segunda-feira, 30 de novembro de 2009

NÃO ME VAIS DEIXAR

Na continuação do post de ontem, ao falar do site dedicado à canção NE ME QUITTE PAS, fiz uma referência à versão portuguesa cantada por Simone de Oliveira. Esta cantora gravou pela primeira vez NÃO ME VAIS DEIXAR (título da responsabilidade do poeta David Mourão-Ferreira, que traduziu a canção) em 1974 para o disco “Nunca mais a solidão”. Mais tarde voltou a incluir a imagem de marca de Brel num disco gravado ao vivo no hotel Altis e recentemente a canção voltou a ser incluída no disco PERFIL , comemorativo dos 50 anos de carreira da intérprete de Desfolhada.
E é precisamente a versão de Mourão-Ferreira que publico hoje. Dou também a conhecer um link onde se pode ouvir a primeira versão, em vinil de NÃO ME VAIS DEIXAR.

Não me vais deixar, importa esquecer, trata de esquecer o que há-de passar
esquecer o tempo dos mal-entendidos e o tempo perdido em busca do vento
esquecer de vez o que sem parar nos tenta matar com tantos porquês
Não me vais deixar, não me vais deixar...
Por mim te darei pérolas de chuva dum país sem chuva que nem água tem
deixarei tesouros depois de morrer para tudo te encher de luzes e de ouro
um reino farei onde a murmurar de sempre te amar só tu serás rei
Não me vais deixar , não me vais deixar...
Não me vais deixar, inventar-te-ei palavras que nem se podem escutar
e falar-te-ei de quem por amor destrói o terror de todas as leis
e a história de um rei morto de pesar por não me encontrar também contarei
Não me vais deixar, não me vais deixar...
Já mesmo se viu do fundo de um mar que nunca existiu o fogo brotar
acontece enfim, um campo queimado dá trigo mais grado que o melhor Abril
e ao cair da tarde vão-se misturar sob o céu que arde tantas cores aos pares
Não me vais deixar, mão me vais deixar...
Não me vais deixar, nada te direi nem chorar já sei, vou ali ficar, dali te verei
dançar e sorrir e escutar-te-ei a cantar e a rir até me sentir
sombra de uma sombra que há na tua mão, sombra do teu cão
Não me vais deixar, não me vais deixar...

David Mourão-Ferreira (1927 - 1996)

domingo, 29 de novembro de 2009

SITES DEDICADOS A BREL



Além do site oficial de JACQUES BREL, da responsabilidade das Edições Jacques Brel em Bruxelas, já bastante divulgado neste blog (basta clicar sobre a foto de Brel que abre o blog) dou a conhecer hoje outros sites bastante importantes para os fans do cantor, ou para quem sabe quem é Brel mas não sabe nada sobre a sua vida e sobre a sua obra. Estes sites divulgam sobretudo a obra de Brel, e procuram por todo o mundo as versões dos temas brelianos cantados em francês ou nos mais variados idiomas.
Mas cá estão eles para quem tiver curiosidade em saber mais sobre este marco da canção francesa:
La chanson de Jacky de Dino Gibertoni e Rodolphe Guillo,
Brel- Trente ans déjà de Christian Petit e Philippe Callens,
800 fois... Ne me quitte pas um site dedicado unicamente à canção Ne Me Quitte Pas. Nele ficamos a saber tudo sobre esta a canção, inclusivamente que há duas interpretações da portuguesa Simone de Oliveira, com letra em português de David Mourão-Ferreira. O título criado por Mourão-Ferreira foi “Não me vás deixar”...

sábado, 28 de novembro de 2009

ILS PARLENT DE JACQUES


Do site COMPAGNIE BREL TRENTE ANS DÉJÀ, de Christian PETIT e Philippe CALLENS, recebi a informação de um espectáculo em homenagem a Jacques Brel organizado por estes dois fans do cantor.
Não se trata de uma peça de teatro,nem de uma emissão de rádio, nem de um espectáculo de cantigas... É isto tudo ao mesmo tempo: Um espectáculo audiovisual dentro das canções! A “Compagnie Brel, Trente ans déjà!” propõe-nos reviver a vida e a obra de Jacques Brel através das suas canções e de testemunhos de gente que o acompanhou ou que simplesmente se cruzaram no seu caminho. Para este espectáculo ilustrado por sequências sonoras, Christian PETIT “conta” Brel e Philippe CALLENS interpreta as canções do Grand Jacques.
Brel está omnipresente, graças ao talento pessoal de cada um dos intérpretes. Eles recriam, com a sua própria sensibilidade, a vida e as maiores obras primas de Brel. Duas horas de espectáculo, testemunhos únicos, canções conhecidas e inéditas numa produção esmerada e muito bem estruturada.

O espectáculo – uma evocação audiovisual em canções – tem o nome ILS PARLENT DE JACQUES (Eles falam de Jacques) e é estreado no Espace Gérard Philipe, cidade Saint-André-les-Verges no dia 2 de Dezembro pelas 20H00.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

LA DAME PATRONESSE

Sobre a caridadezinha, de que esta canção fala, Jacques Brel dizia que não aceitava dar espectáculos para ajudar essa “instituição de bem fazer” . Ele detestava a caridade. GENEROSIDADE, sim. Confessava que por vezes tinha que fazer caridade, mas, só porque era demasiado fraco para impor a justiça.

A DAMA BENFEITORA (1959)
Para fazer uma boa dama benfeitora é preciso ter olho vigilante!!! Porque, como provam os acontecimentos, a Revolução aniquila a nobreza...
E um ponto à frente e um ponto atrás, um ponto por São José e um ponto por São Tomás...
Para fazer uma boa dama benfeitora é preciso organizar bem as suas generosidades, porque “como dizia o duque de Porto Covo, é com o velho que se faz o novo”…
E um ponto à frente e um ponto atrás, um ponto por São José e um ponto por São Tomás...
Para fazer uma boa dama benfeitora é preciso estar muito atenta e não deixar escapar os seus pobres, porque senão fica sem ter que fazer…
E um ponto à frente e um ponto atrás, um ponto por São José e um ponto por São Tomás...
Para ser uma boa dama benfeitora é preciso ser boazinha, mas sem fraquezas. Portanto, deve riscar da sua lista aquela pobreza que frequenta o socialismo...
E um ponto à frente e um ponto atrás, um ponto por São José e um ponto por São Tomás...
Para fazer uma boa dama benfeitora, minhas senhoras tricotem tudo em cor de caca de ganso... Isto permite que aos Domingos, na missa, possam facilmente reconhecer os vossos pobrezinhos...
E um ponto à frente e um ponto atrás, um ponto por São José e um ponto por São Tomás...


N.T. No original "89 mata a nobreza" – Brel refere-se à Revolução Francesa em 1789.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NE ME QUITTE PAS / VAREKAI

No espectáculo VAREKAI do CIRQUE DU SOLEIL a canção Ne me quitte pas é usada para um número cómico interpretado por Claudio Carneiro. Este actor, usando a versão de NINA SIMONE, finge que canta Ne me quitte pas. Mas quem ele quer que não o deixe é a luz do projector que lhe foge constantemente deixando-o no escuro da pista.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

IF YOU GO AWAY


No dia 12 de Outubro publiquei aqui o anúncio do novo disco de BARBRA STREISAND que inclui uma versão de NE ME QUITTE PAS (If you go away).
O disco, que tem por título LOVE IS THE ANSWER, tem produção musical de Diana Krall que acompanha Barbra nalgumas canções e entrou logo para o primeiro lugar de vendas dos Estados Unidos.
Este é o 51º disco de ouro da actriz cantora que se vai juntar aos 30 discos de platina da sua colecção.
Barbra Streisand canta assim If you go away/Ne me quitte pas .

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

GÉRARD LENORMAN

NE ME QUITTE PAS , a mais desesperada canção de amor feita até hoje, tem tido centenas de versões por todo o mundo, embora a maior parte seja para esquecer. Ne me quitte pas não é uma cantiguinha de amor que se canta de ânimo leve, talvez a pensar que amanhã vai chover ou que o carro já deve estar pronto.
A intensidade e a verdade com que JACQUES BREL a cantou é inimitável. Só ele a poderia ter escrito e só ele a poderia ter cantado. O dramatismo da interpretação desta canção, e de TODAS as outras do autor, é a chave do êxito de Brel.
No entanto, há excepções. Existe esta versão em francês de NE ME QUITTE PAS que se aproxima muito da verdade breliana. É a versão de Gérard Lenorman.

Um aviso:
Não oiçam a versão de Terry Jacks de Ne me quitte pas (If you go away).Terry Jacks, o tal do Seasons in the sun, também teve a lata de gravar esta canção e o resultado é bem pior que as “seasons”. Por favor não oiçam…

domingo, 22 de novembro de 2009

CANNES - O HOMEM DO ANO 2008



Em 2008 a Cidade Francesa de Cannes elegeu para HOMEM DO ANO... JACQUES BREL.
Relacionado com este evento publico o extenso PROGRAMA de todas as actividades e o trailer de um bailado intitulado BREL EN EMOI baseado em temas do cantor.

sábado, 21 de novembro de 2009

GENUÍNO MADRUGA

Na véspera da chegada ao porto da Horta,terminada a sua segunda volta ao mundo como velejador solitário, GENUÍNO MADRUGA escreveu um texto no seu DIÁRIO DE BORDO e do qual tomo a liberdade de transcrever o seu início.
Acedendo a este link do velejador GENUÍNO MADRUGA podemos ler o resto do texto que é uma pequena viagem pelas memórias da viagem.


Dia 5 de Junho 2009

RETORNO À ILHA
Meus caros amigos, "oficiais e passageiros" que comigo "viajaram" e viveram esta extraordinária e inesquecível aventura que foi sem dúvida a II Volta ao Mundo do veleiro Hemingway. Passamos por continentes, países e ilhas, conhecemos outras formas de vida, outras religiões, outros manjares! Visitamos Igrejas, Catedrais, Templos, Sinagogas ou simples "lugares de culto". Ficamos extasiados com originais e cópias perfeitas de grande parte da obra de Paul Gauguin, estivemos mesmo ao lado do "Jojo" de Jaques Brel e talvez por uma última vez, com todo o simbolismo e veneração colocamos placa metálica na sua campa assinalando nossa passagem e admiração por tão grande, querido e amado compositor, intérprete, actor e também marinheiro que um dia conhecemos no
Peter Cafe Sport (...)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

LES DÉSESPÉRÉS

A grande qualidade dos textos de Brel está na verdade das palavras escritas. Está na realidade dos personagens intervenientes. Está na honestidade dos temas escolhidos. A propósito, Jacques Brel dizia que “um homem só é verdadeiramente honesto quando está a dormir... Mas, não se aprende nada vendo os outros dormir.” No texto que publico hoje, Les désespérés, Brel descreve o desespero do suicídio como forma de sarar as feridas profundas de um amor impossível.

OS DESESPERADOS (1965)

Eles caminham de mão dada, em silêncio, nessas cidades mortiças onde a morrinha oscila... Nada mais soa que os seus passos, passo a passo trauteados... Eles caminham em silêncio, os desesperados...

Eles queimaram as suas asas, perderam os seus ramos... De tal modo naufragados que até a morte lhes parece branca. Resgatados do amor, eles estão agora acordados e caminham em silêncio, os desesperados...

Eu conheço esse caminho porque já lá passei... Mais de cem vezes, mais de cem e a sua metade... Menos velhos ou mais magoados eles vão terminar o seu caminho e partir em silêncio, os desesperados...

E debaixo da ponte a água é serena e profunda... Aqui está uma amável hospedeira, aqui está o fim do mundo... Eles choram os seus nomes como os jovens casados e fundem-se no silêncio, os desesperados...

Que se levante aquele que lhes vai atirar a pedra, porque eles, do amor, apenas sabem o verbo amar... Sobre a ponte nada mais há que uma bruma ligeira, e logo se esquece, em silêncio, aqueles que esperaram...


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

BREL ACTOR (3)


LES RISQUES DU MÉTIER
Realização: André Cayatte
Argumento : André Cayatte et Armand Jammot
Imagem: Christian Matras
Música: Jacques Brel et François Rauber
Montagem: Hélène Plewianikoff
Produção: Gaumont Internationale
Duração: 105 min. Estreado em: 21/12/1967
Com: Jacques Brel, Emmanuelle Riva, Jacques Harden, Nadine Alari, Christine Fabrega, René Dary, Muriel Baptiste, Delphine Deysieux.
Argumento
Jean Doucet é um professor de aldeia, casado e feliz no casamento e na profissão. Um dia é acusado de assédio sexual a uma aluna sua de 14 anos. A rapariga chegou a casa com o vestido rasgado e uma história de abusos do seu professor. A polícia é chamada a investigar, mas uma outra rapariga entra em cena também para o acusar de sedução. Ainda uma terceira rapariga faz o mesmo. O professor diz-se inocente mas a investigação está a arrasar a sua profissão, o seu casamento e a sua vida. O realizador André Cayatte baseou-se numa história verdadeira para, com a sua experiência de ex-advogado, denunciar injustiças sociais.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SEASONS IN THE SUN

Este ano o nova iorquino Ken Levine – personalidade famosa da indústria do espectáculo – fez uma lista das piores canções já gravadas. Entre elas está SEASONS IN THE SUN, gravada em 1974 por TERRY JACKS.

SEASONS IN THE SUN não é mais do que uma versão muito pobre de LE MORIBOND, de Brel, feita por Rod McKuen, um cantor californiano nascido em 1933.
Apesar de se ter tornado um êxito mundial esta versão inglesa é absolutamente intragável. É lamechas, delicodoce e pateta. Exactamente tudo o que Jacques Brel não escreveu no seu original, em que o texto é inteligente, cínico, agressivo e corrosivo. Mesmo quem não saiba inglês e francês, se ouvir as duas versões, vai perceber a imensa diferença do que ambos os cantores estão a transmitir aos seus ouvintes.
McKuen também traduziu para inglês Ne me quitte pas (que ficou IF YOU GO AWAY) e felizmente deu-lhe um melhor tratamento que em Seasons in the sun. A prova é que foi (e continua a ser) gravada por inúmeros cantores de língua inglesa.
É pena que McKuen não tenha escrito um texto mais próximo do de Brel. É pena que Terry Jacks a tenha gravado com aquele estilo tão piroso, a roçar o pimba. E é pena que Ken Levine tenha incluído a canção no seu rol das piores, já que não é uma canção original de Terry Jacks ou McKuen mas uma versão de uma grande canção de JACQUES BREL.

KEN LEVINE - AS PIORES CANÇÕES DE SEMPRE

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

HOMENAGEM A JACQUES BREL

Das Edições JACQUES BRELrecebi a informação sobre mais uma homenagem ao cantor.

Luc François, um belga residente na Roménia e delegado da UFBE (União Francófona dos Belgas no Estrangeiro) estreia neste país um clube francófono em colaboração com a Rádio Etalon, rádio local de Valcea. De Segunda a Sexta, em FM 101.6, entre as 15 e as 16 horas será emitido o CLUBUL FRANCOPHONE.
A primeira emissão foi hoje, 16 de Novembro, e constou essencialmente de uma homenagem a JACQUES BREL.

domingo, 15 de novembro de 2009

COMMENT TUER L'AMANT DE SA FEMME...

Para Brel a Religião e a Escola andam lado a lado. Para ele a religião ensina o remorso, o medo, a humildade, a resignação. A religião fabrica seres acanhados e passivos. Nesta canção, Comment tuer l’amant de sa femme... o protagonista, que recebeu a cruz de honra num convento de freiras, é particularmente tímido e passivo, porque a religião o obriga a humilhar-se. Esta canção é de 1968 e está incluída no penúltimo disco de originais que Brel gravou. Só em 1977 viria a gravar de novo.

COMO MATAR O AMANTE... 1968
Como matar o amante da mulher quando, como eu, se foi criado num berço de tradição?... Como matar o amante da mulher, quando, como eu, se foi educado na melhor religião?...
Precisava de tempo, mas, tempo não tenho. Trabalho todo o dia para ela. De noite faço a noite, de dia faço o dia, e ao Domingo faço uns biscatos... E mesmo que eu fosse menos frouxo, acho que seria uma pena sujar a minha reputação. É certo que eu durmo na garagem... É verdade que eles dormem na minha cama... É um facto que sou que arruma a casa, mas... Quem é que não tem as suas pequenas chatices?

Como matar o amante da mulher, quando, como eu, se foi criado num berço de tradição?...
Há o arsénico... Sim, mas leva muito tempo...
Há a pistola... Sim, mas é demasiado rápido...
Há a amizade... Sim, mas é muito cara...
Há o desprezo... Sim... Mas isso é um pecado!

Como matar o amante da mulher, quando, como eu, se recebeu a Cruz de Honra num convento de freiras... Como matar o amante da mulher, quando, como eu, não se ousa dizer-lho com um ramo de flores...
Como não tenho coragem de o insultar a toda a hora, ele diz que o amor me torna cobarde... Como está desempregado, diz-me, à chapada, que o amor o deixa imprevidente... Ele acha que é divertido para um homem da minha idade não ter mais mulher e onze filhos... É certo que eu cozinho para eles, eu bato os cães e os tapetes, e à noite canto-lhes “Noites da china”*. Mas... Quem é que não tem as suas pequenas chatices?
E porquê matar o amante da minha mulher, se é por minha causa que ele tem sífilis?... Porquê matar o amante da minha mulher, se é por minha causa que ele anda a tomar penicilina...


* Nuits de Chine- Canção de 1922

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

LES PAUMÉS DU PETIT MATIN

"Les paumés du petit matin" é mais uma das grandes canções de Jacques Brel...
É o retrato nu e cru de um certo tipo de frequentadores da noite que vivem só para isso, para frequentar a noite. Na galeria de retratos que Brel foi fazendo ao longo da sua carreira estão também os desesperados, os frustrados, os tímidos, os pobres, os traídos. No entanto, a mensagem que está por detrás de cada um destes retratos resume-se a uma palavra… “ternura” . Todos temos necessidade de ternura. Brel renegará sempre a caridade como remédio para os seus retratados.

N.T. A melhor tradução para PAUMÉS DU PETIT MATIN nos anos 60 seria «os meninos bem das noitadas». Em 2009 não resisto a usar os BETINHOS DA NIGHT que exprime na perfeição o que Brel pretende dizer na canção.

OS BETINHOS DA NIGHT (1962)
Eles deitam-se à hora dos pastores, para se levantarem à hora do chá e depois saírem lá para as tantas... Os betinhos da night... Elas têm a arrogância das mulheres de peito feito... Eles têm aquela segurança dos homens onde se adivinha que o papá venceu na vida... Os betinhos da night...
Venham dançar... Venham dançar... Betinhos e betinhas... Venham dançar... E dancem com os olhos postos nos seios...
Eles branqueiam as noites no lavatório das melancolias, que lava sem sujar as mãos dos betinhos da night... E à meia-noite eles falam dos poemas que nunca leram, dos romances que não escreveram, dos amores que não tiveram, das verdades que não servem para nada... Os betinhos da night...
“Ah...o amor destrói-me o fígado”... Oh... Isto é bonito, é bonito... Vocês nunca mais compreenderiam os betinhos da night...
Eles tomam o último whisky, eles despedem-se pela última vez, eles tomam outro último whisky, eles atacam o último tango, eles agarram a última tristeza, os betinhos da night...
Venham chorar, betinhos... Venham... E chorem com os olhos postos nos seios... Vá lá... Venham chorar... Betinhos da night...


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

PEDRO E O LOBO

Em 1936 Sergei Prokofiev foi contratado por Natalya Sats, da Central Children's Theatre em Moscovo, para escrever uma peça musical sinfónica para crianças.
O intuito era incentivar o gosto pela música em crianças no início da sua vida escolar.
Entusiasmado pelo desafio Prokofiev compôs Pedro e o Lobo em apenas quatro dias.
A estreia foi a 2 de Maio de 1936 e, segundo o autor, não foi nada auspiciosa nem atraiu muito as atenções da audiência. Felizmente o futuro desta obra mostrou exactamente o contrário porque se tornou um sucesso enorme em todo o mundo deliciando várias gerações de crianças e adultos.

Em 1969 Jacques Brel gravou um LP com uma versão desta obra, em francês, tendo no lado B do disco a sua versão de “A História de Babar”.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

BREL ACTOR (2)

MON ONCLE BENJAMIN (L'Homme à l'Habit rouge)
Realização : Edouard Molinaro
Argumento: André Couteaux et François Hauduroy
Imagem: Alain Levent
Música: Jacques Brel
Montagem: Robert et Monique Isnardon
Produção: Gaumont
Duração: 90 min.
Estreia: 28/11/1969
Com: Jacques Brel, Claude Jade, Bernard Blier.
ARGUMENTO
Sob o reinado de Luís XV, Benjamin Rathery, um médico de província, louco por saias e por liberdade, tem a nobre missão de socorrer os pobres da sua região que já não passam sem ele. O celibato é, portanto, o melhor estado civil para cumprir os seus variados afazeres. Ora isso impede-o de casar com Manette, a bela filha do estalajadeiro por quem Benjamin se sente perdidamente apaixonado. Mas ela só casa de contrato assinado. Ele pede então à sua irmã Betine que interceda junto de Manette. Mas a irmã queria que ele casasse com Arabelle, filha do velho doutor Minxit que considera Benjamin como filho. Arabelle é namorada do marquês Pont-Cassé e o médico, pai dos pobres, tem de se confrontar com os burgueses e as suas leis…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

HONDSCHOOTE

Das Edições Jacques Brel recebi a informação sobre mais uma Exposição sobre BREL.
O Município de HONDSCHOOTE, a norte da França, junto à fronteira com a Bélgica, vai organizar a Exposição " Je chante, persiste et signe...je m'appelle JACQUES BREL" de 10 a 20 de Novembro. Esta exposição já esteve em exibição noutras cidades francesas e belgas. Segundo o BOLETIM MUNICIPAL da autarquia " a filosofia desta Exposição é a de apresentar Brel por ele mesmo".

domingo, 8 de novembro de 2009

LES MARQUISES



No início do ano de 1974, Jacques Brel comprou um iate – Askoy - com a intenção de dar a volta ao mundo. Em Agosto fez-se ao mar. Passou pela Horta em Setembro, e depois várias escalas forçadas, devido à doença que já se manifestava, atravessou o oceano Pacífico, e aportou a HIVA AO em Novembro de 1975. Brel acabou por ficar até ao resto dos seus dias nas ilhas Marquesas. Já não terminou a volta ao mundo como era o seu desejo.
Porquê as ilhas Marquesas? Porque estavam suficientemente longe da Europa. Brel não suportava os jornalistas, os oportunistas e os falsos amigos que o perseguiam como abutres. Ele queria a sua privacidade, custasse o que custasse. A distância foi a solução. Jacques Brel não ficou na Horta porque estava demasiado perto da Europa.
A canção Les Marquises foi gravada em 1977, em Paris, e Jacques Brel viria a morrer um ano depois.

AS ILHAS MARQUESAS

Eles falam da morte como tu falas de um fruto, eles olham o mar como tu olhas um poço...
As mulheres são sensuais debaixo do temível sol, e se lá não há Inverno, aquilo também não é Verão...
A chuva é transversal e bate grão a grão... Alguns velhos cavalos brancos sussurram Gauguin...
E por falta de brisa, o tempo imobiliza-se nas ilhas Marquesas...

À noite, erguem-se os fogos e recantos de silêncio que se vão alargando enquanto a lua avança...
E o mar despedaça-se infinitamente destroçado pelos rochedos que imploram nomes sem sentido... E depois, mais longe, os cães, os prantos de arrependimento, e alguns pares, e alguns passos de dança...
E a noite é submissa, e o vento alísio estala nas ilhas Marquesas...

O riso está nos corações e a palavra está nos olhares, o coração é viajante e o futuro é um acaso... E passam os coqueiros que escrevem cânticos de amor e que as freiras dos arredores fazem por ignorar... As pirogas vão, as pirogas vêm, e as minhas recordações serão aquilo que os velhos fizerem… Deixa-me dizer-te que lastimar não é uma maneira de estar nas ilhas Marquesas...


sábado, 7 de novembro de 2009

NE ME QUITTE PAS

Uma das amadas de Brel, Suzzane Gabrielo, era cantora e fez com ele a temporada de Verão de 1955. Um dia disse-lhe para ele deixar aquelas canções lamechas e moralistas que ele escrevia e cantava. Dizia ela que “canções moralistas qualquer padre operário cantava … Ele deveria escrever e cantar canções de amor”. E ele concordou porque escreveu uma das mais belas canções de amor que se conhecem - Ne me quitte pas.

NÃO ME DEIXES (1959)

Não me deixes… Vamos esquecer... Tudo o que passou, pode esquecer-se; vamos esquecer o tempo dos mal entendidos e o tempo perdido a saber como esquecer essas horas que às vezes matavam, a golpes de “porquê?”, o coração da felicidade... Não me deixes, não me deixes...
Vou oferecer-te pérolas de chuva vindas de países onde nunca chove; escavarei a terra, mesmo depois da minha morte, para cobrir o teu corpo com ouro e com luz... Farei um reino onde o amor será rei, onde o amor será a lei e tu serás a rainha… Não me deixes, não me deixes...
Não me deixes… Para ti inventarei palavras insensatas que tu compreenderás; falar-te-ei daqueles amantes que viram por duas vezes os seus corações em brasa... Contar-te-ei a história do rei que morreu por não te ter encontrado... Não me deixes, não me deixes...
Já se viu tantas vezes reacender-se o fogo num antigo vulcão que todos julgavam extinto... Diz-se até que as terras queimadas dão mais trigo, e trigo melhor que o de Abril... E quando a tarde cai, não é verdade que o vermelho e o preto se casam para que o céu se inflame... Não me deixes, não me deixes...
Não me deixes… Não vou chorar mais, não vou falar mais, vou esconder-me aqui e fico a olhar-te dançando e sorrindo, fico a escutar-te, cantando e rindo... Deixa-me ser a sombra da tua sombra, a sombra da tua mão, a sombra do teu cão, mas não me deixes, não me deixes... Não me deixes…




Por curiosidade incluo outra interpretação de Ne me quitte pas por MAYSA MATARAZZO uma cantora brasileira que morreu em 1977, aos 41 anos de idade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DR. DECQ MOTA

Em 1999 fiz para a RTP/Açores um programa para celebrar os 25 anos da passagem de Jacques Brel pela Ilha do Faial. Este programa, com texto de Victor Rui Dores e imagem e montagem de Mário Botelho, recorria a intervenções de pessoas que reconheceram Brel. No entanto, a intervenção mais importante foi a do Doutor Decq Mota que conta toda a história do seu encontro com o cantor belga, fala dos dias dessa permanência na ilha e até da correspondência trocada depois da partida.
O pequeno depoimento que publico hoje é um excerto da entrevista que fizemos com o Dr.Decq Mota, em 1999, na sua casa do Varadouro, onde Brel também esteve 25 anos antes.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

THE IMPOSSIBLE DREAM

MAN OF LA MANCHA
Já aqui falei (04/10/09) do musical MAN OF LA MANCHA adaptado e posto em cena por Jacques Brel em 1968.
A canção que melhor identifica este espectáculo THE IMPOSSIBLE DREAM, e que Brel traduziu para francês como LA QUÊTE, foi cantada por Elis Regina, Shirley Bassey, Donna Summers, Andy Williams, Roy Hamilton, Sarah Connor , Elaine Paige, Elvis Presley e muitos, muitos, outros cantores famosos.
Em 1972 Arthur Hiller realizou para o cinema uma versão de D.Quixote de La Mancha onde os três principais actores eram PETER O’TOOLE, SOPHIA LOREN e JAMES COCO. Neste vídeo Peter O’Toole - D.Quixote – canta The Impossible dream para Sophia Loren – a sua Dulcineia - epara James Coco – D. Sancho Panza.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

BREL ACTOR (1)

L'EMMERDEUR (1973)
Realização: Edouard Molinaro
Argumento: Francis Weber da adaptação da sua peça "Le Contrat"
Imagem: Raoul Coutard
Música: Jacques Brel et François Rauber
Montagem: Robert et Monique Isnardon
Duração: 80 min. Estreia : 20/09/1973
Com: Jacques Brel, Lino Ventura, Caroline Cellier, Jean-Pierre Darras.

Argumento
Um assassino a soldo da Mafia, Ralph Milan, é encarregado de abater um tipo chamado Randoni, testemunha em vários processos que podem trazer graves problemas à organização.
Emboscado num quarto de hotel com janela virada para a porta do tribunal onde é esperado Randoni, o atirador espera pacientemente que a vítima passe pela frente da mira da sua espingarda com telescópio... Mas ele tem um vizinho no quarto ao lado, um certo senhor Pignon, tipo cordial, amigo do seu amigo, vendedor de gravatas, e que está a atravessar uma fase muito difícil da sua vida...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ROSA

Ao ritmo de um tango, Jacques Brel ironiza sobre a classe média e as suas aspirações sociais. Na canção Rosa, os papás e os padres dos colégios internos esforçam-se por formar seres uniformizados todos com o mesmo objectivo na vida: Serem melhores que os progenitores mesmo que tenham de caminhar cegamente por atalhos desconhecidos. O personagem desta canção, no entanto, é um cábula que fura o esquema, e frequenta o colégio por causa da sua prima Rosa. O latim e as suas declinações não são com ele, visto que sabe que nunca poderá vir a ser um Vasco da Gama. A canção é de 1962.

ROSA

Rosa, rosa rosam...Rosae, rosae, rosa... Rosae, rosae, rosas... Rosarum rosis, rosis.... É o mais velho tango do mundo, aquele que as cabecinhas loiras balbuciam numa roda quando aprendem as lições de latim... É o tango do colégio que caça os sonhos numa rede, e depois é um sacrilégio se não se sair malicioso... É o tango dos anciãos, que vigiam com olhar severo os Júlios e os Prósperos, que serão a França de amanhã...

É o tango dos marrões, cheios de borbulhas e de agasalhos a cobrir o coração que já está frio... É o tango dos cábulas que declinam de desgosto e que serão farmacêuticos porque o papá não chegou a ser... É o tempo em que eu era o último, porque neste tango rosa rosae eu já me inclinava de preferência para a minha prima Rosa...

É o tango das passeatas, aos pares, sozinhos, debaixo das arcadas, cercados de padres e de alcaides, que nos protegiam dos porquês... É o tango da chuva no pátio, o espelho de um charco sem amor que me fez compreender um belo dia que eu nunca seria Vasco da Gama... Mas, é também o tango desse tempo bendito, onde por causa de um beijinho demasiado pequeno na clareira de um domingo, corou a minha prima Rosa...

É o tango daquele tempo em que eu tinha zeros, uns finos, outros grossos. Com eles fazia túneis para o Charlot e auréolas para S.Francisco... É o tango das recompensas que iam para aqueles que tinham a sorte de aprender, desde a infância, tudo aquilo que nunca lhes serviu para nada... Mas, é também o tango que nos faz lamentar, que por uma vez, o tempo se compra, e que nos apercebemos, estupidamente que a Rosa tem espinhos... Rosa, rosa rosam... Rosae, rosae, rosa... Rosae, rosae, rosa...Rosarum rosis, rosis...


ROSA na versão ao vivo...


ROSA na versão video clip...

domingo, 1 de novembro de 2009

LES REMPARTS DE VARSOVIE



Jacques Brel canta em público as suas canções pela última vez em 1967. Desiste dos palcos, com 38 anos de idade, porque não quer envelhecer artisticamente perante o seu público. O público reage mal a esta reforma antecipada do cantor. Ele dirá “que não é preciso exagerar, os artistas de variedades não são deuses”, e acrescenta que não passa “de um artesão, de um fabricante de canções”… A canção Les remparts de varsovie, pertence ao seu último disco gravado em 1977.

AS MURALHAS DE VARSÓVIA(1977)

A madame passeia o traseiro pelas muralhas de Varsóvia... A madame passeia o coração pelos trastes da sua leviandade... A madame passeia a sua sombra pelas grandes praças de Itália... Eu acho que a madame vive a sua vida! A madame passeia de madrugada os sinais das suas insónias... Passeia a cavalo os seus estado de alma e os seus caprichos... Passeia um imbecil que jura que a madame é linda... Eu acho que a madame está bem servida!
Ao passo que eu, todas as noites, sou porteiro no Alcazar...

A madame passeia o Verão até ao Sul da França... A madame passeia os seios até ao Sul do acaso... Passeia a depressão ao longo do lago de Constance... Eu acho que a madame é de circunstância!
A madame passeia o seu Lulu, um salsicha negro, chamado Bizâncio... A madame arrasta a sua infância, que altera conforme as ocasiões... A madame passeia por todo o lado o seu sotaque russo, com facilidade... A verdade é que a madame é de Valence...
Ao passo que eu, todas as noites, sou barman no Alcazar...

A madame passeia os cabelos que têm um perfume de “Noites da China”... A madame passeia o olhar sobre todos os velhos industriais... Passeia o seu sorriso, como outros passeiam a sua brilhantina.... Eu acho que a madame é uma libertina! A madame passeia as suas bebedeiras de copo em copo, de taça em taça... Passeia os genes de vinte mil oficiais de Marinha... A madame diz por todo o lado que é conhecida por Titi Jacqueline... Eu acho que a madame é uma má companhia!
Ao passo que eu, todas as noites, sou cantora ligeira no Alcazar...

A madame passeia as mãos pelos diferentes ramos das forças armadas... Passeia os meus tostões pelos novos ricos do bairro da lata... A madame passeia-se de coche e gostava que fosse eu a puxá-lo... Eu acho que a madame é uma vaidosa... A madame passeia o pé de meia que ela gostava que fosse eu a administrar... A madame passeia as jóias que ela gostava que fosse eu a pagar... A madame passeia no meu Rolls e persegue alguns meirinhos... Eu acho que a madame está é com pressa...
Ao passo que eu, todas as noites, lavo a loiça no Alcazar!


Versão de FLORENT PAGNY