é um trio criado nos anos noventa e composto por Pierre Vaiana no saxophone, Jean-Louis Rassinfosse no contrabaixo e Fabien Degryse na guitarra.
Neste disco “Ceci n’est pas une chanson belge” (alusão ao famoso quadro de René Magritte “Ceci n’est pas une pipe”) eles fazem as suas próprias reinvenções de canções belgas, incluindo J’ARRIVE de Jacques Brel.



Uma instituição reunindo um retiro para reformados e uma casa de infância vai ser inaugurada a 30 de Setembro em Guipavas, Bretanha. O nome desta estrutura de apoio à terceira idade e à infância é... “ESPAÇO JACQUES BREL”.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

LE TROUBADOUR



“Le Troubadour” está incluído num lote de canções consideradas “textos da juventude”.
Foi gravada em Agosto de 1953 na Radio Hasselt, de Bruxelas, juntamente com outras 22 canções e mantiveram-se inéditas até há pouco tempo. Nesta canção Brel resume a sua carreira que… ainda não tinha começado. “Eu sou um velho trovador que contou muitas histórias… mas sem acreditar nelas”. Ele irá cantar os seus ideais sem acreditar muito neles, mas acabará por aceitá-los.

O TROVADOR (1953)

Eu sou um velho trovador que contou muitas histórias
Histórias divertidas, histórias de amor, mas sem acreditar nelas

Eu cantei como um grande livro em que cada página é uma gargalhada
Eu cantei a alegria de viver esperando a outra de morrer,

Eu cantei as minhas belas ideias mas quando eu tinha de as dizer
O que a cantar era agradável, em palavras fazia-vos rir

Eu cantei o ideal para as crianças para lhes dar um pouco de esperança
Diziam-me que se o cantasse eu um dia ia acreditar nisso

Eu cantei um canto de amizade que era feito com o coração
Muitas vezes é feiro em coro mas eu estava só a cantar

Quis muitas vezes levantar o mundo, só por ele, só por bondade
Quis muitas vezes levantar o mundo, mas foi ele que me deitou

Eu sou um velho trovador que ainda canta por cantar
As histórias, histórias de amor, para fazer crer que é alegre

Um trovador desencantado que por um hábito inútil
canta ainda a amizade para não cantar o ódio.


domingo, 19 de setembro de 2010

MON AMI MITTERRAND

François Mitterrand foi presidente da França entre 1981 e 1995, tendo morrido em 1996 vítima de cancro.
Ainda como presidente do Partido Socialista deu esta entrevista em 1977, sobre o disco de BREL , “Les Marquises”. Como todo o político que se preza assumiu uma pose de estadista e usou um discurso politicamente correcto, recorrendo a banalidades, frases feitas e elogios balofos. Felizmente houve alguém que em boa hora fez a montagem que podem ver neste vídeo, desmontando todo cinismo de “mon ami Miteran”.

sábado, 18 de setembro de 2010

GOTEMBURGO, PARIS

Das edições JACQUES BREL recebi mais estas informações sobre espectáculos dedicados ao cantor.

a)De 20 de Setembro a 11 de Dezembro no LORENSBERGSTEATERN, em Gotemburgo, uma paródia sueca à canção “Le moribond”, de BREL, no espectáculo “Hagmans konditori”.



b)Amanhã, 19, e no próximo dia 26, o grupo“Les Fils de Novembre” vai apresentar um espectáculo com canções de Jacques Brel no teatroLUCERNAIRE, em Paris.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

STÉPHANE & DIDIER



Das Edições Jacques Brel recebi esta informação que transcrevo de imediato.

“ No quadro das manifestações culturais da Capital Europeia da Cultura RUHR 2010
o duo alemão STÉPHANE & DIDIER dão um concerto com as canções de Jacques Brel em Dortmund, no Sábado, dia 18, pelas 21 horas, no Pavilhão da Música do Luna Festival no Parque Fredenbaum”
O espectáculo intitula-se “As nossas canções preferidas”.

Neste vídeo o duo interpreta Les Bourgeois (Die Spiesser) com a ajuda de um mimo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ISABELLE VAJRA



Das Edições Jacques Brel recebi esta informação sobre mais um espectáculo dedicado a BREL.
A cantora ISABELLE VAJRA vai interpretar BREL e NOUGARO a partir de 14 de Outubro no teatro parisiense Tambour Royal.
Antes desta homenagem a Brel e Nougaro, a cantora fez no mesmo palco, durante dois anos, (2007 a 2009), uma homenagem a Barbara, outra paixão da sua vida.
Neste vídeo ISABELLE VAJRA canta “À force de”, uma canção de Barbara...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

LE FOU DU ROI


Esta canção fez parte do lote de 9 que Barbara gravou em 1961 ("Barbara chante Brel", Odéon).
Brel cria um cenário medieval, faz-se acompanhar por um cravo e canta esta sátira que não é mais do que uma cena da vida real e, diga-se, muito actual. Depois de lermos este texto ficamos com a sensação que conhecemos esta história, ou por já se ter passado connosco, ou por ter acontecido muito perto de nós, com outros ingredientes e noutros contextos, claro.


O bobo do rei (1954)

Era uma vez um bobo do rei que vivia de alma serena, num castelo antigo, apaixonado pela sua rainha. E vivam os corcundas, minha mãe, e vivam os enforcados…

E houve uma grande caçada onde os nobres aos pares, a cada dez metros se beijavam, em caminhos ditos ermos...

Quando o bobo viu a rainha a ser cortejada por um belo conde, fugiu com o coração destroçado para um bosque e chorou de vergonha...

Assim que passaram três dias, ele regressou ao castelo e foi contar tudo ao rei, lá no alto da sua torre...

Depois de ter ouvido tudo, um dia inteiro o rei se riu... Condecorou o conde e mandou enforcar o bobo...

A moral desta história é que, depois de Gide ou de Cocteau, não é preciso entrar em pânico para se ouvirem histórias idiotas...


N.T. Na versão original do texto escrito, Brel inclui uma quadra no final - a moral da história - que não usa na versão cantada. Nesta quadra ele fala em Gide(André) e Cocteau (Jean). Gide e Cocteau são dois poetas e romancistas franceses (séculos XIX e XX) que se destacaram pela sua ultra modernidade artística e cultural. Ambos homossexuais, faziam questão de manifestar pelas mais diversas formas a sua orientação sexual.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PETER PRINGLE



O THEREMIN, originalmente conhecido por aetherphone / etherophone, Thereminophone ou termenvox / thereminvox é um instrumento musical electrónico que é tocado sem o contacto do instrumentista. O nome THEREMIN provém do seu inventor , o professor russo Léon Theremin, que registou a patente em 1928. Quem quiser saber mais sobre este instrumento pode ver AQUI.

Brel usou em algumas das suas canções um instrumento que tinha um som semelhante ao Theremin, nomeadamente em Ne me quitte pas. Este instrumento de teclas tinha o nome de Ondes Martenot e foi inventado também em 1928 pelo francês Maurice Martenot.

O THEREMINISTA canadiano PETER PRINGLE além de ser um virtuoso no instrumento também canta. E canta JACQUES BREL. Neste vídeo canta Le plat Pays e toca o seu Theremin.



domingo, 12 de setembro de 2010

BARBARA



Uma das mulheres que passou pela vida de Jacques Brel foi BARBARA. Cantora, compositora e actriz de cinema. Ela foi convidada para contracenar com ele no filme Franz . Franz , de 1972, foi o primeiro filme que Brel realizou. Já foi referido AQUI neste blogue.
Barbara faleceu em 1997, aos 67 anos de idade. Em 1990 ela escreveu esta canção (letra e música) dedicada ao seu velho amigo e intitulada GAUGUIN (CARTA A JACQUES BREL).

GAUGUIN (Carta a Jacques Brel)

Chove na ilha de Hiva-Ao
O vento sobre as grandes árvores verdes
Varre as areias de ocre molhadas
Chove sobre um céu de coral
Como uma chuva vinda do norte
Que lava os ocres vermelhos
E os azuis violetas de Gauguin
Chove
As Marquesas tornaram-se cinzentas
O Zéfir(*) é um vento do norte esta manhã
Sobre a ilha que ainda desperta
Devia ter-se espantado Gauguin
Quando as suas mulheres com olhos de veludo
Choraram lágrimas de chuva
Que vinham do Mar do Norte
Devia ter-se espantado Gauguin
Como um grande bailarino
Com o olhar cansado de infância
Bom dia senhor Gauguin
Arranje-me um lugar
Eu sou um viajante de longe
Eu venho das brumas do Norte
E venho dormir ao sol
Arranja-me um lugar, sabes
Não me importa que tenhas partido
Aliás tu nunca partiste
Não me importa que já não cantes
Aliás para mim tu ainda cantas
Mas pensar que um dia
Os ventos que tu amaste
Se tornaram contrários
Pensar que tu nunca mais navegarás
Nem o céu nem o mar,
Nunca mais em Abril tocarás o lilás branco
Nunca mais verás o céu sobre o canal
Mas quem pode dizer?
Eu que te conheço bem
Tenho a certeza que hoje
Acaricias os seios
Das mulheres de Gauguin
E que ele pinta Amsterdam
Vocês vêem ambos nascer o sol
Sobre as lagoas onde galopam os cavalos brancos
E o teu riso chega-me em cascata, em torrente
E atravessa o mar e o céu e os ventos
E a tua voz canta ainda
Devia ter-se espantado Gauguin
Muitas vezes penso em ti
Que galgaste as dunas
E cruzaste o Norte
Para ir dormir ao sol
Lá em baixo sob um sol de coral
Foi o teu desejo, fica bem
Dorme bem
Muitas vezes penso em ti
Assino Lèonie
Tu sabes quem eu sou. Dorme bem.

N.T.(*) Zéfir é o nome dado ao vento Oeste

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

JOAN BAEZ



Joan Baez começou oficialmente a sua carreira como cantora em 1958, mas só em 1963 depois de uma digressão com Bob Dylan e depois de começar a gravar as suas próprias canções se tornou famosa no mundo da folk music americana.
Ao longo dos anos 60 e 70 foi gravando êxitos de outros autores, como Phil Ochs, Richard Farina, Leonard Cohen, Tim Hardin, Paul Simon, Johnny Cash, Lennon-McCartney, Villa-Lobos e Jacques Brel.
Em 1966 um cantor inglês - Alasdair Clayre - traduziu La Colombe para a sua língua (que ficou THE DOVE) e Joan Baez incluiu a canção no seu reportório. Também Judy Collins a cantou em manifestações contra a guerra do Vietname.
Brel escreveu a ambas as cantoras agradecendo este facto e acrescentando "… admiro igualmente a vossa coragem e o vosso talento".

THE DOVE

Why all these bugles cry These squads of young men drill
To kill and to be killed Stood waiting by the train
Why the orders loud and hoarse Why the engine's groaning cough
As it strains to drag us all Into the holocaust
Why crowds who sing and cry And shout and fling us flowers
And trade their rights for ours To murder and to die
The dove has torn her wing So no more songs of love
We are not here to sing We're here to kill the dove

Why must this moment come When childhood has to die
When hope shrinks to a sigh And speech into a drum
Why are they pale and still Young boys trained over night
Conscripts paid to kill And dressed in gray to fight
These rainclouds massing tight This train load battle bound
This moving burial ground Goes thundering to the night

Why statues towering grave Above the last defeat
Old words and lies repeat Across a new made grave
And why the same still-birth That victory always brought
These hours of glory bought By men with mounds of earth
Dead ash without a spark Where cities used to be
Where guns probe every spark And crush it into dust

And while your face undone With jagged lines of tears
That gave in those first years All the peace I'd ever want
Your body in the gloom The platform fading back
Your shadow on the track A flower upon a tomb
And why these days ahead When I must let you cry
And live prepared to die as if our loves were dead

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

NARA LEÃO



NARA LEÃO (1942/1989) foi um dos grandes, grandes, nomes da nova música brasileira. Em 1969 ela lançou um LP com 12 temas, intitulado COISAS DO MUNDO, onde estava incluída uma versão em português de LA COLOMBE, de Brel.
São dela estas palavras:
"Jacques Brel é um dos mais importantes autores franceses da actualidade. Seu destaque advém de um notável senso crítico e poético, além da maneira pela qual enfrenta com segurança a estrutura comercial da música popular, sobretudo a europeia."

Em 2008 foi editada uma colectânea (duplo CD) intitulada TROPICÁLIA onde La Colombe está de novo incluída.
Este é o texto escrito por Nara Leão.

La Colombe

Por que essa fanfarra? Se os homens enfileirados
esperam o massacre e vão morrer ou matar
Por que esse trem sem cores? Que ronca alto e suspira
para nos conduzir à tragédia e à mentira
Por que a música, o canto? A multidão que trás flores?
E parece festejar aqueles que não vão voltar
Nous n'irons plus au bois la colombe est blessée
Nous n'allons pas au bois nous allons la tuer

porque chega o momento onde termina a infância
e acaba toda a chance de se viver a paz?
Por que o vagão pesado tão depressa, carregado
de rostos e cores cinzas que se vão para nunca mais?
Por que esse trem de chuva? por que esse trem guerreiro?
por que esse cemitério em direcção à noite?

Por que tantos discursos para saudar os mortos?
e sempre as frases feitas no enterro de seus corpos?
por que a criança morta para saudar a vitória?
por que o dia de glória e o sangue derramado?
por que toda essa terra coberta de cinzas e cruzes?
por que toda essa guerra se a pomba ficou ferida?

Onde o teu caro rosto desfigurado pela lágrima
enfeiado de desgosto quando limpava nossas armas
e teu corpo sombrio que ao longe desaparece
essa chuva no cais, uma flor nesse túnel
como viver um novo dia se os amigos não voltaram?
onde encontrar alegria? que fazer desse amanhã?


Quem quiser ouvir a versão cantada por Nara pode entrar neste SITE e fazer “Play” no título da canção.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

LA COLOMBE



Estamos em plena Guerra da Argélia (1954/1962). Brel, como belga que é, não está envolvido na política francesa, afirma Pierre Mendès France, um homem íntegro e honesto, que teve a coragem de pôr fim à guerra na Indochina e que se demitiu por causa do conflito da Argélia, porque desaprovava a política do governo onde era ministro de Estado.
No entanto, Brel faz perguntas certas, ele sofre, ele sabe que a guerra nunca será a solução. A guerra apodreceu a sua infância, como poderia ele reagir de outra forma?
"La Colombe”, foi traduzida e cantada por folksingers americanos, conforme relatado por Marc Robine, e tornou-se, pela voz de Judy Collins e Joan Baez, um hino às manifestações de massa contra a guerra no Vietnam.

A POMBA (1959)

Porquê esta fanfarra, quando os soldados perfilados, em formatura sobre uma gare, esperam pelos massacres... Porquê este comboio barrigudo que resfolga e suspira antes de nos conduzir até um mal entendido... Porquê os cantos e os gritos destas gentes acabadas de chegar. Eles é que deviam partir em nome da sua estupidez...
Nós não iremos mais à floresta, a pomba está ferida…
Nós não vamos à floresta, nós vamos matá-la...
Porquê essa hora onde termina a nossa infância, onde acaba a nossa oportunidade, onde o nosso comboio parte... Porquê esse pesado comboio cheio de homens vestidos de cinzento, equipados numa noite, para partirem agora como soldados... Porquê este comboio de chuva, porquê este comboio de guerra, porquê este cemitério marchando noite dentro...
Porquê os monumentos que as derrotas vão oferecer, e as frases já feitas, que se seguem ao enterro... Porquê o menino nado morto que será a vitória. Porquê os dias de glória que outros já pagaram... Porquê esses pedaços de terra que se vão pintar de luto uma vez que é a tiro que se apaga a luz...
Porquê o teu querido rosto desfigurado pelas lágrimas me fez render as armas no princípio da viagem... Porquê o teu corpo que se perde, o teu corpo que desaparece, e que sobre o cais não é mais do que uma flor sobre uma campa... Porquê esses dias seguintes onde eu vou ter que pensar que apenas usarei metade do amor...

Nós não iremos mais à floresta, a pomba está ferida… Nós não vamos à floresta, nós vamos matá-la...



terça-feira, 7 de setembro de 2010

DALIDA


A cantora DALIDA (1933/1987) começou a sua vida artística quando ganhou um concurso de beleza no Egipto, sua terra natal, em 1954. Logo de seguida entrou no mundo da canção, em Paris, e conheceu JACQUES BREL no fim da década de 50. Dalida, Brel, e muitos outros principiantes da canção francesa, faziam a ronda dos teatros de Paris e cruzaram-se muitas vezes nesses espectáculos debutantes.
Depois de mundialmente famosos cada um seguiu caminhos e estilos diferentes. No entanto, Dalida sempre admirou Jacques Brel e três anos depois de ele morrer dedicou-lhe a canção que aqui trago hoje, “Chove em Bruxelas”. Não traduzo o texto porque ele está cheio de referências às canções de Brel e aos personagens que povoavam essas canções.

IL PLEUT SUR BRUXELLES (1981)

Y a Jef qui fait la gueule
Assis sur le trottoir
Depuis qu'il est tout seul
Il est pas beau à voir
Y a aussi la Mathilde
Qu'est jamais revenue
Y a aussi la Mathilde
Qui ne reviendra plus
Et puis y a la Frida qui n'a aimé que lui
Chez ces gens-là, on est jamais parti

Mais lui il s'en fout bien
Mais lui il dort tranquille
Il n'a besoin de rien
Il a trouvé son île
Une île de soleil et de vagues de ciel
Et il pleut sur Bruxelles

Les marins d'Amsterdam
S'mouchent plus dans les étoiles
La Marieke a des larmes
A noyer un canal
Et puis y a les Flamandes
Qui n'oublient rien du tout
De Vesoul à Oostende
On s'habitue, c'est tout
Seules Titine et Madeleine
Croient qu'il est encore là
Elles vont souvent l'attendre au tram 33


A force de dire "j'arrive"
A force d'en parler
A force de dire "J'arrive"
Il y est quand même allé
Il a rejoint Jojo,
La Fanette et Fernand
Peut-être un peu trop tôt
Mais lui il est content

Il n'a pas entendu
Que des milliers de voix
Lui chantait
"Jacky ne nous quitte pas!"

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

MADONNA



Entre as mais de 9 centenas de versões de NE ME QUITTE PAS , contabilizadas no site LA CHANSON DE JACKY, encontramos nomes sonantes como Frank Sinatra, Julio Iglesias, Matt Monro, Sting, Barbra Streisand, Marc Almond, Shirley Bassey , Nina Simone, etc, etc, etc, além dos inúmeros ilustres desconhecidos que também gravaram a canção mais emblemática de Jacques Brel. Outra curiosidade é o elevado número de idiomas em que a canção é interpretada: Além do francês, encontramos Ne me quitte pas cantada em alemão, sueco, grego, polaco, espanhol, romeno, japonês, croata, vietnamita, israelita, turco, esloveno, etc,etc, etc.

A última descoberta – feita pelo breliano incondicional RAFAEL MOREIRA, do Brasil, e que teve a gentileza de me enviar – é esta versão cantada pela... MADONNA !!! E esta, einh ??? (como diria o outro). A MADONNA também gravou Ne me quitte pas / If you go away para incluir num espectáculo, mas acabou por retirar a canção do programa.
Aqui fica em primeira mão n’O CANTO DO BREL ... MADONNA ... IF YOU GO AWAY !!!!!

domingo, 5 de setembro de 2010

ANNE PEKO


Ontem falei aqui neste blog sobre o número de espectáculos que se fizeram sobre Brel desde Setembro do ano passado. Ao todo 37. Uma média de 3 por mês.
Para começar um novo ano breliano, nem a propósito, mais um espectáculo de homenagem ao cantor.ANNE PEKO vai cantar Brel e Barbara em Roscoff, na Bretanha, no próximo dia 9 de Setembro. O espectáculo chama-se “D’AMSTERDAM À GOTTINGEN”.




Em 2006 Claude Kraif dizia sobre Anne Peko,
“... a palavra cantada é um pouco melhor do que só a palavra. É a música que envolve as palavras com um pano de ouro ou de tristeza. É a poesia que canta no chuveiro, na chuva, sob as bombas. A voz de Anne Peko é, ela também, pano, seda, veludo, casimira, tecidos em vocalizações de todas as emoções. Os espectadores estão lá, japoneses, holandeses, esquimós, marcianos, para cantarr em coro, "La Vie en Rose". A canção é o lugar planetário da partilha universal. Uma unanimidade que se pensava perdida nestes tempos de crise egocêntrica e auto-reclusão” .

sábado, 4 de setembro de 2010

UM ANO !



O CANTO DO BREL faz hoje um ano.

Quando comecei tinha dúvidas sobre a duração do blog dado que, pouco mais que os textos traduzidos, tinha muito pouco material sobre Jacques Brel. Mas, para minha surpresa, já passou um ano e ainda vou a meio dos textos em português a publicar.
E isto porquê? Porque praticamente todos os dias me chegam, via net, notícias de eventos sobre o cantor. Discos que saem com versões de canções de Brel, livros sobre o cantor, programas de rádio, etc, etc.

Fiz um pequeno balanço ao blog e recolhi estes dados mais significantes:
Durante UM ANO publiquei 102 textos de Brel traduzidos para português – ideia fundamental deste blog – e, além dos mais diversos eventos, anunciei 5 exposições sobre a obra de Brel, 7 livros que foram publicados sobre o cantor, 4 programas de rádio (um deles em quatro capítulos), 5 discos com canções de Brel cantadas por diversos cantores e quatro canções dedicadas a Brel , uma feita por um cantor americano, outra por um espanhol, outra por um francês e uma por um português. Foram feitas 14 referências à canção Ne me quitte pas pelos mais variados motivos. Mas o facto mais importante é este número. Informei no meu blog que foram realizados 37 (trinta e sete) espectáculos dedicados a BREL. Espectáculos produzidos na Bélgica, em França, na Inglaterra, na Alemanha, na Austrália, na África do Sul e em Portugal.
É absolutamente extraordinário que um Homem que viveu e morreu no século passado esteja tão presente em 2010. A obra de Jacques Brel continua viva e inspira muita gente que através do seu talento vai perpetuar o nome Grand Jacques por muitos e muitos anos.

Neste dia do primeiro aniversário de O CANTO DO BREL quero agradecer a todos os admiradores de Brel que, pessoalmente ou com as suas mensagens ou comentários, me têm apoiado e incentivado a continuar. Obrigado a todos.
Sérgio Luís

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

JEAN VALLÉE



Das Edições Jacques Brel recebi esta informação:
JEAN VALLÉE, um cantor belga da valónia, vai fazer um espectáculo em homenagem ao Grand Jacques no próximo dia 24 de Setembro.
Jean Vallée participou no Euro Festival da canção em 1978 tendo ficado em 2º lugar com esta canção. (125 points!, 125 points!)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

1 de SETEMBRO de 1974

Faz hoje precisamente 36 anos que JACQUES BREL chegou à ilha do Faial.
1 de Setembro de 1974.
Chegou no seu iate Askoy na companhia da filha FRANCE BREL e da companheira MADDLY BAMY.
Nos dias em que esteve no Faial confraternizou com a família DECQ MOTA. Na foto, hoje revelada aqui em primeira mão, Brel e Maddly num desses momentos de confraternização à beira mar, no Varadouro.



Os meus agradecimentos ao Senhor FILOMENO BICUDO pela cedência da fotografia.